quarta-feira, 30 de abril de 2014

HAITIANOS: QUESTÃO SOCIAL E NÃO POLÍTICA OU IDEOLÓGICA!

(CRÔNICA REESCRITA, publicada no blog em fevereiro de 2012)



Muitas informações a favor e contrárias à permanência e aceitação dos haitianos no Brasil circularam pelas redes sociais essa semana. Algumas delas até com certas pitadas de ironia, sarcasmos e até de deboches. Outras, contudo, sérias e responsáveis. Mas a briga que se estabeleceu entre os Estados do Acre, por onde os migrantes ingressam e São Paulo é, no mínimo, ridícula em todos os sentidos, sobretudo no humanitário e social. Os haitianos só querem é viver com dignidade, respeito e honestamente!

A história do Haiti e dos haitianos se divide em várias etapas e momentos. Da “Pérola do Caribe” a um dos países mais pobres do mundo, não demorou muito porque o Haiti enfrentou anos de luta armada, ditaduras cruéis, golpes, assassinatos e deposições de presidentes eleitos democraticamente.

De tudo isso, porém,  o certo é que o Haiti foi destruído por um terremoto de 7.3 na escala Richeter no dia 12 de janeiro de 2010, e viu parte de seu povo formado por 9.719.932 habitantes, procurando reconstruir suas vidas em diversos outros países, incluindo o Brasil e, mais precisamente, nos Estados do Acre, por onde entram e depois seguem em busca de dignidade para suas vidas destroçadas pelo terremoto que devastou o país, mas com dignidade em Estados que os aceitem para reiniciarem suas vidas e, de forma honesta, sustentarem suas famílias, mesmo no país de devastado pelas tragédias humanas e naturais.

Segundo dados da Igreja Católica que os vem acolhendo em São Paulo, existem mais de cinco mil e do Acre e continuam chegando outros milhares, fugindo da instabilidade política,  das ditaduras que reiteradamente se sucedem no país, apesar de alguns avanços e retrocessos vividos ao longo de sua história, a partir da eleição para a Presidência do Haiti do padre católico Jean-Bertrand Aristid e, por último, do desastre natural que acometeu o país.

Um homem que procura dignidade e viver com a honestidade de seu trabalho em qualquer país que os acolhe, deve ser recebido humanidade e não com tolas discussões políticas tolas, ridículas, desnecessárias e improdutivas, o bate boca omo se estabeleceu  entre os Estados do Acre e São Paulo, porque o primeiro tem poucos empregos e outro, mais desenvolvido oferece mais oportunidades em diversas áreas. Os haitianos, muitos em seu  país professores, médicos, administradores de empresas etc., querem apenas emprego em qualquer lugar ou área de ocupação para viverem com a dignidade e sustentar suas famílias que ainda ficaram no Haiti com o suor de seu trabalho!

É uma questão social, humanitária e não tem nada a ver com língua, ideologia, princípios morais ou éticas.

Diversos países disponibilizaram recursos em dinheiro para amenizar o sofrimento do povo haitiano, um país pobre e arrasado do continente americano, por questões políticas, humanas, ideológicas, culturais e tribais.

O presidente norte-americano Barack Obama, afirmou logo após a tragédia que o povo haitiano não seria esquecido, obrigando a comunidade internacional a refletir sobre a responsabilidade dos países que exploraram e abandonaram o Haiti, desde sua criação em 1945.

Deixando um pouco a história de lado, a questão social vivida pela população da ex-prospera e conhecida “Pérola do Caribe”, continua  abandonada sim, apesar de todos os esforços humanitários realizados e países que os acolhem em redor do planeta. Esse povo abandonado, explorado e agora também e esquecido procura refúgio em outros países, incluindo o Brasil, que os está acolhendo com dignidade, um pouco de respeito, mas com muitos preconceitos ideológicos em suas entranhas porque são negros, muitos analfabetos ou portadores de HIV etc..


Mas antes de analfabetos, negros, com AIDS, de não falarem português, porque todos esses “problemas” levantados podem ser resolvidos com vontade política e determinação, os haitianos são, antes de mais nada, gentes como todos nós! O que os refugiados pelo azar e tragédias naturais agora estão buscando, é apenas um país que os recebam em paz e que não mais convivam com discriminação e “ditaduras” de quaisquer espécies!

Um lugar para chamar de seu e esse lugar pode ser o Brasil!

quinta-feira, 24 de abril de 2014

SÍNTESE DA HISTORIA DA POLÍCIA FEMININA NO AMAZONAS


Era o comandante da PM no Amazonas, o coronel de Exército Wilson Ribeiro Raizer, religioso convicto, quando passei a registrar os constrangimentos que as mulheres sofriam por terem que ser revistadas por homens da PM no Juizado de Menores, Tribunal de Justiça, Penitenciária Feminina e outros locais públicos que mantinham aquela prática. Registrei tudo em fotos, com minha máquina Olympus Trip 35 que a usava no Jornal como um complemento do trabalho, sem que ninguém percebesse porque ela era pequena, leve e podia ser facilmente transportada em bolsa e servia muito bem para o que me interessava.


Com as fotos reveladas mostrando os constrangimentos sofridos pelas mulheres, principalmente as que visitavam os maridos na prisão da Rua 7 de Setembro, a única e a mais antiga de Manaus, a matéria assinada foi publicada em um domingo, nas páginas de “A NOTÍCIA,”. Na terça-feira, recebi uma carta oficial assinada pelo Secretário de Interior e Justiça, empresário, político e deputado federal, Mário Haddad e pelo seu subsecretário José dos Santos Pereira Braga, do Governo José Lindoso, parabenizando-me pela publicação que fizera. Era a primeira vez que recebia um elogio oficial por matéria assinada que fazia sempre aos finais de semana.

Devido à grande repercussão que a matéria teve junto a sociedade manauara, o então deputado estadual Átila Lins, três vezes presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, apresentou um projeto de lei propondo a criação e implantação da Polícia Feminina no Amazonas, incorporando-a à Polícia Militar, exclusivamente para acabar com os constrangimentos que mostrara na matéria. O então deputado estadual e agora Federal com várias legislaturas seguidas, contou com inestimável apoio da Primeira Dama do Amazonas, Amine Dou Lindoso, que era a presidente da Central de Voluntários do Amazonas e requisitou muitas policiais femininas para ajudá-la em seu trabalho, sendo atendida pelo governador que era um grande humanista.

Ainda lembro com emoção nomes de algumas pessoas que fizeram parte da primeira turma do concurso aberto pela Polícia Militar para selecionar as policiais femininas que usariam sapatos baixos, saias plissadas, cabelos presos por uma toca e não poderiam usar armas e nem compor qualquer batalhão, como as soldados  Lambeck, que era irmã do advogado criminalista Miguel Lamgbeck Soares no escritório de quem sempre me fazia presente depois que deixava a redação do Jornal, no Palácio do Comércio, mais as soldados Arlene e Sandra. As duas primeiras colocadas no concurso seriam enviadas para fazer o curso superior de polícia na Academia. Arlene e a Sandra, receberam como prêmio do Governo José Lindoso  esse mérito o direito de cursarem a Academia.

Informa o blog do coronel Roberto que “no ano seguinte, a PMM enviou as duas primeiras para enfrentar o curso de habilitação ao oficialato, em SP. Novamente a sargentos Arlene de Oliveira conquistou a primazia de ser a primeira colocada, tornando-se a primeira mulher a alcançar na PMM a patente de oficial (2o tenente). Ela, todavia, não permaneceu na corporação, quando a deixou, foi secundada pela tenente, foi secundada pela tenente Sandra Bulcão que, no corrente ano, alcançou a última parente hierárquica, sendo a primeira coronel da corporação.”. Com a parente de sargentos, as duas foram nomeadas para exercer o comandado da Creche da Polícia Militar, no bairro de Petrópolis. 


Pelo blog do coronel PM Roberto, “Catando Letras & Escrevendo Histórias”, dedicado a registrar fatos históricos relacionados à Polícia Militar, sou informado que no Curso Superior de Polícia, foi concluído em dezembro de 1980 e que as PMs femininas do Amazonas, Antônia Arlene Silva Oliveira e Sandra Regina Bulcão Bringel, conseguiram permanecer com os dois primeiros lugares, entre as 32 formandas, também no curso e que, a coronel Janete Ribeiro Fiuza, comandante das policias femininas de São Paulo, se fez presente à solenidade de entrega de faixas às duas aspirantes, com a presença do comandante-geral da PM no Amazonas, o coronel de exército Wilson Ribeiro Raizer. 

Também fiquei sabendo que foi o coronel PM Wilson Martins, então Chefe da Casa Militar, quem assinou no dia 17 de abril de 1989 a ordem de fechar e incorporar o efetivo feminino aos Batalhões masculinos, quando as então elegantes e discretas policiais femininas passaram a usar coturnos e armas como os homens, acabando com o  “primeiro núcleo das policiais que constituía o Pelotão da P Fem, até o ano de 1986. Com mais efetivo, alcançou o nível de Companhia, constituindo (em) um quadro separado. Três anos depois, no entanto, o comando da PMAM, entendendo que as mulheres deveriam possuir os mesmos direitos e obrigações do efetivo masculino, decidiu incorporá-las ao mesmo quadro. Desaparecia assim a autonomia e, de certa maneira, a essência da Polícia Feminina que, apesar dos entraves, prossegue no contexto geral da PMAM”,  garante o blog do coronel Roberto,  um em historiador dos fatos da Polícia Militar no Amazonas.

Masculinizadas, embora usando batom nos lábios e uma arma na cintura, acabou o meu encanto pelas Policiais Femininas, mas não meu respeito e admiração por também ter participado do processo de criação da Polícia Feminina, que passou de tantas mudanças desnecessárias e acabou com todo o glamour que existia na época! 

Mesmo que com uma matéria apenas, também participei indiretamente da criação da Polícia Feminina no Amazonas, mas o mérito todo foi do hoje deputado federal Átila Lins, que se sensibilizou com os dramas vividos pelas mulheres no início da década de 80 e apresentou o Projeto de Lei! 

segunda-feira, 21 de abril de 2014

SINDICATO OU CONSELHO: QUAL A AÇÃO E COMPETÊNCIA DE CADA UM?


De forma didática e perfeita, o Ministro Joaquim Barbosa expôs a diferença entre Conselhos e Sindicatos. Segundo o ministro, os Conselhos “são autarquias autônomas inseridas na estrutura do Poder Executivo, dotadas de competências administrativas específicas e submetidas ao controle ou supervisão de órgãos da Administração Pública do Estado”. Os sindicatos são órgão colegiado de uma categoria e são completamente diferentes das entidades de classe que não podem, em razão de sua precípua função institucional de controle, desempenhar o mesmo papel dos Conselhos, mas “cuidar dos interesses da própria categoria”.

Segundo informa o Sindicato dos Sociólogos, os Conselhos profissionais existem para regulamentar o exercício profissional e os valores de vida, integridade e segurança física e social de pessoas que compõem uma determinada categoria, mas são dependes de iniciativa do Poder Executivo com aprovação pelo Congresso Nacional, por uma lei específica que estabelecerá as diretrizes capazes de verificar as condições e a capacidade para o exercício profissional. O Conselho pode aplicar medidas coercitivas independentemente do Poder Judiciário que terá a função de julgar se a parte punida se sentir com seu direito lesado, protegendo os bons profissionais em seu espaço no mercado profissional e combatendo o exercício ilegal na profissão.

O sindicato, ao contrário, “é uma associação que reúne pessoas de um mesmo segmento profissional e tem representação legal de sua categoria perante as autoridades administrativas judiciais (…) o sindicato defende os interesses coletivos da categoria ou individuais dos seus integrantes (…) participando como parte em processos judiciais ou individuais dos seus integrantes, (…) participando em dissídios coletivos”, ou seja, “os sindicatos defendem os interesses profissionais, sociais e políticos de seus associados, em seu interesse territorial (…) se dedicando aos estudos da área onde atuam e realizam atividades – palestras, reuniões, cursos etc. - voltados para o aperfeiçoamento profissional dos associados.

“Os sindicatos são entidades civis, sem fins lucrativos, com fins de coordenação e representação legal dos trabalhadores”  e segundo o Sindicato dos Sociólogos, citando a Lei 201 C, ...“o Estado não poderá exigir autorização para a fundação de Sindicatos, ressalvando o registro profissionais no órgão compete, vedados ao Poder Público, a interferência e a intervenção na organização sindical”,  de acordo com a Constituição Federal de 1988.

Os Sindicatos têm formação piramidal/vertical – Sindicatos, Federações (5 Sindicatos no mesmo território podem fundar uma Federação) Confederações (12 Federações podem fundar uma Confederação) – e as Centrais Sindicais têm outro tipo de formação, mas é livre e a vinculação de Sindicatos a qualquer Central Sindical. Depois de fundados e registrados os Sindicatos, podem solicitar registro a uma Federação, se já existir em sua área Territorial.

domingo, 20 de abril de 2014

UM MERGULHO NO MEU PASSADO



Do beco que me viu nascer, do bairro que me viu crescer correndo pelas suas ruas sem asfalto, da catraia que me transportou para pegar água do outro lado do Igarapé do 40, do depósito de açúcar onde apanhava a água em uma torneira colocada aos moradores, nada mais existe. O Beco São Benedito, no qual chorei pela primeira vez, o bairro por cujas ruas andava puxando carrinho imaginário compactador com meu amigo de infância João Couto da Silva, a catraia lenta e colorida que ligava os bairros Morro da Liberdade a Cachoeirinha foram, agora, substituídos por uma ponte, prédios, quadras, parques de diversão e o Igarapé do 40 foi quase aterrado e por ali só trafegam carros velozes. Não reconheci quase nada, apesar do motorista que me levava à Escola de Samba Reino Unido da Liberdade, Carlinhos Pucú fosse me dizendo “isso ficava aqui”, “aquilo ficava ali”, mas nada reconheci, exceto o antigo depósito de açúcar que ainda existe e resiste, mas também não é mais o mesmo. Era inútil o brincante da Escola ir me dizendo “isso ficava aqui, aquilo ficava ali”, porque pouca coisa eu reconhecia. Olhei para a casa de meus padrinhos, no início da Rua São Benedito, depois virei o rosto para ver se ainda conseguia ver a casa do Leônidas ou do João Couto da Silva, do outro lado da Rua, mas nada existia e tudo havia sido “engolido” pelas obras de melhorias sociais do Prosamim e cedido lugar a um progresso que constrói e destrói também!

O Beco São Benedito, agora é o “Beco dos Pretos”, a casa de muitos quartos, que depois da morte de meus padrinhos Natércia e Januário Calado, virou Escola, agora foi demolida e cedeu lugar às obras do Programa Prosamim  - Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus que, aos poucos, vem matando por sufocamento os mais tradicionais e importantes braços de rios de águas negras que cortavam minha Manaus, principalmente o Igarapé do 40. Para cruzar o antigo igarapé de minhas recordações, existe uma ponte ligando os dois bairros. Dentro do táxi, tocava uma música suave de uma banda regional de Itacoatiara. Eu escutava o excelente CD que o Carlinhos Pucú me disse o nome, mas esqueci, mas lembro de seu cantor porque já o vi no passado tocando. São muito bons todos os músicos. Escutava a suave música de uma banda regional de Itacoatiara e me admirava por não terem atingido o mesmo patamar de outros grupos que cantam com a “bunda” como dizia o deputado federal Clodovil Hernandez.

Da ponte, avistei as obras do Prosamim, e o Carlinhos Pucú continuava me dizendo “isso ficava aqui, aquilo ficava ali”, mas eu estava perdido em minhas lembranças do passado quando atravessava do Morro à Cachoeirinha para apanhar água, no depósito de açúcar do outro lado. Eu me perdia nas lembranças e recordava os bonequinhos correndo para um lado e para o outro como doidos, quando a TV em preto e branco de válvula era ligada para aquecê-las e esperar surgir a imagem na tela. Era uma época difícil, mas quem possuísse uma TV em casa, já podia ser considerado um rico porque os aparelhos eram muito caros, A sala na qual lembrava era toda pintada de azul com um lustre bem no centro, oval, simples e pequeno.

Emocionado por rever e não reconhecer mais o bairro que me viu nascer e correr por suas ruas empoeiradas, desci do táxi de Carlinhos Pucú e fui recebido por Ivan de Oliveira, ainda com    poucos cabelos brancos, talvez menos dos que os meus aos 54 anos e embranquecidos rapidamente por onze cirurgias no cérebro desde 2006, para tratar de um empiema cerebral. Deixei o hospital presenteado com duas bactérias hospitalares incuráveis, mas controláveis com antibióticos. Acho que sambar lhe fez bem ao amigo Ivan de Oliveira, e os medicamentos que me mantêm vivo fazem mal para mim, ou me deixam os cabelos rapidamente mais brancos! Estava retornando para conhecer e participar das festividades pelos três anos de existência do Instituto Reino do Amanhã, criado por Jairo de Paula Beira-Mar e presidido pelo advogado e funcionário do Tribunal de Justiça do Amazonas, Neilo Batista, de cuja união com Rita Castelo, lhe resultaram duas filhas, Maria Vitória e Maria Eduarda, que também integram os quadros da Escola, que estavam presentes na ocasião. 

O ex-policial civil que trocou tiros com bandidos, Jairo Beira-Mar, decidiu também trocar sua arma e suas balas por canetas e livros, incentivando um programa de apoio à leitura em parceria com escolas públicas do bairro, como o meu Adalberto Valle, que me viu cruzar de sandálias ou sapatos que mandava confeccionar no bairro de Educandos, seus portões de ferro por quatro anos seguidos, a Escola Paula Ângela e outras que aceitaram o desafio de incentivar crianças ao hábito de leitura através do projeto social “Samba Lê-Ler”, implantado por Ismar Machado, sócio proprietário da Escola e aposentado pela Petrobras. Projeto reconhecido internacionalmente pela UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância e a Adolescência e divulgado nacionalmente pela Rede Globo no projeto Amigos da Escola, mas, desconhecido, inclusive por mim, que comecei a trabalhar profissionalmente como jornalista aos 19 anos e muitas vezes recebi Ivan de Oliveira, no Jornal A NOTÍCIA para divulgar ensaios na Escola. Hoje sou assistente social, formado há 17 anos e não tenho desculpa e nem perdão por não conhecer, mas apenas reconhecer que esse projeto social de cidadania existe há pelos menos 32 anos, retirando das ruas através da música, leitura, capoeira, bateria mirim, crianças e adolescentes em risco social. 

Da Bateria Mirim saíram para a Bateria Principal, Igor Emanuel, Ricardinho e o Branner, tocadores de cavacos. Nada disso eu sabia, por isso não mereço ser perdoado! Como eu poderia desconhecer um projeto social de tamanha importância, criado há 32 anos dentro da Escola Samba Reino Unido da Liberdade, dedicado à infância, adolescência e juventude que tem tirado das ruas e vem transformando em cidadãos plenos, inúmeros meninos e meninas em situação de risco social e reconstruindo famílias? Como eu poderia desconhecer que o projeto recebera reconhecimento internacional da UNICEF?

Perguntei por alguns amigos de infância, como o moreno forte Leônidas, “O Leão”, como era conhecido, que protegia meus 28 quilos distribuídos em um corpo esquelético até meus 12 anos de idade. Soube que ele era sócio da Escola, mas não se fazia presente no local. Perguntei por dona Rosa, esposa de seu Raimundo Cunha que chegou a ser presidente do Olaria Esporte Clube, um clube social no bairro que se rivalizava de forma sadia com o Libermorro, outro clube que existe no bairro. Soube que Dona Rosa falecera como falecerei um dia, mas soube também, que seus filhos, Wiliam e Williana, com os quais estudei, casaram e deixaram de morar no bairro. O Ronaldson, que estudava com meu irmão Roberto Costa, hoje contador e professor universitário como já fora um dia, era o único que ainda morava, mas não pude vê-lo como gostaria! Talvez nem me reconhecesse mais porque não tinha muito contato com ele, mas o admirava muito quando passou a ser jogador profissional do Libermorro Futebol Club. O campo do Olaria, o Barirí, não existe mais. No local funcionam serviços médicos e sociais e um Clube de Mães. Também procurei ver a delegacia de polícia, mas nada consegui encontrar. Funcionou nos anos 80, inaugurada pelo Secretário de Segurança José de Matos Filho, no Governo José Lindoso. Fui apresentado a Clênio Franciné, filho da minha professora do Grupo Escolar Adalberto Valle, Célia Franciné, proprietária de uma das primeiras padarias existentes no Bairro do Morro da Liberdade. Agora, Clênio Franciné, também aluno da Faculdade de Direito, é compositor da Escola de Samba. Perguntei por Almeron e soube que o autor do Samba Enredo “Mãe Zulmira, o Amanhecer de uma Raça”, que deu o título de campeã à Escola em 1989 falecera há três anos aproximadamente, deixando de presente um verdadeiro hino ao Reino Unido, sobre a raiz negra do candomblé, a resistência da raça e suas tradições e cultura encentrais.

Jairo de Paula Beira-Mar ficou emocionado ao receber a camisa de “Presidente de Honra do Instituto Reino do Amanhã” e contou que me via subindo a Rua São Benedito, com caixa de picolé no ombro ou um tambor de cascalho e um triângulo nas mãos, com uma sandália havaiana nos pés. Lamentou que o Beco São Benedito, onde minha mãe disse que nasci, ter sido engolido também pelo projeto Prosamim e ser conhecido hoje como apenas “Beco dos Pretos”. Tenho certeza que ele possa ter visto mesmo porque era policial civil e deveria trabalhar na Delegacia do Morro, em cuja frente sempre tinha que passar todos os dias para cumprir meu ofício porque não queria ser  apenas mais uma boca na casa de meus padrinhos, já tinham numerosos filhos como o Doca Calado, Chaguinha Calado, Gonzaga Calado, Emanuel Calado e muitos outros que o tempo me fez esquecer de seus nomes. A Delegacia do Morro, ocupou um pedaço do campo de futebol do Olaria, o campo do Barriri, em cujo local, nos finais de semana, assistia a muitas partidas de futebol com times uniformizados que se duelavam por uma bola e vibravam quando faziam um gol, em uma trave ou em outra. Eu estava na mesa com o diretor da Escola, João Tomé Mestrinho e sua esposa Kátia!

Deixei o Morro com sentimento de orgulho pelo trabalho social que o Instituto Reino do Amanhã realiza, mas frustrado quando o Neilo Batista cobrou do atual governador do Amazonas, José Melo, a promessa que o seu antecessor Omar Aziz fizera, exigindo que todas as Escolas de Samba do Grupo Especial de Manaus também desenvolvessem trabalho igual ou parecido de resgate social em suas comunidades, mas seu Secretário de Cultura Robério Braga, que mandou tecnocratas visitarem as Escolas de Samba de Manaus, disseram que no local não teriam condições de desenvolver nada, sendo excluída. A Escola de Samba Reino Unido da Liberdade terá uma nova sede, está em construção, com salas de aula e terá condições de desenvolver um excelente trabalho social e prosseguirá o que já realiza em silêncio há 32 anos. A sede e as salas de aula ficarão em uma área do Prosamim na antiga margem do Igarapé do 40, que engoliu uma parte de meu passado também. Meu sábado, dia 12 de abril, cheio de emoções fortes foi concluído prestigiando o lançamento do livro de Jan Santos, “Evangeline – Relatos de um mundo sem luz”, no Centro de Convivência da Família, Magdalena Arce Dou, em Santo Antônio. Posso garantir que foi um sábado perfeito, do jeito  que costumava acontecer antes de 2006.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

O POETA, O CANTOR NACIONAL E A GOZAÇÃO!



O ano, não lembro mais. Mas década era início dos anos 80.

Eu,  escritor iniciante e apenas com um livro de poesias publicado, (DES)Construção, em 1978, mas com certo prestígio na mídia local; o poeta nacional Jorge Tufic; o cantor amazonense lançando seu primeiro LP, Edney Sander; o cantor Odair José, que fazia muito sucesso naquela época e mais o Ronaldo Tiradentes, então Secretário Estadual de Comunicação e hoje empresário de comunicação estávamos dentro de uma pequena aeronave nos deslocando do “Eduardinho” com destino à terra do Guaraná, a convite do então prefeito de Maués, Carlos Esteves. Fomos convidados para a “Festa do Guaraná”, mas antes teríamos que compor uma mesa e participar como jurados em um evento cultural. 

Dentro da aeronave com vários paletós brancos sob o braço, Edney Sander, em sua primeira apresentação na famosa festa do município, começou a perguntar à atração nacional Odair José, como fazia para manter sua voz sempre em forma. Entrando na onda e pensando que fosse apenas uma mera brincadeira de cantor principiante e empolgado, Odair José respondeu:

- Gargarejo com água morna.

- Mas isso dá certo mesmo?

- Lógico que dá e se eu fosse você, começaria a praticar agora mesmo!

Edney Sander se levantou, entrou no banheiro da pequena aeronave, colocou água fria na boca, “iniciando” sua tarefa para fazer sua primeira apresentação. Dentro do avião eu, Jorge Tufic, Odair José e Ronaldo Tiradentes começamos a rir. O Jorge Tufic riu tanto que passou a sentir dor nas costas e o Edney Sander, fazendo gargarejo no banheiro da aeronave, não sabia de nada, principalmente que o cantor de quem Edney Sander também era fã, estava tirando sarro dele. Depois de mais de 30 minutos gargarejando com água fria mesmo, o cantor amazonense saiu   e voltou a perguntar ao cantor Odair José:

- Será que eu gargarejei o suficiente? Acha que preciso praticar um pouco mais, afinal, vai ser minha primeira apresentação! Por isso trouxe esses doze paletós brancos. Você que já é um cantor famoso, acha que serão suficientes? Odair José olhou para os paletós e nada respondeu, mas ficou com olhar de desaprovação.

- Acho que não! Melhor o amigo continuar fazendo seu gargarejo, afinal, o cantor se apresentará antes de mim e não deve fazer feio e nem pode ter problemas de voz – aconselhou o cantor Odair José, agora tirando sarro de Edney Sander.

Descemos no Aeroporto. Um jipe do prefeito foi nos apanhar. Eu, Jorge Tufic, com certa dificuldade devido a dor nas costas, Ronaldo Tiradentes e o cantor Odair José entramos no jipe. Edney Sander, com seus paletós brancos no braço, disse que não entraria, pois outro carro deveria vir buscá-lo. Como isso não aconteceu, o cantor amazonense foi até hotel reservado na orla de uma praia da cidade,  na Ponta da Maresia, caminhando a pé mesmo. Chegou cansado e suado! 

O hotel era de um ex-garimpeiro que ficou rico no então Garimpo Santa Rosa e foi construído com uma escada lateral para quem decidisse subir para o segundo andar, mas sem qualquer cobertura. De noite, o Ronaldo Tiradentes decidiu preparar uma panela de caipirinha, construir uma barraca para pescar tucunaré e dormiu na praia, mas não fisgou nenhum peixe. Amanheceu com o rosto muito vermelho e com cara de resseca.

No hotel, o poeta Jorge Tufic perguntou se havia alguém na cidade que viesse fazer uma massagem nele. Apareceu uma enfermeira. Ao final, Jorge agradeceu, dizendo:

- Nunca fui massageado por uma enfermeira tão gentil antes!

- Também nunca havia massageado um poeta tão famoso – respondeu a enfermeira!

Na hora do show musical, a praça lotada à espera da atração nacional Odair José, que cantaria depois, Edney Sander entrou no palco com seus paletós brancos no braço e começou a cantar. Conseguiu errar até letas de música de seu próprio LP, sendo aplaudido de forma discreta. Depois ovacionado por gritos, assobios e palmas, entrou no palco quem todos queriam ver: Odair José. Depois das apresentações, um jipe, mais uma vez, foi nos apanhar e novamente o cantor amazonense se recusou a entrar no carro com seus paletós brancos. Entramos eu, o poeta, o cantor nacional e o secretário de comunicação. 

Mais uma vez Edney Sander não entrou no carro e foi andando até o hotel, com todos seus paletós brancos no braço, porque ele só usou o que estava vestido. Chegou hotel cansado, suado e todo sujo de lama.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

INCONSTITUCIONAL SIM. IMORAL, NÃO!



Está na hora de o Governo Federal passar a legislar tudo concomitantemente com os Governos Estaduais e, estes, com os municipais, para evitar tantas ações de inconstitucionalidades, como é o caso do desespero de algumas autoridades municipais que decidiram criar leis próprias instituindo toques de recolher para jovens e adolescentes reforçando o determina o Estatuto da Criança  e do Adolescente – o ECA porque os Governos Estaduais e Federal se omitiram para fazê-lo cumprir. E, quando o Estado se omite no cumprimento de seu dever constitucional em proteger crianças e adolescentes, as autoridades municipais ficam desesperados em busca de soluções e terminam  criando leis próprias que são sim inconstitucionais. Mas, imorais, elas não são. 

Foi o caso de Guarapari, em Santa Catarina e outras cidades brasileiras que decidiram criar legislações para proteger seus jovens e adolescentes das drogas, das bebidas, mas restringindo os seus direitos de ir e vir, em determinados horários em bares, boates, bordéis etc. Enquanto esse desespero ocorre, a Câmara Federal rejeita reformas no Estatuto da Criança e Adolescentes para adequá-lo as realidades de hoje. O ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, foi instituído pela Lei 8,069/90, mas já cumpriu sua meta inicial e precisa ser reformulado e adaptado aos novos tempos.

Em algumas cidades menores, fácil de controlar, juízes de menires, delegados de polícia e alguns poucos tribunais instituíram o inconstitucional, mas não imoral, conseguiram certa eficácia, um toque de recolher e experimentaram momentos de paz e tranquilidade por um certo tempo. Conseguiram controlar a presença de menores em bares adquirindo bebidas alcoólicas, cigarros, drogas, envolvendo toda a comunidade e estabelecendo multas para que descumprisse as Leis estaduais, agora contestadas judicialmente e consideradas inconstitucionais, mas a violência envolvendo jovens e adolescentes e a prostituição foram reduzidos, mesmo que por leis inconstitucionais e que se se faziam cumprir e eram respeitadas. Por que o Governo Federal não experimenta legislar concomitantemente com os Estados?

Será que já não seria o momento de o Estado Nacional flexibilizar aos Estados-membros algumas atribuições para legislar sobre problemas específicos que lhes são pertinentes e ficar só com as questões maiores? Será que isso feriria alguma coisa, além do que fere toda a sociedade a falta de descumprimento das normas que o Estado Nacional se impõe, mas não tem condições de fazer cumprir?


Em todas as leis, o Estado Nacional poderia estabelecer que o Estado-membro também teria o direito de legislar concomitantemente sobre o mesmo assunto, respeitando a Lei macro e deixando o micro para que cada Estado-membro pudesse decidir livremente, se deveria endurecer ou flexibilizar mais a mesma lei, mas respeitando o princípio nacional estabelecido? A inconstitucionalidade, nesse caso, só poderia existir se um Estado-membro instituísse algo que contrariasse a Lei maior. Com isso o juiz de menores teria mais liberdade para punir com penas de tratamento aos usuários de drogas em tratamento compulsório em fez de ressocialização com afastamento do convívio familiar, até livrá-lo da dependência química. Será que não estaria na hora de acabar com a hipocrisia de dizer que prisão recupera condenados? Será que não estaria na hora de parar de se levar até a corte constitucional do Brasil, até roubo de galinha, entulhando a Suprema Corte com coisas puramente sociais que poderiam ser resolvidos com a ação de um profissional de Serviço Social? 


Será que não estaria na hora de se tratar problemas sociais com assistentes sociais e não transformá-los em Boletim de Ocorrência e enviá-lo ao Poder Judiciário? Será que não estaria na hora de se repensar toda a constituição do Estado brasileiro, da Educação, da Segurança, da Habitação ou falta dela, saneamento básico? Será que não está na hora de o Governo Federal mandar fazer um levantamento em todo o seu patrimônio em prédios, recuperá-los e distribuí-los ao povo carente e só depois de concluir isso criar o programa Minha Casa Minha ]Vida para atender aos que não foram contemplados só com os prédios federais restaurados e distribuídos?


Quanto tempo mais teremos que continuar vivendo em um Estado que todos sabem que é voraz para cobrar, mas péssimo para distribuir benefícios sociais? Será que teremos que continuar vivendo em um Estado que prefere construir prisões para encarcerar ladrões de galinhas, viciados em drogas e vítimas de problemas, alguns puramente sociais, que o próprio  Federal se impõe, mas não possui estrutura nos Estados para fazer cumprir e os Estados-Membros não se interessam em fazer cumprir. Leis Federais existem, mas não existe vontade de fazer cumpri-las!


As leis criadas em várias cidades do Brasil, especialmente em Camburiu, em SC, podem ser inconstitucionais, mas imorais elas não são e apenas resultaram da incompetência dos Governo Federal e Estadual em fazer cumpri-las! Se o Governo Federal cria uma Lei, tem que criar também estrutura para que os Estados e os Municípios a cumpra.

terça-feira, 15 de abril de 2014

A MORTE, O RESULTADO DO NASCER!



Em homenagem ao Sr. Alaor Ferreira, do apt, 73, torre Nassau, do Mundi, meu vizinho de prédio.


A vida caminha de mãos dadas com a morte, mas não se olham e a vida segue se desviando de obstáculos que lhes são apresentados durante a caminhada por uma estrada da vida nem sempre perfeita para alguns. A vida e a morte não querem se encontrar, mas um dia se encontrarão e. quanto esse encontro se dá de forma rápida e inesperada, só restará aos parentes que ficam a solidão e a tristeza, mas que precisarão ser enfrentadas e superadas com a união de todos em torno da continuidade das outras vidas que continuarão caminhando na estrada até o encontro definitivo com Deus!


O Sr. Alaor Ferreira ainda era uma árvore viva, cheia de folhas verdes e  sonhava com novas metas. Só que essa árvore não dará mais frutos e nem ressurgirá porque caiu sua última folha, junto com a queda da escada que sofrera. Nada mais árvore plantada pelas mãos de Deus, nada restou, nem sonhos e nem projetos...mas seguiu para o céu segurando nas mãos do Criador!

Agora, ficará difícil entender como uma árvore que ainda tinha tudo para  produzir frutos, pode morrer de forma tão rápida! Esse é um mistério que não nos cabe discutir e muito menos entender, porque é um mistério que só Deus poderá explicar! Mas morte rápida do Sr. Alaor Ferreira, me fez ver que vida é dual, sempre foi e sempre será: para que exista a morte, sem algum momento terá que ter existido vida. A morte e a vida só se explicam e se entendem pelo nascimento.

O Alaor era um amigo, o primeiro que fiz no Condomínio Mundi e, como todas as verdadeiras amizades, sempre chegam de onde menos se espera, ocupou espaço em minha mente e em meus sentimentos! Foi assim que conquistou a mim: chegou de mansinho, foi ocupando espaço e me encantou e, agora, será dolorido demais extirpá-lo de minha vida! 

Foi uma amizade rápida, de pouco mais de um ano. Porém, foi construída  pela sinceridade e não pelo interesse porque ambos éramos aposentados. Ele aparecia sempre nos momentos em que eu precisava dele e agora não será necessário explicar porque subiu na escada, caiu, bateu a cabeça e nos deixou tão cedo, ainda cheio de sonhos e metas!. As amizades não precisam de autorização para nos criticar quando erramos, mas nunca recebi qualquer crítica de meu amigo Alaor.

Tenho certeza que, agora, meu amigo está vivendo em algum lugar, em um horizonte, em um arco-íris projetando suas metas para a vida de todos os que continuará amando profundamente a todos que ele amava na terra e sentindo orgulho de todos que ficaram. 

Por isso, peço, não chorem, o sr. Alaor está bem e feliz, como foi feliz na terra!

segunda-feira, 14 de abril de 2014

FATOS, "BARRIGADAS" E BRIGAS SUJAS NO JORNALISMO DO AMAZONAS



“NEGO ANGOLA ASSALTA DE NOVO”. “CHUPA CHUPA POUSA EM FAZENDA E MATA GADO;'. “MOTOR AFUNDA NO RIO SOLIMÕES E NÃO HÁ SOBREVIVENTES”. 'PESCADOR É ABDUZIDO POR LUZ FORTE”. ''MÃO BRANCA ARROMBA CASA E NÃO DEIXA VESTÍGIOS”'. “HOMEM ENGRAVIDA PORCA EM FLUTUANTE NO PORTO DA CEASA”. 


Durante o fim dos anos 70 e início dos anos 80, essas eram algumas das manchetes que aterrorizavam Manaus de pouco menos de 700 mil habitantes, na mesma época em que até acidente de trânsito virava notícia. Mas quase todas as manchetes era resultado da criação dos jornalistas policiais já falecidos, Luiz Octávio Monteiro, de A NOTÍCIA  e Altair Rodrigues, o “Capitari”, de A CRÍTICA, que se rivalizam na preferência de venda aos leitores e também nas mentiras que conseguiam produzir. Nesse mesmo tempo um jornalista não podia entrar na redação de A CRÍTICA porque seria considerada espião. As comunicações eram precárias, as rádios AM faziam sucesso apesar dos chiados e as FM estavam iniciando com força porque eram limpas.  Na Delegacia Geral, se anotava do grande livro de registro policial, as notícias que gentilmente o Sr. Joia permitia o acesso de jornalistas copiassem dos registros policiais. A delegacia Geral funcionava em um casarão antigo, na Rua Guilherme Moreira, onde hoje funciona a sede do Banco do Brasil. Diziam que existiam muitas celas lá, mas  nunca as vi.  


Os dois profissionais eram baixos e quase da mesma estatura e eram amigos. Se reuniam sempre para discutir os furos que um daria no outro, nos dias seguintes, como se dizia na época quando um jornal publicava uma notícia sozinho, sem que o outro pelo menos imaginasse. Devido a essa rivalidade, os jornalistas de um jornal eram proibidos de entrar nas redações dos jornais! Octávio foi barbaramente assassinado supostamente pela polícia, crime até hoje não julgado e Altair Rodrigues morreu em acidente de trânsito na BR, vindo de Presidente Figueiredo, em missão profissional para o político Deusamir Pereira que era candidato ao Governo do Amazonas e agora é professor do Ciesa.


O encontro dos dois amigos se dava  geralmente as sextas-feiras, depois das 20 horas no Bar da Dra. Letícia Teles Guimarães, localizado no início da Rua Tarumã, quando a advogada criminal servia  caldeirada de tucunaré para aos profissionais de comunicação, sempre depois das 20 horas. Nesse encontro, algumas vezes se faziam presentes os também jornalistas Francisco Pacífico,  “O Cachacinha”  e Mílton Ferreira, o “Mílton Cabeça de Porco” , pelo formato estranho do corte de seu cabelo, o que lhe dava um aspecto estranho por ser sempre raspado na parte de trás da cabeça, Os dois eram repórteres policiais do JORNAL DO COMÉRCIO;  O também jornalista do Jornal do Comércio, Oscar Carneiro, raramente aparecia nesse encontro, mas quando se fazia presente, eu gostava de ouvir as histórias que contava, da época em que ele chegara a dormir no Casarão da Delegacia Geral, para conseguir um “furo de reportagem”, noticiando alguma informação que ninguém mais. Me tornei amigo e admirador desse profissional que também já partiu, com o qual  eu sempre nos encontrava na 5a Seção da Polícia Militar, comandada pelo tenente Alfredo Assante Dias. A temida PP2 da PM era comandada pelo tenente Ferreira Lima, a Auditoria Militar estava sob a direção da Dra. Helena Galvão, juíza que aprendi a admirar e a respeitar Era um tempo bom! Nessa época, ocorriam poucos crimes em Manaus, mas os dois jornalistas, decidiam dar nomes para os furos de reportagem e tudo virava notícia. Nessa época, foram exterminadas pela PP2, as quadrilhas mais ativas em Manaus, como as do Abílio, do Alan, do X-9, a prisão do traficante Padeirinho e outras. Também nessa época, sete motoristas foram ser assassinados e desovados em um ramal na Estrada Manaus Itacoatiara, os quais ficaram conhecidos como os  “Crimes do Varadouro da Morte”. Uma cabeleireira que morava no Conjunto Jardim Brasil, Zilda Azevedo de Souza, foi presa, julgada, condenada a 47 anos pelos crimes, mas, em segundo julgamento, foi absolvida por 7 X 0 pelo Tribunal do Júri. No dia do julgamento, escrevi e publiquei matéria assinada perguntando ZILDA: CULPADA OU INOCENTE, de investigações que havia feito como repórter credenciado no poder judiciário. O advogado Armando Freitas, adquiriu vários exemplares e distribuiu aos membros do Juri. Eu remetia todos os crimes para uma participação de um ex-Chefe do Comando de Policiamento da Capital da PM, jã falecido por cirrose hepática, que seria amante da cabeleireira Zilda e a envolvera com os crimes. O promotor desse caso foi Yano René Pinheiro Monteiro, que nunca recorreu porque o processo desapareceu!


Quando o jornal A CRÍTICA publicava a manchete MOTOR AFUNDA NO RIO SOLIMÕES E NÃO HÁ SOBREVIVENTES, muitas vezes vi o Luiz Octávio sendo repreendido pelo dono do jornal A NOTÍCIA, Andrade Neto, por ter levado um “furo” do jornal concorrente e ele se explicando: É mentira do Capitari, seu Andrade”! O Octávio já estava se preparando para dar o troco no dia seguinte e em A NOTÍCIA, saia uma manchete assim: “CHUPA CHUPA ATACA FAZENDA E MATA VACAS”. O “Chupa Chupa”  vinha sempre antecedido de uma luz branca, muito forte de uma nave espacial. Ou então, o Luiz Octávio atacava com a manchete “Negro Angola assaltou de novo”.  O temido Negro Angola, na verdade era um angolano que era garçom no bar da Dra. Letícia e ele se divertia muito ao se ver envolvido nesses boatos que eram tidos como reais.


O golpe mais rasteiro que Luiz Octávio deu no Altair Rodrigues ocorreu quando ele criou o lendário  “Mão Branca” que assaltava residências e não tinha impressão digital. Outro golpe baixo foi quando Luiz Octávio publicou que um pai de santo teria revelado para ele quem teriam sido os assassinos do “Varadouro da Morte” e ainda lhe teria revelado as motivações de cada um dos crimes, inclusive de um motorista da Suframa cujo corpo nunca fota encontro. Tudo isso  aterrizava a Manaus pacata do passado recém-saída dos anos 70, ainda com pouco menos de 700 mil habitantes. Mas sem querer,  também aprontei das minhas. 


Ficara responsável pelo fechamento da primeira página em A NOTÍCIA, mas inutilmente esperei uma notícia bombástica, como se dizia na época, para a fazer a manchete principal do jornal que circularia no sábado. O telefone da redação tocou e eu o atendi. Era um homem ligando e informando que em um flutuante no meio do rio, só ele e uma porca e que ele  teria engravidado o animal, que fora levada para ao Veterinário. Chamei o fotógrafo Plutarco, que ficara na redação do plantão comigo, peguei um fusca amarelo WW e o dirigi ao local do acontecido. Chegando, não havia mais ninguém exceto alguns poucos curiosos que permaneciam comentando o ocorrido e o fato de a porca estar com uma barriga muito grande, o que sugeria uma possível gravidez do animal. Mas, como, se não havia porco no flutuante? Só o homem e a porca! Todos especulavam, anotei o nome de algumas pessoas, tomei algumas informações e retornei para o jornal porque teria que escrever a matéria e entregá-la ao jornalista Bianor Garcia, que fazia as manchetes.  

No dia seguinte, saiu a manchete: 

“HOMEM ENGRAVIDOU A PORCA NA CEASA”!

No domingo, a manchete repercutiu em um outro jornal sensacionalista da Inglaterra, que queria comprar os direitos da matéria e pagar muito bem. Foi designado para continuar o levantamento da matéria. Voltei para a redação e falei 

- Bianor, vamos ter que matar a porca porque ela só tinha um grande mioma!


Insistindo na história e para manter a fama do jornal que na época diziam que se espremesse,  sangue saía de dentro de suas páginas, o editor geral e autor da manchete sugeriu :


-Escreva a matéria, mas diga que a porca morreu ao dar a luz! Mas não informe nada sobre o que ela tinha porque se não o nosso jornal ficará desacreditado. Mesmo contrariado, escrevi a continuação da matéria, afinal, eu era recém-contratado e precisava do primeiro emprego como jornalista profissional.  Não me orgulho dessa notícia que escrevi e nem da manchete dada pelo jornalista Bianor Garcia.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

ORAÇÃO DE UM JORNALISTA/ASSISTENTE SOCIAL


Dedico a todos os jornalistas de ontem, de hoje e de amanhã, em especial a para Suelem Louize Freitas (PJC), futura jornalista.



DEUS jurei exercer a função de jornalista assumindo o compromisso com a verdade e a informação. Jurei também atuar dentro dos princípios universais de justiça e da democracia, garantindo principalmente o direito do cidadão à  informação, mas agora peço-lhe, DEUS, na altura de meus 50 e poucos anos e quase senil, que guie meus dedos para não escrever contra ninguém, alguma coisa que possa ser inverdade contra quem quer que seja porque, com o tempo, aprendi que existem sempre três verdades dentro de uma mesma notícia: a  minha que escrevo, a de quem vai ler o que escrevi e a da opinião pública.


DEUS dai-me serenidade para buscar aprimoramento das relações humanas e sociais, fazendo crítica e análise da sociedade, visando um futuro mais digno e mais justo para todos os cidadãos brasileiros e não me permita destruir com meus críticos escritos qualquer vida digna, honrada e séria, mesmo que seja movido por um sentimento momentaneamente de raiva ou rancor. Que me seja permitido fazê-lo, só para criticar a censura que mudou de rosto, mas continua presente nas redações de jornais do Brasil inteiro!


DEUS, sei que não existe jornal isento, mas pode existir jornalista isento, sério e responsável e sou um dos que se enquadram nesse perfil, como muitos outros também se pautam pela ética. Não me permita DEUS jamais adotar qualquer outra postura em tudo o que fizer, escrever ou pensar.


DEUS permita-me ouvir e não me calar contra quaisquer que sejam as injustiças sociais; nunca me permita destruir a vida de pessoas honestas; mas me torne implacável contra os desonestos que se locupletam e enriquecem com o dinheiro público dos impostos, que iniciam obras públicas de grande alcance social, mas não as concluem, contra as construtoras de fundo de quintal e todos os que querem ficar ricos com o dinheiro que é de todos.


DEUS, dai-me serenidade para ver com serenidade, me indignar e escrever contra todo tipo de censura de opinião e permita-me pôr o que penso em tintas vermelhas cor de sangue se for preciso, para denunciar o que entender injusto contra quem quer que seja, sobretudo contra os necessitados de habitação, segurança pública, saneamento básico, saúde e educação.


Como jornalista, DEUS não me permita ficar indiferente às coisas que vejo como injustiça, porque não a entendo com parte integrante de meu cotidiano. Também não me permita continuar vendo escândalos, desvios de dinheiro de verbas públicas ou de obras que deveriam ser públicas, mas que nunca chegam a um fim, sem tentar entendê-las em toda sua profundidade, causas, razões e denunciar tudo o que venha a ser contra os princípios que adquiri no jornalismo.


Sou totalmente consciente que quando transformo fatos em notícia, estou fazendo e construindo um pedaço de minha história e da história de muitos outros. Diante disso, tenho que ser responsável em todas as etapas de meu trabalho profissional e peço, por fim, DEUS, que derrame luz de bênção sobre o amigo virtual Clóvis Ático Filho para que ele continue me enviando e-mails com a advertência logo abaixo de sua assinatura para não acreditar em tudo o que vou ler nas redes sociais porque nelas também circulam muitas mentiras que findam se transformando em verdades se não fosse seu cuidadoso trabalho de investigação consciente dos fatos.


Por atrás de toda aparente boa notícia veiculada em redes sociais, que parecem um furo de reportagem pode existir uma “barrigada” por trás, como se dizia no jornalismo do passado, como ensina sempre o amigo virtual Clóvis Ático Filho.

terça-feira, 8 de abril de 2014

DESENVOLVIMENTO SOCIAL X DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO


Se o povo brasileiro passar a entender desenvolvimento social como a “evolução dos componentes da sociedade (capital humano) e na maneira como estes se relacionam (capital social),” ou se passar a entendê-lo pela simplória, mas profunda e lógica definição do pensador Augusto de Franco de que “todo desenvolvimento é desenvolvimento social”, ou ainda, se passar a considerar desenvolvimento econômico como um “processo de enriquecimento dos países” fácil e fatalmente constará que no Brasil esses dois tipos de desenvolvimento caminham um opostamente ao outro e não nunca se encontram ou se cruzam pela estrada porque se de um lado o país cresce em termos econômicos; de outro, as políticas sociais públicas encolheram, se recolhem e se apequenam diante dos grandes e urgentes necessidades de um país continental das dimensões do nosso. 


Se mensalmente, os brasileiros contribuem com mais de 37% em impostos, o mínimo que poderiam exigir e esperar, era um retorno social próximo ao valor que pagam, em forma de serviços públicos de qualidade. Só que isso  não acontece e o povo quando vai às ruas exigir direitos sociais, quebra tudo. No Brasil de hoje, o que mais se denuncia são obras públicas paradas, que começam, mas nunca terminam, outras que começam sem projetos básicos detalhados e são embargadas por órgãos de fiscalização do dinheiro público, muitas que nem começam porque o dinheiro foi desviado para fins particulares. Escolas e hospitais, que deveriam ser prioridades públicas são onde mais se desviam verbas públicas ou em construção, ou em compra de equipamentos ou em aquisição de remédios.


Como exemplo, cito a questão da seca no Nordeste que se arrasta desde de a época do império de D. Pedro II e não se resolve nunca. Mais recentemente, vi, li e ouvi que os interesses de programas como PAC, PAC I e PAC II nunca saíram do papel porque os recursos foram desviados, as construtoras faliram e muitas outras desculpas. Mais recentemente, ainda, vi que o programa social “Minha Casa, Minha Vida”, para resolver a terrível falta de habitação popular no Brasil, começou a ser utilizado como cabo de guerra por políticos, com fins puramente eleitoreiros, sem contar com a total ausência do Estado Nacional com oferta de serviços sociais junto com esse programa. Aonde ele existe, não funciona ou funciona eleitoralmente!


O que está faltando é uma gestão pública e vontade política porque o povo brasileiro está farto de promessas que nunca serão cumpridas.


Para a leitora Keyla Maria Oliveira Silva, de Brasília, desenvolvimento social e desenvolvimento econômico tem início quando também se muda a mentalidade e se volta tudo para a educação, mas passando  por uma conscientização do povo e escolha de seus representantes. Reconheço que também passa por isso, mas tem mais coisas porque só entendo desenvolvimento econômico quando ele caminha junto com a distribuição dessa riqueza ao povo, em forma de benefícios em saúde, habitação, segurança pública, saneamento e tudo que está garantido na Constituição da República.


Para Kal Marx, o desenvolvimento econômico também ocorre quando o crescimento da produção nacional é recebida pelos que participam da atividade econômica, ou seja, o desenvolvimento econômico seria um processo pelo qual a renda real de uma economia aumentada ao logo de um período de tempo mais a renda nacional do produto do país de bens e serviços finais, expresso em termos monetários, também chegam em  qualidade de serviços sociais ao povo. Mas não é exatamente isso o que vem ocorrendo no Brasil porque se por um lado temos a inclusão de uma nova classe de consumo pelos programas de Transferência de Renda a uma população carente, por outro lado faltam condições mínimas de segurança, habitação, educação, saúde e saneamento.


Em recente pesquisa entre os 30 países que tem a maior carga tributária do Mundo, o Brasil foi o que teve a pior colocação em termos de retorno dessa mesma carga tributária ao povo, em forma de serviços públicos, por vários motivos e razões. Esse ranking foi feito com base no Índice de Retorno de Bem Estar à Sociedade, criado pelo Instituto com resultado de cálculo que levou em consideração a carga tributária, segundo a tabela da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2010 e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), conforme dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com a previsão do índice para 2011. Quanto maior o valor do IRBES, melhor será o retorno da arrecadação dos tributos para a população, segundo os dados da pesquisa.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

O DESVELAR DO MUNDO DE UM ESCRITOR


A vida de quem escreve se esconde por trás outro mundo a ser descoberto e revelado porque tudo o que a autor pensa e expõe tem uma razão de ser, um motivo, uma causa e um desejo e objetivo a atingir. Se não se conhecer esse mundo e a época em que foi desenvolvida uma teoria, rever o momento político e histórico que o autor a criou e desconhecer a motivação do porque escreveu, não contextualizando perfeita e historicamente a época em que foi escrito o texto, criada a teoria, os motivos que se escondiam por trás de cada coisa, suas causas ou razões que qualquer escrito, a leitura de um conto, romance, crônica, resenha ou qualquer outro gênero escrito, digo que terá sido um mero exercício para passar o tempo, mas não se conheceu nem a obra e nem o autor. No máximo, pode se ter assimilado alguma coisa da leitura, mas nunca vai poder dizer que leu o livro A ou B porque desconhecerá completamente motivações que o levaram a fazê-lo.  


Tudo é verdadeiro no mundo de qualquer escritor, por mais que ele transforme seus escritos em obra de ficção, mesmo assim, restará sempre algo a ser clarificado por trás do que for escrito. Com relação á qualquer teoria histórica, sem embasamento em uma contextualização da época social ou política de suas origens, pouco se saberá como ou porque se seu deu a transformação da teoria. Isso vale para todo tipo de ensino, inclusive a mudança da teoria teocêntrica em heliocêntrica, só para citar um exemplo. Tudo tem uma razão, uma origem, uma motivação ideológica, enfim, que direcionaram um texto, crônica ou romance, mesmo que de ficção. O autor sempre escreve para esconder ou clarificar um problema que passa, vive ou viveu, porque, mesmo de forma inconsciente, passará para seus textos um pouco do que ele é. Em qualquer momento da história, a vida muda, as teorias mudam e a forma de escrever também.


Esses ensinamentos passava aos meus alunos na faculdade de Serviço Social, antes de me afastar do trabalho em 2006 e nunca mais voltar porque fui aposentado por invalidez. Dizia a eles que todo bom livro se pode conhecer apenas lendo a apresentação, o índice e lendo as orelhas da obra. Se poder, conheça um pouco outras obras do autor e um pouco de sua biografia se for possível. Ainda vale para hoje, para agora, para todos os professores realmente compromissados com a Educação, porque não existe professor e não pode existir aluno sem professor – embora essa realidade seja quase uma exceção e não uma regra.


Escrevi e publiquei alguns livros despretensiosos. 


Em alguns deles, escrevi uma ou outra crônica que se eternizaram pelas suas atemporalidades, como “O Dia em que a terra parou”, sobre o filme do mesmo nome, narrando a falta de luz no bairro da Betânia, em que morei até meu casamento aos 22 anos.  Porém, mas não recordo se publiquei essa crônica em que ou se foi publicada apenas no jornal A NOTÍCIA. Essa crônica até hoje citada em alguns livros em que me faço presente mais pela bondade de seus autores do que por merecimento. O texto narra a falta de luz no bairro, no exato momento em que a pousava na terra e o alienígena começava a sair de dentro dela. Faltou a luz e todos os meninos correram para rua olhando para o céu, procurando ver a tal nave espacial. 


Na época da Censura Militar, ironizei no conto “O Assalto”,  narrando um fato hipotético em uma loja localizada em Manaus, no qual o proprietário exigiu até a identidade sindical do assaltante porque dizia que os “únicos ladrões que conheço são os fiscais da RF, INPS (atual INSS), Sefaz e todos se identificavam com suas carteiras de identificação funcional, além de outros que não tem a cara de pau de vir aqui  pessoalmente como você teve, mas mandavam boletos de cobrança de impostos e tributos todos os meses”. No final do assalto, pela sua “honestidade”, o ladrão foi convidado a virar sócio da loja. Com esse conto, ganhei um prêmio na cidade de Paranavaí, no Estado do Paraná, no início da década de 80.


Mais recentemente, em 2006, sobressaiu a crônica A MINHA AMANTE, incluída no livro “Crônicas comprometidas com a tua vida”, magnificamente apresentado pela também escritora, cronista e poetisa, prof. Ierecê Barbosa, que escrevi para uma máquina de escrever Olivetti, línea 98. Mas tudo que estou narrando aqui é porque vivo uma nova fase de minha vida e desejo que as pessoas entendam o que escrevo e porque escrevo para que um dia, eu possa ser entendido em minha época, com as dificuldades que a vida me ofereceu, mas que transformei todos meus amargos limões em uma gostosa limonada.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

CPI DA PEDOFILIA FOI ENTERRADA NA ALE




Justiça tardia nada mais é do que injustiça institucionalizada”. Essa frase não é minha, mas do grande pensador Rui Barbosa, político que também defendia o fim do regime de escravidão no Brasil, que também disse: “De tanto ver crescer a INJUSTIÇA, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos MAUS, o homem chega a RIR-SE da honra, DESANIMAR_SE de justiça e TER VERGONHA de ser honesto” 


A CPI da Pedofilia que seria instalada na Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas está seguindo no caminho da injustiça, na falta de vergonha na cara dos políticos e já naufragou nas águas dos rios da região amazônica, porque adiaram-na para depois das eleições. Não haverá tempo hábil para instalá-la porque requer 120 dias de prazo regimental para sua instalação e a indicação de seus membros. Mesmo que os deputados consigam fazer mágica, mudando o regimento para reduzir esse prazo, o tempo restante depois das eleições em primeiro e segundo turnos, só será de 110 dias, sem contar com o recesso branco de Natal e Ano Novo que ocorrem na ALE, sempre. Com isso, praticamente a CPI da Pedofilia morreu antes mesmo de ter nascido, sendo mais uma vitória para do prefeito pedófilo de Coari, Adail Pinheiro e uma derrota para todas as adolescentes que foram exploradas por ele e a mando dele em Coari. Mas agora, com novas revelações, inclusive de empresários e políticos, ela não pode mais esperar. Agora, apareceu um deputado estadual, também envolvido no mesmo tipo de denúncia.

Isso não é justiça e nem injustiça. É impunidade, mesmo! Não que A CPI não fará parar a sanha animalesca de empresários, do prefeito de Coari e um político de deputado estadual recente, depois de ter sido vereador. Todos exploram garotas de até 10 anos de idade, mas, pelo menos, a CPI deverá servir para conhecer, identificar e processar todos os que  agenciam e aliciam garotas menores de idade. 

Na nova denúncia nacional veiculada pelo programa FANTÁSTICO, deu para perceber que são homossexuais, mulheres e ex-garotas de programa que também que conhecem empresários e políticos e mantém com eles uma estreita e imoral relação de envolvimento e favorecimento à prostituição. Todos precisam ser punidos igualmente e não só quem contrata e paga pelos “serviços” imorais e condenáveis em todos os sentidos.

Exceto os homossexuais que optaram por não ter filhos, as mulheres agenciadoras poderiam oferecer a virgindade de suas filhas, o que também seria condenável em vez de oferecer meninas carentes, pobres, as tirando de sala de aula só porque “ficarão ricas” como diziam os aliciadores com um ou outro programa que faziam.

O prefeito Adail Pinheiro, permanece recolhido no Batalhão de Cavalaria e vários de seus assessores e secretários municipais tiveram suas prisões decretadas e se encontram na cadeia pública. Mesmo assim, está conseguindo seguidas vitórias no Poder Judiciário e agora na ALE, com a manobra regimental correta, mas imoral. O deputado estadual está exercendo seu mandato, um empresário mora hoje em Miami, nos Estados Unidos.

Enquanto isso, todo o trabalho hercúleo desenvolvido pelo deputado estadual  e envolvido com movimentos sociais desde seu primeiro mandato, Luiz Castro, para que a CPI instalada viesse a ser instalada, poderá ser jogado no lixo da “pedofilocraia” e poderá ser enterrada junto com as adolescentes de Coari que choram e pedem Justiça. 


A CPI afundará nos leitos alagados dos rios da Região Norte, porque os parlamentares na ALE manobraram e deixaram para depois das eleições a instalação, mas, na prática, nada vai acontecer. Ou tudo poderá servir para não acender o mato que queima em Roraima devido a seca, ou seja, todo o trabalho pessoal do deputado poderá resultar em uma grande frustração não só para as vítimas como também para a sociedade e os movimentos sociais que exigem uma apuração rigorosa.   


terça-feira, 1 de abril de 2014

CPI DA PETROBRAS CHEIRA A PEIXE PODRE!


À  Clóvis Ático Filho


Como um peixe que já se pesca podre, fede e tem que ser jogado fora depois, assim poderá a ser a CPI da Petrobras, mais pela necessidade de mídia pelas eleições que se aproximam do que por necessidade e brasilidade dos políticos e, servirá, no máximo, também como holofotes eleitoreiros e vaidades pessoais, para ser jogado fora tudo o que vier a ser apurado pelos parlamentares. Lógico que toda a compra da refinaria de petróleo adquirida em 2006, nos Estados Unidos, por 370 milhões de dólares e concluída por  mais de 1 bilhão de dores, um valor absurdo e suspeito para a época, precisa ser investigada e apurada - o que já estão fazendo os órgãos competentes do Governo, inclusive com a presidente da Estatal, Graça Foster, constituindo uma comissão -, além do que será apurado tecnicamente pelo Tribunal de Contas da União e o Ministério Público Federal. No máximo, a CPI, que entendo necessária, servirá para desfila posições pessoais de oposicionistas e de alguns descontentes do PT. 


Logo depois da compra da refinaria, longe da época eleitoral e dos poucos rebeldes sem causa, porque não havia necessidade da criação de um factoide político, a oposição chegou a se movimentar para instalar uma CPI da Petrobras e apurar a compra da Reginaria de Passadena. Agora, com mais descontentes na base e as eleições se aproximando, a oposição conseguiu as assinaturas necessárias para dar início a uma CPI. Tudo voltou à tona mais uma vez, porque estão querendo passar aos brasileiros a imagem e a ideia de que a ex-presidente do Conselho de Administração da Petrobras, a hoje presidente Dilma Rousseff - com reeleição praticamente garantida,- não teria competência para gerir o país como tantas complexidades como o Brasil. Tenho restrições ao Governo Dilma, mas não vejo necessidade de explorar de forma ostensiva um problema que já virou passado. A fila anda, inclusive para o Brasil, só que muitas vezes anda para trás e não para a frente.



O que a CPI da Petrobras, devido ao excesso de luz e de vaidade pessoal que recairá sobre ela, será um retrocesso e já nasceu podre como o pescado que se tira de um  rio e se deixa dentro de uma canoa pegando a claridade da lua cheia. Os políticos que assinaram à instalação dessa CPI desnecessária, mas oportuna no momento político que se vive no Brasil, buscam desesperadamente espaço para aparecer na mídia, principalmente em uma época eleitoral, porque isso também rende votos - um parlamentar vai querer aparecer mais do que o outro, principalmente se for um ­candidato em seus Estados à reeleição, só para mostrar serviço no apagar das luzes.


A maior empresa brasileira, referência de capacidade em prospecção em águas profundas, a Petrobras surgiu e se manteve representando o Brasil no exterior, a partir da campanha nacional “O petróleo é nosso”, frase famosa que teria sido pronunciada por ocasião da descoberta de petróleo na Bahia, pelo presidente Getúlio Vargas. O Centro de Estudos e Defesa do Petróleo, tanto promoveu essa frase, que terminou fazendo surgir a Petrobras, anos maias tarde a história desmente que a frase que se tornou famosa tenha sido criada originalmente por Getúlio Vargas e dá crédito de autoria a um professor e diretor do Colégio Vasco da Gama, no Rio de Janeiro e marqueteiro casual, Otacílio Rainho. Mas isso pouco importa nessa crônica, embora seja importante para a história. 


No momento em que a Petrobras descobre e começa a explorar petróleo no pré-sal, depois de os pesquisadores terem vindo ao Brasil dizer que não existia petróleo no país, no momento em que as coisas começam a melhorar, fazendo surgir uma CPI desnecessária, só por questões políticas. Será que a CPI vai querer descobrir as duas “Cartas a Getúlio”,  escritas por Monteiro Lobato em 20 de janeiro de 1935 e no dia 19 de agosto de 1937, endereçadas ao presidente Getúlio Vargas denunciando “manobras da Standard Oil para senhorear-se das nossas melhores terras petrolíferas. Ou será que descobrirão que decorreram 89 anos da primeira concessão à exploração de petróleo no Brasil até a criação efetiva da Petrobras. Ou ainda, não querer descobrir na CPI que a Petrobras foi originária da Cia Petróleos do Brasil? 


Talvez queiram saber que a Petrobras nasceu cercada de pressões de argentinos, americanos e de outros países que já se aventuravam pelo caminho do petróleo e diziam que no Brasil esse tipo de produto que virou moeda de troca de disputadas territoriais e até de guerras, não existia em nosso território, ou, será, por último, venham descobrir que a CPI da Petrobras, cuja necessidade e oportunismo os políticos a estão explorando, seria desnecessária uma vez que outros órgãos do próprio governo estão fazendo o mesmo tipo de investigação que também  farão os parlamentares nessa oportuna exploração política. Como garantiu o amigo virtual: a CPI já nasceu fedendo a tucunaré podre e não surtirá nenhum efeito prático porque tudo já está sendo apurado sem necessidade de holofotes e câmeras. No máximo, poderá surgir da CPI da Petrobras um relatório para que os mesmos órgãos que já investigam o assunto continuem investigando.