Quando exerci a função de presidente da Comissão Estadual de Emprego no Amazonas, pela segunda e última vez até março de 1986, nos gabinetes que visitava em Brasília, existia sempre um mapa do Brasil. O mapa servia de termômetro para tomada de decisões contra ou a favor dos pleitos apresentados pelos órgãos de Estados da Região Norte, inclusive aos pleitos que fazia. Mas percebo que não era só o presidente a Coemp que tinha problemas com decisões incompreensíveis e quase incontestáveis porque os Secretários de Educação da Região Norte também tem e decidiram reagir, reivindicando mudanças pelas mesmas razões!
Um dia, cansado de ter negado pedidos de diárias para fiscalizar aplicações de recursos liberados pelo FAT, reclamei informalmente ao representante da Força Sindical do Amazonas junto ao Codefat, Carlos sobre as decisões e, em seguida, as cobranças para fazer o serviço. Disse-me que não me preocupasse e deixasse em suas mãos, que seria resolvido. Olhando apenas o Mapa do Brasil, os burocratas de Brasília, viam que as distâncias aparentemente curtas entre os municípios e decidiam a favor ou contra não o pedido de diárias, nas áreas de educação, saúde, políticas públicas etc. Com argumento aparentemente lógico, se questionavam. “Para quê 17 dias de diárias para fiscalizar uma coisa que pode ser feita em três dias?” Esqueciam que na Região Norte, os motores são os carros, as estradas são os rios, a floresta é o acostamento para motores; as pedras servem afundar os barcos que navegam dia e noite e as curvas dos rios medem as distâncias em dias, semanas e horas...
Quase no final do Governo FHC, ainda em primeiro mandato à frente da Coemp, e já tendo problemas com as decisões tomadas pelo mapa do Brasil, o amigo Carlos teve uma ideia: convidaria o então presidente do Codefat, Nassin Merredeff, para visitar o Amazonas para conhecer os municípios de Parintins, Itacoatiara e Urucurituba, que ficam na calha do rio Solimões. A lancha foi emprestada pela Força Sindical do empresário Samuel Benchimol, dono da rede de lojas Bemol. Tinha condicionador de ar central e era muito confortável. Nassim, aceitou e ficou empolgado por conhecer uma beleza diferente, mas de distâncias que se perdem nas curvas dos rios: se vê uma cidade, mas se demora demais para se chegar nela!
Em uma das oportunidades em que fui recebido por Nassim Merredeff, empolgado por vir conhecer o Amazonas, olhou para o mapa atrás de sua mesa e observou que as distâncias eram curtas e me perguntou: “Dá para fazer tudo isso em três dias?” “Dá sim, professor, não se preocupe”. Menti para ele. Novamente olhou o mapa e apontando com os dedos para os municípios que conheceria e completou: “então vamos!”. O professor Nasisn chegou ao Amazonas. Foi recebido pelo representante da Força Sindica no Codefat. Estava tudo preparado na lancha do empresário. Chegaram os convidados e zarpamos no final da tarde rumo ao município de Parintins. De vez em quando o presidente do Codefat deixava o conformo de seu camarote com ar-condicionado central, subia no toldo sempre com um livro à mão, apreciava a beleza da região e perguntava: “Estamos navegando a mais de 4 hs, ainda vai demorar muito a chegar?” “Não professor, já estamos perto!”.
A noite caiu, amanheceu e a lancha veloz continuava deslizando contra a correnteza rumo ao município de Parintins. Impaciente, com o dia raiando, Nassim perguntou: “Passamos a noite toda navegando, amanheceu. Ainda vamos demorar muito?” No horizonte apontei para a cidade de Parintins já próxima: “Não professor, está vendo aquela cidade ali? Ele olhou, viu e disse: “estou vendo!”. “Pois é, professor, é só fazer a curva do rio e aportaremos. Será o nosso primeiro ponto de parada”. Ele desceu ao seu conforto e continuo lendo o livro. Mais ou menos uma hora depois, subiu novamente. A lancha continuava deslizando contra a correnteza e voltou a perguntar com o livro na mão: “Já li esse livro todo! Ainda vamos demorar muito. Já estou enfadado com essa viagem tão longa!”. “Não professor, está logo ali, depois da curva do Rio”. Umas 10 hs da manhã, chegamos finalmente ao porto da Cidade do Garantido e atracamos. Subimos todos!
“Qual é a próxima parada?” “Itacotiara, professor!” “Já quero voltar, estou enfadado, cansado e não vai dá para fazer todo o percurso em três dias como eu pensei que fosse possível. Tem uma cidade em que podemos voltar de ônibus para Manaus?” “Tem professor, é Itacoatiara”. “Então vamos deixar o resto do passeio para uma próxima viagem e vamos direto para Itacoatiara”. Falei com o representante da Força Sindical, que o havia convidado. Falou com a tripulação da lancha e tomou a decisão: “Vamos direto para Itacoatiara!”. Chegamos ao porto de Itacoatiara no dia seguinte e Nassim Meredeff pegou um ônibus, retornou a Manaus e chegou um dia antes da lancha do empresário. Nassim já se encontrava em Brasília.
Depois dessa aventura de “três dias” pelo rio Solimões, a Coemp não teve problemas com pedido de diárias para inspecionar a liberação de recursos para diárias de viagem a serviço, durante o Governo Fernando Henrique Cardoso. Começou o Governo Lula e tudo mudou, Os programas mudaram de nome e nada era mais como fora no passado porque continuaram a tomar decisões baseado apenas em mapa e dizer o que podia ou não podia ser liberado para o Amazonas.
E por que estou escrevendo sobre isso?
Vi que agora os Secretários de Educação se uniram para reivindicar mudanças de valores para trabalho em Educação no Estado do Amazonas.Tudo parece que continua sendo decidido com base no mapa e esquecem que tudo é diferente na Região Norte!
Este é um problema, não somente nosso, amazonense, mas de todos nós, 'coirmãos' amazônidas, sujeitos a decisões, de gestores ou autoridades, desde o governo federal, em Brasília, e/ou órgãos importantes, com sedes nas regiões Sul e Sudeste, que possuidores de poderes, tomam de decisão, desde salas refrigeradas: - Nassim Merredeff, empolgado por vir conhecer o Amazonas, olhou para o mapa atrás de sua mesa e observou que as distân
ResponderExcluirNem me lembre deste vendilhão da pátria, chamado fhc. Felicidades
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