Dona
Glória, que só tem “glória” mesmo no nome no registro de nascimento, a senhora
não teria necessidade de acorrentar seu filho pelas pernas e braços e expô-lo
publicamente em rede nacional de TV, se o Governo Federal já tivesse implantado
um programa de saúde pública e com acesso a todos os que necessitam tratar seus
dependentes químicos. Como está sendo muito difícil o Governo Federal entender
que custa financeiramente menos prevenir e tratar o início os dependentes
químicos, as cracolândias vão se espalhando pelo Brasil. Só o Ministério da
Saúde não percebe que a dependência química já é um problema de saúde pública,
envolvendo milhares de famílias em um mesmo problema: a dependência química.
Também
a senhora não precisaria passar pela humilhação de ver seu filho, dependente
químico de crack desde seus 15 anos, hoje adulto de 25 anos, transportado de
carro para uma clínica particular por falta exclusiva de política pública para
tratamento desses doentes. É humilhante ver pelas ruas, jovens de ambos os
sexos, viciados em crack. E o pior é que tudo isso ocorreu em Brasília, capital
da República. Seu próprio filho lhe pediu para a senhora acorrentá-lo na perna
para poder permanecer dentro de casa; se viu sem as correntes, fugiu novamente para
adquirir crack e a senhora o encontrou “chapado” como falam as pessoas doentes
que precisam de tratamento.
Isso
é terrível para uma mãe e, mais ainda ,para o Brasil que quer se tornar uma
economia forte, mas que não cuida e nem trata como deveria atender seus
dependentes químicos, enfrentando seus problemas de saúde internos que afetam e
destroem famílias inteiras! Os turistas que virão para a Copa das Confederações
e depois para a Copa do Mundo não desejarão saber que o país não enfrenta seus
problemas internos de saúde, mas investe muito dinheiro para ter uma copa do
mundo! A FIFA, que exige tantas coisas de um país sede, também deveria exigir
que o Brasil também cuidasse da saúde de seu povo, com o mesmo nível de
exigência que faz para a infra-estrutura no entorno dos Estádios que receberão
os jogos.
“Eu
sou mais pedir para botar essa corrente na minha perna, para eu ficar dentro de
casa e aguentar aqui, mesmo que eu fique sentindo mal, com a fissura do
negócio, do que sair para a rua e ser arriscado a morrer”. Dona Glória,
a declaração de seu filho, poderia ter sido outra bem diferente, mas parece que
o Governo Federal não quer ver que ele precisa urgentemente tratar os
dependentes químicos e não deixar unicamente essa responsabilidade para Estados
e Municípios porque a desintoxicação, o período de crise de abstinência,
precisa ser enfrentada com terapias e remédios e isso a presidente Dilma
Roussef, nem seu Ministro da Saúde ou outros Ministros que cuidam da área
social da população, querem ver.
Dona
Glória, o que seu filho pediu e a senhora atendeu, foi por puro ato de
desespero porque toda a família adoece junto com o dependente químico, também,
e precisa enfrentar juntos o período de recuperação do paciente.
Quando
estava dentro do carro, sendo levado a clínica particular que aceitou tratá-lo,
seu filho disse em alto e bom tom para todos ouvirem:”vou falar para quem tiver
ouvindo essa reportagem: não entre nessa droga aí, não. É raiva, é ódio, é tudo
junto, é cinco segundos de céu quando usa, e o resto, tudo de inferno”.
Mesmo
assim, dona Glória, seu filho não teve forças suficientes para enfrentar seu
vício e voltou para “os cinco segundos de céu (...) e o resto,
tudo de inferno”. Ou seja, o inferno
do crack, local para onde todos irão se o Governo Federal não tomar a decisão
rápida, firme e corajosa de tratá-los enquanto é tempo, admitindo que o
problema existe e criar um programa de saúde pública de tratamento.
Também
sei o quanto é difícil esse tratamento, dona Glória! Paz para a senhora e força
nesse momento porque o tratamento pode levar meses e pode não levar à total de
recuperação. Mesmo assim, foi um dia de glória para a dona Glória, ver seu
filho sendo levado para uma clínica particular de reabilitação!
“A gente cria um filho para viver uma vida
de sucesso, aí de repente você... é como se puxasse seu tapete. Ele vai sair
disso”, desabafa Maria da Glória das Graças, mulher guerreira e
determinada como tantas outras glórias anônimas que vivem no Brasil, contaminado
pelas pedras de crack, mas sem coragem para se expor, sofrendo caladas.
É,
dona Glória, seu filho sairá desse vício, se Deus quiser e seria melhor ainda
se o Governo Federal criasse e implantasse um programa nacional de tratamento
para dependentes químicos que não expusesse às famílias de “glórias” anônimas
dessa maneira!
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