segunda-feira, 31 de março de 2014
INFANTIS VERSOS MATEMÁTICOS!
À Dra. Adelaide Reys, de Maceió, pelo carinho, respeito e consideração!
A cidade de Manaus ainda era preguiçosa no início da década de 70. Fechava todo o seu comércio às 11:30 horas e reabria às 14. Nas ruas, contudo, os compradores ávidos por quinquilharias comerciais, respeitavam esse momento da cesta e seguia para os hotéis onde se instalavam, geralmente no Tropical Hotel, localizado na área da Ponta Negra, um dos mais luxuosos na época, que disponibilizava e ainda disponibiliza ônibus aos seus hóspedes para se dirigirem ao centro comercial de Manaus, a 14 quilômetros de distância. Não mais com tantos turistas às compras como era na década de 70, três anos após a implantação do modelo de desenvolvimento ZFM.
Nessa época, eu seguia para o Grupo Escolar Adalberto Vale, com meu caderno, lápis, lápis para colorir, caderno de gramática, outro para caligrafia e com sapato que mandava fazer no bairro de Educandos. Na Escola, tínhamos que adquirir um bolso pintado para ser pregado na camisa, pelas nossas mães. Davam prazo para se adquirir os bolsos e outro prazo para serem colocados nas camisas, mas aceitavam a entrada na Escola, se estivesse usando a farda completa, composta de uma calça azul, camisa branca com ou sem o bolso pintado com o nome da Escola de forma redonda. Naquela época, nada se dava de graça, exceto um mingau horrível que quase ninguém gostava de entrar na fila para recebê-lo.
Nessa mesma época, o comércio começou a vender uns espelhos redondos, pequenos, que serviam também para enfeitar os chapéus dos vaqueiros de boi, como o Corre Campo e Brilhante, por exemplo, sempre muito coloridos. Mas a molecada do Grupo Escolar descobriu, ainda outra utilidade para os espelhinhos, para serem usados em bolsas de mulheres e de homens vaidosos: ver a cor das calcinhas das meninas sentadas nas carteiras da frente, colocando-os na parte de cima do bico do sapato encobertos pelas calças bocas de sino e esticando-se as pernas para frente. Para ver melhor ainda, se puxava-se levemente a calça da escola. Era uma visão deslumbrante para os adolescentes de 12 e 13 anos de idade que tinham curiosidade para saber a diferença que existia entre meninos e meninas, em uma época em que nada se fala sobre educação sexual e que o sexo era tabu, mesmo nas escolas.
Também, nessa época, escrevíamos nos cadernos das alunas um verso matemático, “estou rezando 1/3 para encontrar 1/6 para te levar para um 1/4”. Muito diferente do poema diferente que circula nas redes sociais, “Poesia da Matemática” de autoria de Millôr Fernandes, com pseudônimo de Vão Gago, publicado no livro “Tempo e Contratempo”em 1954, no RJ. O nosso poema inocente era uma ofensa grave reparada com um tapa no rosto.
Outra coisa que os meninos faziam quando andavam de mãos dadas com uma menina era passar o dedo no centro da mão da menina como se estivesse coçando porque, na época, isso significava convidar a parceira para ir para cama. As respostas eram outro tapa no rosto ou um sorriso disfarçado, o que significava sinal de que a moça aceitara, ou simplesmente a adolescente soltava a mão da pessoa com quem estava andando de mãos dadas.
Como ir para “¼,” se quase não existiam motéis nessa época? No máximo, existiam quartos em bares que os alugavam por hora, mas todos eram proibidos para menores de 18 a anos e respeitávamos isso porque a molecada tinha medo dos fiscais do Juizado de Menores e, além disso, não podíamos pagar o preço porque éramos lisos e confiados! Terminava só ficando no sorriso mesmo mas espalhávamos pela nossa “rádio aluno” que a menina que não reagiu com um tapa no rosto, com certeza já era “futurada”, só porque havia sorrido!
Assim era a vida de peraltice da meninada no Grupo Escolar Adalberto Vale. Algumas vezes, contudo, a moça contava em casa o que um menino havia feito com ela, ou escrito o poema matemático em seu livro ou coçado a mão dela!. No dia seguinte, a mãe comparecia ao Grupo, comunicava e a diretora, Alda Filgueiras Péres, mandava “convidar o aluno” em sala e fazia um encontro desagradável e talvez desnecessário entre a mãe, a garota e o menino, seguido de um carão da diretora que tomava decisões absurdas, mas que, algumas vezes, não podia ser contestada por ninguém. Em outras, ela até aceitava por entender que era uma peraltice mesmo, mas não nos livrávamos da bronca.
Depois, nos encontros de banheiros, mesmo sendo inocentes as brincadeiras feitas, comentávamos com os colegas:
- Eu cocei a mão da fulana e ela ficou rindo. Já deve ter sido furada, dizia um. Outro perguntava:
- Você conseguiu ver a cor da calcinha da fulana?
- Vi, ela está com calcinha vermelha! Respondia. Outro retrucava:
- Mentira! Eu também vi pelo espelho e a calcinha dela era branca e de renda. Deu para ver até que tinha uma coisa meio escura no meio das penas dela!
Era motivo de risada!
Mas era gostoso e por um motivo nobre tomar tapa no rosto!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
31/03/2014 13:17 - zeca
ResponderExcluirpregunta pro mula espaia merda
Sr. Carlos boa tarde.
ResponderExcluirComo sempre fazendo-me meditar sobre a infância e a adolescência ainda tão latente.
Tudo isto parece que foi ontem.
Abs.
Roberto Marques Valin - Gerente
ResponderExcluirCarlos, você não tem jeito, não!
KKKKKKKKKKKK!
Fico extremamente agradecida por me dedicar essa crônica tão pueril...
Essa traquinagens infantis serão relembradas pelos amigos aos quais você enviou cópia deste e-mail!
Obrigada, amigo!
Deverei ir na Semana Santa para o acampamento em que se tornou a casinha de Paripueira...
Mas com certeza verei você e a Yara, de qualquer jeito.
Irei com pessoas simples e que se adaptam à falta dos confortos que, com certeza irei providenciar para vocês e outros amigos em outro momento!
Tá sem geladeira e deveremos usar gelo ou alugar uma outra!
Sem colchões suficientes, mas levarão colchonetes...
E assim nos divertiremos, como nos for possível.
A casa é bem próxima à praia...São amigos que tutelei quando crianças, filhos de uma senhora que trabalhou em nossa casa!
Tornaram-se pessoas bem equilibradas e hoje me fazem uma admirável e saudável companhia.
Um abração,
Adelaide Reys/Maceió
kkkkkkkkk Eram peraltices inofensivas que retratam um tempo bom. Enfim, ri muito com essa fabulosa crônica. Parabéns, Carlos.
ResponderExcluirMaria do Carmo/BH
Obrigada por sua atenção, e também pelo carinho para com minha tia Adelaide (Dadá)!
ResponderExcluirParabéns pelo excelente trabalho!
Tenha um dia iluminado!
Um abraço,
Flavia Reys