segunda-feira, 9 de junho de 2014
"O PALHETA ESTÁ PRECISANDO DE AJUDA"
- O Palheta está precisando de ajuda, disse-me o advogado Hildeberto Dias, despertando-me para um quadro pintado pelo Palheta e desligando seu celular, que estava mandando moldurar. “Acabei de falar com ele”. Nosso “encontro” se deu no interior da Loja Art's Quadros, na avenida Getúlio Vargas. Confesso que não o reconheci de imediato, porque esqueço mais facilmente do que consigo lembrar, mas percebi que sua voz me era familiar. Depois de cumprimentá-lo, me vi recebendo de presente, em 1988, a primeira caricatura feita pelo Palheta, imortalizando-me com meus óculos redondos, estilo John Lennon, um relógio no braço, um gatinho com interrogação e segurando uma garrava de cerveja na mão, mas não estava revendo. Tinha eu 18 anos e fiquei maravilhado com a homenagem e, anos depois, decidi colocá-lo moldura e colocá-lo em meu quarto, de frente para mim, só para eu lembrar de como eu era com barba negra, cabelo meio encaracolado, sentado em uma cadeira. Foi tudo criação do Palheta, porque ele era incrível quando fazia caricatura e sempre presenteava aos amigos com seus trabalhos, imortalizando-os na forma que ele imaginava, no Bar do Armando. Naquele momento, H. Dias, moldurava lindos quadros surrealistas do artista plástico Palheta.
Refeito do primeiro impacto do encontro e da notícia de que “o Palheta está precisando de nossa ajuda”, H. Dias se despediu de mim e saiu. Fui invadido por lembranças daquela época que nunca voltará e emocionado pelo reencontro e lembrei das vezes que entrevistei H. Dias. O reconheci pela sua voz inconfundível e seus óculos! Meu amigo disse-me que “o Palheta está precisando de ajuda”, e isso ficou martelando em minha cabeça. Não me disse a causa e nem a razão de “precisar de nossa ajuda”. Depois que saiu da loja, fiquei olhando quadros lindos. Fitei e admirei uma palafita de palha, pintada em detalhes precisos em meio a um lago, com reflexo da casa e das palhas na água e o dono da Loja, Sr. Ailson de Souza Araújo me trouxe outros quadros do mesmo artista plástico Freire, do Município de Itacoatiara, e mostrou-me no seu celular, pinturas do mesmo artista que pareciam mais retratos, tal a perfeição. Minha esposa me chamou a atenção para dois quadros de Freire, em alto-relevo, um no meio do Encontro das Águas, com uma cobra devorando uma mulher e outro, no mesmo estilo, mostrando um jacaré nadando em um lago para devorar um índio que estava deitado em uma canoa. Meus olhos, porém, não saíam da pintura da palafita de palha, talvez porque me remetesse à lembranças de minha na Comunidade do Varre-Vento, local em que via muitas casas iguais, em lagos que frequentava como contra peso na canoa de meu pai. Embora os dois quadros em alto relevo de Freire fossem lindos, as fotos que vi no celular do Sr. Ailson fossem perfeitas pinturas também, imaginava a imaginação do artista itacoatiarense para criá-los porque percebi que ele pinta com a alma, sentimento, paixão e com conhecimento da vida e dos sentimentos, inclusive outros quadros que o Sr. Alison me mostrou sobre o balcão da loja, sobretudo o que o pescador que jogava uma tarrafa em um lago..
Depois que H. Dias deixou a Art's Quadros, ainda sai atrás dele, porque pensei que a pudesse falar-lhe um pouco mais e saber porque “o Palheta está precisando de ajuda”. Não o encontrei mais e minha esposa Yara Queiroz reclamou dizendo “ele já foi”. Mas mesmo assim, respondi: “vou ver se o encontro, ainda”. Mas não o encontrei.
Vendo minha preocupação com o Palheta, o proprietário da Art's Quadros, Ailson me deu o número de um celular que tinha, mas não consegui falar que foi citado em meu romance de ficção CAUSA MORTIS: OCITOCINA DE AMOR...! quando descrevo um por um, os 28 quadros de pinturas de várias partes do Brasil e alguns do exterior, que mantinha na parede do apartamento de 196 m2 em que morei e tive que alugá-lo depois de minha aposentadoria. Tentei várias vezes falar com o Palheta, escrevi uma mensagem e ele não recebeu. Eu o citei pela caricatura que mandei moldurá-lo e o mantenho em meu quarto, em minha parede, abaixo de um diploma que recebi da ALE, pelos serviços que prestei à sociedade como profissional de Serviço Social.
O Sr. Ailson disse-me que o Palheta era um grande artista – e eu concordei com ele, porque vi sua capacidade de criação em uma pintura abstrata colorida que estava sendo moldurada pelo Dr. H. Dias. O Palheta foi um dos primeiros artistas plásticos do Amazonas a fazer uma caricatura minha em 1988 e a ser convidado para fazer retrato falado para a Polícia Civil, na época que eu era apenas repórter de A NOTÍCIA, escrevendo assuntos do judiciário, mas já gostando de entrevistar intelectuais que se reuniam no Bar do Armando, onde se dizia, por pura maldade e irreverência da Banda Independente da Confraria do Armando - BICA que se “reuniam intelectuais, juízes, promotores e outros vagabundos” para beber e jogar conversa fora.
Enquanto admirava outros quadros que receberiam moldura e ficariam mais lindos ainda, o proprietário da Art's Quadros trouxe-me fantásticas pinturas do artista plástico do município de Itacoatiara, Freire e os abriu em cima do balcão para que eu as admirasse. Embora tenha me mostrado pinturas excelentes desse artista plástico itacoatiarense Freire, de grande talento e nenhuma fama, algumas pinturas coloridas que pareciam mais fotos de tão perfeitas em detalhes que mostravam, meus olhos deixavam de fitar o quadro do autor que retrava uma palafita toda de palha no meio de de um lago, isolada, sozinha, refletindo-se no espelho da água. Nem mesmo os excepcionais quadros em alto-relevo que via, fantásticos igualmente, como o de uma cobra engolindo uma mulher no meio do Encontro das Águas e uma outra de um jacaré em um lago nadando para pegar um índio que deslizava suavemente em cima de uma jangada, ambos grandes e em alto-relevo. As duas obras tinham detalhes magníficos, chegando quase à perfeição, algumas pinturas coloridas do artista, pareciam mais retratos de tão perfeitos que eram. Contudo, a casa de palha com reflexo surgindo no meio da água, continuava sendo para mim a mais bonita e perfeita do pintor. Nem mesmo a pintura pescador arremessando uma tarrafa, a outra de um lago e mais outras do mesmo artista que sr. Ailson, nada substituirá o carinho que tenho pela primeira caricatura do Palheta, feita no Bar do Armando, em 1988, quando estava no início de minha carreira de jornalista, moldurada também na Art's Quadros.
Mas fiquei sem saber porque Palheta estava precisando de “nossa ajuda”, como disse o Dr. H. Dias, porque me empolguei tanto com o encontro, que esqueci de perguntar o número que tinha ficado gravado no número do advogado. Ele estava com pressa e me deixou só com lembranças e saudades de minha vida anterior a 2006, quando fui operado pela primeira vez vítima de empiema cerebral e passei a viver infectado desde então. Mas parece que o Palheta está fazendo hemodiálise, mas não tenho certeza se foi isso mesmo que aconteceu. Só sei que os quadros do Palheta, que estavam sendo moldurados pelo H. Dias, eram belíssimos, como também eram lindos os quadros do artista plástico Freire. É uma pena que não o conheci e talvez nem o conheça porque eu e o Palheta, estamos caminhando rápido rumo à morte, por mais não queiramos esse encontro inevitável do destino!
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Muito bom e interessante!
ResponderExcluirFlávio Cruz