terça-feira, 26 de maio de 2015

BIANOR GARCIA, O JORNALISTA DAS "MANCHETES PORRETAS"


crônica escrita com o apoio e colaboração de Bianor Garcia, funcionário da ALE/Am, que escreveu o livro FESTÃO DO POVO, sobre a vida de seu pai Filho, que escreveu um livro inédito 


                             
'NICOLAU LIBÓRIO CORRE COMO UM VEADO E GANHA O PRIMEIRO LUGAR EM BELÉM”. (estudante de direito Nicolau Libório, cronista esportivo e atual procurador de Justiça do Ministério Público) 

HOMEM DE PAU GRANDE ESTÁ EM MANAUS”. (O jogador Garrincha, que visitava Manaus, nascido na cidade nordestina de “Paula Grande”)

TREPADA COVARDE” (ônibus que bateu na traseira de um fusca no bairro da Cachoeirinha)

“ROLINHA ENTRA NO BURACO DE MÃRIO” (em jogo do Rio Negro e Nacional. Os dois nomes foram jogadores de futebol e um substituiu o outro)

“HOMEM ENGRAVIDOU UMA PORCA” (pescador que residia em um flutuante, sozinho, com uma porca, no Porto da Central de Abastecimento do Amazonas-Ceasa).

Todas essas manchetes do Jornal A NOTÍCIA, nasceram da cabeça do jornalista Bianor Garcia, nascido em Silves, no interior do Amazonas, falecido cedo aos 58 anos de idade, no dia 17 de janeiro de 1990, vítima de infarto. Convivi durante 6 anos com Bianor Garcia, um autodidata que fora office boy no comércio da J. Soares Ferragens, corretor de câmbio, mas se tornou um jornalista “das manchetes porretas”, depois de escrever para o jornal “O Centro”, do antigo Ginásyo Amazonense D. Pedro II, atual Colégio Estadual do Amazonas. 

Nos dedos do jornalista, a máquina de escrever também pensava. Casos simples, banais e corriqueiros, eram transformados em “manchetes porretas” pela mente criativa de Bianor Garcia na primeira página do jornal, mas remetendo-a sempre para páginas internas, sem nada postar depois da manchete, atiçando a curiosidade dos leitores. Escrevia e publicava a coluna diária REDATOR BIÔNICO, que apoiava abertamente a campanha de Gilberto Mestrinho ao Governo do Amazonas, no ano de 1982, mas também tecia muitas críticas, muitas que envolviam pessoas importantes da pacata cidade de Manaus.

Nessa época, havia  “batismo” de jornalista novato. O meu era tomar banho pelo menos umas três vezes ao dia, para ver se saía o  “CC” (Carlos Costa), do corpo. Uma jornalista recém-formada fazendo um teste para trabalhar no jornal, pediu café para passar seu sono. Sem que Bianor Garcia soubesse de nada, Gabriel Andrade decidiu pregar uma peça na moça: 

-Só quem tem café é aquele senhor, baixo ali dentro, mas você precisa chegar lentamente até a sala e gritar no seu ouvido bem alto, porque além de ser surdo, usa aparelho auditivo! - apontando para a sala do Bianor. A jornalista iniciante abriu a porta de vidro com todo cuidado e, ao chegar perto do jornalista, gritou: “Bianor, você tem café?”. Bianor se assustou com o grito, deu uma batida em sua mesa de vidro e respondeu aos gritos: “Eu não sou surdo não, para você dar um grito desses no meu ouvido!!!!”. Sem entender nada, a moça saiu da sala aos prantos, pegou a bolsa, foi para casa e nunca mais voltou. Depois, Bianor Garcia saiu de sua sala, foi ao centro da redação e perguntou:

- Vocês viram? Ela entrou na minha sala, gritou em meu ouvido e quando eu disse que não era surdo, ela saiu chorando!!!!”. O Gabriel e eu, autores da brincadeira, ficamos rindo, fingindo que não tínhamos visto nada! Depois, retornou à sala e continuou escrevendo sua coluna que seria publicada no dia seguinte. Nesse momento, entrou na redação um comerciante, perguntando quem era o Bianor Garcia, que o criticava tanto, um dia sim e outro também. Apontamos e ele seguiu para a sala, aos fundos do jornal. Tirou da cintura um revólver e colou em cima da mesa de vidro do jornalista disse: “Bianor, você é um rato!!!!!”. Calmamente e concentrado, Bianor ouviu o que o comerciante lhe dissera, mas continuou escrevendo sua coluna, usando um óculos pequeno que tirava e colocava no rosto. Depois que o comerciante pegou seu revólver de cima da mesa, deixou a sala de Bianor e saiu da sala de Bianor, o jornalista chamado de rato. Perguntou ao jornalista e seu amigo Gabriel Andrade.

- Você viu, o que aconteceu? Ele entrou em minha sala, colocou um revólver em cima da mesa e me chamou de rato e pensando que isso me ofenderia. Depois parou, pensou um pouco e gritou: “Segurem esse f...da p...porque ele me ofendeu. Gabriel Andrade e eu que via tudo de minha mesa, não entendemos nada e perguntamos ao mesmo tempo: “Ele apenas lhe chamou de rato e isso não é ofensa”. Bianor, com a maior calma do mundo, começou a meditar consigo mesmo, fazendo analogia: 

“Rato come queijo, o queijo vem do leite, o leite vem da vaca, a vaca é mulher do boi e o que o boi tem na cabeça? Chifre! Ele me chamou foi de corno e isso não aceito. Não deixem ele sair”.

Interfonamos à portaria, mas o comerciante já havia saído e a partir desse dia, Bianor Garcia nunca mais falou contra o comerciante. Com a popularidade que passou a ter, entrou na política, se elegeu vereador de 1982/1988 (prefeito Amazonino Mendes, indicado por Gilberto Mestrinho, a quem apoiava) e faleceu cedo. Hoje é esquecido por todos, principalmente os políticos mais novos que não o conheceram e nem tiveram a oportunidade que tive de conviver com esse ícone do jornalismo do Amazonas, o jornalista das “manchetes porretas”, como ele costumava dizer em suas conversas com o jornalista Gabriel Andrade.  Como jornalista, começou a trabalhar no Jornal do Comércio, contratado pelo jornalista Miranda Braga que lhe ofereceu o primeiro emprego como repórter, quando conviveu com Plínio Ramos Coelho, a partir de 1953, que substituíra Álvaro Maia, no Governo Amazonas depois por 25 anos. Trabalhou como repórter ao lado de Miranda Braga, Júlio César da Costa, Cláudio “Marrecão”, Raimundo Parente, Benedito Azevedo, Isaías Reis Filho, José Cidade, Petrarca Vieira. Também trabalhou com Phillipe Daou, em O Jornal. 

Bianor Garcia foi o criador do Festival Folclórico do Amazonas e trabalhou também no Diário da Tarde.



11 comentários:

  1. É muito bom saber um pouco de pessoas como Bianor Garcia que fez parte da história de nossa cidade.

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  2. Carlos eu me delicio com suas crônicas do cotidiano da época, você tem a incrivel capacidade de contar esses" causos " com uma clareza ímpar.
    Parabéns por lembrar desta pessoa fantástica que foi o Jornalista Bianor Garcia

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  3. Bela crônica!
    Beijos

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  4. Relato interessante! Jornalista Carlos Costa. Um sopro de "diferente". Um dos nossos homenageados da Coleânea Elos Literários volume 3, é o jornalista Samuel Celestino, do Bahia Notícias de Salvador. SEJA BEM VINDO COM SUAS CRÔNICAS.

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  5. Este tipo de texto sai do lugar comum do que temos lido. Gostei, Carlos Costa

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  6. Luiz Castro/deputado27 de maio de 2015 às 05:28

    Ótima crônica, Carlos!

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  7. Francisco Bezerra/empresário27 de maio de 2015 às 13:44

    CARLOS COSTA,
    Lendo sua cronica sobre o Jornalista BIANOR GARCIA, achei bastante interessante, na verdade a memoria das pessoas são muito perquena, somente lembram do que interessa aqui e agora, vc assim com eu já fizemos muito por muitos e pouco ou quase ninguém lembra, isso é a vida. Continui fazendo suas cronica refletivas e atuais.

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  8. Augusto Neto/advogado27 de maio de 2015 às 14:12

    Meu querido amigo. Bom dia!

    Parafraseando o saudoso Bianor, porreta! Causos que não se lê nos livros e nem é sabido por tantos. Quem viveu e conviver, sabe. Ao dares conhecimento por teus muitos escritos, propicias além do conhecer, o agradável sabor de um humor fantástico. Muito obrigado pela oportunidade de tão agradável leitura.

    Fica com DEU e que Ele te conserve.

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  9. Chaagas Alencar/Fortaleza27 de maio de 2015 às 14:27

    Brasileiríssimas...valeu. isso é que saber viver com os problemas, e se livrar do "stress".

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  10. Gostei da história do Bianor Garcia , ele era muito criativo , é bom recordar os amigos que já se foram , muito bom Carlos Costa !

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  11. Kkkkkkkk que criatividade ele tinha.

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