quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

JOSÉ, O ATENDIMENTO DO SUS E O REMÉDIO "GRÁTIS"

                               
                               Impaciente e inconformado, sem ter ao menos uma revista velha de fofocas para ler, dessas que são comuns se encontrar em consultórios de médicos particulares, seu José aguardava o médico do Sistema Único de Saúde. Andando de um lado para o outro e querendo encontrar alguma coisa para passar o tempo, seu José, que estava com a ficha número quatro, esperou o médico chegar com quase duas horas de atraso.
                        O médico entrou, como que pisando em ovos, passou direto e seu José o olhou de cima à baixo e voltou seu olhar para o relógio em seu braço esquerdo, como querendo dizer: “isso é hora de começar a atender?”. Mas se conteve e nada falou.
                        - Que entre o primeiro paciente – dizia o médico.
                        - Que entre o próximo... e o próximo – repetia o médico.
                        Chegou finalmente à vez de seu José ser atendido. Ele entrou meio desconfiado e irritado ao mesmo tempo pelo tempo da espera e sem ter uma só revista, velha que fosse para ler.
                        - O que o senhor está sentindo seu José...é José Flores mesmo o seu nome? – perguntou-lhe o médico.
                        Ao que José Flores lhe respondeu: - É...é sim. Mas as “flores” já ficaram  secas pela longa espera pelo senhor doutor!
                        - Conte-me o que o senhor está sentindo seu José.
                        Enquanto o seu José falava,  contando as dores no estômago que sentia, o médico baixou a cabeça e começou a anotar uma receita, com a “letra de médico” mesmo.
                        Foi só o seu José terminar de falar, sem qualquer exame prévio,  toque, verificação de qualquer sintoma que fosse, o médico já o tinha receitado.
                        - O senhor tem verminose, seu José. Tome esse remédio três vezes ao dia e depois volte aqui comigo... Tome no café, no almoço e na janta.
                        - Não dá doutor... – respondeu seu José. De modo franco e direto.
                        - Por que não dá, seu José – quis saber o médico e continuou. “Se o senhor não tem dinheiro para comprar os remédios, eu tenho umas “amostras grátis”. Tome aqui”- E estendeu o braço com a mão cheia de remédios “amostrar grátis”.
                        Seu José recebeu os remédios e voltou a dizer:
                        - Doutor, continua não dando!
                        - O que aconteceu agora seu José? Já lhe dei as pílulas e agora, o que falta mais? – quis saber de novo o médico.
                        - É para tomar uma pílula no café da manhã, outra pílula no almoço e uma terceira pílula no jantar...continua não dando! – respondeu seu José.
                        - Todas as pílulas eu estou lhe dando, o que falta agora? – mais uma vez quis saber o médico.
                        - Sabe o que, doutor. Não dá porque lá em casa quando se toma café não se almoça e quando se almoça não se janta, confessou seu José, meio desconfiado e foi embora.
                        Essa, infelizmente, ainda é a realidade de muitos brasileiros hoje em dia. Mas poderia não sê-lo mais.
           

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