À Josefa Bezerra da Costa, minha mãe!
Encontrar construções novas
para pedir doação de sacos vazios de cimento era uma coisa que fazia com muito
prazer e orgulho. Depois, em casa, eu e minha mãe Josefa, virávamos todos no lado
avesso e produzíamos sacos de papel para guardar peixe. que eram comercializados
na área reservada para a venda desses produtos regionais, no Mercado Adolfo Lisboa, em Manaus, no início
da década de 70.
Depois das 10 horas da
manhã, quando um sino era tocado no Mercado, o preço dos peixes e carnes
baixavam até à metade a procura pelos sacos aumentava muito, porque os
compradores deixavam para adquirir o produto depois desse horário! Eu
aproveitava e era tal de saqueiro pra lá e saqueiro pra cá e
eu adorava essa muvuca de forma organizada!
Eu gritava: “olha
o saco para colocar peixe, quem vai querer saco!!!” e passava em frente
às bancas. Talvez alguém comprando peixes adquirisse um saco para colocá-lo
dentro. Muitas vezes o dono da banca de peixe gritava forte “saqueiro”
e o eu atendia rápido.
Era comum se embrulhar ou
depositar peixes em sacos de cimento, até o final da década de 70 quando
começaram a aparecer os sacos plásticos. Mas, os que eram comercializados no
mercado, eram mais resistentes e suportavam peso, se fossem bem feitos, e isso
eu e minha mãe sabíamos como fazer, virando-os do lado avesso, colando-os com
“grude”, espalhado com uma colher dobre
todos ao mesmo tempo e o transformando-os em sacos limpos, próprios para
receber os peixes, que eram resultado da
exploração aos pescadores, os atravessadores e aos próprios vendedores em
bancas nas feiras e mercados, porque sempre um queria ganhar mais do que o
outros, mas esqueciam que na fonte, o pescador sempre foi o mais explorado de
todos!
Eu tinha opção: ou venderia
sacos para guardar peixes ou ia trabalhar em uma fábrica que existia na esquina
de uma rua acima da Avenida Adalberto Valle, onde residi no bairro da Betânia.
Nessa época, com poucos conhecimentos de matemática ainda, eu calculava meu
lucro fazendo o cálculo de quanto eu gastaria com passagem de ônibus para o mês
inteiro e o que restava considerava meu lucro e depositava em uma caderneta de
poupança na Socilar, que eu passei a ter a partir de meus 12 anos e acumulava
tudo em cofres de lata que recebia após cada depósito.
Também fazia o mesmo com
relação à venda de tudo que recebia, vendendo picolé, cascalho, jornal,
engraxando sapato, ajudando a produzir na fábrica de picolé, vendendo velas em
porta de cemitério, cascalho, etc. A tudo fazia com prazer e alegria, mas sem
nunca abandonar meus estudos porque sabia que só através da frequência às
aulas, poderia melhorar de vida.
O ritual de construir um
saco para peixe a partir do saco de cimento era simples demais e minha mãe até
sabia fazer: dos sacos de cimento se aproveitava só uma camada, eram virados do
avesso para utilizar só a segunda capa que os enxertava antes do que receber
diretamente o cimento. Ao mesmo tempo, todos eram arrumados em cima de uma mesa;
passávamos cola branca em todos ao mesmo tempo. Em seguida, era só dobrar a
cada um deles individualmente e passar a mão por cima de cada um para não
soltar a cola com o peso do peixe. O grude, como era conhecida a mistura, se
produzia feito com goma, água e levada ao forno para ferver até dá o ponto
exato de “cola” e passava-se de uma vez em todos com a costa de uma colher ou
pincel e estava pronto um saco confiável e ecologicamente correto!
Pronto, estava feito o saco
para peixe!
Mas que trabalheira! Como a necessidade nos torna criativos! Gostei muito desta cronica. Abraços de além-Mar.
ResponderExcluirCelina Márcia Composé
ResponderExcluirAmei!!!!!éramos felizes e não sabíamos!!!!!