Um imenso cajual em meio a
uma areia branca e alguns poucos pés de tucumã, foi do que se originou o bairro
da Betânia, também chamado pelo nome de “Nova
Betânia” - alusão a uma terra Bíblica - local em que passei parte da infância e
adolescência, me dividindo entre minha família biológica, e a casa do casal de
médicos, onde fui criado: Teomário/Dulce!
O bairro da Betânia se
originou de um loteamento feito pela “Família Cordeiro”, mas a casa pronta na
qual nossa família começou a residir foi comprada em 1969 diretamente do famoso
locutor da “Voz Praiana”, “Kimura”, com o dinheiro da venda das terras da
família na comunidade de “Varre-Vento”. A “Voz Praiana” funcionava em uma casa
na conhecida “Escadaria dos Remédios”, local de embarque e desembarque cargas e
passageiros, até os dias de hoje, ao lado do Cais do Porto de Manaus,
construído há mais de um século pelos ingleses, na época do período de
exportação do látex da Amazônia. Só a “Voz Praiana” não existe mais; mas a casa
ainda é a mesma, mas mudou de cor.
Em 1970, meu pai adquiriu
outro terreno, no qual construiu vários quartos formando uma estância e passou
a alugá-los e recebendo por mês, tudo anotando em uma caderneta os nomes das
pessoas para quem alugava e o valor acertado entre as partes, tal era a
confiança depositada nos inquilinos da época. A vida da família, com muito
esforço e sacrifício de meu pai, começava a melhorar. As prestações do terreno eram pagas
mensalmente, diretamente na “Casinha Branca”, que não existe mais.
Com ruas parcialmente
abertas sem qualquer infra-estrutura de água, asfalto ou luz, que só chegou bem mais tarde,
o bairro foi se formando. A água era de
poço no fundo no quintal ou das cacimbas construídas em uma área totalmente
formada só por areia branca e fina, também conhecida como “areal” onde existia
olho d’água e recebiam cadeados. Depois dos jogos de pelada na rua, coisa comum
na época, os meninos desciam e se banhavam nas cacimbas, mas cada qual na sua
para não “toldar” a do outro, razão porque todas recebiam cadeado, depois do
uso.
No centro do bairro da Betânia
existia o campo de futebol e partidas eram disputadas, única diversão da
molecada assistir e se imaginar sendo um jogador de meias, camisas e calções
oficiais de um grande clube – quem sabe?
Havia poucas casas e só uma em alvenaria de dois andares, pertencente a
família de Pedro Alves da Silva, um comerciante forte daquela época e invejado pelo
seu sucesso adquirido com trabalho árduo e muita dedicação por muitos anos.
O início da construção dos
apartamentos Conjunto Jardim Brasil e, logo em seguida, o início da abertura da
Avenida Silves, marcaram o fim do gostoso e limpo Igarapé do 40. Em
determinados pontos nos bairros Morro da Liberdade e Cachoeirinha, com catraias
fazendo a travessia de pessoas de um lado ao outro, adolescentes aproveitavam a
época da vazante do Rio Negro , por consequência, do Igarapé do 40 também, para, em finais de tarde, jogar bola na areia.
O local preferido pelos meninos era roubar cajus era dentro do terreno do
abatedouro Bordon, que fabricava carne para desfiar e para cortar, fugindo dos
vigias. Mas tudo mudou. O Igarapé do 40 está hoje poluído, o bairro inchou e
hoje nem sei mais caminhar por suas ruas antes de barro batido e hoje, todas
asfaltadas.
De tudo que me resta de
lembranças felizes, só restou bravamente um poste de luz à altura do número 68 da
Avenida Adalberto Valle, onde morei, que
os meninos usavam para brincar de manja, barra bandeira, 31 alerta, estátua, além
de bolinha de gude, canga - pé, antes do asfalto e que serviu para o Jorge
Lopes da Silva, bom de bola até demais, fazer uma de suas estripulias contra um
rapaz que sempre se encostava no local usado para as brincadeiras,
cutucando-lhe com uma grande vara com um pano embebido em fezes que respingou
na camisa de seda com a qual o galanteador esperava sua namorada.
Mas logo no “nosso poste”!? Havia muitos outros para escolher, mas ele não quis e cismou de por três noites
seguidas esperar sua namorada no “nosso poste”!
Que vergonha para o enamorado! E gargalhadas para a
garotada!
Suelem Louize Freitas Pjc Obrigada meu amigo!!!
ResponderExcluirFiquei encantada com essa sua crônica nostalgica. Me remete as experiências de minha infância e adolescência. Muitas de suas experiências se parecem com as minhas.
Ah saudades, tempos bons que não voltam mais. Tempos em que vivia brincando na "rua". Rua que não era rua, era um beco, porém era tão largo e extenso como o de uma rua.
Lembro-me sempre de minha mãe fazendo curica com o jornal de meu avô para que eu brincasse correndo pela "rua". E o mais engraçado, só de calcinha. Rsrs... Tempos de pureza, em que não havia maldade, e se existia, nem sabia!
Ah tempo bom...