http://www.youtube.com/watch?v=wnEkapJoI6U&feature=youtu.be
Ao advogado e ex-deputado Miquéias
Fernandes e ao deputado e advogado Luiz
Castro
Durmo, acordo, tomo
remédios e caminho no Condomínio Mundi com fones aos ouvidos escutando músicas
de Rádio juntamente com a orquestra desesperada dos periquitos verdes, desalojados de seu habitat natural. Eles
fossem pretos, os observaria com desejo contido; mas olharia. Verdes, olho para
cima e sinto pena quando os vejo voando de uma arvore para outra, como um balé
cadenciado ou uma dança coreografada pelo barulho dos tostões entrando na caixa
registradora da coisa que se chama progresso! Horrível, mas real!
De vez em quando, no início
da tarde, outro passarinho, talvez amigo dos periquitos verdes da orquestra
desesperada comandada por um maestro invisível, provavelmente a mando dele a
quem não consigo vê-lo, - mas sei que está regendo essa orquestra - bate com
seu bico em minha janela do quarto como que me pedindo para entrar no banheiro
e escutar pela janela entreaberta, mais uma vez, a orquestra dos periquitos
verdes desesperados que, em meus ouvidos, soa como música de protesto contra a
destruição das árvores que existiam e onde todos habitavam, silenciosa e
pacificamente.
Nessa ora, sinto saudades
de Geraldo Vandré, cantando a música de protesto e gritando: “Gente! Gente! A
vida não se resume a festivais” e, depois, aos acordes de violão, cantar: “vem
vamos embora/que esperar não é saber/quem sabe faz a hora/não espera
acontecer...” que só foi
entendida “Para não dizer que não falei de Flores”, anos mais tarde.
Mesmo proibida pela Censura Militar, se tornou hino de protesto em todas as
manifestações de protesto da época!
Ou talvez o passarinho que
bate em minha janela seja para me agradecer pelas poucas árvores que restam na
divisa dos Condomínios Mundi e Florença Residencial Park. Mas não sei. Ó, como
sofro! Por que o Senhor não me fez como São Francisco de Assis, que conversava
e entendia a linguagem dos pássaros? Também não sei!
Morador do Condomínio
Florença, com floresta beijando a janela, filmava preguiça, maçado da noite,
araras, periquitos e me deliciava ao vê-los depois na imagem de minha TV. Ao ver
o desmatamento sem qualquer placa de
licença municipal para fazê-lo, comuniquei à Secretaria do Meio Ambiente e
denunciei. A obra foi embargada, o desmatamento interrompido e, depois que
deixei o local, outros moradores do Condomínio prosseguiram com ações na
Justiça, obrigando o projeto imobiliário a ser todo refeito, atrasando em mais
de dois anos a entrega das 11 torres de concreto. Mas não sei se o passarinho
que bica de manhã e à tarde consegue me ver por detrás do vidro com película
escura de 50%. Será que eu não poderia ser oftalmologista de passarinho para
saber se eles conseguem me ver?
O passarinho que bica
desesperadamente talvez não me veja (?).
Mas percebo seu desespero em me fazer levantar, abrir a cortina e vê-lo
voando alegre. Será que ele me viu levantando da cama? Depois, entro no
banheiro e escuto a orquestra dos periquitos verdes todos voando de um lado
para o outro, como se fosse uma revoada combinada antes entre todos, pela
janela aberta para deixar escapar o vapor do banho e não embaçar o espelho como
se fosse uma revoada combinada antes entre todos. Como é perfeito esse
movimento de vai-e-vem. Em seguida, todos retornaram mais triste para reiniciar
seu canto fúnebre na mesma árvore que ainda os acolhe com alegria, seu canto
quase fúnebre! O espelho é só para saber
e ter certeza que onde ainda estou vivo e me vejo.
Meu coração, que admira
esse espetáculo triste, se enche de alegria porque lhes permiti nesse mundo de
ganância, um último refúgio para o canto, mesmo triste, dos periquitos verdes
desesperados. Ouço agora apenas o canto como um sinal de alerta para o futuro
que desejamos deixar para as próximas gerações! Os pássaros de minha imaginação
precisam cantar livres, mesmo que não sejam mais tão livres e cantem tristes!
Mas o importante é que ainda continuem cantando para dizer aos seres humanos
que precisam ter seus espaços em meio aos caos urbano!