“Hora
da xepa”, era como se dizia entre o tempo do barulho do sino
tocado no mercado municipal Adolpho Lisboa, as pessoas carentes que entrando e
recebendo dos feirantes ou comprando a preços baixos, produtos que alimentariam instituições filantrópicas
e ou a elas próprias! Nessa época início da década de 70, era só um menino usando
calção de sacos de açúcar, com uma sandália havaiana nos pés, que vendia sacos para
guardar grandes tambaquis, pescados nos rios do Amazonas. Os sacos eram de cimento
virado do lado contrário e os vendia com alegria e em grande quantidade, porque
tinham sido produzidos de madrugada pela minha mãe Josefa Costa. Os peixes
sobre as bancas do mercado chegavam de madrugada em motores de pesca, como eram
conhecidos todos os que tivessem grandes geladeiras, para armazená-los. Eles
eram pescados principalmente no Rio Solimões.
O Rio Negro quase não
tem peixe, carapanãs ou outros tipos de insetos; ao contrário do Solimões, que
tem tudo e outros mistérios também. Em frente de Manaus, as duas águas barrentas
e negras se encontram, brigam um pouco e formam o belíssimo “Encontro das Águas”. Os dois juntos ou separados parecem mais um
mar de água doce com mais de 5 kl de uma margem à outra, principalmente o
Solimões, mais traiçoeiro e violento, que esconde nas profundezas de suas
entranhas motores naufragados, corpos em decomposição, pertences de suas
vítimas e ossos de cadáveres. Por que estou escrevendo sobre “Hora da Xepa” e divagando sobre os
Rios? Ambos são de uma beleza impagável: um lindo por de sol, águas bravias em
um e calmas no outro...Mas voltemos à crônica e à razão da “Hora da Xepa”.
Com a queda nos preços
dos tomates na revenda, o que é ótimo para o consumidor e péssimo ao produtor
rural, a cena de um trator esbagaçando-os no campo foi revoltante. Não seria mais fácil
doar a produção para instituições de caridade transformá-las em sopa que
alimentariam milhões de brasileiros que ainda passam fome, ou vende-las a um
preço menor, mesmo com prejuízos na lavoura, do que destruir tudo, como ocorria
antes na “Hora da Xepa”, no mercado
Adolpho Lisboa, em Manaus? O Brasil é o maior joga fora mais de 30 toneladas de
produtos do campo. Ele desperdiça produtos do campo no transporte, no processo
de embalagem e nas feiras! Era só um adolescente vendendo no mercado Adolpho Lisboa
sacos produzidos de madrugada. Na “hora
da xepa”, gostava de ouvir os vendedores de peixe gritando “saqueiro”, o sino tocando, um burburinho
de gente carente se aglomerando na porta
do mercado e entrando somente depois das 10 horas da manhã para receber doações
ou comprar a um preço menor.
Todos sabiam que quando
o sino parasse de tocar, fiscais da vigilância sanitária entrariam, derramariam creolina nos os produtos que estivessem sobre as bancas de carnes e
peixes, principalmente, porque não tinham sido vendidos nem doados aos
carentes e inutilizavam tudo, por que
não existia gelo. Dentre as pessoas, se
destacava um homem de paletó e gravata que se fazia acompanhar de duas outras
pessoas. Era o desembargador do Tribunal de Justiça do Amazonas, André Vidal de
Araújo, pessoa simples, conhecida cumprimentadíssima por pelos feirantes, criador
de mais de escolas nos municípios onde atuou e diversas instituições filantrópicas em
Manaus, inclusive a primeira Faculdade
de Serviço de Manaus, a terceira mais antiga do Brasil, como registro no livro
científico “O CAMINHO NÃO PERCORRIDO – A TRAJETÓRIA DOS ASSISTENTES SOCIAIS
MASCULINOS EM MANAUS” (ED I. OFICIAL/2005 e UFAM/2013)!
Texto maravilhoso
ResponderExcluirMuito bom. Palmas!!!!
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