- Horário de criança dormir é 9:02, né pai?
- É, meu filho!
Era meu filho se dirigindo
ao quarto, arrastando seu pequeno e frágil corpo de 4 anos de idade, porque no
dia seguinte teria que acordar para aula de alfabetização na Escola “Floresta
Encantada”. Talvez, o horário que sempre repetia ao ir para cama, lhe tenha
sido ensinado pela babá Miraceli Ferreira, a “Mira” ou a “Mãe 2” como ficou
conhecida nos consultórios médicos,os pelos onze anos seguidos que cuidou de
nosso filho, porque minha esposa e eu trabalhávamos muito.
Recordei esse fato enquanto
a Yara conversava com o Carlos Costa Filho na varanda do apartamento onde
resido com a família. Eles estavam protegidos apenas pelo véu negro da noite
que lhes cobria e observados por poucas estrelas teimosas que ainda se permitem
brilhar na escuridão dos céus de Manaus, com poluição e prédios de concreto armado.
Achava engraçada a frase: “horário
de criança dormir é 9:02, né pai?”, porque nem imaginava como meu filho
soubesse disso ou o horário exato em que ele dormia, porque nem horas ele sabia
ver ainda, exceto, talvez, pelas
informações que a “Mira” lhe repassava – não usa relógio até hoje, embora já
tenhamos lhe dado quatro! “Para
que quero isso, pai?”, me pergunta sempre que lhe comprava um novo relógio!
“Não
preciso, não vou usar”, acrescentava
em seguida, mas o experimentava. Depois o retirava do braço e guardava.
Também recordei da
brincadeira que fazia com meu filho, após o almoço! “Deixa o pai adivinhar o que você
comeu hoje?” e começava a tocar com a ponta dos dedos em seu estômago e
“dizer” o que havia em cada lugar – como se o estômago não misturasse toda a
comida em um mesmo espaço. “Aqui tem arroz, aqui tem macarrão...”.
De propósito, eu errava porque dizia “aqui tem água” e ele gritava
alegre, “pai, você errou porque tomei suco hoje”. “É, meu filho, as vezes o pai
erra!” admitia, desejando
passar ao meu filho que a vida é feita de erros e acertos. Ria muito porque eu “adivinhava quase tudo” o
que comera no almoço. Também, não poderia ser diferente!
Sempre que podia, almoçava
em casa, antes para fazer essa brincadeira depois, quando ele retornava da aula
de condução!Com 15 anos, meu filho me surpreendeu: “Pai, descobri como o senhor
adivinhava o que eu comia!” .“Como é que eu fazia meu filho?”, perguntei
sério, demonstrando surpresa e olhando fixamente para ele, como se já não
soubesse a resposta que ele me daria.
- O senhor comia antes e a Mira lhe
dizia tudo o que eu comeria depois no almoço! – respondeu-me, com ar de
sério, de sabedoria não mais inocente!
O pior é que era isso mesmo
que acontecia! Pronto. Acabara a graça da brincadeira porque eu tentava passar ao
meu filho a ideia de que era um mágico capaz de ver tudo dentro do estômago
dele! E consegui por algum tempo, mas sinto saudades dessa época inocente que
ainda lembro com carinho e uma ponta de ternura!
Linda crônica, amigo Carlos. Muitas vezes, diante da tão importante e imprescindível relação Mãe e filhos, nos esquecemos da relação pai e filhos, modestamente, quase tão importante.
ResponderExcluirUm abraço amigo.
Defranco Frossard
Uma crônica educativa, com conhecimentos, e demonstrando o quanto é importante, o relacionamento em família, para o aprendizado dos filhos, para a harmonização do lar.
ResponderExcluirUm especial abraço, amigo Carlos Costa,
Arline Silva.
Quanto carinho e ternura...Abraços de além-Mar
ResponderExcluir