sábado, 6 de abril de 2013

A BETÂNIA COMO VI E VIVI



Um imenso cajual em meio a uma areia branca e alguns poucos pés de tucumã, foi do que se originou o bairro da Betânia, também chamado  pelo nome de “Nova Betânia” - alusão a uma terra Bíblica - local em que passei parte da infância e adolescência, me dividindo entre minha família biológica, e a casa do casal de médicos, onde fui criado: Teomário/Dulce!

O bairro da Betânia se originou de um loteamento feito pela “Família Cordeiro”, mas a casa pronta na qual nossa família começou a residir foi comprada em 1969 diretamente do famoso locutor da “Voz Praiana”, “Kimura”, com o dinheiro da venda das terras da família na comunidade de “Varre-Vento”. A “Voz Praiana” funcionava em uma casa na conhecida “Escadaria dos Remédios”, local de embarque e desembarque cargas e passageiros, até os dias de hoje, ao lado do Cais do Porto de Manaus, construído há mais de um século pelos ingleses, na época do período de exportação do látex da Amazônia. Só a “Voz Praiana” não existe mais; mas a casa ainda é a mesma, mas mudou de cor.

Em 1970, meu pai adquiriu outro terreno, no qual construiu vários quartos formando uma estância e passou a alugá-los e recebendo por mês, tudo anotando em uma caderneta os nomes das pessoas para quem alugava e o valor acertado entre as partes, tal era a confiança depositada nos inquilinos da época. A vida da família, com muito esforço e sacrifício de meu pai, começava a melhorar.  As prestações do terreno eram pagas mensalmente, diretamente na “Casinha Branca”, que não existe mais.

Com ruas parcialmente abertas sem qualquer infra-estrutura de água,  asfalto ou luz, que só chegou bem mais tarde, o bairro foi se formando.  A água era de poço no fundo no quintal ou das cacimbas construídas em uma área totalmente formada só por areia branca e fina, também conhecida como “areal” onde existia olho d’água e recebiam cadeados. Depois dos jogos de pelada na rua, coisa comum na época, os meninos desciam e se banhavam nas cacimbas, mas cada qual na sua para não “toldar” a do outro, razão porque todas recebiam cadeado, depois do uso.

No centro do bairro da Betânia existia o campo de futebol e partidas eram disputadas, única diversão da molecada assistir e se imaginar sendo um jogador de meias, camisas e calções oficiais de um grande clube – quem sabe?  Havia poucas casas e só uma em  alvenaria de dois andares, pertencente a família de Pedro Alves da Silva, um comerciante forte daquela época e invejado pelo seu sucesso adquirido com trabalho árduo e muita dedicação por muitos anos.

O início da construção dos apartamentos Conjunto Jardim Brasil e, logo em seguida, o início da abertura da Avenida Silves, marcaram o fim do gostoso e limpo Igarapé do 40. Em determinados pontos nos bairros Morro da Liberdade e Cachoeirinha, com catraias fazendo a travessia de pessoas de um lado ao outro, adolescentes aproveitavam a época da vazante do Rio Negro , por consequência, do Igarapé do 40 também,  para, em finais de tarde, jogar bola na areia. O local preferido pelos meninos era roubar cajus era dentro do terreno do abatedouro Bordon, que fabricava carne para desfiar e para cortar, fugindo dos vigias. Mas tudo mudou. O Igarapé do 40 está hoje poluído, o bairro inchou e hoje nem sei mais caminhar por suas ruas antes de barro batido e hoje, todas asfaltadas.

De tudo que me resta de lembranças felizes, só restou bravamente  um poste de luz à altura do número 68 da Avenida Adalberto Valle, onde morei,  que os meninos usavam para brincar de manja, barra bandeira, 31 alerta, estátua, além de bolinha de gude, canga - pé, antes do asfalto e que serviu para o Jorge Lopes da Silva, bom de bola até demais, fazer uma de suas estripulias contra um rapaz que sempre se encostava no local usado para as brincadeiras, cutucando-lhe com uma grande vara com um pano embebido em fezes que respingou na camisa de seda com a qual o galanteador esperava sua namorada.

Mas logo no “nosso poste”!? Havia muitos outros para escolher, mas ele não quis e cismou de por três noites seguidas esperar sua namorada no “nosso poste”!

Que vergonha para o enamorado! E gargalhadas para a garotada!

Um comentário:

  1. Suelem Louize Freitas Pjc Obrigada meu amigo!!!
    Fiquei encantada com essa sua crônica nostalgica. Me remete as experiências de minha infância e adolescência. Muitas de suas experiências se parecem com as minhas.
    Ah saudades, tempos bons que não voltam mais. Tempos em que vivia brincando na "rua". Rua que não era rua, era um beco, porém era tão largo e extenso como o de uma rua.
    Lembro-me sempre de minha mãe fazendo curica com o jornal de meu avô para que eu brincasse correndo pela "rua". E o mais engraçado, só de calcinha. Rsrs... Tempos de pureza, em que não havia maldade, e se existia, nem sabia!
    Ah tempo bom...

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