quarta-feira, 1 de julho de 2015
PARA QUANDO EU ME TORNAR SAUDADE...
Quando o véu da noite vier definitivamente cobrir meu rosto, impedindo-me de ver a lua e as estrelas que tanto amo, as admiro pela beleza que possuem e os mistérios que as envolvem, não verei mais, também, famílias em locais públicos sentadas com aparelhos celulares nas mãos, teclando pelas redes sociais sem interagir, dialogar como ocorria no passado e sem viverem a não ser por trás de uma máquina, tela de telefone ou computador, falando o que quer e fazendo o que desejam, muitas vezes mentindo e se passando por uma outra pessoa, com perfil falso. Tudo virou tecnologia, com internet cara e de péssima qualidade e um governo regulamentando para baixo os péssimos serviços oferecidos ao povo. Ah, isso não verei mais!
Quando meus olhos se cerrarem, meu corpo inerte for trasportado e depositado para o início de minha nova morada, peço aos meus amigos verdadeiros que partirem antes de mim e não compareci aos seus sepultamentos que não chorem por e não lamentem minha partida. Vivi o tempo que DEUS quis que vivesse infectado por duas bactérias hospitalares incuráveis, desde 2006 e acho que vivi além do que deveria. Se fui admirado pelo que fiz, respeitado pelo que produzi e julgado pelo que escrevi, podem me aplaudir ou chorar. Meu modo objetivo e sincero, me fez perder amigos que gostava, idolatrava e admirava pelo que eram, mas não me arrependo de ser assim desejam que sejam felizes. Aos que me abandonaram, com ou sem motivo ou explicações, sinto pena, mas não me conheceram completamente. O verdadeiro amigo não precisa justificar ou explicar porque veio ou porque partiu. Isso é perda de tempo, mas todos, por respeito ao que foram no passado, merecemos ao menos uma justificativa para que não sejamos julgados, condenados, executados sem direito de defesa. Mas isso é passado e já passou também e não insistirei. Será página virada!
Sei, mesmo não sendo um gato que dizem ter sete vidas, tive onze chances de melhorar a minha que recebi e se Deus ainda quis não morresse é porque tem um grande propósito esperando por mim ou uma grande tarefa querendo que a execute junto Dele, em algum lugar, em algum momento. Seria somente continuar escrevendo, o que Ele quer? Não sei! Mesmo que seja, jamais conseguirei produzir uma obra tão completa e perfeita, inspirada pelo Espírito Santo, como a que Ele deixou para todos nós: a Bíblia! Depois que me tornar saudade e as lembranças de minha vida terrena se fizerem presentes, estarei no céu em forma de uma estrela, lua, sol, vento, sei lá como, mas tenho certeza que olharei por todos os que ficarem! Meus escritos falarão por mim e contarão toda verdade sobre o que tentei ser, sem ter a certeza se consegui sê-lo. Mas, pelo menos, sei que tentei. Vivi a vida como se fosse em um palco, chorando quando necessário, sorrindo fácil, largo e farto quando foi preciso. Contudo, o sorriso que enfeitava meu rosto até 1996, talvez tenha ficado em alguma sala de cirurgia, UTI, sorrindo para alegrar a dura rotina dos médicos e enfermeiros em seus plantões, massacrantes e mal pagos. Sorri quando me foi permitido, chorei quando era necessário., mas não chorem por mim, meus amigos. Consegui reconstruir a vida com os cacos infectados que me permitiram que recolhesse. Deus me permitiu que os colasse com carinho e contei tudo em crônicas, livros e romances de ficção que escrevi freneticamente em romance de ficção e a biografia que deixarei.
Onze cirurgias depois, 10 dias de coma, 45 sem memória, 15 sem fala, diagnosticado com câncer em metástase no cérebro, passei a ser uma pessoa mais irritada, gesticulando muito quando falo e sem muito controle emocional e meu tom de voz desequilibrado, baixo alto demais, principalmente quando estou chateado. Também me tornei um cronista compulsivo e um crítico chato, mordaz, felino, irônico, mordaz muitas vezes que saio de perto de mim para não ler o que escrevo e não aguentar minha chatice. Mas, por dentro, sou um anjo! Choro e me emociono fácil demais quando relembro o passado e sou transparente e sincero: ou agrado ou desagrado, sem meio termo! Não sei ser fingido porque a vida me ensinou a não sê-lo. Hoje, tento ser verdadeiro em tudo o que faço, porque as coisas do passado ficaram no passado e só o presente me interessam porque não sei se voltarei a viver amanhã.
Dos muitos amigos que pensei que tivesse, sei que deixarei saudades em poucos, que hoje conto-os nos dedos das mãos e ainda me sobram alguns, tão poucos e verdadeiros ficaram depois de 1996. Serei aplaudido por poucos na minha partida. Contudo serão palmas sinceras, choros sentidos, carinhos espontâneos porque os críticos e com sinceridade extrema sempre incomodam e quase nunca são aceitas. Os poucos amigos que me restaram, quero-os bem e os tenho como presentes de Deus, mesmo que não saibam ou não possam ir ao meu último adeus porque também deixei de ir a velórios e enterros de muitos que se irão antes de mim, desde que eliminei de minha vida, velórios e enterros porque sinto como se estivesse sendo sepultado junto com meus amigos verdadeiros. Sei que não fui perfeito e nem serei unanimidade, porque digo sempre o que precisa dito sem me importar se magoarei ou desagradarei alguém. Essa preocupação deixou de me pertencer há muito tempo. Já era assim, antes. Fiquei pior depois de 2006 porque aprendi com as duras lições da vida o valor da verdade, da sinceridade e do amor. Não sei e não consigo ser falso com ninguém. Gostem de mim ou não, sempre direi a verdade!
Da história de vida que me restou, estou juntando os cacos para reescrever uma nova. O que ficou para trás é passado. O futuro a Deus pertence e não sei se estarei vivo amanhã. O que me importa é o daqui para frente. O passado nunca retornará e meu futuro estou tentando reconstruí-lo passo a passo, colando o que ainda é possível ser colado, arrumado e descartando tudo o que não me serve mais. Pode-se até tentar juntar e colar os cacos despedaçados, mas nunca serão tão perfeitos, igual ou parecido ao que já fora antes de quebrar. Meu passado se quebrou e tento fazer um futuro diferente, amando a quem me ama, respeitando a quem me respeita, admirando a quem me admira. Só vivo meu hoje, meu agora e sempre faço planos a curto prazo porque posso esquecer o que prometi algo para alguém porque esqueço mais facilmente do que consigo lembrar e, se lembro, tenho que falar na hora porque corro o risco de esquecer do que lembre, depois. Não projeto nada para meu amanhã porque posso não estar mais vivo ou nem lembrar que tinha projetado alguma coisa para fazer depois. Mas vivo com garra de viver porque tenho família para cuidar.
Ah, a saudade não mata de morte morrida, mas o tempo matou as lembranças do meu passado e nunca mais verei em minhas retinas alquebradas pelo tempo, sem visão periférica, usando óculos bifocal de 7,5 graus no rosto, privando-me das paixões que tive desde os 14 anos: a leitura prazerosa dos livros que comprava da Roader´s Digest e que eram entregues pela ECT! Hoje, infelizmente, só consigo ler com a luz do sol e mesmo assim, de forma lenta, degustando as palavras para entrar no universo do autor e sentir o paladar que ele estava sentindo ao escrever sua obra!
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Você é um guerreiro do bem!
ResponderExcluirBela crônica! Meio tristinha, mas talvez traga uma história de vida, uma realidade. Beijos
ResponderExcluirAmigo, li com carinho, saiba que vc é uma grande alma evoluída, e que trilhou seu caminho com muito amor, e isso é o que importa! Vc tem a fina habilidade de fazer rir, chorar, emocionar! Saiba que o admiro por ser essa pessoa extraordinária e cheia de sabedoria! Grande abraço, amigo e companheiro Carlos Costa! Obrigada!
ResponderExcluirUma palavra : PERFEITO!
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ResponderExcluirPois é Carlos, todos temos percalços. Você venceu obstáculos, mesmo com tais limitações. Os verdadeiros amigos, estes ficam no coração da gente, mesmo na distância. Um dia, estou certo, você será uma estrela cintilando no espaço cósmico, como eu serei. Falar nisso, o que o céu quis escrever com este amontoado de estrelas? Abraço fraterno.
Bravo!! apaixonante...
ResponderExcluirSempre bom te ler amiga Luiza Bessa Lima,abraços, bom dia JR.
ResponderExcluirTenho saudade do que fui ,e começo a sentir saudade ,do meu próximo futuro ...AH SAUDADEc
ResponderExcluirBoa tarde Carlos.
ResponderExcluirO texto abaixo é prova de que a cada correção, poetas editam de forma diferente e melhor:
“Pode-se até tentar juntar e colar os cacos despedaçados, mas nunca serão tão perfeitos, igual ou parecido ao que já fora antes de quebrar. “