Dormi de sexta para sábado em Manaus
ao som do canto triste de periquitos e acordei domingo 5:30 horas da manhã no
município amazonense de Manacapuru, ouvindo o canto feliz de galos. Viajei no sábado pela manhã para a “Princesinha
do Solimões”, hoje também conhecida por terra das Cirandas dos Guerreiros
Mura e Flor Matizada, as mais conhecidas e divulgadas, mas existem outras.
Boneco em papel machê, dos cirandeiros, em tamanho quase natural, nos receberam no
Portal da Cidade. Observei que o Restaurante Rodoviário, que ficava na
saída da cidade, se encontra agora quase no meio dela. Com essa observação empírica,
constatei que o município cresceu muito com a construção da Ponte Rio Negro,
que o interligou a capital. Foi no Rodoviário,
comi pela primeira vez um saboroso
pirarucu recheado com queijo, ouvindo música de pagode em uma área lateral e
aberta. Dessa vez, mesmo com água na boca só em pensar em como era gostoso esse
prato, não deu para entrar, para ver se os donos ainda eram os mesmos e se
ainda serviam o mesmo prato, com a mesma qualidade. Há mais de 16 anos não
retornava ao município.
Estive pela primeira vez aos 17 anos, em excursão com um grupo a de pagodeiros, dentre
eles o Bida e Deje. Com os dois
jogava futebol de salão como goleiro na quadra do SESC, da Rua Henrique
Martins. Estava tudo certo: todos ficariam hospedados no Hotel JK, um dos
únicos na época na cidade, mas trocava de dono e de nome constantemente. Ele ficava
em frente à praça da cidade, com a santa padroeira em concreto bem ao meio dela.
Um pirarucu pequeno se exibia e era uma atração turística. Como nem todos conseguiram vagas os que
ficaram fora, iniciaram um pagode no centro da praça. O MEC – Manacapuru Esporte
Clube, próximo, esvaziou e a praça lotou. O Delegado Cruz, da PM, considerado
linha dura na cidade, apareceu e deu voz de prisão a todos por perturbação ao
sossego público. A sede da Delegacia não
caberia todos os pagodeiros. O Delegado Cruz, pensando melhor para a cidade, ofereceu
de graça uma casa de madeira ao lado do cemitério da cidade. Todos os que
estavam hospedados, fecharam suas contas e retornaram para o ônibus. A casa era
velha, quente, abafada e muitos foram dormir sobre tumbas dentro do Cemitério.
O samba continuou dentro do cemitério. Denunciados de novo, não apareceu
ninguém. Um clube próximo, em uma
esquina, com música ao vivo, esvaziou e todos foram ver o que estava
acontecendo dentro do cemitério. De manhã cedo, todos deixaram a cidade e
retornaram para Manaus.
Mais tarde, aos 20 anos, como jornalista,
retornei e a “Casa da Cultura”,
abriu as postas para o lançamento do primeiro e único livro de poesias (DES)Construção.
Também seria o primeiro lançamento que faria fora de Manaus. Na cidade que
sempre me acolheu tão bem, contei com a
ajuda e o apoio de um jovem como eu, Pedro Palmeiras, envolvido em movimentos
católicos e culturais na cidade. Compareceu ao lançamento e mobilizou
estudantes. Depois, perdi o contato com “Pedrinho”, como era conhecido.
Mas sempre que voltava ao Município,
procurava ter notícias: depois de se tornar o vereador mais jovem do Brasil aos
19 anos, abandonou a política, abriu posto de gasolina, montou uma emissora de rádio
e perdi o contato com ele. Mas quando o conheci, “Pedrinho”, me recebeu ajudando seu pai em uma venda que tinha em um
flutuante em frente da cidade. Hoje
virou só história para os mais jovens e lembranças para mim.
Acompanhados sempre pelo primo da
Josiane, Inácio Farias, conhecemos a Pousada e Balneário “Cirandeira Bela Amazon Cabins”, localizado
no KM 10 da Estrada para o município de Novo Ayrão, onde voltei a ver motoqueiros
desafiando a morte, sem usar capacetes, ao contrário da senhora que vimos
estendida no asfalto na chegada à cidade. No domingo pela manhã, sempre na agradável companhia de
Inácio Farias, estivemos no “Paraíso D’angelo localizado no Rio Miriti, que secou mais de
dois metros além do normal, como disse seu dono que é amigo do primo de Joseane.
Rever a tia Terezinha, sua filha neta Lycila Amaral, saber um pouco mais a
origem de meu avô, José Raimundo Torres nascido em uma pequena cidade da
Paraíba e falecido no dia 15/05/1977. Ao
contrário do meu avô que dizia que a cidade dele continuava sempre igual em
tudo, Joseane Farias, tem orgulho de dizer que é nascida no município de Monteiro,
que o cantor e compositor Flávio José foi criado como se fosse seu irmão. Tudo
isso foi ótimo! Também fiz um passeio no tempo e relembrei um passado que pensei que tivessem sido apagadas pelo
tempo ou da memória!
Contudo, o nome “Estrada AM-010 – Henock da Silva Reis” seria
uma homenagem justa para quem foi prefeito de Manacapuru, Ministro do Tribunal
Federal de Recursos e governador do Amazonas. Contudo, como escreveu o escritor Rogel
Samuel, no livro “Teatro Amazonas”, o Estado não reconhece os
valores do passado e homenageia políticos do presente. “Ao sair do Templo” discurso de colação
de grau da Faculdade de Direito e “Temas
de Direito Constitucional e Social”, do concurso para ingressar como
professor de Direito Constitucional da Faculdade de Direito do Amazonas, são
algumas das tantas obras deixadas pela pessoa que abriu a Estrada de Manacapuru
e a interligou à Manaus.