quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
CASA VAZIA (para Carlos Costa Filho)
Com o início de sua aula em tempo integral, uma sensação de vazio invadiu o apartamento, ocupou sua cama e estou sentindo a falta de sua presença adolescente, rebelde...Na hora do almoço, mudava o canal da TV para assistir ao seu programa de esportes favorito. Você conhece muitas coisas sobre esportes porque procura na internet e, algumas vezes, me surpreende com perguntas que não sei responder-lhe. Eu, porém, acumulei sabedorias da vida e conhecimentos adquiridos em livros que estudei!
Na minha época de adolescente de 17 anos não existia internet, televisão de LED, celular ou qualquer outra tecnologia. Lia-se tudo em livros nas Bibliotecas Pública do Estado ou na do SESC da Rua Henrique Martins, as quais frequentava com frequência. Na do SESC, onde almoçava e jantava, a usava para ler e descansar após o almoço em bandejões, aproveitando para atualizar minhas áreas de interesse: a literatura. Procurava sempre livros de poesias ou crônicas e me surpreendi uma lendo um poema do falecido ator Cláudio Cavalcante, que protagonizou a novela Global IRMÃOS CORAGENS, do início da década de 70, e outras novelas que fez depois. Eu era fã do ator e até deixei o cabelo crescer porque o dele era pouco grande, mas liso; o meu, cacheado, mas passei treze anos sem cortá-los junto com a barba. Recortava fotos de Cláudio Cavalcante em revistas e as colava com cola Polar em livros escolares, na porta do guarda-roupa, que dividia com meu irmão Nilberto Costa. Cláudio Cavalcante era meu ídolo de adolescente, mas não me pergunte a razão que não saberei lhe explicar, só sei que eu era fã dele e pronto, como dizem os adolescentes, sem dar muitas explicações.
Agora, ando pelo corredor de nosso apartamento, passo pela pota de seu quarto, olho para dentro e sinto falta de você. Sua cama está sempre arrumada para quando você voltar cansado e extenuado de sua aula. Depois, entro na suíte e olho pela janela, uma grande piscina azul cheia de cloro, com pessoas se divertindo. Muitas vezes, em suas férias, frequentava-a também. Colocava uma toalha no ombro dizia: “pai, vou para a piscina” e ainda tenho a ilusão de que você ainda possa estar nela, conversando com alguma garota de sua idade, mas não o vejo e noto que estou sozinho com minha solidão e sentindo falta de você. É...meu filho, nunca pensei que sentiria falta de suas agressividades momentâneas de um adolescente rebelde sem causas. Mas sinto, sim!
Sinto falta de você almoçando na mesa, de você gritando que sou um doido, de você pedindo cinco minutinhos para continuar dormindo, depois de uns 6 meses de aula, ou nos primeiros dias de aula, acordando cedo, sozinho e chamando sua mãe às 6 hs da manhã, para levá-lo à escola, apontando no relógio e dizendo “estou atrasado”. Depois de uns seis meses de aula, as coisas se invertem e passa a ser sua mãe lhe dizendo que está atrasada e você continua dormindo pedindo, cinco minutos para continuar dormindo, passando dos cinco para trinta minutos de dormida, só para irritar sua mãe que fica nervosa e lhe chamando. Agora, com novo local de sua escola em tempo integral, no centro de Manaus, esse prazo para continuar dormindo, ficará impossível! Esse é o último ano de sua formação e não poderá descuidar porque, aos seus 17 anos, terá que decidir por uma profissão para o resto da vida ou mudar depois de ingressar em qualquer na Faculdade. Meu filho, você viverá ou já está vivendo um drama que também passei: que profissão escolher? Na minha época de adolescência, como comecei muito cedo a trabalhar e ter responsabilidade vendendo jornais, ganhei gosto pelo jornalismo. Identifiquei-me e segui a opção tranquilamente. Mas para aliviar seu drama de ter que optar por alguma profissão lhe contarei um segredo: meu pai adotivo, Theomário Pinto da Costa médico por vocação, pediu-me que seguisse a carreira de medicina. Mas o enganei e segui comunicação porque desde meus 14 anos quando escrevia inocentes versos para me tornar popular com as garotas do Grupo Escolar Adalberto Vale e os publicava no jornal interno “O Pirilampo” para vencer minha grande timidez. Depois de ouvir minha explicação maluca que criei na hora, o Dr. Theomário, ele olhou para mim e perguntou: “Mas você não disse que havia feito para Medicina! Como é que passou para Comunicação Social? Eu o apoiarei no que precisar, mesmo assim!” Não precisei porque voltei para a casa de meus pais biológicos e eles ficaram orgulhosos porque fui o primeiro dos 9 irmãos que compunham a família biológica, a cursar uma Faculdade, aos 18 anos. Depois, outros seguiram o caminho, inclusive o Nilberto, que é formado em duas faculdades e o Roberto Costa, que cursou Contabilidade e hoje faz meu Imposto de Renda! Passei a ter horror de sangue desde que meu pai adotivo passou a levar-me para a Faculdade de Medicina onde era professor e me deixava com seus alunos. Por isso, decidi não fazer medicina!
Mas meu filho, estou escrevendo isso para dizer que você pode seguir o caminho que quiser, fazer o curso que quiser, porque o importante e que seja feliz e faça tudo com respeito, ética e responsabilidade, em qualquer que seja a profissão que venha a escolher. Mas, não esqueça do exemplo de seu pai - jornalista e assistente social - e de seu avô materno, advogado Francisco Guedes de Queiroz, mas que dedicou a vida à política, sua grande paixão. Faleceu pobre depois de 26 anos de mandato parlamentar e a casa que residira até sua morte em uma cirurgia cardíaca em São Paulo, foi quitada com o seguro habitacional.
Siga os exemplos, meu filho e seja feliz. Eu e sua mãe Yara Queiroz, sentimos sua falta, percebemos que o apartamento ficou vazio sem sua presença, mas vai será bom para você., no futuro: suportaremos porque um ano passa rápido demais para nós, que já dobramos o “cabo da boa esperança”; talvez para você, estudando o dia todo, demore uma eternidade! Ah, como você nos faz falta, mas sabemos que amanhã você será feliz com a carreira que escolher livremente. Se for direito ou outra qualquer, o importante é que se dedique e cumpra eticamente suas atividades, porque o mercado exclui os profissionais incompetentes, selecionando apenas os bons. É isso que desejamos para você, filho nosso!. Mas se for para seu bem, seu futuro e sua felicidade, aguentaremos o silêncio em que se tornou nosso apartamento, com seu quarto vazio das 6 horas até as 18:30 horas, quando você volta da aula. Faremos tudo para que você seja feliz, mesmo eu participando pouco de sua vida há pelo menos 9 anos, dos quais pelo menos sete sendo submetidos a cirurgias e ficando até 90 dias dentro de hospitais, internado. Seja feliz, meu filho, mesmo com a casa vazia. Um dia ela ficará cheia de seus colegas da faculdade de novo e isso é o que desejamos para você.
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Bonitas palavras dirigidas ao seu filho... O futuro se constrói hoje.. Se é triste e monótono ficar sem a companhia do seu, o consolo é que ele está construindo o futuro que ele próprio viverá... Parabéns amigo...!!!
ResponderExcluirBonito
ResponderExcluirDesculpa, essa figura foi um acidente, rsrsrs. Achei interessante e muito linda a sua mensagem ! Parabéns Senhor Carlos Costa!
ResponderExcluirMt bom
ResponderExcluirTexto nota mil de um ser humano maravilhoso e profissional competentíssimo
ResponderExcluirÉ......
ResponderExcluirConheço bem a situação. .. Só me resta dizer É
ResponderExcluirQue lindo!!!! Parabéns �������� !!!!
ResponderExcluirParabéns .
ResponderExcluirLinda declaração de amor incondicional a um filho amado!
ResponderExcluirParabéns, Carlos Costa!
Parabéns senhor Carlos admiramos muito sua nota tem coerência, relevância. É emocionante uma realidade que se vivencia em nossas casa.
ResponderExcluirBOOOOM DIIIIAAAAA COM ALEGRIAAAAAA. MEU NOBRE
ResponderExcluirAMIGO CARLOS COSTA ENFIM
TUDO DE BOOOOM PRA VC. AMIGO.
RIO DE JANEIRO.
Carlos Costa, hj cedo, antes de ir para a academia, resolvi ler esta sua cronica. Marido impaciente chamando, dizendo que eu ia chegar atrasada e eu refletindo no valor do silencio que eu pude extrair do seu texto. Oh, como o silencio me faz bem! Viver meio a grandes barulhos que os jovens nos prorpocionam as vezez cansa. Eu aprendi a amar esses momentos em que eles estao fora de casa, estdando, para pensar na vida, refletir com calma, absorvendo a solidao gostosa que o silencio traz. Ah, como eu amei refletir com voce! De forma diferente, mas eu amei! Abracos, querido! No silencio do meu coração. ��
ResponderExcluirLinda essa demonstração de amor e carinho pelo seu filho , amigo !
ResponderExcluirTenho sentido essa mesma falta! A nossa saudade é profunda.
ResponderExcluirExcelente texto
ResponderExcluirBoa tarde amigo, Carlos! Você me fez lembar da frase: "UM MOMENTO POR FAVOR" proferida por Cláudio Cavalcante para chamar os comerciais. Amigo, você está muito sentimental! Por coincidência minha filha mais nova também não está em casa. Mas ela está muito longe. Foi para a Inglaterra onde está fazendo uma parte do Doutorado na especialidade de Natação. Ela defendeu o Mestrado em Nado Atado e agora está prosseguindo na mesma linha. Apesar de ser mulher sempre foi muito peralta e muito corajosa. Os filhos são só para que cuidemos até que criem asas e consigam alçar voos sozinhos. Quanto mais alto subirem, certamente foi pelo impulso que demos. Abraços e vê se não fica aí chororô remoendo atribuições.
ResponderExcluirExcelente crônica
ResponderExcluirMuito linda msg!!
ResponderExcluirBelíssimo texto!
ResponderExcluirUm forte e fraternal abraço!
Carlos Costa que texto lindo, confesso que invadi o seu momento e me senti no seu lugar...é assim mesmo rsrs. Ontem dormi com os meus três filhos e às cinco da manhã todos se foram para a ufam e eu fiquei só, pois estou me recuperando de uma cirurgia. O vazio é preenchido com o projeto de um futuro melhor para todos. Deus abençoe vc e sua família.
ResponderExcluirOi Carlos, boa tarde.
ResponderExcluirLembrei-me de ti assistindo o “Jornal Hoje” da Globo.
Junto a minha filha, Gabriela, vimos o quadro onde o público envia fotos de suas regiões.
Hoje, a foto mais bonita foi a enviada por um amazonense.
Ele captou e dividiu com o resto do Brasil um momento ímpar: O por do sol no Rio Negro.
Falei pra minha filha que muita gente deve até não se lembrar que ali é rio e não mar...
E Gabriela disse: mande sua foto também pai...
Seu Texto “casa vazia” é um mergulho nas águas do existir, existir em família.
Lendo suas considerações sou também transportado a saudades de meu moleque, Geraldo Neto, que ora se diverte nas praias de Cabo Frio.
As férias dele só terminam em março.
Um abraço,
Linda carta de um pai para seu filho que,certamente, a lerá ao longo da vida e recordará todos esses momentos com saudade e gratidão.Abraços de Portugal.
ResponderExcluirBelo texto e as palavras muito bem colocadas,parabéns!
ResponderExcluirUma carta de amor, sem dúvida! Cachoeiras brotam dos meus olhos...
ResponderExcluirUma carta de amor, sem dúvida! Cachoeiras brotam dos meus olhos...
ResponderExcluirCarlos Costa, você foi brilhante na homenagem ao seu filho. Daqui há 10 anos, quando ele casar, sua casa ficará mais fazia ainda...
ResponderExcluirLaços de família - título de um belo filme norte americano. Serviria para sua Bela crônica
ResponderExcluirBelíssimo trabalho!
ResponderExcluirLinda mensagem! Deus Senhor onipresente ! Onipotente!único sabedor dos nossos destinos,nos dá sabedoria e equilíbrio pra suportarmos as rotinas e experiências no seio familiar, cada experiência sempre será única e própria do momento! Por isso acredito tanto no amor fraternal familiar, criamos nossos filhos para caminharem com os próprios peses! E tivemos a sorte de estudarmos e proporcionarmos á eles o melhor! Você e Yara são exemplos disso!
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