Aonde quer que houvesse um grupo de colegiais adolescentes
na década de 70, podia-se ter certeza entre elas teria um relicário circulando na
mão de algumas ou de todas elas. Os relicários da época eram as atuais agendas
colegiais de hoje, mas que guardavam segredos adolescentes que só eram
revelados para a possuidora ou compartilhado com algumas amigas consideradas
mais íntimas depois. Muitos, coloridos, tinham até chave e cadeados; outros,
menos sofisticados, mas também coloridos, não possuíam chave alguma! Mas todos
os relicários guardavam declarações de amor ou algo do gênero que os
adolescentes masculinos gostavam de registrar nos relicários das adolescentes
femininas!
Alguns relicários vinham com cadeado para guardar
mais secretamente a declaração de amor que se costumava fazer, na inocência da
adolescência dos 12 aos 15 anos. As meninas adoravam lê-las e mostrá-las as
colegas as escritas e declarações de amor dos meninos. Até suspiravam de
alegria e sorriam pelos corredores das Escolas e as recebiam e liam como se
verdades fossem. Até poderiam ser, mas jamais seriam cumpridas porque o jovem
daquela época como os de hoje se apaixonavam e desapaixonavam muito facilmente.
Geralmente, na página do relicário que o adolescente escrevesse, ficava sempre
uma foto em preto e branco no tamanho 3 X 4 ou anéis eram trocados durante as
paixões quase sempre secretas e adolescentes, mas tudo ocorria na maior
inocência!
Embora a palavra relicário seja definida como um
objeto que defina como um local que “permita guardar relíquias de um santo ou
destinado também a guardar hóstias ou imagens de santos”, não era nesse
o sentido da que as adolescentes os usavam. O relicário da época se constituía
de uma pequena ou grande agenda que era repassada entre os meninos para que escrevesse
alguma coisa, o que desejassem como coisas de amor, declarações apaixonadas de
fidelidade que nunca chegariam a se concretizar. Puras coisas bobas de uma adolescência
sadia, fora da era da internet, computador e dos namoros ou paixões virtuais de
hoje. Ser convidado para escrever em um relicário era uma honra conquistada por
poucos, mas eu deixei minha marca e meu pseudônimo em muitos, no Grupo Escolar
Adalberto Valle, onde cursei as primeiras quatro séries de meu estudo.
Nessa mesma época de troca de anéis ou fotos em peto
e branco, andar de mãos dadas com uma menina, era sinal visível e claro de um “namoro”
eminente. Beijar na boca era uma coisa
mais séria e dava até em “casamento”, muitas vezes Outras coisas, nem se
imaginava ou conversava nem em sala de aula e nem fora dela. Coisas que eu queria
saber, as aprendi na teoria quando adquiri pelos correios o livro: “TUDO QUE VOCÊ QUER SABER SOBRE SEXO E NÃO
TEM CORAGEM DE PERGUNTAR”, escrito pelo Dr. David Reubam, publicado em
1969/70, sendo considerada, na época de seu lançamento na “bíblia do pecado”,
período em que falar abertamente sobre sexo era ainda era e ainda é um tabu,
mesmo diante da quase total liberalidade.
Como comecei a escrever poesias muito cedo e
publicá-las no jornal “O Pirilampo “, do
Grupo Escolar Adalberto Valle, rodado em um aparelho que usava álcool para
reproduzir várias cópias e sempre que era convidado para escrever alguma coisa
nos “relicários” das meninas, os assinava com os pseudônimos de “J. Junior”, “O
Solitário” ou “Caralbec Betânia”, para fugir da timidez que me era companheira ou
por causa dela. Expressava-me nas agendas das adolescentes, geralmente fazendo
poesia ou juras de amor inocentes que nunca chegariam a ser concretizados. Com
algumas, cheguei a ter algum envolvimento; com outras, nada havia!
Relicário
era considerado um local para se guardar relíquias, mas eu não me sentia uma
relíquia e nem o sou, para ser guardada como se estivesse sendo colocado escondido
como se fosse uma jóia preciosa e trancada com chaves e cadeado. Longe disso:
sempre me achei uma pessoa normal, com defeitos e virtudes. Estudei desde cedo.
Enfrentei dificuldades do dia-a-dia; venci pelo trabalho e com muito estudo.
Tenho poucos amigos. Desses poucos, alguns gostaria de colocá-los em meu
relicário do coração, local em arquivo as lembranças e mantenho alguns lamentos.
Mas como meu coração é um relicário com chave não os revelarei nem sobre
tortura! Só posso dizer que sou mais feliz do que todos possam imaginar que eu
seja, porque vivo sob os cuidados e o amor de minha esposa Yara, que também teve seu relicário!
Quero ser guardada em seu relícário um dia...anauê Angatu!
ResponderExcluirQuero ser guardada em seu relícário um dia...anauê Angatu!*** Lenna Machado <3 A FORÇA DA NATUREZA É A ORDEM DA VIDA, QUEM NÃO A CONSEGUE ENTENDÊ-LA VIVERÁ PERDIDO, CAMINHARÁ SEM MUITA ESPERANÇA. SE UM HOME FALA OU AGE COM UMA INTENÇÃO PURA, A FELICIDADE O ACOMPANHA, COMO A SOMBRA SEM JAMAIS O ANADONÁ-LO.
ResponderExcluirCarlos, meu amigo:Você tratou de um tema dos mais interessantes entre os adolescentes de minha geração! Muitos suspiros, muitas emoções. Lembro-me perfeitamente do soneto "Mal Secreto", de Raimundo Correia, se não me falha a memória! Achei legal essa lembrança!Adelaide Reys
ResponderExcluir