sábado, 31 de maio de 2014

AS RELAÇÕES HUMANAS DESAPARECERAM NA ERA VIRTUAL!


O exato sentido do que deveria ser a palavra “relações humanas”, foi completamente  destruído na era da virtualidade e precisa de uma nova e urgente definição  porque o que era não é mais!

Com namoro, encontro, descrição nem sempre verdadeiras e muitas mentiras virtuais são feitas transmitidas pela internet em salas de bate-papo e outras formas, as “relações humanas” precisam ganhar um novo sentido porque tudo o que se compreendia sobre o tema desapareceu completamente nos dias de hoje.

Não existe mais o olho-no-olho, o cara-a-cara e os bate-papos com proximidade. Estamos criando nova geração “conectada” e “internetizada”, mas carente de amor, carinho, respeito, cidadania, obrigação e confiança em si mesmo como no passado. Pessoas se escondendo por atrás de uma tela de computador, e dizendo o que querem,  bobagens que desejam, usando a linguagem que acham ser a mais correta e sendo reprovadas em provas, testes de emprego, concursos e vestibulares para ingresso em cursos superiores. Hoje, tudo é feito, produzido, veiculado virtualmente. E nessa era muitas mentiras são difundidas também!

Os jovens, adolescentes e crianças não possuem mais qualquer tipo de sociabilidade; mas, sim, de “internetibilidade”, não se relacionam mais, apenas trocam e-mails, não conversam mais, somente mandam MSN e torpedos; não escrevem de forma correta mais e, por isso, também não falam porque uma nova linguagem virtual está surgindo e precisa ser decifrada e explicada, muitas vezes.

É a linguagem cibernética que está invadindo lares, mudando comportamentos, atitudes e fragilizando cada vem mais as relações interpessoais na sociedade humana! Se de um lado, isso pode ser encarado como modernidade, por outro lado pode ser considerado um grande atraso na sociabilidade dos jovens e adolescentes que passam a viver isolados, presos dentro de seus apartamentos e perdem completamente o salutar convívio social que existia antes da era da internet.

Relações Humanas que eram, no passado, foram definidas como “conjunto de interações que mantêm os indivíduos no seio de uma sociedade”, tendo por base “os vínculos, muitas das vezes hierárquicos, que existem entre as pessoas e que têm lugar através da comunicação (podendo ser visual, linguística, etc.)”, não pode e não deve ser mais entendida e definida assim.

Como afirmei,  isso desapareceu na era da internet e novo conceito terá que ser criado ou acrescentado porque os vínculos hierárquicos desapareceram entre as pessoas; a comunicação está diferente, a visualização já não é mesma, a linguística está desaparecendo...enfim, nada está igual como já fora no passado. Nada do que se definia como a essência das “relações humanas” não existe mais.

As relações humanas não são mais primordiais para o desenvolvimento individual e intelectual de cada ser humano, pois os laços  ”internetizados” não constituem mais valores essenciais da sociedade atualmente existente mas uma nova sociedade está sendo construída sobre as bases do individualismo, solidão e sem emoções verdadeiras ou inter-relações pessoais. 

Mesmo que as relações humanas impliquem, ainda, em pelo menos dois ou mais indivíduos se relacionando, poder-se-ia supor que a questão  estivesse resolvida plenamente não fosse esse processo se dar apenas entre dois indivíduos que não se conhecem, trocando mensagens, falseado suas características físicas, mentindo no que gosta ou não gosta e até em sua idade em cadastros virtuais.

Não sabendo conceituar mais esse assunto e nem sendo minha atribuição ou responsabilidade em fazê-lo e por não ter competência profissional para essa tarefa, deixarei para quem desejar pesquisar o comportamento de internautas para propor um novo conceito para relações humanas.

De uma coisa estou certo: os integrantes da sociedade não se reconhecem mais, não respeitam os direitos individuais e não podemos mais garantir que sem boas relações humanas, não pode haver uma boa qualidade de vida, simplesmente porque tudo isso desapareceu com a era digital.

A VIDA, A MORTE, O CONCEITO DE DEUS E AS BATATAS!



A vida e a morte são dois mistérios que não é dado ao homem entendê-los, porque vêm de Deus. Na sociedade oriental, o nascer é motivo de festa, alegria, comemoração e cumprimentos; na ocidental, ao contrário: é motivo de tristeza, choro e condolências. Incompreensível essa dualidade e, para muitos, inaceitável também. Seja lá como for, na cultura que for, a vida e a morte são uma dualidade incompreensível para todos que morrerão um dia porque o mundo nunca acabará, mas as pessoas e se acabarão e só restarão as batatas!


Em interessante estudo que diferencia as religiões Hindu, Budismo, Teísmo e Xintoísmo, o conceito do que venha ser Deus é diferente nas culturas ocidental e oriental. Na ocidental Deus é o criador, o Todo Poderoso, o único porque a religião é monoteísta. Na sociedade oriental, Deus se manifesta através de muitas divindades: o divino estaria presente em tudo, porque acreditam no panteísmo, que seria uma força impessoal que permearia tudo e todos. Os cultos também diferem de uma para outra: na sociedade oriental, se dá pela meditação, o sacrifício. Na ocidental, pela pregação, oração e louvor. A visão ética também não são iguais: na oriental ela seria fruto da passividade e a fuga do mundo. Na ocidental o fiel seria um instrumento da ação divina e deve obedecer à vontade de Deus, abandonando o pecado e a passividade diante do mal. A ideia de salvação também muda de uma sociedade para a outra. Na ocidental, a salvação seria a pessoa se libertar do eterno ciclo de reencarnação da alma e do curso da ação porque a graça viria por meio de atos de sacrifício ou do conhecimento místico. Na ocidental, Deus redime o ser humano do pedado, julga e dá punição porque existe a noção de uma vida após a morte, no céu ou no inferno.


A noção de humanidade na sociedade oriental seria a de que o homem poderia alcançar a união com o Divino, mediante a iluminação súbita e o conhecimento. Na oriental, o conceito seria de que existe um abismo entre Deus e o ser humano, o criador e a criatura. Nesse conceito “o pecado grande é o homem desejar se transformar em Deus em vez de se sujeitar à vontade de Deus”, informa o mesmo estudo sobre o assunto. 

Não adianta os ostentar riqueza, soberta, sabedoria e inteligência, que nada disso restará depois da morte em qualquer que seja sua forma de vida ou de crença, a menos que esse saber tenha sido registrado por escrito, para servir de estudo na posteridade. Caso contrário, nem o saber restará porque morrerá com a pessoa. Essa constatação me faz pensar no sentido e na dualidade que é inseparável: a vida não existe sem a morte porque uma se faz necessária a outra, porque no mundo material em que vivemos precisa continuar cedendo espaço para novas vidas e alimento para outras pessoas.


A propósito, Machado de Assis, em sua memorável romance  “Memórias Póstumas de Brás Cubas” se amparando em vários estudos,  garante que as guerras, pragas ou mortes por catástrofes naturais se fazem necessárias para se perpetuar a vida e conclui com seu personagem filósofo humanista “Quincas Borba”: “aos vencedores as batatas”, remetendo a uma suposta luta entre duas tribos rivais que viviam em guerra permanente. Uma plantava e colhia batatas e a outra só guerreava, roubava mulheres para transformá-las em esposas e destruía tudo por onde passava, depois de derrotar os inimigos. Depois de comeram as batatas que pilharam e os tubérculos se exaurirem, morreram todos. 


Outros teóricos como Thomas Robert Malthus, na conhecida “a teoria malthusiana”', além de Jonh Lock e outros pensadores da sociedade na idade média, principalmente também defenderam as guerras e catástrofes naturais como necessárias à garantia da continuidade da vida no planeta,  Assim também deve ser a vida: ela vai se destruindo aos poucos até nada mais restar, até acontecer o seu encontro com  a morte!


Mas o que tem a ver a expressão usada por Machado de Assis, com a crônica? Tudo a ver porque o mesmo mistério da guerra, destruição das batatas, roubo de mulheres, desposamento, se aplica no caso da vida e da morte: se ninguém souber viver, um dia tudo acabará e ficaremos sem entender porque isso aconteceu. A tribo que só guerreava, ostentava seu poder e força, mas não sabia viver! E todos morreram em seguida, pela fome porque também não caçavam e nem pescavam, o que seria natural se a tribo não pensasse só em guerra, só em si e em  seus próprios valores. 
O pensar individual é um tipo de morte em vida!


Essas lições e diferenças servem para a vida também: devemos plantar e não destruir as batatas porque poderemos precisar delas, acreditar em um Deus que é único, embora os estudos o apresentem diferentes, porque se não conservarmos nosso espírito e o entregamos a Deus na forma que você o conceba, morreremos todos de fome ou de causas naturais mesmo, mas morreremos! E, dependendo da crença de cada um, poderemos ir para o céu ou para o inferno.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

AS RELAÇÕES HUMANAS DESAPARECERAM NA ERA VIRTUAL



O exato sentido do que deveria ser a palavra “relações humanas”, foi completamente  destruído na era da virtualidade e precisa de uma nova e urgente definição  porque o que era não é mais!

Com namoro, encontro, descrição nem sempre verdadeiras e muitas mentiras virtuais são feitas transmitidas pela internet em salas de bate-papo e outras formas, as “relações humanas” precisam ganhar um novo sentido porque tudo o que se compreendia sobre o tema desapareceu completamente nos dias de hoje.

Não existe mais o olho-no-olho, o cara-a-cara e os bate-papos com proximidade. Estamos criando nova geração “conectada” e “internetizada”, mas carente de amor, carinho, respeito, cidadania, obrigação e confiança em si mesmo como no passado. Pessoas se escondendo por atrás de uma tela de computador, e dizendo o que querem,  bobagens que desejam, usando a linguagem que acham ser a mais correta e sendo reprovadas em provas, testes de emprego, concursos e vestibulares para ingresso em cursos superiores. Hoje, tudo é feito, produzido, veiculado virtualmente. E nessa era muitas mentiras são difundidas também!

Os jovens, adolescentes e crianças não possuem mais qualquer tipo de sociabilidade; mas, sim, de “internetibilidade”, não se relacionam mais, apenas trocam e-mails, não conversam mais, somente mandam MSN e torpedos; não escrevem de forma correta mais e, por isso, também não falam porque uma nova linguagem virtual está surgindo e precisa ser decifrada e explicada, muitas vezes.

É a linguagem cibernética que está invadindo lares, mudando comportamentos, atitudes e fragilizando cada vem mais as relações interpessoais na sociedade humana! Se de um lado, isso pode ser encarado como modernidade, por outro lado pode ser considerado um grande atraso na sociabilidade dos jovens e adolescentes que passam a viver isolados, presos dentro de seus apartamentos e perdem completamente o salutar convívio social que existia antes da era da internet.

Relações Humanas que eram, no passado, foram definidas como “conjunto de interações que mantêm os indivíduos no seio de uma sociedade”, tendo por base “os vínculos, muitas das vezes hierárquicos, que existem entre as pessoas e que têm lugar através da comunicação (podendo ser visual, linguística, etc.)”, não pode e não deve ser mais entendida e definida assim.

Como afirmei,  isso desapareceu na era da internet e novo conceito terá que ser criado ou acrescentado porque os vínculos hierárquicos desapareceram entre as pessoas; a comunicação está diferente, a visualização já não é mesma, a linguística está desaparecendo...enfim, nada está igual como já fora no passado. Nada do que se definia como a essência das “relações humanas” não existe mais.

As relações humanas não são mais primordiais para o desenvolvimento individual e intelectual de cada ser humano, pois os laços  ”internetizados” não constituem mais valores essenciais da sociedade atualmente existente mas uma nova sociedade está sendo construída sobre as bases do individualismo, solidão e sem emoções verdadeiras ou inter-relações pessoais. 

Mesmo que as relações humanas impliquem, ainda, em pelo menos dois ou mais indivíduos se relacionando, poder-se-ia supor que a questão  estivesse resolvida plenamente não fosse esse processo se dar apenas entre dois indivíduos que não se conhecem, trocando mensagens, falseado suas características físicas, mentindo no que gosta ou não gosta e até em sua idade em cadastros virtuais.

Não sabendo conceituar mais esse assunto e nem sendo minha atribuição ou responsabilidade em fazê-lo e por não ter competência profissional para essa tarefa, deixarei para quem desejar pesquisar o comportamento de internautas para propor um novo conceito para relações humanas.

De uma coisa estou certo: os integrantes da sociedade não se reconhecem mais, não respeitam os direitos individuais e não podemos mais garantir que sem boas relações humanas, não pode haver uma boa qualidade de vida, simplesmente porque tudo isso desapareceu com a era digital.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

"MININA", VAMOS TOMAR UM CANECO?"


Em homenagem ao luso-brasileiro Eurico Manoel Nogueira da Silva


“Minina”, vamos ao bar tomar um caneco”. 


Era assim que o Eurico Manoel Nogueira da Silva convidava a hoje minha esposa Yara Queiroz, para tomar uma cerveja no bar “Frangostoso”, na Avenida Joaquim Nabuco, quando deixavam a Faculdade de Direito, onde se formaram. Ela grávida de 7 meses de nosso único filho, Carlos Costa Filho. O gajo me causou ciúmes de tanto minha namorada falar dele com tanta ternura e admiração. Nos conhecemos no “Chopicanha” e também passei a admirá-lo, mas estava sempre com um cigarro entre os dedos e tinha uma forma de falar inconfundível. Piloto da Rico Táxi Aéreo, onde também era instrutor de pilotos, quase não tinha tempo de estudar. Como falava bem o inglês, era conhecedor de história e de geografia, fez supletivo e concluiu duas faculdades, Pedagogia e Direito vencendo pelo seu próprio esforço. Não compareci à Delegacia Geral porque não queria ver seu corpo inerte com 34 quilos dentro de um caixão. Não gosto de velórios, enterros ou cemitérios porque sinto que estou morrendo um pouco a cada vez que perco um amigo. Prefiro lembrá-los como foram em vida. 


Desejo lembrar do Eurico, com seus quase 84 quilos, barriga proeminente, óculos de grau pendurado ao peito, como o vejo na fotografia que guardarei com muito orgulho. Na foto, tirada por ocasião de um ensaio da Banda da Bica, estamos, eu, Eurico, Yara e o jornalista Deocleciano Bentes de Souza, o Deco, na época pertencente à Diretoria da Banda Independente do Armando, a mais irreverente de Manaus, com vida-longa também. Por isso, amigo Eurico, não fui ao velório de seu corpo porque prefiro recordar o amigo na foto que tenho e na sua forma alegre e divertida de viver. Na foto que guardarei eu, calvo e com barbas ainda negras com uma camisa da Banda, a Yara, já minha esposa, vestida de preto, o Deco, usando seu óculos, bandana negra na cabeça e uma camisa de meia azul e branca, da diretoria, diferente da que vestia, toda colorida.  A foto foi tirada na porta do Bar do Armando, que aparece ao fundo.


É essa foto que guardarei comigo e que agora olho para escrever essa crônica, desejando apenas recordar momentos alegres deixados pelo Eurico, que parava em qualquer bar para tomar “caneco” com sua colega de Faculdade com quem também muitas vezes estudava, mas sempre com um cigarro entre os dedos. Mas, como disse, prefiro lembrar seus momentos bons e divertidos, como o de quando o então piloto Eurico estava pedindo autorização para pousar o avião que pilotava no Aeroporto Eduardo Gomes e, do outro lado, pensou um controlador de voo o estivesse imitando sua forma de falar, foi até o controle de terra do Aeroporto para “ver quem era o gajo que me arremeda” e constatou que controlador “gaiato” era seu conterrâneo da terra do além-mar, como costuma escrever a amiga leitora, Margarida Barral, que é de origem africana de Angola e que migrou para Portugal.


Desejo lembrar de quando você estava operado na Unimed e eu e a Yara fomos visitá-lo. Nos recebeu com um enorme sorriso e falou de suas angústias por não poder cuidar de seu filho, Eurico Júnior, que tinha problemas mentais “e só eu tenho paciência com ele, ninguém mais”. Ou quando você foi aprovado por concurso para Comissário eu brincava com a Yara e dizia: “ora pois, pois, esteja preso, gajo”. Ou quando fomos visitá-lo na Delegacia no Bairro da Compensa, onde trabalhava, eu observei facas, revólver em cima de sua mesa de trabalho e fiquei lembrando da época em que era repórter policial em A NOTÍCIA e identificávamos cada arma pela sua função no mundo do crime: “faca, carteira de identidade; revólver,  CPF” lhe perguntei a razão daquilo em cima de sua mesa e Eurico, sempre sorrindo e com o cigarro entre os dedos, com sua barriga proeminente, dizendo-me que são “armas utilizadas em crimes” que serviriam de prova da ação contra o meliante, ou o “gajo”, como Eurico não perdia o hábito de pronunciar.


No hospital da Unimed, onde fomos visitá-lo, recordo uma cena comovente de você, já quase sem cabelos, falando que estava difícil enfrentar os efeitos colaterais da quimioterapia, sempre sorrindo, levando tudo como fosse uma mera brincadeira, a Yara lhe falou, pegando em sua mão: “seja forte, amigo e não vá nos deixar agora” e você repetindo de novo sua preocupação com seu filho Eurico Júnior e garantindo: “vou superar isso para cuidar do meu filho” e fazia planos para tomar “uns canecos”, assim que se recuperasse e recebesse alta. Você, Eurico, era a própria vida. 


Alegre, brincalhão. Eurico conseguiu fazer amigos e todos seus queridos colegas do curso  de Direito estavam presentes ao velório. Todos choraram, lamentaram muito pela sua perda, mas sua esposa Nela, também enfermeira que cuidava de você, dizia que muitas noites, tinha que dopá-lo completamente para dormir, tantas eram as dores na coluna sentia porque o câncer, em metástase, o estava consumindo todo, e que reclamava por não conseguir sentar porque tudo lhe doía, muito. 


Não sofra mais, Eurico. Vá em paz, vá se encontrar com o seu colega de Faculdade David, funcionário de carreira do Tribunal Regional do Trabalho, que já lhe espera no céu.. Vá ri com seu amigo de Faculdade, contar-lhe suas histórias, aventuras de piloto civil de guerra, conhecimentos de geografia, histórias que você viveu na prática, que eu vou ficando aqui com as  nossas recordações gravadas em fotografias de nossos momentos felizes. 


Um dia também me encontrarei com você porque é o destino de todos ao seres vivos e eu não serei exceção, Eurico! Aguarde-me, amigo, porque quero conhecer mais sobre suas aventuras como piloto civil de guerra!





terça-feira, 27 de maio de 2014

O BRASIL DO PROPINODUTO ESTÁ COM SAÚDE NA UTI


O Brasil do propinoduto está doente, na UTI e parece não terá remédio para tirá-lo desse estado de pré-coma! Com a denúncia do Tribunal de Contas da União, ficou claro que o problema também era estrutural e não era só falta de médico. O programa MAIS MÉDICOS resolveu parcialmente o problema, mas a saúde pública contínua na UTI pela má pública, burocracia a e à Lei 8666/93, que permite todo tipo de esquema de maracutaias, em vários de seus artigos. Empresários e os administradores públicos conhecem e aprenderam como dar o famoso “jeitinho brasileiro” para o pedido de propina antes, durante e depois da licitação realizada. Como administrador público, fui vítima dessa Lei várias vezes em situações diferentes. Na condição de  pagador era assediado por credores. Como recebedor era forçado a dar “agrados” para receber em dia o que era meu por direito em razão de convênios públicos que fazia e para poder pagar os servidores que estavam envolvidos nos custos. 


Mas, a saúde pública é um caso à parte porque afeta a todos que precisam de saúde. Mas, como, se a saúde está doente terminal e precisa urgentemente de um remédio que a tire da UTI? Faltam profissionais médicos e administrativos e o remédio para tirá-la seu estado atual pode ser duro, exigirá medidas duras e impopulares no início porque o programa MAIS MÉDICOS não alcançou totalmente os efeitos que o Governo Federal desejava porque o problema não estava só na falta de médicos, mas na falta de estrutura, além da péssima gestão da saúde pública no Brasil, além da permissiva Lei de Licitações que atrapalha e atrasa mais do que ajuda a resolvê-lo. Sempre que a imprensa mostra quadro, dão desculpas “esfarrapadas” e quase nunca cumpridas de que estão contratando empresas, médicos ou comprando remédios. Mas só isso não bastará. É preciso que haja planejamento constante, mas os problemas são tem “solução” quando a imprensa denuncia e cobra. Depois, volta a tudo ao marasmo de antes como se a saúde pública e povo fossem cobaias de experiências que não dão certo! É um absurdo!
  

O relatório do Tribunal de Contas da União chocou o Brasil inteiro porque mostrou toda a verdade porque faltam gestores sérios para tirar a saúde do seu atual estado de falência e restabelecê-la e dar-lhe alta hospitalar. Mostrou uma saúde totalmente enferma, tomando sangue pela veia da incompetência geral e respirando por aparelhos médicos movidos manuais movidos por pessoas fantasmas porque eles não existem, porque os aparelhos na maioria dos casos, continuam encaixotados nos corredores dos hospitais que não foram concluídos, sujeitos às intempéries e outros problemas. 


O Governo Federal fez sua parte:, mas, só parcialmente: comprou equipamentos  e doou aos hospitais. Só esqueceu que os gestores e a Lei 8666/93 somados, são burocráticos demais nas pontas e muitos materiais adquiridos há anos pelo Ministério da Saúde, continuam esperando concluir licitações que, se não houver conchavos, nem conluios, nem recursos, nem propinas não demoram tanto tempo de espera - a menos que o Judiciário esteja concedendo liminares e cancelando algumas licitações -. A  lei 8666/93, que é a maior fonte de corrupção no Brasil e não deveria nem mais existir, sendo substituída por outra modalidade de fornecimento de materiais e serviços públicos. Já existe a modalidade de pregão, mas poucos Estados e Municípios a implantaram, por falta de estrutura e outras desculpas. Não conheço essa modalidade porque deixei de ser administrador público desde 2006. Garanto, porém, que a Lei 8666/93 permite muitos conchavos e esquemas de propinas, tudo dentro da Lei como seguidos aditivos. Essa lei não serve mais e só torna o serviço público mais burocrático, permitindo que obscuro o esquema de propinas continue legalizado. Não que a Lei, em seu todo, seja ruim, mas os administradores públicos e empresários se viciaram e tudo fazem para tirar proveito dela e nela, de forma legal e transparente.


Voltando à questão da saúde, objeto dessa crônica. 


Dos últimos sete anos pelo menos cinco deles passei dentro de hospitais, com sucessivas internações emergenciais, seletivas ou eletivas e, mesmo com plano particular de saúde, observo que também está um caós. Paga-se um elevado preço, mas os serviços deixam muito a desejar. Imagine no serviço público de saúde, que é burocrático, complicado, pesado, com licitações que demoram mais de um ano para chegarem a um ganhador porque muitos empresários criam empresas usando laranjas só para concorrerem na mesma licitação com vários nomes e vários donos mas, no fundo, são um só dono, formando um grupo de esquema que sempre vence tudo e não permite que alguém fora do esquema que montam seja vencedor. Os recursos e embargos e cancelamentos são intermináveis. Como administrador público que fui até 2006, cancelei uma licitação e não a homologuei e sofri ameças e ofertas de empresários desonestos.


Só existe o corrupto, porque existe o corruptível. Ou ele dá o que é pedido, ou não recebe e entra em falência total. Também existe aquela máxima que sempre justifica os elevados preços: “como eu vou demorar a receber do serviço público, venderei por um preço mais elevado”. Isso se justifica, porque é raro o órgão público que paga sem exigir nada em troca, em forma de propina em dinheiro. Esse processo vicioso pode ocorrer  antes, durante ou depois da licitação, na ora de receber. Como não estou à venda, não tenho preço. Sou pobre, tenho o suficiente para viver, embora com redução excessiva no valor de minha aposentadoria por invalidez, mas mantenho minha honra, honestidade, durmo tranquilo e acordo mais tranquilo ainda porque nunca me corrompi, mas já paguei propina para receber recursos públicos em vários órgãos públicos municipais e estaduais. 

Dai se tira o nível de corrupção que chegou ao Brasil do proprinoduto em todos os níveis de poder, mesmo na iniciativa privada que é a principal corruptora e deveria ser punido também junto com o corruptor.

sábado, 24 de maio de 2014

CAUSA MORTIS: OCITOCINA DE AMOR...! (Romance de Ficção)

              Poderia tê-la impedido, mas não o fiz; também não compareci à Igreja naquele dia, embora tivesse recebido o convite. Fiquei sabendo dos detalhes da festa, por amigos comuns, dois dias depois do acontecimento. Sei que fora um casamento magnífico, um casamento lindo! A Igreja, decorada com rosas, igual à festa que lhe proporcionei no dia de seu aniversário...!

            Naquele dia, também, começou meu drama de amor, como lhes contarei em seguida. Fiquei abalado, deprimido, confuso; internado em hospitais em diferentes ocasiões; por varias razões e motivos – mas o principal era só o louco amor que tinha por ela – tanto que não conseguia esquecê-la, nem na hora de minha morte. Como minha amada podia ter casado com outro se sabia que eu a amava?
            Portanto, como prova de nosso amor, passo a relatar-lhes os momentos que passamos juntos, eu e ela, mas antes preciso contar-lhes como cada fato aconteceu; como foram nossos belos anos de paixão intensa; como teve início o relacionamento entre ela e o seu hoje marido; como recebi o convite e notícia de seu casamento, enfim, tudo sobre nossas vidas juntos. É isso que pretendo contar-lhes a partir de agora, com todos os detalhes.
            Meu drama de amor começou às 19 horas no dia 7 de janeiro de 1976. E terminou às 22hs do dia 11 de dezembro de l984.
           Conheci aquela que viria a ser mais tarde minha paixão aos 22 anos e morri de amor já próximo aos 30 anos. Morte em vida! Morte de amor. Morte morrida depois de muito sofrimento! A bela e trágica história de “Abelardo e Heloisa”,tem uma semelhança com a minha, que, porém, tem outro tipo de fim. Isso é que passarei a contar-lhes agora.
           Nosso primeiro encontro ocorreu por um acaso; nem a percebi, também nem a olhei para ver quem estava a meu lado. Mesmo que por curiosidade fosse.
            Depois, voltamos a nos encontrar, não mais por acaso, mas por pedido dela. Suzy lembrou-me daquele nosso primeiro encontro.
            - Você nem me olhou, em nosso primeiro encontro – disse-me.
            Ah, como é triste perder alguém que se ama muito! É uma situação sufocante. Falta-nos o ar – esse ar puro que respiramos e que nos dá a sensação de vida!

            Eu a tinha reencontrado no curso. Suzy estudava para o vestibular. Depois, marcamos um encontro. “Lá vem ela, toda suada da academia!” – observei-a. Chegou-se junto ao carro e começamos a conversar. Levamos mais de uma hora conversando dentro de um clube, no estacionamento. E só tínhamos a lua como testemunha! Despedimo-nos depois.
            Falamos de música. Ela disse adorar as músicas românticas de Roberto Carlos. “Eu também gosto”! – acrescentei. Mas também apreciava as músicas de Chico Buarque de Holanda e Geraldo Vandré. Ela disse que só conhecia deles algumas poucas músicas. “Réquiem para matraga”, de Geraldo Vandré, era uma delas! Eu também gostava dessa mesma música!
            Frequentava academia porque não queria ser idêntica à mãe dela, em um futuro que já se aproximava rápido.
            Um professor de filosofia do curso, certa vez, disse em sala de aula que antes de conhecer a filha, procurava sempre conhecer a mãe, primeiro.
            - A filha de hoje será sempre a mãe amanhã! – dizia-me o mestre.
            Deve ser por isso que ele não casou! Aos 42 anos! Ele e sua filosofia! E era doutor na matéria!
            Ele era um excelente professor mais ganhava muito pouco!
            Havia uma coisa que não entendia dentro do processo de educação: nos anos 70, quando se perguntava a atividade de alguém, a melhor coisa a se dizer era “eu sou mestre”; nos anos 90, 2000 e século 21, quando se dizia é “eu sou mestre”, a pessoa a quem fora dada à resposta observava em sua volta para ver se outra pessoa escutara também. Acho que era devido aos baixos salários que as universidades pagam atualmente aos professores mestres.
            Formar doutores, contudo,  continua sendo um excelente atrativo para alguns professores. Só que doutores em excessos poderá levar, no futuro, a desemprego em excesso, também. Conheci em alguns países, mestres e doutores que são no máximo motoristas de táxi!
            Os cursinhos são a maior prova da falência do nosso processo de educação, porque tudo que é ensinado  em nove anos de estudos, passo à passo, uma coisa de cada vez,  se estuda de novo, só que de uma só vez, em meses.
            A lua já despontava alta no céu quando paramos de conversar. Aliás, a lua sempre estava presente em quase todos nossos colóquios.

            No dia seguinte, telefonei para a casa dela. Foi inútil. Não estava em casa. Telefonei mais tarde. Fui atendido. Disse que havia ficado com saudades. Ela também ficara. Marcamos um novo encontro.
            Passamos no vestibular no mesmo ano e, juntos, em mais cursos diferentes, começamos a frequentar a faculdade.
            Ela havia feito cursinho pago por um namorado, com quem depois resolveu efetivar seu matrimônio. Eu passei sem estudar em cursinho. Estava formado a muitos anos em outro curso, mas entrei na faculdade submetendo-me a um novo vestibular. Não quis pedir aproveitamento de matérias, não iriam me servir!
            Ah, quanta angustia e tristeza senti no dia de seu casamento! Exatamente no mesmo horário, às 19 horas, chorei desesperadamente; um choro que não se parecia com choro, mas com um lamento triste de quem havia ficado só. Ah, quanta angustia estava sentindo naquela hora!
            Recordei a música que diz: “branca, irradiante, vai à noiva; logo a seguir, seu noivo amado; vão se unirem os corações; vão destruir ilusões!...” Era o que estava se passado comigo naquele instante que não presenciei! Eles, subindo ao altar; eu destroçado por dentro!
            Parecia que uma coisa estava sendo arrancada de dentro de meu corpo, só confortado ou desprezado pela incerteza do desconhecido; do que acontecerá depois, amanhã, não se sabe quando...
            Não contive o choro; não se contém nada nesta hora.
            É uma tristeza inexplicável!
            Foi assim que eu me senti na última vez que a encontrei, ela disse-me adeus e partiu para o seu casamento. Não sei para onde iam meus sentimentos de raiva, angústia, desilusão por mais uma paixão desfeita!
            Sentia uma sensação de tristeza, uma depressão junto com angustia e raiva!
            Não me sentia feliz, só sentia vontade de chorar, derramar minhas lágrimas. Detive meus desejos e emoções no instante seguinte:
            “Está tudo bem?” – alguém me perguntou. “Não” – respondi. Não falei, fiquei mudo, totalmente mudo. Mas dava para perceber que não estava tudo bem! Parecia que a pergunta não tinha se dirigido a mim. Estava totalmente entorpecido pela despedida já esperada, mas nunca aceita.

            Saí pela primeira vez na rua. Tristonho, abatido... Havia uma atmosfera de dor, sentimento de saudade se misturando com raiva. Uma sensação muito esquisita que não tenho como descrevê-la.
            Também sentia vontade de morrer naquele dia. Morrer mesmo! Sentia vontade de me matar ou matar alguém. Só não o fiz porque não possuía arma em casa, se tivesse alguma, teria estourado meus miolos, ou os de alguém.
            Fiquei um tempo absorto. No dia seguinte haveria novidades. Era meu aniversário!
            Dois poetas pousaram na minha casa naquele dia, para a comemoração. É! “pousaram” sim; poetas não andam, não entram em casa de ninguém. No máximo, pousam nas estrelas, na lua!  Ah, sempre a lua, inspiração dos poetas românticos! Ah, lua de todos os poetas, por que não és a minha lua também? Eles apenas pousam e começam a conversar sobre temas profundos. Cheio de alegria, para contrabalançar à tristeza que sentia no peito, recebi os poetas.
            Os dois poetas falaram de poesias, do processo de criação – se é que verdadeiramente isso existe! Acho que o poeta já nasce pronto; com o tempo é lapidado até tornar-se uma jóia, pronta e acabada!
            Um deles caiu da cadeira e dormiu sentado no chão. O outro ficou entorpecendo-me com seus conhecimentos sobre literatura. Falou-me de Jorge de Lima, Jorge Amado, Vinicius de Moraes. Foi como uma tertúlia esse encontro! Um dos melhores que já vivi!
            O poeta falou-me, também, de Miguel de Cervantes, de seu livro “Dom Quixote” e do louco  narrado pela obra. Era o amor do cavaleiro errante por sua “doce Dulcinéia” e as lutas que travava contra os moinhos de vento, defendendo-a dos “dragões” imaginários em que se transformavam. Falou-me da obra, ”Os Miseráveis”, retrato da vida na França antes da Revolução; de “Ivan, o Terrível”, de cuja autoria ele declinou-me o nome, mais não lembro agora. Falou-me de muitos assuntos interessantes e eu, embevecido pela pelas suas mágicas descrições, fiquei sem dar uma palavra! Absorto. Contemplativo. Eram muitas informações...!
            - Decamerão? Você já a leu? “Não!”- respondi.
            O poeta se pôs a falar sobre a obra de Giovanni Boccaccio, criador da prosa italiana e um dos pioneiros da obra de ficção. Acho que o poeta sentiu que não estava tudo bem comigo!
            Disse-me o poeta que a idéia central da obra era a de que a natureza oferece as regras centrais de sua conduta. As pessoas realizam o resto.  “Sufocar os sentimentos é desvirtuar a própria vida!” Era isso que estava acontecendo comigo naquele instante! Eu estava sufocando meus sentimentos de amor e desvirtuando minha própria vida! Mas de nada adiantaria meu sofrimento se Suzy já adormecia e acordava em braços de outro!
            Contou-me a história do autor Hemério Cabrinha, e de sua obra “Os Frontões”. Concluiu a conversa dizendo que um neto seu decidiu seguir-lhe os passos e se tornou presidente de uma Academia de Letras de seu Estado!
            Não me matei naquele dia, mas a paixão arrancada de dentro do meu peito me corroia por dentro. Era como um fogo que me queimava. Era como um peso dentro do coração. Ah, e alguns poetas dizem que coração não dói. Lógico que dói, e dói muito!
            Mas os poetas, sob a luz da lua que os trouxeram, foram embora. Fiquei novamente só na minha solidão. Ah, quem pudera arrancar-me de dentro do peito essa solidão! Olhava as paredes, o telefone no canto da sala. Não telefonei. A dor que estava sentindo era somente minha e de mais ninguém. Não tinha o direito de dividi-la com mais alguém.
           Os poetas deixaram minha casa e foram admirar a lua, com certeza! Ou foram para suas casas? Não saberei informá-los.
            Imaginava como teria sido a luta de D. Quixote com seus moinhos de vento imaginários! Tudo em nome de sua “doce Dulcinéia”.
            Depois que os poetas se foram de minha residência, na festa de aniversário, cambaleando por entre as estrelas e a lua, fiquei pensando em suas palavras pronunciadas. Deitei pensando em tudo o que eles disseram naqueles felizes momentos! Escrevi, depois, durante as lembranças que estava tendo, a seguinte carta, mas que não foi endereçada.
            “Meu inesquecível amor, Suzy:
            Meu amor está chorando porque a juventude saiu de dentro de mim com rapidez e, eu, olhando pela janela do mundo, observando um amor perfeito que poderíamos viver juntos, não a vi passar rápido, mas não a chamei e nem a questionei. Eu a vi caminhando a passos largos talvez rumo às estrelas ou a lua e eu, parado, nada fiz para impedi-la. Deveria tê-la chamado; mas não o fiz! Como não o fiz também para impedi-la, meu amor Suzy!
            Hoje, olhando pela janela do tempo, procuro uma explicação para saber o porquê de fazermos aniversário, mesmo estando longe da pessoa amada! Não encontro respostas, mesmo que a procure no infinito do universo sei que não a encontrarei.
            Inutilmente, segui com os olhos apenas a minha juventude! E como ela estava caminhando rápido!
            Os caminhos, erros e acertos cometidos pela minha idade, inclusive o de tê-la deixado partir, Suzy, não os recuperarei, jamais.
            É inútil a tentativa de encontrar minha juventude, como será inútil buscar na lógica uma explicação para a tua partida, minha doce e amada Suzy!
            Não se encontra o que se perde. É como a felicidade: só se valoriza quando não a temos mais!
            Perdi minha juventude enquanto olhava pela janela da vida como perdi tua companhia doce e sempre amorosa enquanto olhava para a janela de um futuro que sonhava e que não realizaremos juntos, jamais!
            Hoje, minha doce Suzy, estou só e assim ficarei!
            Ah, minha amada Suzy, quantas saudades sinto de ti! E quantas saudades sinto da minha juventude perdida!
            Hoje, minha amada, posso dizer-te que caminho a passos largos rumo à morte que, um dia, virá me buscar, mas espero que não seja breve pois ainda pretendo viver um pouco mais nosso amor perfeito!
            Terei muita sorte se minha morte for pelo menos de uma forma suave; não sofrida. For uma morte rápida. Daquelas que a pessoa fecha o olho para dormir e nunca mais acorda.
            Mas, se algum pecado eu tiver cometido por amor, em nome do amor que ainda tenho por ti, então deverá ser doce minha morte porque todos  que amam como eu amei e ainda a amo a ti, minha doce Suzy, não deveriam ser-lhes imputado morte com dor e sofrimento.
            O que farei hoje com minha juventude perdida?
            Mais um aniversário eu passei sem ter-te a meu lado, minha doce e amada Suzy. Ah, que dor sinto nesse instante!
            Que a morte me venha então, sem necessidade de qualquer aviso, e que eu me vá sem perceber, igual como se foi minha juventude!”
            De tudo o que me restou naquele dia, foi um prazer imenso pela visita dos dois poetas! Além, é claro, das informações literárias que havia recebido: Leão de Tolstoi! Victor Hugo! Alexandre Dumas! Charles de Coster! “O Último dos Barões”, Sénac de Meilhan, Alfred de Vigny! Eram muitos autores e obras clássicas que ainda precisava lê-los!
            O sol desceu sobre o dia e tudo me fez lembrar da amada Suzy que se tinha casado e nunca mais a teria de novo em meus braços.
           Deitei e fui dormir naquela noite triste, gelada, amaldiçoada! Sem minha amada ou a lua para abraçar-me. Estava sentindo frio! Se pudesse uma vez, uma vez só, apertá-la com meus braços contra o peito e receber de novo seus doces beijos... Eram delírios, apenas!
            De que me adiantariam os livros e autores clássicos se Suzy não estava mais ao meu lado? Com quem repartiria minha intelectualidade? Meus conhecimentos?
            Durante os muitos anos em que fomos confidentes, amigos, amantes e companheiros. Suzy fazia loucuras por mim e eu por ela. Mandava confeccionar faixas e as colocava na saída da rua de sua casa. Suzy lia e depois me telefonava. Só isso já me fazia feliz. Eu era o “sol”. Ela era a “lua”. Os dois astros quando se encontravam faziam loucuras!
            Suzy era uma mulher perfeita. Não era bonita por fora. Mas a considerava linda por dentro! Pelo menos para mim!
            Lembro-me que sempre conversávamos depois de deixar a Faculdade e contava-me, orgulhosa, sobre suas aulas de filosofia. Não entendia muito, mas empolgada com o que seu professor explicava, gostava de repeti-las para eu ouvir, até a exaustão! Tinha ciúmes!
            Uma vez, após ter tido uma dessas aulas, durante a qual o professor ensinou-a – não lembro quem afirmou isso – “ninguém se banha duas vezes na água do mesmo rio!” Suzy achou a frase interessante e comentou comigo. Empolgado, respondi-lhe: “É isso mesmo! Se a água está em movimento e se o rio corre, então é verdade mesmo!” Fiquei empolgado! Passei a gostar de filosofia também. Eu achava essa disciplina chata e sem muitos propósitos. Mas depois passei a entender a razão de a matéria existir.
            Outra vez, vendo um filme, cujo nome não recordo, gravei um interessante diálogo filosófico sobre a definição de família: um ator dizia ao outro: “quebre um graveto”- disse. O outro ator juntou e o quebrou. Depois falou de novo: “agora, junte vários gravetos e tente quebrá-los!”. O ator os juntou, mas não conseguiu quebrá-los. Explicou o ator, então: “está vendo? Quando a família está forte e unida ninguém quebra essa união!” Mas eu não tinha  família com Suzy!
            Comentei com Suzy também isso, na hora de nosso último encontro.  Mas estava decidida a realizar seu casamento. Não se comoveu. Eu queria ter filhos com Suzy: “Já sou operada” – “Não tem problema, nós podemos adotar uma criança”! Suzy já tinha duas. Nós não teríamos mais nenhum!
           Mesmo depois de Suzy casada, em um momento de recaída, assistimos juntos a um filme romântico. Ao final, tudo que falávamos era igual ao que a personagem pronunciava no filme: “idem, idem”. Eu dizia: “Eu ainda te amo”. Ela respondia “idem, idem”.Tenho tantas lembranças de Suzy e tudo me devora por dentro! De tanta coisa, tudo se reduziu a nada, sem ela ao meu lado. O mais triste era não ter a lua para observar meu sofrimento!
            Todo dia falava-me de suas filhas, nelas ou sobre elas. Existia em mim a certeza que Suzy seria uma boa mãe. Ela sabia impor limites às filhas. Mas houve a separação. Embora decidida a não voltar mais para mim, emagreceu, deixou de comer e passou a procurar-me. Depois da recaída que tivemos, assistindo ao filme romântico, não nos vimos mais. Só sabia informações sobre a vida dela através de amigos comuns.
             Sobre as filhas, uma delas, a conheci aos sete anos de idade, à porta do colégio que frequentava. A outra era mais velha. Felizmente nem comigo nem com o marido Suzy teria mais filho! Só se adotasse!
               Na formatura do ABC, da mais nova, mandei confeccionar convites para serem distribuídos.
               Não participei da festa de formatura!
             Também patrocinei a festa de 15 anos de sua filha mais velha e mandei  confeccionar uma foto. Moldurei. Entreguei-a depois, ao ficar pronta.
             Mas a nossa separação foi triste! Se é que houve!
            - Vá procurar uma esposa! Você é solteiro e merece constituir uma família, disse-me ela, soluçando!
         Não queria uma esposa! Queria apenas a Suzy. Ela já me bastava! Mas Suzy não queria mais a mim, depois de tantos anos juntos. Como namorados e apaixonados.
         Na hora do adeus senti um nó na garganta, mas aguentei firme!  Depois, em casa, no quintal, desabei no choro! E sem a lua para observar-me!
         Nunca havia ficado longe de Suzy. Mas ela estava decidida! Falava dos riscos que corríamos e eu tive que entendê-los.  Aceitei a decisão.
          Mas que foi dolorido aceitar, ah! Isso foi!
            Recordo-me que um dia eu, ela, o irmão, o namorado e o quase cunhado dela fomos a uma Delegacia de Polícia. Eu estava próximo a casa dela quando o noivo chegou. Fui abordado. Meu carro e o dele saíram numa corrida louca!
            Tinha ido procurar um médico de pele, mais ele não se encontrava em casa. Decidi esperá-lo chegar. Nisso, o noivo apareceu. Tentou agredir-me. Pensava ele que tinha ido esperar a sua noiva sair de casa só para vê-la de longe. Fui a uma Delegacia.  Registrei a ocorrência.
            No dia da audiência todos estavam presentes.
            Contei minha versão e, com euforia, mas não admiti que fosse apaixonado por Suzy. O noivo não gostaria de saber! Ela disse-me depois que havia sentido a angustia que estava vivendo naquela situação, só pelo meu olhar! E de novo, não tinha a lua como testemunha! O quase cunhado não entendeu minha aflição. Levei-o até fora da sala e, tomando café na copa, contei-lhe, aos prantos, sobre a minha paixão. “Deixa que resolvo isso”- ele falou.
           E resolveu. Fomos todos embora para nossas casas e recomeçamos o nosso romance.
            Anos antes, Suzy tinha se envolvido com um homem casado e deixou suas roupas de ginástica dentro do apartamento. Teve início um processo de chantagem contra a Suzy. Sustentado pela mulher, o homem ameaçava a minha paixão dizendo que contaria tudo para a esposa; que ela o perseguia e que havia deixado a roupa em seu apartamento de propósito. Não era verdade! Suzy já havia me contado a história sobre a como sua roupa de ginástica foi parar no apartamento do homem casado.
                 Sabia que nada disso era verdade porque Suzy tinha me contato esse fato em detalhes!
                 Depois de sair da ginástica, foi ao apartamento. Ele morava só. Não havia esposa com ele. Nem sabia que era casado. Teria deixado a roupa por esquecimento. Eu acreditei!
                Tentei recuperá-la. Dei-me mal de novo. Fomos mais uma vez a Delegacia também. Menti que Suzy era minha irmã e me saí bem. Mas não era, era minha paixão!
                Depois desses episódios lamentáveis, aprendi!
                Mas continuava apaixonado por Suzy!
                Mandava-lhe rosas. Furtava-as em cemitérios, sempre que não as encontrava para comprá-las. Dava-lhes de presente. E assim fomos vivendo até o derradeiro ato do triste e terrível dia de seu casamento e de nossa separação.
               Passei a viver com uma tristeza no olhar. Em cada gesto, uma  ação extrema! Em cada despedida, uma comoção! Não havia razão para viver quando o coração estava em pedaços. E era assim que estava o meu, naquele momento. A dor era insuportável! Mas a vida continua! Não será o fim; por certo, o começo.
             Depois daquela despedida, nunca mais fomos os mesmos! Mandei confeccionar uma última faixa “Foi bom enquanto durou!” Não assinei. Ela entenderia a mensagem. Agradecia-a pelos anos que havíamos passados juntos!
           No dia da minha formatura compareceu com uma convidada. Ficou na primeira fila. Eu a vi e Suzy também me viu. Fiquei feliz, muito feliz!
            Os pássaros voavam por cima das nossas cabeças sempre que frequentávamos o cais do porto.
            Olhando para o imenso rio caudaloso e negro, muitas vezes, ao lado dela, senti vontade de beber a vida na taça espumante daquelas águas mornas para aliviar a sede que sentia na minha alma.
            Quantas vezes desejei voar por cima das águas do rio, rumo ao infinito, seguindo apenas a quietude do vento, esse vento que tudo cria em si e para si! Todas essas coisas permaneciam vivas para mim! E chorava muito ao lembrá-las.
            Eram delírios, apenas. O infinito não existe. Ele é apenas uma ilusão nos fazer caminhar cada vez mais, já escreveu um autor. Eu estava buscando o infinito sem encontrá-lo. Ah, dor! Ah, paixão! E o sol parecia ficar mais ardido enquanto eu olhava para o caudaloso rio que tantas vezes nos viu junto!
            Eu a desejava assim mesmo! Mesmo que no infinito fosse! Lembro-me como na vez que ela entregou-se a mim pela primeira vez. “Você ficou com outra pessoa que não o seu noivo?”. “Quase!” – foi à resposta dela. Ela já tinha ficado!
            Suzy estava irradiante naquele dia! Nervosa, por certo! “Todas as suas alegrias de antes se tornaram pouco a pouco insípidas pois até que enfim ela encontra um homem (de verdade), para o qual um desconhecido sentimento a arrasta irremediavelmente”, escreveu alguém.
            E “ela está suspensa” em sua surda consciência e todos os prazeres lhes subiu aos seus desejos. Ela levantou os braços. Tirei-lhe a roupa. Ficou totalmente privada dos seus sentidos, à beira de um abismo de gozos intermináveis... E depois, partimos.
            Outros seguidos encontros se sucederam, mas nenhum igual ao primeiro. Era um sonho que eu estava realizando. Ela, em meus braços, pela primeira vez!
            Não via mais o vasto mundo que me cercava. A escuridão de minha vida havia desaparecido.
             Em outro momento, deitei-a de bruços. Rejeitou no primeiro momento. Depois aceitou e disse-me: “é a primeira vez que faço isso”. Estava entre seus seios! Deitei-a de costas e ela disse: ‘aí não! “Nunca fiz isso”. Aceitei e não insisti. Nunca mais!
            O homem é sempre o homem, alguém já escreveu isso. Mas eu a respeitava em suas atitudes e decisões. Daí conclui que o autor nunca deve publicar segunda edição, mesmo que revisada, porque nunca será como a primeira. Só a primeira vez é que conta. Ela era divina!
            Ah, quando o perto se faz longe e a esperança torna-se desespero, aí é que percebemos quanto éramos felizes! Mas não teria mais volta. Minha alma não é pequena ao ponto de se derreter em lágrimas.
           É melhor dar um tiro na minha cabeça e encerrar meu sofrimento de uma vez. Mas, como também disse, não tenho uma única arma em casa. Se tivesse...
           Johann Wolfgang Goethe, em seu  “Werter”, escreveu:  “assim como o mais turbulento dos vagabundos suspira afinal...” eu também poderia suspirar por uma nova paixão. E foi o que fiz.
            Anos depois, apaixonei-me de novo. Outra passou a ser minha musa. Dei o nome dela de “Luana”.
           Não foi uma paixão tão louca como a primeira; mas foi intensa enquanto durou!
           Embriagado de álcool e de amor estive na casa de “Luana”. Ia fazer-lhe o pagamento do mês. Estava como inquilino! Senti-me mal. Fui ao banheiro. Era todo cheio de espelhos!
           Derramei para fora de meu corpo um líquido quente e pegajoso, por muitas vezes. Estava querendo extirpar de dentro de mim o amor que ainda sentia por Suzy. Não conseguia extirpá-lo. Deixei a residência de “Luana” cambaleante, ainda em êxtase. Desejei rasgar-me à altura do peito para ver se me libertava das lembranças de Suzy! Deus, oh Deus! Só Deus sabe quanta vergonha senti naquele dia, ao sair amparado por “Luana” de dentro de seu próprio banheiro! Amando outra pessoa!
           Depois, refeito ao surto alcoólico de amor, ficar com “Luana” de novo foi o máximo! Fizemos amor dentro de sua residência, no chão! Deus, “arranjaste o destino dos homens de sorte que apenas possam ser felizes antes de alcançarem à razão ou depois de perdê-la”?  Era o que estava se passando comigo, mais uma vez! Ah, vida! Ah, destino! Ah, coração arrebentado por dentro de tanto amor, de infelizes e incuráveis amores! Eu ali, sendo amparado por outra amada, sem esquecer-me da primeira!
           Não sentes que é em teu coração destroçado, em teu cérebro arruinado, que jaz a tua miserável existência?- me questionei!
           Que sofram de amor todos os miseráveis que agora se riem de meu sofrimento!
           Como tudo que começa termina um dia, depois das muitas loucuras feitas por nós, a paixão não existia mais entre eu e “Luana”. Tinha chegado  ao fim. Mas fiquei com muitas lembranças dos momentos felizes que também vivenciamos. Continuava desejando Suzy!, Ah, Suzy, onde andas agora? O que fazes neste momento? Será que estás sendo beijada? Acariciada pelo marido? Talvez! Talvez!
           Havia sempre um carro estacionado em algum lugar. E nós dois nos refugiávamos em nosso leito de amor. Também era um amor doentio, daqueles sufocantes. Eram recordações, apenas!
            Ah, amor louco! Amor pouco! Depois de nós, nada mais passou a ser igual como era antes. Só voltar aos braços de minha mulher amada, a Suzy! Ah! Mesmo com ela casada, nos falávamos todos os dias ao telefone, quando chegávamos da Faculdade. Ela estava como professora de nível superior, atividade que também exerceria mais tarde, mas que por pouco tempo.
           Não demorou muito e paramos de nos falar ao telefone. A saudade de ambos era imensa. Mas como fazer para encontrá-la mais uma vez e concretizar nosso intenso amor? Nós éramos os astros de nosso próprio planetário, tínhamos as mesmas idéias e, pela manhã, ao nascer do sol, tínhamos a certeza que iríamos nos encontrar mais uma vez. Mas isso nunca acontecia de fato!
           Depois do fim da minha segunda paixão, a “Luana”, me dei ao direito de relaxar em um sítio onde eu e a minha primeira amada, Suzy, muito fequentávamos.
           Lá, havia paz de um acordar pela manhã ouvindo cantos de pássaros, sentindo o cheiro do mato, a relva do campo, a água escorrendo por debaixo de uma ponte de madeira, dos amores que havia feito com Suzy. Enfim, tudo me remetia às lembranças deixadas em meu corpo, em minha pele, em meu coração!
           Depois que “Luana” passou a ser passado, decidi não procurar Suzy novamente. Só recordar...Deitado em uma rede, lembrei-me que após uma de nossas brigas de amor, um único telefonema, seguido de uma tosse, foram o suficiente. Encontramo-nos novamente e tudo recomeçou. Mais intenso dessa vez.  Eram delírios e recordações que estava vivendo agora. Ela ainda não havia casado.
           O brilho em meus olhos havia reaparecido. Minha felicidade havia retornado, de forma mais prazerosa.
           Busquei-a como a brisa mansa da manhã como quem procura o sol para seu aquecimento. Encontrei-a onde o orvalho encontra-se em forma de arco-íris e a lua clareia os olhos da minha amada.
           “Ah, doce senhora, eu hoje acordei com desejo de fazer poesias, falar bobagens, correr ao vento, tomar água de coco e chamar você de meu amor, de dois amores, um de vida e outro de morte, um que vai e outro que fica”, dizia para Suzy em delírios!
           Tinha a certeza: dentro de mim gravitaram dois amores; um de dentro e outro de fora; um que não tenho mais e outro que reencontrei em delírios, deitado na rede. Há um amor que é como uma onda, vem e vai, bate e molha; o outro mansamente deságua em rio calmo, como o leito da mulher amada.
           Depois que Suzy decidiu voltar para mim, passei a ser uma criança de novo!  Ah, doce senhora, vem brincar comigo de falar bobagens, brinquemos de inventar cirandas, de se esconder nas sombras, de chorar durante o dia e sorrir em velórios, como um louco que sou por seu amor. Ah, doce senhora, fica do meu lado esquerdo, ou do direito, ou dos dois, como em um mundo em que cabe tudo, cabem todos e ninguém se importa. Faz tudo isso porque ninguém se importa.
          Estou vivendo um amor que não é um amor, é mais que isso. É algo que não sei como descrevê-lo, só senti-lo.
          Estou vivendo um momento ímpar, onde centenas de coisas boas estão a abrigar milhares outras coisas boas; a única coisa ruim é a incompreensão dos outros. Como é difícil viver este amor! São milhares de olhos a olhar-me e milhares de luzes a me seguir. São sempre doces os caminhos que levam de volta o homem aos braços da mulher amada! Não  importa se a amada de ontem, nem a de hoje, mas a de sempre. Aquela que sempre foi, sempre vai ser e sempre será. Embora por pouco tempo, eu sei!
          Um dia tentei escrever sobre os “Mistérios do Amor” e não consegui...Tateava o travesseiro e rolava na cama...Seria tão bom ter-te agora. E a tinha! Mas não tinha a lua, minha companheira inseparável, minha musa inspiradora!
          Lembrava sempre da “Luana”, mas amava a minha Suzy. Era uma confusão! Não sabia mais se amava “Luana” amando Suzy ou se era ao contrário: “Amava Suzy, amando “Luana”, que já era passado para mim”. E o danado do sol não se ia. A lua também não chegava. Parecia ser uma noite estranha, sem lua nem estrelas.
          O dia estava raiando, mas teimosamente o sol se escondia por detrás dos meus pensamentos de amor e ficava sem aparecer para clarear o mundo que tanto depende dele, na medida certa.
          Como doces são os sofrimentos de amor! Em algum lugar, distante ou perto, estou sendo olhado pelos olhos da minha mulher amada! Minha Suzy!
            Ah, como vira criança um homem apaixonado. Ele é capaz de brincar docemente com os brinquedos da imaginação que só existem dentro do seu coração apaixonado.
         Li em um livro que não se nasce mulher; faz-se mulher pela necessidade. Eu digo: não se nasce homem; faz-se homem pela força do amor. E tudo pode transformar!                           
         Feliz é o homem que decide voltar aos braços de sua mulher amada, mesmo que não seja a primeira!                                       
         Depois desses momentos de delírios amorosos, retorno ao mundo dos vivos, dos mortais. E por que estou falando em mundo mortal? Porque só a morte pode justificar a vida; e a vida justificar a morte pelas suas ações e atitudes. Já disse que queria morrer de amor! Mas isso era antes! Agora quero viver de amor!  Ou morrer de amor, quem sabe?
         Só queria ter a certeza se Suzy ainda era apaixonada por mim, mas isso eu já tinha. Ou será que preciso de alguma outra prova?
         Estive lendo um livro de Pablo Neruda, mas não o terminei. Dormi mal. Acordei pior ainda. Era como se faltasse alguma coisa perto de mim. E era Suzy! Ela acordava todos os dias ao lado do seu marido!
          Fui internado em um Hospital, mais uma vez. Sentia as paredes de minha casa fechando-se sobre mim. Entrei em desespero. Mais uma vez estava com depressão. Também sentia ondulações sobre meus pés e caminhava cambaleante. Estava sentindo-me confuso e cheio de desespero. Deram-me sedativo e acalmei. Chorava sem ter razão e não parava. Não havia controle sobre o que estava sentindo.
             Dei entrada no hospital levado por um amigo. O diagnóstico era psicológico. Algum tipo de depressão. Mas o que é depressão para quem perdeu um grande amor?
            Tinha pensamentos loucos. Internado no leito do hospital,  imaginava-me exterminando tudo a minha volta; queria um telefone para falar com alguém. Não havia. Tive sonhos estranhos. Era um ator de novela e faria uma cena da queda de um avião em que só eu e minha Suzy havíamos sobrevivido. Estávamos sendo maquiados para gravar uma cena da novela. O diretor pedia realismo na maquiagem. Estavam caprichando! Eu me apresentaria todo maltrapilho, com roupas rasgadas e Suzy também. De mãos dadas faríamos à cena.
            Depois, me sentia caminhando por uma estrada asfaltada, toda demarcada. Ao seu final, havia uma luz e dois caminhos: um, indo para a esquerda, todo negro; e outro indo para a direita, marcado com listas brancas. “São os dois caminhos que você pode escolher: o primeiro não se sabe onde vai dar; o outro está pontilhado”, dizia-me o médico depois de consultar-me pela manhã. E o que isso quer dizer? – eu perguntava. O médico permanecia em silêncio e nada dizia.
            Depois sonhava que era terrorista e queria explodir um avião comercial na pista do Aeroporto. Quando a imprensa aparecia no local, gritava que só deixaria o avião depois de conversar com minha amada! Minha Suzy!
            E assim fui vivendo. Uns 15 dias depois, já estava me sentindo bem, recebi alta médica e fui para casa.
            Voltei a adoecer mais tarde. Depressão, novamente!
            Peguei um avião e viajei.  A úlcera de que sofria estava sangrando muito e precisava tratá-la. Escorria sangue pela minha boca e ensopava e travesseiro onde eu dormia ou tentava dormir. Dormir era praticamente impossível naquele estado.                                Depois do tratamento especializado, continuei a viagem.  Parei no Estado do Paraná. De lá, telefonei para uma amiga, mas ela não se encontravaem casa. Deixei o número do telefone do hotel onde eu encontrava-me hospedado e o número do apartamento. Fiquei feliz quando recebi a ligação de volta. Conversamos por quase 20 minutos. Eu depressivo e ela também. Dois loucos conversando!
            Já disse que a namorada ideal não precisa ser bela, basta ser bonita o suficiente para ser diferente das outras. Não precisa saber amar. É necessário ser apenas inteligente. Com um poder de percepção aflorado para transformar momentos difíceis em instantes de felicidades. Tudo isso tivera em minha Suzy!
            Minha amiga sabia do que eu estava falando. Tinha-a conhecida grávida. De um homem casado. Tivera dois filhos com o mesmo homem.
           Evidentemente não participei da vida das  filhas de Suzy; mas sei que foram sempre muito bem cuidadas. Ah, minha doce Suzy! Não lutarei mais contra os moinhos de vento como fez o cavaleiro errante por “sua doce Dulcinéia”!
            Não sei nem porque voltei a falar desse assunto!
            Submeteu-se a um concurso público! Ficou em centésimo décimo segundo lugar, a minha Suzy. Entrei com recurso. Foi acatado. Pulou para sexta colocação e foi chamada ao emprego. Hoje, minha Suzy trabalha!
            Comemorei a vitória dela. De certo modo, minha também. Havia estudado junto com ela. Tinha certeza de sua capacidade e merecia estar classificada entre os primeiros lugares.
            Depois de saber do resultado do recurso administrativo, viajei novamente. Desta vez, a passeio mesmo.
            Na volta, buscou-me no aeroporto e nosso reencontro foi tenso, muito tenso, mas cheio de desejos e ansiedades.
            No carro dela, fomos ao motel. Era a primeira e a última vez que entrávamos juntos em um motel no carro dela. Havia o risco. Sempre o meu carro era o utilizado para isso!
            Tomei uma cerveja. Ela não bebia.
            Sentei em um sofá e puxei-a para perto de mim. Precisava acariciá-la. Sentir cada parte do seu corpo, afinal, havia passado mais de 15 dias viajando pelo Brasil. Ela era confidente dos meus desejos e angústias. Tinha que amá-la intensamente e foi o que fiz.
            Deixamos o motel com muita cautela. Ela, escondendo o rosto e deitando-se no banco do carro para não ser vista. Tinha o noivo com quem deveria se preocupar!
           Durante os anos em que permanecemos juntos, antes do seu casamento, havia perdido um amigo muito próximo e querido. Fiquei muito abalado com a notícia. Escrevi uma crônica. Comecei dizendo que não havia ido ao enterro porque de há muito já tinha eliminado de minha vida enterros e velórios. “Por isso não fui ao teu enterro, meu caro amigo”. – dizia eu na crônica.
            Meu amigo foi indicado para ser conselheiro de um Tribunal; tinha sido político com diversos mandatos consecutivos. Deixou muitas saudades em mim, em seus familiares, amigos e eleitores.
          A política que se pratica hoje é a de quem der mais; não existe mais político comprometido com ideologia, partidos ou siglas. Ele era!
           Na época do bi-partidarismo, um político que se elegia sempre pelo mesmo partido, e tinha sido campeão de votos em uma eleição para a Câmara Federal, perdeu a eleição seguinte porque mudou de partido. Tinha que fazer o seu irmão desembargador. Mas ele, traído por alguém, não foi indicado. E o político perdeu o mandato. Não se elegeu mais até que desistiu da política e se aposentou.
            Escrevi uma crônica sobre esse episódio, da troca de partido político e da tentativa de nomear por lista tríplice o irmão dele.
            Publicada a crônica, o presidente do Tribunal de Justiça decidiu enquadrar-me em processo.
            Hoje, muda-se de partido como se muda a roupa do corpo. O político começa em um partido; muda para outro por mera conveniência eleitoral e nada acontece. Não há punição para isso! Se há, nunca vi.
            A política que se pratica hoje é a de conchavos, de quem dar mais. No período do governo militar, a política era ideológica e não “monetariológica”, de quem oferece mais!
            Com Suzy ainda solteira, continuamos nos encontrando eu e minha amada. A relação voltou a ficar tensa de novo.
            Ah, como é triste perder alguém que se ama muito! É uma situação sufocante. Falta-nos o ar – esse ar puro que respiramos e que nos dá a sensação de vida!
            Continuava com a mesma fixa idéia de que deveria procurar uma esposa, constituir nova família e viver minha vida!
            Não entendo porque as pessoas felizes têm que se separar um dia! Eu acho isso loucura!
            Havia um amigo em comum com o qual convivi durante trinta anos, que sempre desejou escrever um livro e me dizia que “quando se é amigo mesmo, é suficiente escrever em um pequeno pedaço de papel o pedido que ele o atenderá sorrindo. Também, se não for amigo, você pode escrever umas vinte folhas de papel que ele engavetará e, mesmo que você tenha razão, não o dará”.
            Ele tinha razão. Muitos amigos meus que se tornaram políticos no decorrer da vida, mudaram muito. Alguns que me elogiavam, viraram as costas. Outros passaram a evitar-me e outros simplesmente me ignoravam completamente.
            Um destes recebeu de presente um carro, outro um mandato, outros ajuda direta. Nenhum destes permaneceu com a amizade. Felizmente! Nenhum me fez falta, também.
            Tinha assumido um cargo importante, de interesse direto para muitos políticos. Um deles, crítico diário do trabalho que desenvolvia, fez-me um pedido. Foi atendido. Guardei na gaveta o bilhete no qual ele havia escrito o pedido. Sempre que ele criticava o órgão que dirigia, telefonava para o seu gabinete, falava com ele e dizia: “lembra do pedido que eu atendi para o senhor. Pois é: a imprensa quer divulgar o bilhete que me foi enviado!”. Ele calava. Ficavam dias e dias sem sair nada nos jornais! Minha Suzy lia, e sofria com essas críticas!
            “Não liga, não! Está tudo bem” – dizia eu para Suzy.
            Uma vereadora, que era crítica do trabalho que eu realizava, disse publicamente que chegou a pedir minha prisão e, mais tarde, graças a uma polêmica mantida pela imprensa, saiu da Câmara Municipal direto para a Câmara Federal. Um amigo que apresentava um programa de rádio, telefonou para mim.
            “Sabia que tua prisão foi decretada?” – perguntou-me. Não acreditei na notícia e ele deu no programa. Fiquei preocupado, mas estava confiante em que o Tribunal não havia decretado a prisão.
            A vida é assim mesmo! Cobra engolindo cobra! É veneno contra veneno, o que não deveria ser. A vida tem tudo para ser bela, romântica, mas é estragada por algumas pessoas – poucas é verdade, na quantidade, mas, infelizmente, muitas nas maldades que depois reproduzem no poder.
            Nem sei por que voltei a falar de política se o que eu quero mesmo é falar de amor! E nosso amor continuou!
            Era sempre muito intenso e vibrante!
            Decidi comemorar o aniversário de Suzy, da minha amada, em um motel. Com antecedência, solicitei que adquirissem rosas; muitas rosas e que as abrissem a todas e as colocassem em cima da cama, na mesa, na banheira! Na hora marcada, entramos no motel. Havia rosas em mais locais do que eu havia solicitado, inclusive pétalas deixadas pelo chão, de propósito.
            Escrevi e entreguei-lhe uma carta que dizia:
            “Sou o que ama sem se saber amado e, se distante está o motivo de meu amor, sou o que sofre sempre calado. Sou o que não conta tempo, hora ou lugar, não pensa no ontem e nem projeta o amanhã, decidido apenas em viver em silêncio na certeza desse amor. Sou o que sofre com a distância e sente o silêncio como ausência; mas com a certeza de estar sendo amada”.
            “O que queres dizer com essas palavras? – perguntou-me.
            “Entenda-as como melhor tu as conseguires interpretar” – respondi enquanto também tirava minhas vestes!
            Contratei uma suíte que se abria no teto e nos permitia ver o céu, a lua, estrelas, aviões pousando e decolando, enfim tudo era visto pela abertura em acrílico da suíte em que estávamos. Ela ficou emocionada e disse-me que “nunca havia comemorado meu aniversário desse modo!”
            Deitamo-nos já sem roupas. Beijamo-nos ardentemente. Ela era só felicidade pela surpresa. Não tinha lhe falado nada. “Não esquece que amanhã é seu aniversário e que eu o quero comemorar com você!”. Era o único lembrete que lhe havia feito um dia antes.
            Nesse dia, amamo-nos apaixonadamente. Não que nas outras vezes não houvesse paixão também. Mas naquele dia era especial. Era o aniversário de Suzy!
             Ela ainda não havia casado. Estava noiva, apenas. Era um amor quase proibido; mas era lindo e cheio de felicidades!                                                                    
            Não sei por que alguns perdem tempo se lamentando com as agruras da vida. Eles não vêm que a dádiva de Deus é maior que os percalços da vida? Se tivéssemos menos tempo para lamentações, por certo nos sobraria mais tempo para contemplar a felicidade, o sol, a lua, as estrelas, enfim, o universo!
            -É burrice se lamentar pelas coisas ruins da vida. Na maior parte do tempo, só recebemos coisas boas e nem paramos para agradecer! – disse-me, certa vez a minha amada Suzy,  ante a surpresa do seu aniversário!
            Minha amada estava radiante outra vez! Eu só a tinha visto assim tão eufórica quando fui submetido a uma cirurgia. Como há mais de 15 dias havia ficado internado decidiu visitar-me. Vestiu uma roupa toda branca.  Passou-se por enfermeira e entrou no apartamento de surpresa.
            Não nego que fiquei feliz!
            Era mais uma prova de amor que tinha de Suzy!
            As visitas estavam liberadas. Decidiu se passar por enfermeira para ficar mais tempo ao meu lado. Beijamos-nos ardentemente naquele dia.
            Depois que deixei o hospital, recuperado, fomos a um motel novamente. Era o que ela e eu queríamos! Amar-nos!
            Fazíamos isso em vários lugares: no motel; sítio que eu frequentava; dentro do carro que nos conduzia; dentro d`água; dentro de canoa; enfim em lugares diferentes.
            Só não havíamos feito sexo dentro de elevador, como fizera com “Luana”, parando-o entre um andar e outro! Mas ela já vivia no meu passado!
            Com freqüência, antes do seu casamento, atravessávamos o rio de balsa e visitávamos um sítio na outra margem. Não tínhamos hora nem dia para aparecer. Fugíamos do trabalho, eu e ela, para visitar o sítio!
            Entrava na balsa com o carro que me levaria depois ao sítio; ela apanhava um motor a jato e fazia a travessia. Era sempre assim. O carro dela nunca atravessava!
            Deitávamo-nos em redes e ficávamos apreciando o tempo passar. E como o tempo passava rápido! O tempo sempre passa rápido, quando o momento é de intensa felicidade!
            Acho que depois da invenção do calendário gregoriano, a coisa mais chata já inventada foi o tempo! Ele sempre corre contra as pessoas que amam demais e nos faz perder o tempo! Quando nos apercebemos da hora, tínhamos que partir de volta.
            Quando voltávamos, sempre arranjávamos um jeito de parar na estrada e fazer amor mais uma vez!
            O aniversário de 15 anos da filha de minha amada, disseram-me que foi lindo! Eu, pessoalmente, não fui! Apenas paguei a conta. Mas fiquei feliz. Ela colocou tochas em toda a entrada do clube – informaram-me depois, clareando as pessoas que entravam. Dei-lhe de presente, uma imensa foto ampliada feita a partir de uma outra que havia saído em um jornal da cidade.
            A filha dançou a valsa com o pai, mas eu não o conheci. Suzy dizia-me que o pai era uma pessoa sempre ausente e que ela tinha que ser “a mulher e o homem da casa”. Como o pai de sua filha entenderia o casamento de Suzy, com outro homem? Ele nunca quisera casar-se com Suzy e era pai de todas as suas filhas. Embora tenha recebido o convite para seu casamento, decidi não comparecer. Não desejava sofrer mais do que já estava sofrendo! Sabia que ela em breve seria de uma outra pessoa para ajudá-la na criação de suas filhas.
            Nunca tive acesso às filmagens do aniversário! Só imaginava como teria ter sido uma festa linda! Como teria sido lindo o casamento dela? Eu não compareci!
            Não somos o senhor dos nossos sentimentos. Não temos a capacidade de controlarmos a nós mesmos. Por isso, não escolhemos a quem amar e nem quando amar uma pessoa!
            Infelizes sejam aqueles que, detendo o poder sobre o coração de alguém, o maltrata. Infelizes sejam todos os que não amam.
            A felicidade está diretamente relacionada com o amor!
            Eu, por exemplo, tinha um amor que causava inveja e a inveja é algo que mata por dentro, lentamente. Não somos donos do nosso destino. Por isso, não julgueis para não serdes julgados um dia. A dor de quem ama não é uma dor comum e ele sofre sempre que não pode estar próximo de sua mulher amada!
            Suzy era alegre. Não havia tristeza, principalmente quando estava a meu lado. Se havia alguma tristeza, não transparecia. Gostava de ficar ao lado dela. Sentia-me forte.
            No amor, ficávamos muitas horas, como no dia que comemoramos o aniversário dela. Entramos pela manhã no motel e saímos à tarde, já bem tarde, quase sendo cobertos pela lua dos apaixonados. A lua  que quase sempre estava presente quando nos encontrávamos à noite.
            Alguém já escreveu que aprendemos a sobreviver e não viver? Eu estava sobrevivendo à paixão por Suzy! E vivendo, ainda, por amor à Suzy. Mas não poderia tê-la mais.
            Poderás tu, ao sentir uma arrebatadora paixão, brindar-lhe com o desprezo? De certo que não! Pois estou vivendo a minha paixão. Isso é só o que importa.
            Tive outros amores por certo. Amores que também me marcaram muito, mas nenhum amor se comparava ao de Suzy.
            Amei outras mulheres. Algumas me fizeram felizes; outras, nem tanto! Uma me chamava de “tétrico”, palavra cujo significado só passei a descobrir anos mais tarde. Outra chorava quando lhe acariciava; por outra fui apaixonado, mas, repito, nenhuma dedicou um amor igual ao amor que Suzy me dispensava. Com algumas, desejei casar. Uma, conheci aos 13 anos, e namoramos até que ela completasse seus 18 anos e tornamo-nos amigos. Com outras, não! Era só para passar o tempo e adquirir novas experiências.
            De certo, me dirás: amaldiçoado sejas tu, por teres amado tantas mulheres assim! Eu responder-te-ei: amaldiçoados sejam todos aqueles que nunca tiveram verdadeiramente amor algum!
            Amei e fui amado! Suzy deu-me muitas provas de amor!
            O divino hálito de sua boca ao beijar-me, me inebriava. Não sei jamais o que se passava comigo quando estava ao seu lado. Afinal, o que é um coração sem amor? Não é nada mais que um simples nada.
            Ficar longe dela, por um dia que fosse, era tormentoso.
            Minha alma parecia querer se entremear com os meus nervos, atormentando-me ainda mais. A simples presença de alguém que me informasse notícias dela bastava-me para admirá-la também. Lia em seus olhos o vivo interesse que demonstrava por minha felicidade. Disso nunca duvidei.
            Não conheço até hoje o homem que detinha – além de mim, claro  - o coração da minha amada. Mas a simples menção que ele existia, deixava-me aborrecido. Era melhor não saber que existia alguém. Ela sempre falava de seu noivo com muito carinho! “Deixe-o!” – eu dizia. “Não posso!” – ela me respondia.
            Eu não tocava mais no assunto. Era muito doloroso para eu não tê-la sempre ao meu lado!  Por certo, haveria razões para isso. E as minhas, não eram levadas em conta?
            O sangue escorria quente por minhas veias sempre que lhe conseguia encostar ao corpo. Dizia a ela: “nosso amor é carnal!”. Ela ria! Era só encostar que sentíamos atração um pelo outro.
            Não sei o que se passava comigo quando estava a seu lado. O mundo parava e os nossos corações se enchiam de amor.
            Sucumbo às tentações e todas as noites volto a me repetir solenemente que não vou mais procurá-la. Mas era inútil a decisão.
            Já tinha conhecimento do seu noivado e tinha que preparar-me rumo à separação definitiva. Mas nunca conseguia.
            Sempre acabava em seus braços. Parece que minha alma se revolvia em todos os meus medos.
            Sobre meu desejo incontrolável de tê-la e vê-la todos os dias, conversei com uma professora de psicologia. E depois com um professor de Direito que dava aulas em nossa turma na Faculdade.
            - Seria bela a beleza se não fosse justa? Seria o amor o amor verdadeiro amor se não fosse para ser vivido? – perguntou-me o professor do curso de Direito. Fiquei sem responder.
            Ele prosseguiu:- “onde reside o amor se não dentro do seu coração! Onde reside a beleza senão nos olhos dos  que a vêem!”.
            “Tudo é a mesma coisa”, concluiu o professor
            Desisti de uma discussão que não me levaria a nada!
            Com a professora de psicologia foi diferente: ela me disse que a paixão que eu sentia por Suzy era o resultado de um sentimento que teria sido reprimido dentro de mim, na infância. Besteira! Essa teoria Sigmund Freud, de que todos os males nascem e vivem a partir de um trauma vivido na infância ou na adolescência, eram inúteis, sem fundamento. Alguns, eu até aceito. Mas todos, não! Quando ele tratou de sua paciente “Ana O”, o fez movido por qual motivo? Movido por qual sentimento
            Não era o meu caso!
            Nutria uma paixão por Suzy e era só isso. Paixão, apenas!
            Não precisava ser definida ou explicada; apenas era um sentimento meu.
            Uma outra professora em sala de aula, depois do casamento de Suzy, propôs uma dinâmica. Perguntou o que uma pessoa seria capaz de fazer em nome de um grande amor. Eu respondi. “Tudo”. Ela perguntou. “Mas tudo, mesmo? Não há limites”. Eu respondi. “Não”. Eu sabia onde ela queria chegar já que sabia do nosso amor quase impossível! Minha resposta, de forma tão firme,  a enrubesceu!
            Eram inúteis as tentativas que fazê-la esquecer-se de mim ou de eu esquecer-me dela. Não haveria dois corações pulsando em uma só direção! Lia através dos seus olhos o interesse que tinha em mim e sobre o meu destino futuro.
            Ah, doce amada distante e tão perto! Por que você não fica sempre ao meu lado, como uma segunda pele a cobrir-me contra o frio que sempre me persegue nas noturnas horas! Seria maravilhoso! Ah, isso seria!
            Andava pelos corredores da Faculdade como se eu estivesse distante. Só havia olhos para ela. Se Suzy não comparecesse, ligava para sua casa e perguntava o que tinha ocorrido. Mesmo correndo o risco de o marido dela atender minha ligação!
            Senti umas dores no estômago e fui ao médico, dirigindo meu próprio carro. Era apendicite supurada! Só identificada bem mais tarde. Os médicos não tinham identificado a doença de imediato. Não havia um só sintoma, mas vários! Estava por trás do meu intestino grosso. Era difícil o diagnóstico. Entrei no hospital e passaram-se horas e horas. De madrugada apareceu um médico; faltou o anestesista. Depois, apareceu o anestesista; não apareceu o médico cirurgião.
            Telefonei para a residência do presidente da empresa médica reclamando de meu tratamento. Ele designou uma médica para atender-me de urgência. E eu, fazendo vários exames enquanto isso! E os meus globolus aumentando!
            A médica entrou no hospital gritando. Dava para escutá-la. Era uma médica nova, competente, porém. Falei no nome de meu pai. Ela disse que tinha sido sua aluna. E que ele era muito dedicado às aulas.
            Leu meus exames feitos durante a noite. Tinha uma infecção. Não havia sido identificada a causa. Ela decidiu operar-me sem saber o que eu tinha, só dizia que era uma infecção e que estava se agravando.
            Era apendicite supurada. Vim, a saber, mais tarde. Fiquei internado por 17 dias, dos quais 15 sem funcionamento do intestino, removido para assepsia.  Tinha sido todo lavado com soro. Foi por isso que demorou tanto  a funcionar regularmente.
            Foi durante essa minha internação que Suzy se vestiu de enfermeira e foi visitar-me no hospital! Estava com muita saudade, confessou-me ela, depois de nossa ida ao motel.
            Tive que tomar água em gotas. Um algodão era molhado e passado em volta de meus lábios. Todos os dias a médica fazia sempre a mesma pergunta. “Você já fez, pum!”. Finalmente, depois de 15 dias internado, dei a boa notícia que a médica tanto queria ouvir. Respondi: “sim!”. Ela sentou-se no sofá que havia ao lado da cama e deu um suspiro fundo. Eu estava salvo! Daquela vez. Poderia reencontrar minha amada e amá-la mais uma vez.
            Recebi alta e fui para casa.
            De volta à faculdade, minha amada passou a frequentar a sala de aula em que eu estudava todos os dias. Sentia muitas dores, ainda, mas assistia as aulas assim mesmo! Era um aluno muito dedicado. Durante todo meu curso superior, de quatro anos, me afastei somente durante os 17 dias que fiquei internado e, depois, por algumas viagens que fazia que me tiravam da sala de aula. Fazia sempre provas antecipadas ou orais em minha volta.               .
             Ah, minha amada! Quantas saudades ainda sinto de ti. Estando perto, fico olhando-te para ver se não  é  uma simples miragem! Não aguento mais essa solidão que me sufoca, enquanto sei que outro te acaricia o corpo que também tinha sido meu. Ficava louco só em pensar nisso!
            Decida-se logo, minha amada! Case-se comigo ou deixe-me de uma vez! Não suporto saber que outros olhos também lhes desejam e outro homem já a possui todas as noites. Tenho muitos ciúmes; controlados, contudo, mas um dia eles explodem!
            Fiz uma nova viagem. Fui receber um prêmio. Ela deixou-me no Aeroporto e recomendou, mesmo depois de casada: “não vai paquerar muito por lá!”. Não “paquerei” e voltei. Havia passado por alguns Estados; descansado numa cidade praiana, feito uma viagem de ônibus entre dois Estados. Havia aproveitado o período de forma muito sadia.
            Voltei ao meu emprego de sempre, mas fui demitido. O patrão já era outro e não gostou do fato de eu ter passado muitos dias viajando. Paciência! Fazer o quê. A vida não havia acabado, nem o amor pela minha Suzy. Voltamos a nos ver de novo. Ah, que delícia um beijo apaixonado! Só isso justificaria meu regresso!
            Ah, havia esquecido de contar aos leitores: meu amigo poeta, oriundo de outras paragens, vendeu a casa dele e foi embora morar em outro Estado.
            Fiquei triste! Registrei em uma crônica a partida dele. Vendeu a casa em que morava. E ele foi embora sem se despedir dos amigos. Todos sabiam onde ele estava morando, menos eu.
            Tinha sido uma pessoa importante esse poeta! Havia exercido cargos no Governo do Estado, no Conselho de Cultura, disputou e perdeu uma eleição para o senado. E foi embora. Magoado, por certo! Vendeu a casa, foi morar em outro Estado e nunca mais voltou. Colocou uma faixa toda negra em volta de sua casa e, com letras brancas, escreveu: “Vendo”.
            Publiquei uma crônica sobre este assunto!
            Depois recebeu uma homenagem pública de reconhecimento. Mas não voltou.  Foi embora novamente.
            Com saudades dele, escrevi um poema. Leu e gostou.
            Mas tenho que voltar à minha amada!
            Como disse, não conheço o homem que estava ocupando o coração de minha Suzy.
            Por que algumas pessoas invejam a felicidade dos outros? A inveja é a pior das armas, ela mata de forma silenciosa! Chego a acreditar que a inveja é a melhor arma usada pelos incompetentes, não deixam que alguém se sobressaia à frente dos demais. Isso já ocorreu comigo em vários momentos da minha vida.
               Queria gozar a felicidade que me restava dentro do peito!
              Foi assim que perdi Suzy! Dessa vez, ela decidiu casar com o noivo de décadas. Fiquei triste, abalado, mas não abatido. Também queria ver a felicidade dela. Ela já tinha sido minha. Ah, a insegurança e a pureza de Suzy, quantas vezes tinham-me feito sofrer!
                  Para os leitores pode parecer estranho que depois de tanto amor, tanta paixão correspondida, Suzy  tenha tomado a decisão de casar-se com o noivo. Mas eu entendo suas motivações, embora não as aceite de pronto!
                   O noivo a acompanhou também em parte de sua vida. Custeou seus estudos. Aceitou suas filhas, que as aceitaram-no também. Era compreensível que preferisse ele que a mim, pois namorado não é o mesmo que marido. Namorado se encontra hoje, passa um dia sem se ver, se encontra amanhã com mais paixão ainda e terminam na cama. Marido é uma pessoa que você dorme e acorda vendo-o todos os dias. Isso é repugnante! Não sirvo para isso. Talvez com Suzy, conseguisse.
                        Acabou minha relação de anos e anos e voltei à melancolia de sempre. Procurei nos livros um lenitivo para minhas dores d´álma!
                        Li com mais sofreguidão, “Os sofrimentos do jovem Werter”, de Goethe, autor alemão nascido em 1749, poeta, romancista, dramaturgo, crítico, ensaísta, um dos maiores vultos do pensamento alemão de sua época. Foi sua primeira obra de sucesso. Assim era o meu viver! Ah, como ele, sou dado a depressões de amor!
                        Fui internado novamente. Depressão! A úlcera também havia se manifestado, com sangramento. Foram os diagnósticos dos médicos. Mas o que é a depressão, afinal? Estudei que a depressão, em alguns casos, é até benéfica para alguns. Naquele instante, sentia as paredes se fechando sobre mim e eu sufocando mais uma vez.
                        De novo, fui acometido de pensamentos bizarros. O amor estava me corroendo por dentro. Já havia produzido em mim uma gastrite nervosa. Sangrava pela boca. Fazia exames, viajava. Fazia exames, viajava. Fui parar em outro Estado.
                     Conheci uma psicóloga. Também era jornalista. Contei meu caso. Ela disse que sabia do que se tratava: “paixão em excesso. Somatismo! Estava somatizando meus sentimentos. Tudo estava se manifestando através de minha úlcera que sangrava.
                        Não havia remédio para as minhas dores; são dores que só acontecem dentro da alma.
                        Como desde minha juventude era dado ao ofício de fazer poemas para as namoradas que tive, havia tomado uma decisão: reuniria pensamentos, filosofias, estórias, paixões tudo em um só livro. Foi o meu livro de maior sucesso!
             Falava de felicidade! Vida! Tempo! De tudo.  Acredito, foi bem aceito, por isso mesmo. As pessoas não gostam desses temas, compram os livros só para dizer aos amigos que os possuem, mas não lêem.
             Mas não conseguia esquecer de minha amada!
             Depois do casamento de Suzy, se uma notícia sobre ela me chegava ao conhecimento, avidamente devorava-a por inteiro. Tinha inveja das pessoas que ainda contemplavam-lhe o rosto, chegavam-lhe perto, vendo os seus olhos lindos que tantas vezes já os tinha visto, deitados sobre o seu corpo em momentos sublimes de amor.
           Foi um único livro e decidi buscar lenitivo para minha dor de amor.
   Consegui um outro emprego. Meu empregador não tinha ambições políticas, mas aceitou ser suplente de senador de uma pessoa amiga e depois, em suas correspondências trocadas com esse mesmo amigo, o sentia como uma pessoa magoada pela vida, e dizia sempre que sonhava um dia governar a sua cidade ou seu Estado para ajudar “aos mais necessitados”.
    Formado em nível superior, em Administração, seu forte não era a gramática e eu era o escudeiro dele em tudo. Possuía uma empresa e a administrava muito bem. Mas a perdeu por motivos políticos! Dizia sempre que eu era muito impetuoso em tudo que fazia. Mal ele sabia que eu era muito mais impetuoso em minhas paixões.
                        É, ele tinha razão, mas não sabia agir de outra maneira para a solução de quaisquer problemas. Jamais mudei meu modo de proceder. E no amor, então, era mais impetuoso ainda!
                        Trabalhei com ele dos vinte e dois aos quarenta e seis anos de minha cansada e inútil vida porque sem Suzy, nada teria mais sentido!
                        “O tempo é o senhor das razões!”. Alguém tinha me dito isso. Mas como, se o tempo não passa para mim? Como ele vai ser “o senhor” das minhas razões se eu mesmo as desconheço? Como o tempo vai “curar” o mal de amor se ele próprio não foi curado dos diversos males que causou devido a esse mesmo tempo?
                        Quem tem a capacidade do saber e o exerce para o bem – como foi o meu caso – não deveria ser punido tão severamente com tantas internações e tanto sofrimento. Deveria ser poupado dessas dores e viver uma vida plena, só de amor. Acho que Deus está punindo os justos para poupar os miseráveis. Os injustos.
                        Depois que deixei o novo emprego que, por tantos anos, me acolheu com boas realizações, decidi não mais pensar em nada. Havia me transformado em uma mente em branco – igual ao bebê quando nasce! Dizem os educadores que os filhos são os reflexos dos pais e que eles aprendem pelos exemplos.
                        Não concordo muito com essa teoria pedagógica.  Estudei e li muito durante minha vida e ainda leio hoje em dia, mas não consegui transferir o interesse para meu filho. Como é que os educadores dizem que é pelo exemplo dos pais que os filhos são educados?
                        É impossível! Acho que os filhos são educados pelas suas próprias vontades e curiosidades. Os pais apenas os orientam e os ensinam. Mas a vontade deles e as suas curiosidades é que verdadeiramente lhes moldam nas ações futuras. Os exemplos podem ajudar nisso, mas não são o fator determinante!
                        E a minha amada que não me saía da cabeça!
                        Recebi o convite para o seu casamento. Lógico que eu não iria! Não tinha a intenção de conhecer o autor que a arrebatou-me dos braços.
                        Transtornado, fui internado novamente. Agora no Manicômio. Estava ficando louco de amor. E tudo era por Suzy! Sempre tive uma saúde frágil, mas a notícia de seu casamento  tinha sido demais para a saúde frágil e debilitada que tinha. Fiquei louco! A internação se fazia necessária.
                        Mas o que é uma pessoa louca? É amar em demasia, até a exaustão total do ser? Se isso é ser uma pessoa louca, então eu o sou!
                        Um psiquiatra defendia a tese que o chamado “doente mental”, o “louco”, não precisava ficar em celas, em isolamento, para tratamento desse tipo. Só iria ao hospital no dia da consulta. Depois voltaria para casa. A tese defendida pelo médico era a de que a família e no seio dela, era o melhor tratamento para o paciente.
                        Cheguei a promover uma exposição de pintura com o apoio desse médico. Eram pinturas dos chamados “doentes mentais”. Pinturas lindas, cheias de significados!
                        Então, como pode ser definido um louco?
                        Não tenho resposta. Mas acho que os loucos somos todos nós, incapazes de compreender que o amor intenso também pode transformar a todos nós em loucos. Um dia.
                        Estava louco, sim. De amor!
                        Desejava destruir o mundo. Chamar pela minha amada, onde quer que ela estivesse! Chorava muito todos os dias e a solidão era minha companheira noturna. Dormia e acordava e não deixava de pensar na minha grande, única e verdadeira paixão, Suzy!
                        Conheci outras mulheres no hospital psiquiátrico. Elas tinham uma sexualidade muito aflorada.
                        Depois que recebi alta de minha última internação psiquiátrica, transformei-me em um devasso sexual.
                        Não podia olhar para uma pessoa que logo a desejava, pensando e vendo a pessoa no corpo de Suzy!
                        Fiquei mais crítico também!
                        O que é a loucura, afinal? Entendo ser a loucura uma coisa muito complexa; o que pode ser loucura para uns, não o será para outros. É tudo uma questão de percepção, de ponto de vista. Tenho uma firme convicção que os melhores psicólogos são os que não conseguem resolver seus próprios problemas e tentam resolver os problemas dos outros.
                        Tive muitas “aventuras” sexuais nessa fase. Mas não passavam disso, felizmente, porque ninguém poderia ocupar meu coração. Estava dedicando-o somente à Suzy, minha única e eterna paixão!
                        Um olhar crítico na história pode corroborar, pelo menos em linhas gerais, essa hipótese.
                        Toda a reflexão nesse caminho se abre para nós numa dimensão onde a fé, a loucura, a razão se fundem e tudo se transforma em um só objeto! Tudo é a mesma coisa!
                        Mas como eu estava dizendo, me transformei em um devasso sexual depois que deixei o hospital. Não podia ver uma moça bonita, parecida em certos aspectos com a minha musa, que a desejava com sofreguidão.
                        Vivi muitas aventuras com outras mulheres, pensando ser a minha Suzy!         
                        Voltei a internar-me, por problemas psiquiátricos. De novo!
                    Todos os que amam demais, sem medida, acabam ficando meio loucos. Isso é uma realidade, uma verdade e não adianta o profissional de saúde dizer que não é assim. É...!
                        Desejava ter um revólver dentro do hospital. Não havia nenhum, nem faca ou qualquer outro objeto que pudesse servir para por um fim em minha triste vida! Se é que era vida o que eu estava o vivendo!
                        Proclamo que nesse mundo não há coisa mais necessária que um homem amar uma mulher. E ser amado na mesma intensidade por esta mesma  mulher.
                        Em minhas leituras, aprendi que a Igreja no início da Idade Média, depois do longo período das catacumbas e das perseguições que povoaram de mártires o céu, também estava implantando a pena de morte através das perseguições feitas durante as Cruzadas, depois da chamada era de “caça as bruxas” e, por último, da era das “fogueiras” dos hereges. Até um padre chegou a ser queimado na fogueira! Só não vi minha Suzy sendo colocada na fogueira! Ela não era bruxa, mas tinha enfeitiçado meu coração, com seu amor!
                        Essas minhas divagações não faziam esquecer de  Suzy, minha doce Suzy! Eram delírios, apenas.
                        Cada vez mais estava ligado a ela e ela a mim, embora não vivesse mais ao meu lado. Só em minhas lembranças. Se aparecia alguém que estivesse estado ao seu lado, olhando-o em seus olhos, esse alguém era digno de meu respeito. Depois que ela casou, me internei mais duas vezes; as duas por depressão, diagnosticadas erradamente pelos médicos como “distúrbios mentais”. Só obtinha notícias sobre a vida de Suzy,  através de informações de terceiros. Desejava tê-la ao meu lado naqueles dois momentos terríveis e angustiantes para mim!
                        Ah, como é triste viver sem o calor, sem o beijo e o amor de Suzy!
                        Por que as coisas têm que ser assim, e o que faz a felicidade do homem se transformar em sua própria desgraça...?
                        Havia me transformando em um farrapo humano. Deixei os cabelos crescerem. A barba também. Não me vestia direito, não comia, não dormia...só pensava nos carinhos da minha amada, do nosso amor que havia se tornado impossível!
                        A plena e cálida sensibilidade do meu coração, tinha-me transformado em um trapo inútil, descartável, sem vida, sem razão de viver!
                        Hoje fui visitar uma amiga querida que de há muito não possuía qualquer notícia. Estava caindo uma chuva na ocasião. Ela desceu e abraçou-me de forma tão forte e terna que me causou uma forte emoção. Chovia no momento como chovia nas vezes que encontrava a minha amada, sempre de forma furtiva. Ah, minha doce amada! Onde estarás e como estarás? Preciso de uma notícia tua!
                        Minha amiga falou-me de sua doença. Tinha tirado todo o útero. Tinha um câncer, em comum o crescimento desordenado de céculas que invadem tecidos e órgãos, podendo espalhar-se para outras regiões do corpo. Felizmente, foi diagnosticado antes. Nada disso lhe aconteceu. Ficou só no útero mesmo.
                        Já era casada essa minha amiga; não teria mais filhos! Que pena!
                        Maldito câncer que esterilizou completamente a amiga! Maldito câncer!
                        Será que este não era o problema de que sofria minha amada quando ela disse-me: “não posso mais ter filhos!” Não tive coragem de perguntar à Suzy. Ficaria mudo na frente dela, com medo da resposta. Também não tive  qualquer ação ou reação frente a minha amiga. Só lamentei!
                        Contou-me que havia perdido recente um sobrinho, em acidente de carro. Maldito seja motorista que ceifou a vida de uma criança. Ela poderia ter um grande futuro. Mas agora, como sabê-lo? Nunca saberemos.
                        Compreendo agora porque a Igreja é sempre contra as pesquisas com “célula tronco” de cordão umbilical. Ela é contra uma vida digna. Uma vida que cure o amor da alma; contra descoberta de um remédio que possa cura-me dessa paixão que ainda sinto por Suzy! Não. Não há e nem haverá remédio para inibir a paixão do coração.
                        Que maldita doença é essa que deixou minha amiga sem condições de ter filhos?
                        Eu tive diagnóstico de câncer também. Era leiomiossarcoma de alto grau! O diagnóstico veio de um laboratório especializado em patologia. Excelência em diagnóstico, como informava a parte superior do papel timbrado da clínica.

                        E era verdadeiro, mas não o aceitei de início e busquei tratamento em outro Estado.
                        Tinha mandado fazer uma biópsia em tecido que foi removido em uma das várias internações que vinha sendo submetido. Junto ao diagnóstico de câncer, acompanhavam três fotos mostrando a doença com a expressão “desmina e actina de músculo liso”. Coisa que não sei o que é.
                        Na despedida, o abraço que a amiga me deu foi muito forte! Parecia que estava adivinhando meu sofrimento de amor interior e queria transferir para ela o que estava sentindo naquele momento. Se tentou fazê-lo, não conseguiu. Porque minha dor de amor era só minha, doía por dentro, não era aparente.
                        Lembrei-me das muitas vezes que visitávamos eu e minha amada, o cais do porto da cidade. Ela era representante de um município, cujo prefeito da cidade era um parente seu. Já falei disso. Sempre fazia o envio de encomendas, malotes e outros assuntos de interesse municipal. Não sei o que aconteceu com a pessoa que ela representava, mas acho que abandonou a política.
                        Depois da visita à amiga, voltei para casa. Entrei. Fiquei admirando meus vários quadros graciosamente colocados na parede: V...Pereira; F.... Stefani; M... Andrade; Moema A...; M... Borges; Palheta, pelo qual fui presenteado com uma caricatura.
                        Nada, contudo, fazia-me esquecer da minha amada Suzy!
                        Na inquieta solidão de quem ama, em vão estendo os braços para acariciá-la a meu lado. Despertei do sonho terrível e julguei que ela estivesse sentada na relva verde do pasto, e eu a cobrindo de beijos. Acordei. Ah, quando ainda meio tonto do sono que se fazia profundo, despertei para a realidade. Ela não estava ao meu lado. Minha amada não me pertencia mais. Mas a outra pessoa, sim. Será que ela deitava-se na cama dele como o fizera várias vezes na minha? Acho que não, mas não tenho certeza.
                        Ah, meus leitores, são tantas as perguntas. As dúvidas, as incertezas nesta vida que me transformaram em um fraco e maltrapilho ser, vagando pelo mundo das ilusões a perseguir o inatingível: o amor pleno, o amor verdadeiro!
                        Minhas forças ativas se degringolaram em inquieta solidão. Não posso estar ocioso.
                        Novamente comecei a ler tudo o que aparecia na minha frente, mas em tudo que eu estava fazendo, parava um instante e pensava em minha  amada. Não tinha nenhuma idéia de como iniciar as leituras que tentava iniciar.  Quero ler os livros que o poeta que esteve em meu aniversário citou, mas não consigo fazê-lo. Essa paixão está me consumindo inteiramente.
                        Muitas vezes invejo a capacidade do Alberto, amigo de muitos anos. Ele sempre convida para almoçar peixe fresco na casa dele. E a esposa prepara um peixe cozido como ninguém! Toma sua cerveja – muitas por sinal, declama alguns poemas que produz, fazendo sempre trocadilho com as palavras e pergunta-me muito sobre temas literários e sempre interessantes.
                        Contudo, nada fazia esquecer-me de Suzy,  minha grande paixão!
                        Eram sábados deliciosos àqueles. Mas nada, nada mesmo, fazia esquecer de minha amada Suzy. Era uma paixão louca! Arrebatadora! Fulminante! Terrível de aguentar! Todas as manhãs ainda estendo os meus braços procurando-a, deitada em minha cama. Mas ele não está mais ao meu lado. É inútil a procura.
                        O amigo Alberto,  diz ainda que  vai publicar um livro, “Injustiça da Justiça!”- informa o nome da futura obra. Diz que não concorda com o capitalismo e sempre afirma que Jesus foi um dos primeiros comunistas da história. Explica o porquê: - “Jesus deixou seu pai carpinteiro e foi combater César, o Grande Imperador de Roma.
                        - Só acredito em Deus! – diz sempre ele – Não acredito em Igreja! Só em Deus!
                        Uma vez, entre suas muitas divagações, perguntou a mim se eu sabia qual era o setor da economia que mais havia gerado emprego. Respondi que não sabia. “O da segurança!” – respondeu-me ele, no ar de sua sabedoria! É verdade! Concordei com ele de imediato.
                        Em uma de minhas visitas a casa de Alberto, contou-me que o professor muito intelectualizado, perguntou aos alunos:
                        - Quem conhece Machado de Assis? Alguns alunos teriam levantado suas mãos. O professor batera palmas e dissera: “Muito bem!!!!”
                        - Dos que levantaram as mãos, quem leu qualquer obra de Machado de Assis? –insistiu o mestre.
                        Ninguém ergueu as mãos e o professor voltou a bater palmas e dizer novamente: “Parabéns....! De forma irônica, dessa vez! O professor havia comprovado que existe muita “cultura axilar” em salas de aula!
                        Era muito divertido estar com Alberto aos finais de semana!
                      Lembrei-me de uma fábula em que o cavalo, cansado. muito  cansado mesmo da liberdade em que vivia, deixou-se colocar uma cela e condenou-se a desonra de ser montado. Era assim que eu estava me sentindo. Eu dei muita liberdade à Suzy e sofri a desonra de vê-la casada com outro.
                        Assim eu me sentia naquela manhã fria, chuvosa, quando debrucei na janela do meu apartamento olhando para uma grande varanda vazia e uns quadros pendurados pelo lado de fora, pequenos! Só o vento que soprava lembrava-me dela. Ah, doce amor! Doce paixão! Por que tu não és arrancada de dentro do meu peito e jogada às traças?!
                        Era inútil minha luta contra as lembranças de Suzy e dos momentos felizes que passamos juntos.
                        Não sei o que devo fazer para extirpar de meu coração essas amáveis lembranças de Suzy.
                        Inebriado com as lembranças de Suzy, caminhei pela rua da cidade, absorto. Não pensava em nada; só havia em mim um turbilhão de indagações que deveria fazer a minha Suzy: por que ela me deixou? Por que se casou com uma pessoa que ele nem sabia se amava? Por que ela deixou para trás todas as coisas boas que fazíamos? Por que ela não mais recebeu minhas rosas roubadas dentro dos cemitérios da cidade?
                        Aprendi que o saber gera o poder. Isso é fato por demais comprovado ao longo da história, como é fato que ela se tinha ido embora sem dizer uma palavra, exceto enviar-me pelo correio um convite para o seu casamento. Aquele convite me causou duas certezas: uma de que ela poderia ser feliz; outra, a de minha total infelicidade!
                        Para o meu mal de amor jamais haverá remédio, nunca! Por mais que a medicina se desenvolva. Ah, como dói meu coração!
                        Se pudesse, mudaria meu destino ingrato!
                        Ah, solidão que me apavora!
                        À noite, a dor que rasgava meu peito era terrível! Estava ficando louco. Só em pensar ela chegando à casa e sendo possuída por outro como eu tantas vezes o fizera no passado, matava-me por dentro. Era um morto vivo! Já estava morto! Irritava-me ao saber que outro beijaria sua boca linda que tantas vezes eu também a beijara. Era melhor esquecê-la, caso contrário morreria mais rápido.
                        Por que a vida não me deu a oportunidade de nascer aos 90 anos, casar aos 40 e viver meu grande amor em uma idade madura? Mas, não! Decidiu fazer-me nascer como uma “folha em branco”, sem nada pensar.           Ah, como era doloroso para eu esquecê-la! Mas tinha que fazê-lo.
                        A dor que eu sentia dentro do peito, dentro da alma, era maior que a força que me restava para resistir ao casamento de Suzy.
                        Mais uma vez procurei um meio para por um fim a minha vida. Mas não achei nada que pudesse  aliviar a minha alma.
                        Só em pensar Suzy deitada na cama com outro, abrindo suas pernas para receber o amor de outro, como eu tantas vezes fizera, me irritava. Ah, Suzy! Ah, Suzy! Não consigo dormir!
                        Era chamado de “o solitário”. Era com esse nome que escrevia em todos meus poemas de amor de juventude. Deveria ter continuado usando esse nome. Mas, não. Quis ser alguém. Perdi minha paixão!
                        Louco? Talvez estivesse louco, louco de amor! Desgraçado eu sou e estou desgraçando minha vida sem objetivo, pois atualmente só tenho um: voltar aos braços de minha amada!
                        Era sim. Eu era um louco, solitário e apaixonado.
                        Nada de bom acontecia. Todos os meus pensamentos eram voltados para Suzy. Estava ficando louco mesmo. Minha obsessão por Suzy era tanta que...
                        ...Decidi viajar. Andei por outros Estados para tentar esquecê-la. Foi inútil  minha fuga.
                        Voltei. Sangrei pela boca novamente. Mais um diagnóstico: câncer no intestino.  
                        Um novo emprego talvez fosse à solução para o mal de amor que eu vivia. Comecei em mais um trabalho. Criava cartas para um programa de rádio. Mas como? Se todas as cartas eram de amor, dirigidas à Suzy? Fui demitido de novo.
                        Busquei na bebida um motivo para esquecê-la. Logo na entrada, uma placa. “Se bebes para esquecer; pague antes de beber!” Saí do bar. Fui buscar na religião uma cura para a minha alma. “Irmãos, amai-vos uns aos outros como Deus vos amou”. Também desisti.  Era impossível esquecê-la desse modo.
                        Decidi pintar! Era uma coisa que sempre tinha desejado fazer na juventude, mas sempre adiava. O primeiro rosto que pintei foi o de Suzy. Desisti também.
                        Caminhei sem rumo pelas ruas. Ouvi uma música. “Sentei no banco da praça, só para esquecer...” Não deu certo.
                        Hoje é novamente dia do meu aniversário. Convidarei muitas pessoas. Receberei muitos presentes. Não quero receber flores. Mas o primeiro que recebi, foi um buquê de rosas. Mas não havia sido enviado por Suzy. Voltei a lembrar de Suzy e das rosas roubadas em cemitérios que lhes eram entregues como prova de amor quando eu não conseguia comprá-las. Mas eram raras essas vezes.
                        Uma música orquestrada começou a ser tocada. Lembrei-me novamente de Suzy. Outra música, agora, Sertaneja. Também voltei a lembrar-me de Suzy. Não haveria um só momento em que as lembranças de Suzy não me viessem à mente. Não tenho mais outro culto que não seja ela...até quando não quero pensar;  penso...e isso me dá horas de felicidade...até que de novo sou forçado a fugir  de tais pensamentos...!
                        Hoje, as flores da vida não passam de fantasias...Quantas morreram sem deixar vestígios? Quantas pereceram sem dar frutos...? O que me espera dessa paixão...frenética e infinita? Esses poucos instantes de lembranças de Suzy causam-me felicidade, até que sou forçado a fugir delas...O que meu coração quer afinal, se não a terei mais?
                        Onde reside a felicidade sem o amor? Não existe felicidade sem amor. Eu respondo. E quando a melancolia novamente me invade a alma, eis que recebo um telefonema. Era ela!
                        “Alô!”. Eu respondo: “alô”!
                        No dia do meu aniversário, sempre costumávamos cantar “Parabéns a você!” ao telefone. Nesse dia, exatamente no telefonema dela, no dia do meu aniversário, nada aconteceu. Não escutei mais que uma voz fraca  dizendo apenas “alô” e desligando em seguida.
                        Teria eu feito muitas perguntas para Suzy: “como está indo seu casamento? Como você está...?” Eram muitas as perguntas, mas ouvi o marido perguntando ao fundo: “você está telefonando para quem?”
                        A voz dele privou-me de todas as perguntas que desejava fazer à Suzy! Mas valeu assim mesmo. Foi um telefonema breve que me remeteu ao nosso passado de amor intenso. Adorei ter-se lembrado de mim, no dia do meu aniversário!             
                        Estava ficando louco. Eu a enxergava em qualquer outra pessoa na rua. Não me enganaria a mim próprio.
                        Entrei em um Teatro. “Romeu e Julieta”. Quer prova de amor melhor do que essa peça?
                        Fui a um cinema. “Love Story”. Em outro, “Dio comi ti amo”. Impossível!
                        Desse modo era impossível tirá-la do meu pensamento, extirpá-la de minha vida.
                        Dentro de canoa, embaixo de uma ponte de madeira, na rede. Estava amando minha amada Suzy, de novo. Em delírio. Era um amor gostoso, intenso, frenético, meio às pressas... Acordei com o barulho do carrinho de café no corredor do Hospital, no qual novamente havia me internado. Ah, minha amada Suzy, quantas lembranças agradáveis do passado  ainda guardo de ti...!
                        O café da manhã era pontual. O almoço também. Lembram que falei que havia recebido diagnóstico de câncer? Fui confirmar ou desmentir o diagnóstico. Fiquei primeiramente na ala destinado aos doentes de oncologia.
                        Durante 17 dias, aguardei o resultado das lâminas. Havia dado positivo. Não fiquei deprimido. Nem abalado. Apenas preocupado, pois sabia tratar-se de uma doença sem cura. Eu já estava morto mesmo, por que preocupar-me com o diagnóstico. E o médico manteve-me no setor oncológico.
                        Exames e mais exames foram feitos e refeitos. Acho que os médicos queriam identificar em meus exames, onde que se manifestaria esse amor doentio, dentro do meu cérebro. Seria inútil, por certo. O amor não está no cérebro, mas no coração. Dizem os médicos que tudo era uma manifestação do cérebro, o coração só absorvia os estímulos cerebrais. No meu caso era diferente!
                        Estava morrendo, sabia disso, mas meu amor por Suzy morreria junto. Ficaria dentro do meu cérebro. Quem sabe nos encontaríamos em outro mundo.
                        O amor estava todo dentro do meu coração. Depois chegava ao cérebro. Tenho certez.! Não fosse isso, não poderia ser ao contrário?
                        Não havia mais veias em meus braços. Tomei remédios até no dorso superior do meu pé. Doeu muito! Minhas veias estavam todas inchadas!
                        No setor oncológico, onde estava quando fui despertado do meu sonho com a Suzy, conheci um casal – ela de origem alemã e ele psicólogo brasileiro. Já tinham mais de 80 anos meu companheiro de quarto e sua esposa. Havia momentos em que duvidava de todas as suas faculdades mentais.
                        Um dia, acordou e perguntou-me se já tinha tomado café na varanda da casa em que morava, olhando para a lagoa?
                        Lógico que não! Ele devia ter sonhado naquela noite!
                        Falava de sua casa à margem da lagoa. E como falava. Maurício era o seu nome. E Petra, a alemã, era o nome de sua esposa.
                        O senhor Maurício adorava ouvir as histórias de vida que lhe contava sobre minha experiência em vencer. Só não estava conseguindo vencer minha doença de amor por Suzy. Essa estava me matando por dentro e por fora.
                        Continuava aguardando o resultado dos seus exames. Todos os seus familiares visitavam-no Ele tinha um ex-genro que era médico. O ex-genro, também o visitava. E falava do tratamento a que se submeteria, explicava tudo para os familiares. Dizia que o câncer estava na medula! Seu Maurício não andava. Tinha que usar cadeira de rodas para tudo. E a esposa, sempre ao seu lado.
                        Mas nada me fazia esquecer da paixão que sentia por Suzy. Nem meu câncer já confirmado.
                        Acho que até já faleceu, o seu Maurício. Nunca mais tivera notícias sobre dele, embora tivesse ficado mais duas vezes internado mesmo hospital. Mas em outro leito e com outras pessoas que tinham câncer, como eu.
                        Mais uma vez esse maldito câncer levara uma pessoa boníssima. De onde vem essa doença? Como ela surge?
                        Aprendi que as células de câncer se dividem rapidamente e tendem a ser muito agressivas. Estudei muito sobre essa doença. Folheava revistas para saber tudo a respeito do mal que estava me matando. Aprendi que outras características que diferenciam os diversos tipos de câncer entre si, são a velocidade de multiplicação das células e a capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos ou distantes, quando se forma a chamada “metástase”. Era a minha doença!
                        Tabagismo, hábitos alimentares, alcoolismo, hábitos sexuais, medicamentos, fatores ocupacionais e radiação solar podem ocasionar o câncer.
                     Será que tinha adquirido câncer durante o período em que, separado de Suzy e sem as esperança de tê-la de volta, me transformei em um quase animal, só querendo sexo? Acho que foi isso.  Nunca fumei, sempre tive hábitos alimentares sadios, bebia socialmente, havia tomado poucos medicamentos, não recebia radiação solar e os fatores ocupacionais meus eram todos acompanhados.
                        Também não havia na família fatores hereditários – são raros os casos de câncer exclusivamente por fatores hereditários, familiares ou étnicos, apesar de o fator genético exercer um importante papel na oncogênese. Só em indivíduos portadores de retinoblastoma é que, em 10% dos casos, apresentam história familiar deste tumor. Também não era meu caso!
                        Durante todo meu tratamento, tivera informações de que as células são formadas por três partes: a membrana celular, o citoplasma e o núcleo. Todos são componentes de genes, arquivos vivos que guardam e fornecem instruções para a organização das estruturas, formas e atividades das células no organismo.
                        No hospital, pensando sobre essa terrível doença, voltei ao meu passado, à adolescência, à puberdade...Tivera sido uma época feliz! Não se ouvia falar nessas doenças – câncer, AIDS. Falava-se muito em gonorréia, cancro, sífilis. Essas doenças! Uma garapa de cana, comprada em qualquer carrinho de vendedores de rua, respondia com exatidão se a pessoa estava com gonorréia ou não; antes mesmo de qualquer manifestação da doença.
                        Sem qualquer preocupação com a vida, vivíamos jogando bola pela rua, empinando papagaios de papel, tomando banho nos igarapés ou nas cacimbas. Era uma vida feliz e despreocupada! Por que hoje teríamos que nos preocupar com essa terrível doença? E a certeza que eu estava morrendo e que perderia para sempre minha Suzy.
                        Lembrei-me de uma farmácia do “Dr. Menescal”. Era onde procurávamos tratamento para nossas poucas doenças. Ele aplicava uma injeção de penicilina e nos mandava para casa. Doía muito; mas tínhamos que agüentar a picada!
                        Ou quando tomávamos caldo de cana para ver se na noite anterior não havíamos contraído “doença venérea”. O caldo de cana era um santo remédio para isso!
                        Recordei de uma vez que eu e seis amigos procuramos uma feira que existia na cidade, chamada de “Feira das Frutas”. Devido à quantidade de meretrizes que se reuniam no local e da grande quantidade de motéis que existiam nas redondezas.
                        Lá, encontramos uma meretriz que disse chamar-se “Raimundinha” e aceitou sair com todos, condicionou que entraria um por vez.
                        Aceita negociação, rumamos para um motel. Foi o primeiro; o segundo e, no terceiro, entramos todos de uma vez. Assustada, “Raimundinha” perguntou:
                        - Vocês querem me currar, é isso?
                        Não queríamos fazer nada com a meretriz, só saber por que o último colega que havia entrado no quarto, estava demorando tanto...             
                        Mas nem essas lembranças de um passado alegre e gostoso me faziam esquecer de minha Suzy!
                        Em meio a essas lembranças, sei o porquê, mas recordei de um amigo dessa época. Eu, ele e outros vencemos a pobreza, o preconceito e ganhamos um prêmio também para nossa escola. Não havia câncer. A diretora da Escola, Alexandra, brigava por tudo, e nos colocava de castigo sempre que fazíamos alguma coisa ruim dentro da escola. Mas, para nós e para a escola onde estudamos, ganhamos o prêmio e fomos recebidos como heróis. Passamos a ser citados como o exemplo da turma! Vencemos e brilhamos, eu e meu amigo!
                        Em minhas divagações, relembrei de dois irmãos que estudaram em nossa sala. A família deles possuía um pouco mais de posses e nós os convidávamos para participar em nossos trabalhos de aula.
                        Um outro amigo que nunca tinha pisado em um cinema foi convidado para ir a um deles.
                        Entrou, sentou e ficou olhando aquela tela imensa!
                        Cadê o controle para eu ligar essa televisão imensa – pediu ele. Era a tela do cinema que queria ligar. Rimos, colocando a mão sobre a boca para ele não ouvir!
                        Só que a Suzy não me saia da cabeça, nunca!
                        Estava em um quarto com muitos pacientes de oncologia, uns no início da doença e outros em fase terminal.
                        De novo essa maldita doença!
                        Mas eu preciso contar o que aconteceu. Um dia um paciente que estava usando uma bolsa para defecar. Ela estourou durante a madrugada. Logo cedo, o enfermeiro entrou no quarto e retirou todos os pacientes, para a desinfecção. Fomos removidos para um quarto ao lado, provisório; depois de desinfetado, voltamos ao quarto antigo e o paciente que tivera sua bolsa de excrementos estourada, pediu mil desculpas para os outros internos.
                      Eu estava dormindo ou sonhando? Não vi e nem senti nada. Estava de fato sonhando com a amada Suzy em meus braços, totalmente nua. Deitada a meu lado. Ela já estava casada!
                        Mais nada era maior que a pena e a dor que eu sentia no peito desde o dia que a Suzy decidiu-se pelo casamento. Ah, dor danada! Ah, dor incurável! Acho que não terei remédio em toda a medicina para curar o sofrimento por perdê-la.
                        Depois de idas e vindas aos médicos, voltei para minha cidade só para preparar meu Imposto de Renda.
                        Imposto de Renda! Deveria ser Imposto sobre Trabalho, e não renda. Renda, é o resultado ao trabalho e das economias feitas.
                     Tenho amigos na Receita Federal e tentaram convencer-me – sem sucesso, que a forma de cobrança está correta. Pode ser correta, mas é injusta uma pessoa passar quatro meses de sua vida trabalhando para pagar  impostos
                        Um amigo encaminhou-me uma carta comparando o valor do imposto que se paga no Brasil e o valor do imposto que se paga nos Estados Unidos. Havia uma pergunta: “Quem é mais rico?”
                        Depois da leitura de toda a carta, concluí que o Brasil era mais rico que os Estados Unidos. Tudo aqui no Brasil, começando pelo Imposto de Renda, que é de 27,5% sobre o salário. E depois, os demais impostos, vêem em cascata!
                        Depois de entregar a declaração do meu Imposto, voltei para continuar o tratamento. Os médicos insistiam em pedir tomografias e mais tomografias. Mas já disse que não haveria remédio em toda a medicina para curar o meu mal de amor. Mesmo com minha terrível e terminal doença, não conseguia esquecer-me de Suzy.
                        Fiquei hospedado no apartamento de um amigo. Tinha-o conhecido através de uma irmã que faz tratamentos seguidos nos hospitais fora da  cidade. Ele morava só. De vez em quando aparecia um filho ou filha em seu apartamento. Não estranharam minha presença porque o amigo da minha irmã sempre acolhia pessoas em seu apartamento. Já era comum, então.
                        Ao final de mais um tratamento sem cura definitiva para minha doença de amor, recebi alta ambulatorial e fomos eu e meu amigo, visitar uma exposição de arte em uma praça. Muitas coisas  encontramos na exposição.
                        Decidi retornar, em cadeira de rodas, tal era a fragilidade de meu estado de saúde.
                        Mais uma vez, acabei de chegar da residência do Alberto. Ele, leitor de Karl Marx, é crítico da sociedade capitalista. Em parte, concordo com ele. Na sua essência, qual seria a fórmula correta de economia? O comunismo ruiu em toda a Europa e nenhum outro modelo econômico foi apresentado até hoje.
                        Certa vez, um revolucionário latino-americano que percorreu toda a América Latina de motocicleta com um amigo, sustentava que o socialismo não era um regime de sociedade beneficente.
                        Dizia o revolucionário nascido na Argentina e famoso em outro pais, que o socialismo era um regime que havia chegado historicamente para ficar,  e sua base estava na socialização dos bens fundamentais de produção e distribuição equitativa  de todos os bens da sociedade.
                        Como hoje só existe um pais que resiste com essa ideologia, resta-nos, então, a certeza de viver com o capitalismo. Ou o evolucionismo!
                        Dizia para ele que a teoria de Charles Darwin, “Evolução dos seres, das espécies e das coisas” talvez fosse à única capaz de explicar tudo o que acontece nos dias de hoje: as questões sociais, as incorporações, as fusões, as compras de empresas menores pelas maiores. Tudo para aumentar o mercado!
                     Mas poderia explicar a evolução da sociedade, pelo menos!
                        Falei de “questões sociais” porque a maioria dos eventos ocorridos no país desde a implantação da República até os dias de hoje foram transformados em movimentos revolucionários. Não foram vistos com o olhar de questões sociais. As questões sociais surgiram na Inglaterra, durante o processo de industrialização e continuam até os dias de hoje.
                     Os mais fortes sempre fazendo fusão com os mais fracos. Essa verdade está na natureza, na economia, nas questões sociais. Exatamente como Darwin definiu na teoria da evolução dos seres, das espécies e das coisas.
                     Será que essa teoria serviria para definir o amor que sentia por Suzy, depois de tantos anos sem vê-la? Acho que não! Nada, porém, Darwin escrevera sobre a evolução do amor.
                        Lembro-me, também, de uns dizeres num quadro na casa de Alberto, em que constava uma frase de autoria de Leon de Tostsky, intelectual e revolucionário russo assassinado por um agente soviético em sua residência, em 1940, na cidade mexicana de Cayoacám, cujo teor diz que a paixão entrou como convidada; depois virou amante e agora é proprietária! É isso mesmo! A paixão que se apoderou de mim já virou proprietária de meu corpo e de minha alma. É inútil a resistência. Não há como lutar!
                     Alberto depois que declamava suas poesias, sempre dizia que se casou com uma mulher que em princípio a via como uma princesa, depois teria virado uma floresta e agora era um pântano. Coitada da mulher! Ela ouvia e ria muito. Mas ele dizia isso só da boca para fora. Na verdade, era e sempre foi apaixonado pela esposa, como eu também sou por minha Suzy. Ah, doce Suzy!
                        Um dia, um convidado de uma amiga entrou na piscina como um gay e saiu como um garanhão! Alberto pegou a espingarda.  Correu atrás dele. Era ciúmes que da esposa Andréia. Alberto não é de atirar em uma mosca, quanto mais em um homem.
                     Estamos evoluindo para a exclusão dos nossos recursos naturais e caminhando rápido para a Idade Média, quando as famílias ricas ficavam encasteladas e os vassalos ficavam à volta esperando receber refeições ou roubando-as para comê-las. Hoje, estamos vivendo o mesmo processo de desenvolvimento. Seguindo rápido rumo à Idade Média.
                      E dizem que isso é desenvolvimento! No máximo é uma evolução às avessas!
                        Doente, Darwin pediu a um amigo para defender a tese que escrevera. Outro pesquisador estaria escrevendo outra tese sobre o mesmo assunto. A Igreja Católica, tentando desmoralizar a teoria de Darwin, teria informado que o homem teria evoluído de seu ancestral, o macaco.
                     Darwin nunca afirmara isso! Ele apenas supôs que essa era a origem evolutiva do homem. Mas nem isso – a evolução do homem a partir do macaco - serviria para explicar o amor doentio que ainda sentia por Suzy!
                        É por Suzy que ainda estou vivo, respiro e resisto! Ah, amor louco, amor pouco!
                        Tenho que tomar uma decisão na minha vida, mas não sabia qual, a que deveria tomar, e nem sei se a decisão que deveria tomar seria a mais acertada.
                       Minhas divagações não me permitiam esquecer de Suzy, da paixão, da razão porque ainda vivia, da causa de minha ruína e nem da verdadeira causa de estar vivendo como um trapo humano! Suzy!
                     Mas era assim que queria viver se não pudesse tê-la a meu lado. E isso não poderia mais acontecer porque ela já está casada. Ah, vida cruel, vida ingrata!
                       Tive uma outra recaída. O câncer já havia se apoderado de mim, agora com mais força. Ou era simplesmente excesso de oxitocina?
                        Antes de perecer dessa terrível doença, já em estado de metástase, decidi voltar ao bairro que me acolheu durante longos anos da infância à juventude.
                        Deslizando com o carro, suave e lentamente pela rua principal do bairro, recordava os momentos felizes onde tinha vivido. Eram brincadeiras de bola, papagaio de bolinhas de gude, canga – pé, carrinhos de rolimã.
                        As lembranças de minha infância feliz deixaram-me por alguns instantes em estado de êxtase. Mas nem assim consegui esquecer por um instante de minha Suzy.
                        Tinha ido à busca de amigos da infância e a um reencontro com meu passado. À medida que o carro andava pelo asfalto onde antes era só areia, dizia para mim mesmo “aqui era minha casa; ali era um campo de futebol...” Eram lembranças de um tempo sem luz elétrica, sem aparelhos de televisão, mas feliz na simplicidade em que vivíamos eu e minha família. Mas tudo estava diferente. Não identifiquei quase nada: O Bazar Centenário, o Bar Copa 70, importantes referências na minha infância e adolescência, não existiam mais.
                        Além do câncer, a melancolia também havia se apoderado de mim e, por momentos apenas, não pensei em Suzy. Em seguida, desejei estar caminhando ao seu lado e falando de coisas de minha infância feliz! Ah, dor que não sai do meu peito! Ah, são lembranças que não consigo tirá-las de minha memória ou de meu coração, nem por um segundo apenas!
                        Recebo de bom grado a tua carta, minha sempre amada Suzy e passo a respondê-la. Quando me dizes que não estou sendo punido por Deus com meus infortúnios, não concordo muito com tua afirmativa.
                        Analisemos minhas explicações: sempre fiz o bem em todas as minhas ações. Isso não é o suficiente? Formei-me em duas faculdades e conclui duas pós-graduações. Para quê isso, se com isso não consegui realizar o sonho de ministrar aulas em um curso superior? E você ainda quer dizer que não estou sendo punido por Deus!
                    Sonhava entrar em uma sala e dizer “bom dia” para a classe e o coro todo respondendo “bom dia, professor!”
                        Nada disso eu consegui realizar!
                        Deveria eu estar sendo punido por dar-te dado rosas apaixonadas, muitas vezes roubadas em cemitérios depois do dia de finados? As quais você recebias com tanto gosto?
                        Estaria eu sendo punido em função de minhas frequentes internações com sintomas depressivos ou porque depois que tu me deixaste, tornei-me um devasso sexual?
                        Não saberei responder a esta minha pergunta!
                        Ou estaria em sendo punido por amar-te em demasia!?  É, acho que era por isso! Tenho certeza!
                        Aceitarei as justificativas e explicações para o teu casamento, que as desconhecia completamente, porque estou chegando ao final de minha desgraçada vida. Mas não posso negar-te que fiquei arrasado por dentro. Informo-a que recebi o teu convite para comparecer ao casamento, mas não compareci, por razões óbvias, as quais me recuso a revivê-las, para não aumentar minha tortura de amor!
                     Mantenho na parede tão-somente o teu retrato como que me olhando sempre para qualquer lugar que ande em minha sala!
                    Adeus, Suzy,  despeço-me com muito amor ainda no coração, nos momentos finais de minha desgraçada vida!
                     Sei que tu não vens me visitar desta vez como fizestes quando fui operado de apendicite, na primeira vez. Estás casada e não consegues sair tão facilmente de casa. Ah, como ainda te desejo, mas a levarei para sempre em meu coração!
                        Depois desta carta que recebi de Suzy, provavelmente em função da certeza que tive de que ela estava bem e feliz, fui novamente hospitalizado. Setor de oncologia! Rezei muito para terminar meu sofrimento de amor!
                        Todos os temores que tinha vieram à tona: era mesmo o câncer que me acometia!                  
                        Desesperado e ainda podendo andar, procurei remédio para minha cura ou um prolongamento ainda maior de minha vida.
                        “Que coisa chata ficar em busca de remédios se não há remédio para curar-me de meu mal de amor”, pensei. Mesmo assim, decidi procurá-lo, mas não o encontrei.
                        Decidido, passei por entrevistas com pessoas que poderiam ter sido minhas alunas na Faculdade, se eu tivesse realizado meu sonho de ser professor universitário como planejara ser antes da confirmação do diagnóstico de câncer. “Essa, com certeza, ainda não é formada”, ficava pensando enquanto ela lia papeladas e mais papeladas de informações – relatórios médicos, pareceres, documentos para aposentadoria etc - que lhes depositei sobre a mesa. “Que coisa chata”, pensei novamente. Só nesses momentos conseguia esquecer de minha Suzy. Mas as lembranças de seu rosto, de seu corpo e de tudo enfim, invadiram-me e eu fiquei ainda mais desesperado e comecei quase a gritar no gabinete da profissional que fazia meu atendimento.
                        “Coitada”, pensei e completei: “ela não tem culpa nem da minha doença; muito menos do meu desespero”. Fiquei calmo por uns poucos instante e voltei a alterar minha voz. Estava de novo quase gritando!
                        Fui submetido a tratamentos com radioterapia e quimioterapia.
                        Sentia-me muito mal depois das aplicações. Tinha enjôos e outros sintomas piores ainda. Acredito que estavam aplicando as doses em local errado. Eram sempre nas minhas veias que as aplicavam; mas era no coração que eu precisava que fossem aplicadas. No coração!
                         Mesmo se aplicadas direto ao coração, não seriam suficientes para extirpar o câncer de amor que estava matando-me, lentamente...
                         No máximo, aliviariam a dor do meu sofrimento cancerígeno, mas não o de amor cancerígeno que eu sofria.
                         As sessões de quimioterapia e radioterapia foram levando minha vida até o fim!
                        Meus longos cabelos caíram. Fiquei quase careca durante meu tratamento médico contra o câncer. Mas isso não era nada diante do meu sofrimento de amor por Suzy. Eu recuperaria tudo novamente; mas, não o amor de Suzy!
                        Recebi alta depois de quatro meses. Mas foram quatro meses lembrando de minha amada Suzy. Logo em seguida, novamente fui internado.    
                      Durante o novo tratamento, já em avançado estado de metástase, tivera sonhos eróticos. Ela, em uma roupa branca transparente, surgia em meus delírios de amor. Nós fazíamos um amor gostoso. Sempre! Depois, nos deixávamos como sempre ocorria.             
                   Decidi que não deveria mais viver! Sem ela; não!
                   Tivera ataques de pânico durante o tratamento. Sentia o intenso medo do tratamento contra o câncer e um grande desconforto. Falta de ar, palpitação cardíaca, suor, náusea, tontura e parestesia eram alguns dos sintomas que estava sentindo. Tudo acontecia dentro do meu cérebro e os reflexos eram todos dentro do meu coração.
                     Deveria ser por isso que em todas as minhas consultas, os médicos oncologistas pediam, além dos exames de rotina, uma tomografia computadorizada.  Acho que eles queriam descobrir na oxitocina do meu cérebro as razões para um amor tão doentio e profundo que sentia por Suzy durante todos àqueles anos. E olha que não tinham sido poucos..!
                        A medicina diz que o ataque de pânico pode ter origem em fatores hereditários. Mas não acredito nisso porque nunca nenhum membro de minha família viveu uma paixão tão intensa por alguém como eu estava vivendo por Suzy.
                        Convulsões eram freqüentes. Meus músculos se contraíam e passavam a ter mais força do que era normal. Um dia cheguei a morder um anel de ouro quando tentavam puxar minha língua de dentro da boca.
                     Uma vez, dando entrada na emergência de um hospital, urinei em toda minha roupa. Espalhou até pelo chão. O médico disse que era normal. Acho que ele estava querendo fazer com que não sentisse vergonha pelo que havia acabado de fazer. Diziam que respirar fundo ajudaria a tranquilizar o cérebro, mas o meu não poderia ter qualquer tranquilidade  com a lembrança constante de Suzy.
                        Era melhor morrer!
                        Com o continuar do tratamento, decidi dar uma chance a mim mesmo e marquei um psicólogo. Estava deprimido e queria um profissional para ajudar-me a extirpar Suzy de dentro do coração. Não deu certo o tratamento porque as causas da depressão ainda são desconhecidas.
                     O médico disse-me que a causa mais provável da minha doença de amor seria um desequilíbrio bioquímico devido à comprovação científica de que os remédios farmacológicos já faziam algum efeito. Mas, mesmo com os remédios que passei a tomar, o tratamento não deu certo.
                    Tenho certeza que parte do câncer que se apoderou de meu corpo foi causado pelo amor excessivo que sentia e ainda sinto por Suzy. Isso já foi comprovado cientificamente Mas, ainda não havia sido inventado remédio para combater o amor que estava sentindo dentro do meu peito. Sofri mais ainda.
                    Ao falar de Suzy, passei a ter mais desejo ainda por ela. Desisti do tratamento e não voltei mais ao psicólogo. Desejava desabafar com alguém sobre meu amor doentio por Suzy!
                    Estava ficando louco, além de estar possuído pelo câncer. Receitaram-me remédios. Mas nada para curar meu coração, que sentia tantas saudades e paixões por Suzy!
                      Já perguntei uma vez o que é a loucura, afinal? Entendo que todos nós temos um pouco de loucura.
                     Continuei deprimido e sem uma identificação exata das suas causas. Sei que todo o dia acordava triste; não manifestava interesse por qualquer atividade; não conseguia ficar parado e meus movimentos passaram a ser mais lentos do que os de costume.
                     Passei a ter sentimentos inapropriados de desesperança, desprezava-me como pessoa e passei a culpar-me pelo câncer que havia adquirido. Com isso, passei a ser um paciente potencialmente fatal para os médicos que me tratavam. Esse meu novo quadro clínico, contudo, foi pesquisado por vários médicos por quase duas semanas até que recebi o diagnóstico.
                        Mas, dentro de meu coração, no íntimo de minha consciência, sabia que estava morrendo de amor e de câncer por Suzy!
                        Até na hora da minha morte! Queria que ela fosse visitar-me nos últimos momentos de vida. Mas ela não apareceu. Fechei os olhos. Cheios de exitocina de amor. Dormi o sono eterno dos apaixonados. Dei o último suspiro de dor! Era a minha vida que chegava ao fim!
                        Antes de meu último suspiro, a exoticina de amor, a proteína invadiu todo meu corpo e meu cérebro. Era difícil de aguentar esse bombardeio de exoticina de amor. Desisti de viver.
                      Essa substância foi estudada pela primeira vez em 1777, quando o químico francês Pierre-Joseph Macquer descobriu que pelo aquecimento a caseína e o globulina se modificavam de uma maneira muito peculiar; o aquecimento as tinha transformado de estado líquido para o estado sólido.
                        Nada disso explicava minha doença de amor, nem o químico holandês Gerardus Johannes Mulder, com sua a formula  C40      H62 O12  N10, criada em 1839 foi capaz de explicar meu desespero de amor.                  
                        Como último recurso, os médicos introduziram uma enorme agulha no meio de minha coluna; eles queriam retirar os amonoácidos e tratá-los com reagentes químicos. Não conseguiram. Saiu um líquido branco de minha coluna mais os médicos não conseguiram diagnosticar nada.
                        Em 1953, o bioquímico norte-americano Vincent du Vigneaud conseguiu sintetizar um peptídeo cadeia exatamente como o que aparentemente representou exoticina molécula. E, além disso, o peptídeo sintético mostrou todas as propriedades do hormônio natural. 
                     Vigneaud Du foi agraciado com o Prêmio Nobel de Química em 1955.  Mas eu já estava morto e de nada mais adiantariam os estudos médicos. Não ia esperar a continuidade desses estudos para encontrar a cura para meu câncer de amor!
                        Meus familiares e amigos por certo saberão que morri, mas nada saberão sobre as causas que me conduziram rápido rumo à morte. Antes de morrer, porém, passou um filme pela minha mente e revivi tudo o que havia passado ao lado de Suzy e, então, fechei os meus olhos. Seria a última vez que veria a luz do dia, o clarão da lua ou o brilho do céu.
                      Decidi que não queria mais viver e suspirei pela última vez!
                        Eu, que passei a minha vida toda buscando conhecimento como a forma inesgotável de melhorar de vida, cheguei aos últimos momentos em um leito de hospital e futuramente serei transformado em nada, devorado pelos micróbios que infestam nosso corpo.  Eu só desejo mesmo um enterro digno, como deixei escrito para meus familiares e amigos.



                        E assim foi assim que terminou a história de amor entre mim e Suzy! Com minha morte!

       FIM