Uma mentira dita e repetida
diversas vezes torna-se verdade e pode levar a uma comoção social coletiva, com
a condenação de inocentes. Por isso, não sou a favor da pena de morte e talvez
tenha sido por isso também, que o saudoso e democrático jornalista e político
de oposição, Manoel José de Andrade Neto, diretor de A NOTÍCIA, fizesse
sempre questão de chamar à atenção de seus profissionais mais novos como eu,
com 19 anos apenas e cheio de ideias e revoltas, para o fato de que em toda
informação existirem sempre três verdades absolutas: a do jornalista que escreveu a
matéria; a do leitor que a leria depois de publicada e a da opinião pública que
a aceitaria com ou sem qualquer senso crítico a informação e se deixaria ou não
levar pelo que tinha lido.
Ele, sempre que abria uma
gaveta de ferro com vários processos, cheia de pastas suspensas a que havia
respondido por ser jornal de oposição, recomendava cautela a todos aos
jornalistas ao escrever alguma matéria
de impacto, evitando emitir opiniões pessoais e se limitando apenas a narrar os
fatos colhidos da fonte. Diante disso e pelo clamor e comoção popular das ruas,
acredito que alguns inocentes foram condenados sem provas nos autos no caso do
chamado “Mensalão, talvez mais pela pressão coletiva da opinião pública do que
propriamente por provas jurídicas coletadas e comprovadas no processo, fato
admitido até por uma ministra do STF, veiculado pelas redes sociais, mas o que
não invalida a decisão da Justiça, mesmo que tardia.
Tudo pode ser verdade, mas isso
não dá o direito aos advogados José Luis de Oliveira Lima, Camila Torres César
e Daniel Dienel, do réu José Dirceu sair atirando contra a imprensa e acertando
balas perdidas em uma classe que só tem o dever e o direito de informar e, com
a velocidade das comunicações, o faz de forma rápida, mas nem sempre com todas
as verdades, que foram emitidas ou escondidas!
Andrade Neto, também dizia
que os maiores escândalos no Estado do Amazonas, em fins da década de 70 e
início de 80 só tinham a duração de três dias, no máximo: no dia da publicação
com o “furo de reportagem”, como era chamado quem conseguir publicar
algo que outros jornais não conseguiam, no dia seguinte após a publicação e, depois,
se ninguém mais falasse sobre o assunto, ele perderia a importância e
desapareceria completamente do imaginário coletivo da sociedade de pouco menos
de 800 mil habitantes à época.
No episódio do emprego dos
sonhos no Hotel St.Paul, do Ministro José Dirceu, sobrou fedentina e balas para
à imprensa, em forma de acusações infundadas e descabidas por parte dos
advogados do réu e ex-ministro da casa civil do Governo Lula, que anunciaram em
petição endereçada ao STF, que os empresários
estavam sendo linchados pelos veículos de comunicação, acusados de forjar um
contrato fantasma para beneficiar o ex-ministro.
Mas o “Mensalão”, que ganhou repercussão
internacional, seria ou não um fato a despertar o interesse da imprensa? Lógico
que sim! Mas tenho dúvidas se na mesma intensidade que mereceu, diante de
tantos problemas sociais vividos pelo povo brasileiro, que vive sem saneamento
básico, sem educação descente, habitação popular quase inexistente para atender
a real demanda, saúde precária, falta de estrutura moral e social dos
políticos, enfim!
Será que esses problemas
sociais não mereceriam também uma divulgação igual ou maior do que teve o
processo do “mensalão”, depois de anos e anos sem ser julgado, só para cair
no esquecimento como dizia o jornalista Andrade Neto? Ainda temos a situação do
excesso de impostos cobrados do povo, a desoneração da cesta básica que não
chegou ao bolso da sociedade, os impostos escorchantes sobre os combustíveis,
que chega ao povo também pelo aumento dos preços. Temos também a precariedade
dos postos, das estradas e da infra-estrutura. Será que nada disso merece
cobertura da imprensa como o mensalão mereceu?
Mas se ele merecia ou não
ter a dimensão que teve, ah, isso é outra história! Só que hoje, nem mesmo a
tentativa de fraude contra a Justiça, pode ser isenta de apuração por parte da
imprensa ágil, livre, democrática e, talvez um pouco tendenciosa para um lado
ou para o outro.
Depois de sofrer o impeachment
transmitido ao vivo para todo o Brasil e quase sofrer um linchamento político e
público por tantas acusações que lhes foram atribuídas, o ex-presidente
Fernando Collor de Melo foi absolvido em todos os processos a que respondeu, mas
ficou inelegível por oito anos, e voltou à vida política como senador por
Alagoas. Teria sido essa a resposta do povo de Alagoas a tudo que lhe fizeram
os políticos e os “caras pintadas” que foram para as ruas naquela ocasião em que
o ex-presidente lhes dirigiu um apelo desesperado: “não me deixem sozinho!”.
Influenciados pelo noticiário, o apelo teve um efeito contrário quase imediato
e os jovens daquela época, foram às ruas exigir a renúncia de Collor.
Esse é apenas mais um
exemplo de como a opinião pública também pode se deixar influenciar pelos meios
de comunicação de massa, nem sempre muito responsáveis naquilo que noticiam e
sem um senso crítico daquilo que divulgam como verdade absoluta! Não estou
querendo dizer que alguns dos “mensaleiros” não mereciam as penas que
receberam, mas no meio deles, alguns inocentes e sem provas jurídicas nos autos
também foram condenados. Talvez tenha sido o caso de José Dirceu, mas refiro-me
a questão puramente legal, jurídica em si; não, à imoral, aética e apolítica,
que devem ser combatidas exemplarmente, sempre, mesmo com o risco de se cometer
injustiças. Mas quem disse que a Justiça é sempre justa? Ninguém...!
09/12/2013 09:49 - paulo rego
ResponderExcluirMeu caro jornalista Carlos. Falou, nas entrelinhas, a voz o apaziguador! É claro que injustiças sempre ocorrerão, mesmo porque os aplicadores da lei são humanos, mas isso não invalida o processo em seu todo. Vc citou um aforismo, eu lembro de, pelo menos, três semelhantes; "a justiça é cega" - "a justiça tarda, mas chega" e "não se faz omelete, sem quebrar os ovos." Seu receio, como um ser que tem entranhado senso de humanidade, tem sentido e a análise desta sua crônica, daria outra. Como vc frisa bem, as decisões foram avaliadas por 8 Ministros da Corte Suprema e os réus usaram todos os recursos possíveis, de forma que nada mais há a acrescentar. Portanto, amigo, é seguir em frente com o nosso lema "Pau neles, amigo". Um abç
ResponderExcluir08/12/2013 18:29 - Nilcéia [não autenticado]
A mídia só é boa e não é PIG quando fala mal do PSDB. No livro Assassinato de Reputações de Tuma Junior o autor relata que descobriu a conta do mensalão nas Ilhas Cayman , mas que o governo e a Policia Federal não quiseram investigar uma conta em nome do José Dirceu. As autoridades de Cayman está disposta a cooperar e o governo recua. Esses juízes pensam que o povo é burro , retardado, mas qualquer um sabe que o Lula é o chefão do mensalão e que o PT é capaz de comprar falso testemunho para a oposição. Dá nojo.Parabéns pelo texto.
ResponderExcluir08/12/2013 13:53 - Plácido Pensar
Perfeito, caro Carlos Costa... como explanado, também sou militante dessa causa: Conceito midiático, manipulação de massas. A mídia é o mais mortal veneno social.