Lembro e tenho saudades de quando
voltei a morar em Manaus, em 1968 e puxava água do poço na casa de minha
madrinha Natércia Januário Calado, no Morro da Liberdade. Lembranças e
saudades das professoras primarias, chamadas de "tias" Aidê, "Chiquinha"
e de Rosa Eduarci Marinho. Não sei se seus "sobrinhos"
ainda lembram e sentem saudades de suas "tias" como eu!
Tenho lembranças e sinto saudades de
quando fazia compras na "Casa 3 Irmãos" e olhava
sempre para um uma moto "estranha" ao meu olhar, com um leão pintado
na porta "CASA LEÃO"(parece que uma empresa que fazia consertos
de eletrodomésticos) informando a quem pertencia o motorizado.
Tenho lembranças e sinto saudades de
quando tive meu primeiro dia de aula no "Grupo Escolar Adalberto
Vale", com a diretora Alda Figueira Péres considerada
rígida demais (não para os padrões da época de Governo Militar, quando alunos
respeitavam suas “tias”). Os alunos tinham jantar o Hino Nacional com a
mão no peito, hino à Bandeira que na gozação alguns alunos o cantavam "japonês
tem quadro filhos, todos quatro aleijados.."
Lembro e não sinto saudades da dupla DON
& RAVEL, com suas músicas fazia apologia ao Governo Militar.
Uma que tocava muito nas rádios em Manaus, trocávamos a letra parodia dela
cantando assim "a maconha no Brasil grou liberada, até o presidente já
fumou..." para a música da dupla começava
assim: “As praias do Brasil são ensolaradas...lá,
lá, lá....”
Lembro e sinto saudades das catraias
coloridas que singravam de um lado ao outro os principais igarapés de. Manaus,
num bailar cadenciado - uma ia e outra voltava cheias de passageiros por falta de
pontes e se encontravam ao meio dele, quase sempre -, transportando passageiros,
mercadorias e pequenas cargas anos 68/69/70 e até início dos anos 80, ligavam
os bairros mais importantes da cidade. Era gostoso de olhar seus remadores
com braços fortes, musculosos. Cheguei a entrar em algumas que ligavam o Morro da
Liberdade à Cachorrinha só para apanhar água para beber na ensacadora de açúcar
do Sr. Aguiar. Mas existiam outras em outros pontos ligando outros bairros
como Educandos ao Centro, Aparecida ao São Raimundo...
Os mais de 130 igarapés catalogados,
possuíam águas limpas e transparentes e pescava-se dentro deles, principalmente
no Igarapés do 40 que entrava pelo Rio Negra e, passava pelos bairros de Santa
Luzia, Morro da Liberdade e Betânia e um pedadaço do Crespo/São Lázaro e
terminava uma "lagoa verde" devido à cor da água existente ao final
de um igarapé que corria limpo no local . Hoje aterraram tudo e invadiram por
necessidade ou por falta de moradia e de planejamento urbano.
Lembro e sinto saudades das kombis, chamadas de "espressinhos" ou “exprssinhos”, (o tempo já me fez esquecer
como era escrita essa palavra) levando passageiros, mercadorias e
cargas e para os bairros de Manaus, que os ônibus grandes de madeira,
produzidos nas garagens das empresas ANA CÁSSIA, BONS AMIGOS e NOSSO TRANSPORTE,
as que mais circulavam não conseguiam na cidade cheia de pistas de paralelepípedos.
Lembro de uma vez que quando vendia
jornal na calçada dos Correios, quando pedi emprestada do colega lavador de
carros Wilson, do Ginásio Dorval Porto,
e a sua moto "Piaggio", para
dar uma volta e garanti que sabia dirigir. Ela era importada pelo empresário Mário
Biaggio. No "Dorval
Porto" fiz o ginásio após concluir a 4 série primária onde passei a
estudar e estudei até concluir a 8 série e fui me matricular no Colégio
Estadual, no centro da cidade e, querendo ser professor igual às “tias” do
curso primário.
Lembro e peço desculpas pela moto do
Wilson ter caído presa nos trilhos de bondes que existiam sobre
paralelepípedos que recobriam todas as ruas centrais de Manaus e alcançavam
alguns bairros. A moto novinha amassou um pouco no tanque de combustível que
ficava na sua frente.
Lembro e tenho saudades da lista de material pedido para meu curso
primário: um lápis preto, borracha de duas cores, po brilhante para os
trabalhos, cartolina, cadernos de caligrafia, de "cobrir" letras, de
desenho e o livro CAMINHO SUAVE, de Violeta, ao contrário das de hoje, que custam uma fortuna nas livrarias que
tem na data a de melhor de venda. Ah! Como era gostoso comprar
picolé no portão do grupo escolar para comer com o sanduíche de ovo que minha
madrinha prepara para mim, diariamente! Depois, como era gostoso vender picolé
aos 9 anos. Estudava pela manhã e à tarde, vendia picolé na porta da escola.
Lembro e tenho saudades da época em
que tomava banho nas cacimbas construídas em um areal que existia no bairro da
Betania, depois do futebol de todas as tardes na avenida Adalberto Vale,
antes do asfalto chegar. O Jorge Lopes da Silva, baixo,
entroncado era o primeiro a ser escolhido. um e goleador nato. As traves
eram feitas com sandálias ou pedras na falta de sandálias.
Nao tenho saudades do tempo, porque
ele e envelheceu muito. Hoje vivo de lembranças do que fiz e não sei de
alguém sentirá saudades de mim, quando eu me for morar com DEUS.
Só deixarei livros científicos
nas áreas sociais e participação na Antologia Gandavos, editada por Carlos Lopes em, em Pernambuco.
Nada levarei à sepultura quando
me tornar saudade, além da vida boa que vivi, sem tecnologia, onde parece ser
tudo artificial e não como na época em que vivi e era feliz e não sabia! Ah se o
tempo voltasse!
Viveria tudo com mais intensidade,
mas o tempo não volta. Segue seu curso natural e suavemente, as vezes com ou sem
pressa nenhuma em caminhar. Nós temos que nos adaptar aos novos tempos!
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