
OPINIÕES
SOBRE A OBRA

O VOO DE MENINO
Carlos Costa,
possivelmente, pensou em fazer um recorte na sua história de vida e
apresentá-lo a todos nós, na forma de livro, como um bem de dimensão coletiva.
Assim é esse enredo Ao tomar conhecimento do texto “De jornaleiro a jornalista
– uma história de vida”, mergulhei numa viagem de lembranças, de reencontro e
também de descobertas. Os anos vivenciados juntos, na redação de jornal, não me
permitiram desvendar outras facetas de Carlos, o que o faço hoje por meio dessa
memória. Um danadinho ele!
É delicioso
ri sem hora marcada, como ocorreu em várias passagens desta obra, quando me
descobri rindo livremente. Em outras cenas recontadas pelo autor, eu estava lá,
era testemunha. Então, o passado chega e se coloca bem diante de nós, é presente
e, quase como mágica, nos faz desenhar falas, trejeitos, ambientes de dez, 15,
20 anos atrás... Como não se emocionar com esse menino que morreu e foi
ressuscitado? Resgatado das águas para viver plenamente na terra, Carlos Costa
não tem mesmo com desvencilhar-se da sua porção amazônica, é parte da lenda
porque é filho de Paulo e Josefa e estes tinham na terra e na água a razão da
vida.
Carlos
driblou as adversidades, brincou diante dos obstáculos e enxotou os nãos da
vida porque decidiu construir um lugar largo ao sim, ao seguir em frente. Ao espalhar
entre nós retalhos da sua existência concretiza um outro ato: pluralizar a experiência
de viver. É só conferir na história de um jornaleiro que virou jornalista. São
tantas outras vidas em torno da vida dele. A história de Carlos Costa é também
a nossa história, de um lugar, de uma região, de um tempo que o vento não conseguiu
varrer e, agora, com esta publicação, está eternizada. Como novelo de linha, a
primeira parte foi desenrolada, transformada em trilha de múltiplas
descobertas.
(IVÂNIA VIEIRA,
Jornalista, ex-companheira de A NOTÍCIA,
mestra em
Comunicação Social , professora do Departamento de Comunicação
Social da Universidade Federal do Amazonas e escritora).
Amigo
CARLOS,
Me deliciei
durante o fim-de-semana, com leitura do teu mais novo trabalho. Vibrei com as
lembranças da nossa infância e adolescência e com os teus embates, tão
parecidos com os meus, para vencer as dificuldades que nos foram impostas pela
vida.
O texto é
prazeroso e mostra que a tua memória prodigiosa continua intacta e que a tua
verve de cronista da ironia, da sátira e do quotidiano realista continuam
impecáveis.
Não me atrevo
a indicar ajustes, não cabe a ninguém aperfeiçoar os gênios. Amigo,
folgo muito em constatar que nem a tal "empiema" conseguiu te
derrubar, aliás, nem conseguiria, pois já és acometido de uma
"enfermidade" para a vida toda: a CRÔNICA.
Do amigo de
sempre,
(LUIZ ERON
CASTRO RIBEIRO,
Bacharel em
Direito e amigo de infância).
CARLOS, Meu Amigo...
...sua
historia é fantástica, lutas vitórias conquistas construção de vida
apenas as pessoas especiais como você.
(MARILIA NUNES,
Diretora do SEST/SENAT de Boa Vista).
Companheiro CARLOS COSTA,
A mensagem
constante neste livro é um retrato de parte da sua vida. Talvez, as mais
importantes que já viveste. Alias, vivemos muitos momentos desafiantes na nossa
convivência ao longo dos tempos. Contribuímos para elevar o nome do Norte
brasileiro ao contexto nacional; particularmente, o nosso querido AMAZONAS.
Futuras gerações irão saber o quanto os ajudamos a melhorar suas condições de
vida.
Você é e
sempre será o companheiro e amigo de grandes jornadas. Pretendo em algum
momento no limiar do tempo, escrever algo parecido, em que você, Aristides
França e Clésio Andrade e tantos outros farão parte deste enredo.
CARLOS, o seu
e o meu trabalho feitos através das instituições que já presidimos e que ainda
presido; somente temos praticado boas ações para nossos semelhantes. Já lhe
confessei um dos grandes sonhos que nutro. Observo que ainda é necessário fazer
muitas coisas boas para os menos favorecidos pela sorte. Tenho enormes idéias
para pôr em pratica, mas necessito encontrar meios e mecanismos próprios para
que elas se tornem realidades. Quem sabe DEUS, que sabemos A ELE
TODAS AS COISAS SÃO POSSÍVEIS, possa me possibilitar esta oportunidade; embora,
isto não seja objeto de obsessão de vida e, sim, projeto em estado de gestação.
CARLOS, sua
obsessão; e, sim, de vida causa inveja a qualquer ser humano. Sua luta é
importante para seus verdadeiros amigos e companheiros. A sua trajetória de
vida existe uma enorme semelhança com a minha. Somos interioranos de poucos recursos.
Ao citar interiorano faço referência ao fato de ter nascido no seringal e não
na sede de município. Minha força é proveniente dos meus pais, pobres de posses
mais ricos de dignidade e ética. Finalmente, seu livro é a expressão maior dos
seus sentimentos. Agradeço a dedicação de um texto feito a minha pessoa. Sabes
que sou uma pessoa de poucos amigos; mas, os poucos que tenho, procuro
preservá-los. DEUS, nosso pai criador e protetor há de lhe permitir sua total
recuperação no campo da saúde. Espero contar com sua excelente colaboração nas
atividades que ainda pretendo executar. Abraço amigo e companheiro.
(FRANCISCO
BEZERRA,
Presidente
da FETRANORTE, presidente dos Conselhos Regionais do SEST e do SENAT, empresário
e amigo).
Amigo Carlos,
Dei uma
lida no seu livro e desfrutei momentos de deleite e recordações muito
queridas. É que sou ex-morador do Bairro da Cachoeirinha e joguei pelada no
Igarapé do 40, onde tomei muito banho como também no Igarapé do Crespo. Era fã
e simpatizante do Bumbá Corre-Campo e torcedor do Santos, campeão de 58.
Li algumas referências de amigos comuns e tomei conhecimento de alguns fatos
interessantes que, para mim, foram novidades.
Com a sua
obra, fiz desfilar na passarela das minhas recordações de
juventude acontecimentos gratificantes.
Para quem é
amazonense de Manaus e que aqui passou infância e juventude,
é reconfortadora a leitura do livro do eminente escritor e jornalista Carlos
Costa, com quem tive o privilégio de conviver na época em que fui Promotor do
Júri no Estado do Amazonas. Tive a feliz oportunidade de rememorar fatos e
pessoas relevantes do cotidiano manauara, correspondente a uma época não muito
distante e bastante significativa em nossas vidas. Para mim, valeu muito! Muito
Obrigado Carlos Costa.
(LUPERCINO DE SÁ NOGUEIRA FILHO,
Promotor de Justiça no Tribunal do Júri
em Manaus e atualmente desembargador no Estado de Roraima).
Emocionante!
Sua finalização me comoveu profundamente e a associação com os sonhos,
mencionados no início, foi inteligente, oportuna, pertinente e gratamente reveladora, como um dar sentido, afinal, ao que às
vezes nem percebemos, quanto mais, compreendemos.
Parabéns, Carlos, por mais essa realização, que
somente motiva a todos os que te querem tão bem a exercer com coragem sua
missão na vida.
(SIMONE FRANCO SALAME,
Psicologia Organizacional,
CRP 314 - 10º Região Belém – PA).
Bons
tempos aquele...
...quando os
homens eram avaliados pelos resultados que geravam e não pela imagem que
hoje criam para parecer ser ou que vendem aos que também tem interesses em
fazer uso.
Nossas
motivações eram os apertos de mão e cumprimentos pelo resultado gerado, mesmo
que para tal fosse necessário assumir riscos que outros jamais pensariam ter
que assumir.
Nosso amigo
comum Flávio foi um herói por enfrentar a BR-174 naquelas condições (sem
nenhuma base ou sub-base). Outros tantos também o fizeram, como o Zé Roberto da
Santa Fé -Transportadora de minério, que também comeu o pão que o
diabo amassou, suportou a crise do período do barro e quebrou, sendo
substituído por outros que só vieram pegar a fase do asfalto.
Nosso amigo
Lourival, um grande pai/amigo de todos, sempre pronto a ajudar e orientar, mas
firme na hora das cobranças... que tinha deficiência auditiva, sobre a qual
muitas vezes eu o sacaneava, na brincadeira é claro, sentado a sua frente e movimentando
os lábios sem emitir som, forçando-o a ajustar seu aparelho e perguntar, várias
vezes, o que dissera. Criou muito bem sua prole, pois segue adiante no rumo
traçado pelo chefe e líder da família, agora comandada pela Rosa, sua fiel companheira.
Muitas e
muitas outras histórias e estórias que nos confortam por tê-las vivido ou
dividido...
Poucos são os
antigos parceiros com quem ainda mantenho contato, mas sempre será um prazer enorme
revê-lo e relembrar aquela época rica em fatos, embora pesada nas
dificuldades de execução.
Forte abraço,
Sempre a sua
disposição. Parabéns pela peça histórica que é seu livro.
(WALTAIR
PRATA CARVALHO,
Geólogo, ex-diretor da Mina do Projeto Pitinga, atual
diretor da Jayoro, em
Presidente Figueiredo ).
PALAVRA
DO AUTOR
Tenho
muito a agradecer e nada a pedir pela publicação da minha biografia DE
JORNALEIRO A JORNALISTA (uma história de vida). “Morri” várias vezes; “morri”
quando cai no Rio Solimões; quando tive convulsões e quando fui submetido a
sete cirurgias para drenar um empiema cerebral. Essa doença até hoje intriga
meus médicos e está sem uma causa de origem. Mas existem muitas suposições..
Diante
disso, acho que DEUS tem um propósito muito grande para mim; mas ainda não sei
qual é. Permitiu-me concluir dois cursos superiores e duas pós-graduações, em Comunicação Social
e em Serviço Social.
Mas não permitiu que continuasse trabalhando a partir dos
meus 45 anos de vida, no auge da carreira quando entrei para ministrar aulas no
curso de Serviço Social, na Faculdade Nilton Lins.
Agradeço,
portanto, a todos os amigos que ficaram ao meu lado por todos esses anos,
especialmente ao empresário FRANCISCO SALDANHA BEZERRA que, após o livro
concluído, colocou-o debaixo do braço e buscou uma forma editá-lo; ao Flávio Willer Cândido, o qual
conheci como motorista de ônibus da empresa Marlin, ocasião em que trabalhava
na empresa Mineração Taboca S/A e hoje é um advogado; ao meu dileto amigo
cirurgião geral Élio Ferreira da Silva, sempre ajudando com seus conselhos
quanto aos aspectos.
Há
um empresário que não citei no livro, mas da mesma forma merece meu
agradecimento: Aron Hakimi, ex-presidente da Associação dos Importadores da
Zona Franca de Manaus, com quem também trabalhei e até hoje mantendo contatos.
Agradeço
ao empresário Belmiro Vianez, pelas gostosas gargalhadas que me fez dar,
contando-me piadas da “terrinha” e ao seu filho, Belmiro Vianez Filho, pela sua
presteza na hora das necessidades. Especialmente ao ex-deputado federal Carlos
Souza, hoje vice-prefeito de Manaus e a todos os amigos próximos ou distantes,
citados ou não citados neste livro; a todos os que fizeram parte da minha vida,
de alguma forma, MUITO OBRIGADO!
Agradeço
aos meus pais biológicos, Josefa Bezerra da Costa e Paulo Torres da Costa que,
por um ato de amor e dádiva de DEUS me deixaram vir ao mundo, aos “meus pais”
por adoção, Theomário e Dulce Pinto da Costa, pelo muito que me ensinaram.
Se
esqueci algum amigo, seja no livro quer seja nos agradecimentos, que me
perdoem.
Dedico
esta obra a minha esposa YARA QUEIROZ, um misto de mulher guerreira e sensível,
que sempre se guiou pela dignidade, qualidade herdada de seu pai, Francisco
Guedes de Queiroz, deputado estadual por 26 anos ininterruptos, homem íntegro e
honesto que viveu e morreu pobre; à ISABELLA QUEIROZ e ao CARLOS COSTA FILHO,
que sempre estiveram ao meu lado, nas horas boas ou difíceis da minha vida.
Carlos
Costa, jornalista, assistente social e escritor.
FICHA TÉCNICA
Editora: Imprensa Oficial do Estado do Amazonas
Coordenação e Produção Gráfica: Mário Jorge Corrêa
1ª Revisão: Francisca dos Santos Matos, graduada em Letras Americana
com pós-graduação em Língua e Literatura Espanhola e Docência Superior e Didática
2ª Revisão: Nicácio da Silva, escritor
3ª Revisão: Wilton Cunha, professor do Departamento de Letras da
UFAM – Universidade Federal do Amazonas
Revisão final: José Enos Rodrigues, mestre em lingüística aplicada
ao Ensino de Línguas/e professor do Departamento de Língua e Literatura
Portuguesa – ICHL – UFAM e Coordenador do Curso de Letras

DE
JORNALEIRO A JORNALISTA (uma história de vida)
Carlos
Costa
Manaus, 2009

MANAUS, 1969
Manaus
era uma cidade provinciana, quando foi implantado modelo de desenvolvimento
Zona Franca de Manaus moldado no tripé Indústria, Comércio e Pecuária. A cidade
era muito pequena e não tinha mais do
que 300 mil habitantes. Terminava na Avenida Boulevard Álvaro Maia. Depois,
onde hoje fica uma Usina de Energia Elétrica, no início do que é hoje a Avenida
Djalma Batista, tinha o “Seringal
Mirim”, assim chamado em razão das inúmeras seringueiras nativas que lá
existiam.
A
estrada João Coelho, depois estrada de Flores e hoje Avenida Constantino Nery,
era a maior rua em
extensão. Não havia a Avenida Djalma Batista, nem o Amazonas
Shopping Center. Existia uma grande e bela área de balneários, o mesmo
ocorrendo com a Estrada do Contorno, projetada pelo prefeito Paulo Pinto Nery.
A
área onde hoje está localizada a Avenida Efigênio Salles exibia balneários
naturais, resultado da passagem do Igarapé do Mindu por toda a sua extensão.
Não havia piscinas; no máximo, algumas águas represadas para as pessoas tomarem
seus banhos. Havia o “Balneário do Parque 10 de Novembro”, o “Guanabara Clube
de Campo” (o único que resiste até hoje), o “Tucunaré Clube de Campo”, o
“London Clube de Campo”, o "Jacundá Clube de Campo”. Os outros todos
ficaram poluídos
A
Zona Franca estava começando. O projeto de sua criação, aprovado 10 anos antes
pelo deputado federal Francisco Pereira da Silva, dava os primeiros passos em
direção ao que é hoje o polo Industrial de Manaus (PIM). A sede da Suframa –
Superintendência da Zona Franca de Manaus - tinha lugar onde hoje funciona hoje
a sede do Sebrae.
Circulavam
poucos ônibus em
Manaus. Funcionavam a “Ana Cássia”, “Viação Demétria”, agregada
à “Ana Cássia”, “Viação Bons Amigos”, “Viação Nosso Transporte” e “Viação
Monte Ararate”, com regularidade. Também havia umas kombis, chamadas de
expressinhos, que atendiam nas áreas dos bairros de São Raimundo, Glória e
proximidades.
A
cidade era entrecortada de igarapés e o maior movimento era feito pelas
catraias: do Morro da Liberdade para o bairro da Cachoeirinha; do Educandos
para o centro da cidade; da Aparecida para o São Raimundo etc. Os remadores tinham que ter braços firmes
para transportar as pessoas. Quase não existia ponte ligando essas áreas.
O
empresário colombiano Alonzo Puertas Baptista decidiu abrir o primeiro bar gay
de Manaus, na Estrada de Flores, de nome “Patrícia Bar”. Causou um escândalo na
cidade. Mais escândalo ele promoveu quando anunciou pela imprensa que iria escolher
a Primeira Rainha Gay de Manaus. Durante o baile, a mesma sociedade que o
criticou no início, estava presente para prestigiar seu carnaval.
O Km
0 de Manaus ficava ao final da Avenida João Coelho, onde funciona hoje um
quartel do Corpo de Bombeiros, antes da Estrada dos Franceses, que também não
existia.
Surgiu,
mais tarde, o bordel Saramandaia, na Avenida Torquato Tapajós, continuação da
Avenida Constantino Nery.
Cheguei
a Manaus nesse ano, embora tivesse nascido em 1960, no bairro do Morro da
Liberdade, em Manaus, e ido morar na
comunidade do “Varre-Vento”, um distrito do município de Itacoatiara.
Vim
em busca de estudos. Comecei a estudar aos sete anos, na escola improvisada na
casa de minha tia Terezinha da Costa Amaral, onde aprendi o básico. Já
sabia ler, escrever e fazer pequenas operações matemáticas. Como quase
toda criança tinha sempre uma madrinha que residia em Manaus, vim em busca
dela, sozinho.
Minha
mãe, Josefa Bezerra da Costa, costurou para mim uma bermuda de tergal marrom
com dois bolsos na parte de trás. Meu pai, Paulo Torres da Costa, construiu
para eu transportar minhas poucas coisas, uma maleta em madeira, com uma chave:
- É
para você não ser roubado dentro do motor, enquanto estiver dormindo!
Também
minha mãe teve o cuidado de me fazer aprender a comer com garfo e faca:
- É
para você não passar vergonha dentro da embarcação.
Desembarquei
no Cais do Porto com o endereço de minha madrinha Natércia, anotado no bolso da bermuda da pessoa cuja
casa me serviria de abrigo. Mas, antes, fiquei olhando para as calotas dos carros.
Eu me via nelas de uma forma meio esquisita, dependendo da distância que eu olhava.
Decidido,
entreguei o endereço ao motorista do táxi e ele me disse que conhecia o local.
Assim,
cheguei à casa da minha madrinha, decidido a estudar. Matriculei-me no Grupo Escolar
Adalberto Valle, onde tive minha primeira paixão platônica por Claudine, filha
de um Oficial de Justiça. Eu a julgava muito linda. Mas ela nunca soube disso.
Eu era muito tímido para revelar-me. Ao concluir as quatro primeiras séries,
fui transferido para o Colégio Dorval Porto.
Durante
meus estudos no Colégio Dorval Porto, convivi com algumas pessoas que marcaram
a minha vida. Uma delas foi uma professora de biologia, Letícia Barbosa de
Moraes, colecionadora dos livros “Grandes Romances Históricos”, com vários
autores e títulos: “Nossa Senhora de Paris”, “Ivan, o Terrível”, “Corcunda de
Notre Dame”, “Madame Bovoari”, “Salambô” “Os Miseráveis”, “Nossa Senhora de
Paris” e muitos outros romances clássicos. Também convivi com os professores e
professoras.
Do
outro lado da rua, quase em frente ao Grupo Escolar “Adalberto Vale” existia o
“Batuque da Mãe Zulmira”. Nós olhávamos pelas frestas das paredes para saber o
que acontecia lá dentro. Não tinha nada demais. Era só o barulho dos
atabaques e umas pessoas “pegando santo”. Os ônibus tinham no local a sua
estação. Comecei a publicar os meus primeiros poemas infantis, quase
sempre sem muito sentido, no jornal mural “Pirilampo”, uma publicação interna
do Grupo Escolar onde comecei e conclui meu curso primário.
Corria,
no Morro da Liberdade, em pistas sem asfaltos e cheias de pedras, puxando
“carros” feitos com latas de leite e também imaginando serem carros os aros de
bicicleta e pneus velhos de carros que, para controlá-los, dobrava um arame ao
ponto de fazer um apoio lateral e os empurrava, com meu amigo de infância João
da Silva Couto, que sempre me acompanhava nessas brincadeiras. Às vezes,
amarrávamos até quatro latas vazias de leite e dizíamos que era um “carro
compactador”.
A
casa de minha madrinha era ótima, mas tinha um problema: eram muitos filhos, o
Doca, Chaguinha, Manoel e mais uns seis. Sabia que ela não teria como me
sustentar; pois, meu padrinho, Francisco Januário Calado, era apenas
tratorista no Departamento Estadual de Estradas e Rodagens, que fazia
diretamente todas as obras do Governo da época. Decidi, então, adquirir
uma caixa de picolé e ir vendê-los. No início vendia poucos, depois fui aumentando,
aumentando até o peso que eu suportasse carregar. Vendia-os fora do horário dos
meus estudos, até começar a anoitecer.
Foi
uma vida feliz, recheada de muitos acontecimentos. Não havia violência, mas
havia as “racinhas”, que eram grupos de colegiais que brigavam no meio da rua,
uma escola contra a outra. Não havia o uso de armas, só os dois chefes das
“racinhas”, escolhidos entre os mais fortes e determinados. Os outros, ficavam
só em volta, olhando. Terminada a “batalha”, cada grupo saía para o seu lado. A
luta terminava ali. Como as “racinhas” eram entre colégios, havia algumas que
ficaram famosas em suas lutas: as do Colégio Pedro II, o ‘Estadual’, contra a
Escola Técnica, por exemplo.
No
bairro do Morro da Liberdade, como não havia água encanada, só no da
Cachoeirinha, tínhamos que atravessar de catraia para ir buscá-la. Um depósito,
tipo galpão para beneficiamento de açúcar, com várias torneiras vindas de um
poço artesiano (coisa que quase não existia naquele ano de 69), e de lá, todos
os finais de tarde, eu e alguns filhos da minha madrinha, apanhávamos água para
beber, mas tínhamos que caminhar um
pouco dentro do mato até chegar ao local para pega-la.
Estudando
pela manhã e vendendo picolé à tarde, fui levando minha vida e ganhando meu
dinheiro. Durante meus estudos no Colégio Dorval Porto, aos 11 anos de idade,
decidi vender jornal. Acordava todos os dias às 4h da manhã, tomava um copo de
Nescau com pão e ovo, pegava o primeiro ônibus às 04h30min, ainda com muito
frio, devido à grande umidade, e ia para o trabalho. No colégio Dorval Porto, fiz amizade com a professora de
inglês Alice Fabrício da Silva, que me incentivou muito a publicar meu primeiro
e único livro de poesias, (Des)Construção..., em 1978, reeditado 20 anos depois
pelo projeto “Valores da Terra”, desenvolvido na gestão da Secretária Municipal
de Cultura, Lívia Mendes.
Já
adolescente, frequentei muitos cinemas de Manaus. Começava sempre pelo Cine
Guarany, às 12h, na primeira sessão e só chegava em casa à noite, depois de ter
passado pelos cines Polytheama, Vitória, Éden, Odeon, Avenida, Palace e
Ipiranga, na sessão das 20h.
Sempre,
eu e meus amigos da Escola primária, freqüentávamos os cinemas; havia a ilusão de classificar a
virgindade de uma moça pelo uso das calças: se tivesse as pernas muito afastadas
uma da outra, devido o quadril largo,
dizíamos que ela não era mais virgem; se ela usasse calça de lycra colada ao
corpo, mas não tivesse o afastamento, “essa era a virgem”.
Gostávamos
de assistir aos filmes que, em média,
demoravam 30 dias em exibição: “Tarzan”, “Mil Máscaras” “Mini Maciste”,
“Sabata”, “Django” e outros. De todos, o que mais apreciávamos mesmo era de
“Tarzan”. Costumávamos brincar: “eu queria ser forte que nem o Tarzam”.
Todos os cinemas, Guarany, Polyteama, Vitória, Edem, Odeon, Pálace, Avenida e
outros que não lembro os nomes, pertenciam a família de Adriano Bernardino.
De
tanto assistir ao filme “Tarzan contra as Amazonas”, tínhamos decorado as cenas
e as falas. Certa vez o cinema, estando cheio de pessoas para assistir o mesmo
filme de “Tarzan”, em uma cena em que ele corria por uma ponte de corda fugindo
das índias e parava, olhando para trás, gritávamos em coro: “Tarzan!”. Quando
ele olhava, como se estivesse olhando para a platéia, todos riam ao mesmo
tempo.
Na
televisão, gostava de ver filmes, como os de “Daniel Boone”, com Fess Parker,
seu companheiro índio Mingo, sua esposa Rebeca e seus dois filhos. Também
assistíamos aos filmes de “Zorro”, em capítulos. Ao final do capítulo, anunciavam: “O
que vai acontecer amanhã ao Zorro! Não percam o próximo capítulo, neste mesmo
horário, neste mesmo canal!”. Ficávamos grudados no horário para não perder um
só capítulo. Havia, também, os filmes de Batmam, Rintintim e Zorro, em
capítulos e muitos outros.
Durante
meus estudos na nova escola, nutri uma outra paixão platônica pela aluna da
minha sala, Maria Farias de Souza, mas
ela nunca soube disso porque eu só vivia “agarrando” outras alunas. Escrevia o nome dela na porta
dos banheiros, nas carteiras escolares ou em qualquer outro lugar que julgasse
conveniente. Com a Claudine, não cheguei a esse ponto.
Foi
quando surgiram umas garotas no colégio, que eu as chamava de “Turma da
Gatolândia”. Muitos fatos interessantes aconteceram com elas. Todas procuravam
a nossa turma porque queriam fazer apenas sexo. Numa oportunidade, o colega de
sala Luiz Eron Castro Ribeiro pegou uma delas, a levou para os fundos da escola
e começou a fazer sexo com a menina, em pé. O nosso professor de Matemática, Manoel
Veríssimo, entrou com o seu carro no estacionamento que havia aos fundos da
escola e viu o Eron com a menina, mas nada comentou.
A rua
onde fica o colégio era escura demais. Ao lado do prédio havia um matagal, entrecortado
por caminhos que só nós conhecíamos. Ao final das trilhas, colchões que
usávamos para praticar sexo com mais conforto. Nenhum dos nossos amigos tinha dinheiro
e nem tempo para ir ao motel porque esses fatos aconteciam no horário do
nosso recreio, quando podíamos deixar a escola.
Eu e
meu irmão Roberto estávamos a fim de uma moça que trabalhou em nossa
residência, Ernestina. Ela dormia em uma rede em frente ao quarto do pai. Um
dia, combinei que passaria parte da noite na rede dela. Ela tirou toda roupa e
me esperou nua. Na hora em que cheguei e a acordei, no escuro, ela perguntou:
-
Quem está aí, é o Roberto ou o Carlos? Respondi que era eu e entrei. O punho da
rede não agüentou, quebrou e caímos no chão. Meu pai levantou, acendeu a luz e
foi ver o que tinha acontecido. Como eu dormia em rede, mas do outro lado da
casa, foi até mim e avisou:
-
Ainda bem que fui eu quem acordou. Se fosse tua mãe, ias apanhar dela.
Eu estava fingindo que estava dormindo,
coberto com o lençol da cabeça aos pés.
Um
outro professor nosso da escola, que ministrava aulas de música, Werner
Petrollius, costumava freqüentar um bar cheio de quartos que existia próximo de
nossa escola. Em toda prova, ganhávamos
nota 10, na maioria das vezes, mesmo quando escrevíamos bobagens. Um dia,
fiquei curioso com isso. Fui até o bar que o professor freqüentava e vi quando
ele entregou as provas para uma das mulheres que trabalhavam no local
corrigi-las. Ela as jogou para cima e as pegou no ar. Estas foram corrigidas,
com todo rigor, pelo professor. As outras mereceram notas dez.
Depois
de concluir a 8ª série no Dorval Porto, matriculei-me no Gymnásio Amazonense
Pedro II. Já não vendia mais jornal. Mas passei a lavar carros, engraxar
sapatos, vender bolachas recheadas em motores e vender cascalho em tambor,
batendo um triângulo para chamar a freguesia.
Ao
concluir apenas o primeiro ano do segundo grau, a “pedido” da orientadora
educacional Terezinha Mangabeira, passei a estudar no Instituto de Educação do
Amazonas (IEA), onde conclui meu curso de magistério para dar aulas de 1ª a 4ª
séries.
Escrevi
“a pedido” da orientadora, mas as coisas não aconteceram bem assim. O certo era
eu escrever assim: com medo de ser expulso do colégio antes de concluir o meu
primeiro ano do segundo grau, me transferi para o IEA. Não é que eu fosse
danado ou bagunceiro; eu era muito contestador, numa época que ainda existia o
Decreto Nº 288, do Regime Militar. Esse Decreto autorizava a expulsão
de qualquer aluno que contestasse professores, criasse problemas em sala
de aula ou fosse subversivo, fato que impediria o aluno de ser matriculado em
outra escola.
No
IEA, não foi muito diferente. O diretor Rozendo Neto, dizendo que eu era um
subversivo, só porque usava cabelo grande e barba no rosto, queria sempre me
expulsar. Acho que fui o único aluno que conseguiu estudar em todas as salas do
segundo andar do colégio, sem ser expulso, graças à intervenção sempre providencial
do nosso psicólogo e orientador educacional, professor Glaucimar.
A
INFÂNCIA
Nasci
no bairro do Morro da Liberdade, mas fui criado até os nove anos, no interior
do Estado do Amazonas, na localidade de Varre-Vento, no Distrito de
Itacoatiara. Meu nome de batismo é CARLOS (Alberto Bezerra da) COSTA
Tive
uma infância feliz e uma adolescência cheia de muita alegria, em uma família
pobre de nove irmãos. Sou o quarto filho. Meu pai, Paulo homem rude, trabalhava
do nascer ao-pôr-do-sol. Juntamente com minha mãe, Josefa, eram agricultores e
batismo é: Carlos Alberto Bezerra da Costa, amavam a terra como parte da vida deles. Eram
analfabetos funcionais. Meu pai e minha mãe lutaram muito para garantir minha sobrevivência,, meus estudos, enfim possibilitar que eu chegasse aonde me encontro
hoje.
Quanto
aos meus irmãos, a que me proporciona mais recordações é Ivete, que morreu
quando eu era criança. Ela foi sepultada no quintal da nossa casa pelo meu pai,
que também fez o caixão e cavou a sepultura.
Tive
três sonhos com minha irmã. Não eram sonhos de Ícaro, personagem da
mitologia grega, que criou asas e rumou com destino ao sol.
No
primeiro, ela aparecia dizendo que nosso pai tinha cavado uma sepultura em cima
de um olho d´água.
No
segundo, voltou a reclamar de novo e pedir que meu pai a retirasse de lá e a
colocasse em outro lugar.
No
terceiro, ela deixou o caixão e um punhado de terra molhados em cima de uma
geladeira velha, a gás, que havíamos comprado.
Nunca
contei esses sonhos para o meu pai. Hoje, o lugar da sepultura dela não existe
mais. Foi levada por sucessivas quedas de terra.
Quando
criança, sonhava que criava asas e saía voando por sobre desfiladeiros e
penhascos. Ao começar a cair, alguém me segurava e me puxava para cima. Nunca
entendi direito o significado desse sonho, mas sabia que ele significava
algo.
Cheguei
a ser tido como morto por três vezes. Na primeira, caí no rio Solimões, me
tiveram como morto e prepararam meu enterro, mas voltei à vida, já dentro do
caixão. Indaguei o que estava acontecendo; a segunda foi devido a uma febre
muito alta e eu tive convulsões e também declararam minha morte, mas voltei à vida; a terceira
foi conseqüência de um suposto rato que teria mordido minha cabeça dentro
de uma rede. Minha avó estava certa quando dizia:
-
Esse menino vai viver muito, ainda, teria dito minha avó, Lucila Torres da
Costa, com o que concordou minha tia, Terezinha da Costa Amaral, mãe e irmã do
meu pai.
Ao me
indagarem o que eu tinha ido fazer no fundo do rio Solimões, respondi:
- Fui
amarrar os bodes do meu pai. Só havia uma questão: não havia criação de bodes
na fazenda. Havia algumas cabeças de gado que nos sustentavam com o leite
diário. Então, como eu poderia ter respondido tão rápido que tinha “ido amarrar
os bodes do meu pai”?
Depois
desses três episódios, fiquei tomando um remédio chamado de “jalapa drageada”
ou “pílula da vida” até os meus sete anos. Depois, parei.
A
concretização dos meus sonhos de Ícaro ocorreu mais tarde, em dois momentos
distintos: o primeiro, quando passei a viver na família de Theomário Pinto da Costa
e Dulce Fernandes Neves Pinto da Costa.
Depois,
quando passei a trabalhar por 23 anos ininterruptos com o administrador de
empresas e empresário Francisco Saldanha Bezerra. As famílias Costa
e Bezerra, pela ordem, concretizaram meus sonhos. A primeira, dando-me
uma direção firme e determinada. A segunda, concretizando os meus sonhos
de realização profissional e de consumo.
A
primeira família ensinou-me a ter gosto pelos estudos; o empresário ajudou-me a
concretizar meus sonhos materiais.

AMIGOS, NAMORADAS E PAIXÕES QUE DEIXEI PELO CAMINHO
No
Grupo Escolar Adalberto Valle, estudei com João Couto da Silva, Bosco Saraiva,
“Nego Achimo”, William e Williana, dois irmãos, Claudine, Eduardo Silva, radialista
da Rádio Difusora, e outros tantos que não lembro mais. Como dito, Claudine foi
minha primeira grande paixão platônica em sala de aula. Paixão de adolescente.
Roque
de Almeida Lima, atualmente engenheiro e professor, estudou comigo na 4ª série.
Com ele, ganhei meu primeiro concurso promovido pela Polícia Rodoviária
Federal, sobre o tema “Trânsito”. Ele desenhou e pintou um assunto relacionado
ao tema. A Escola ganhou um prêmio, e nós ganhamos uma vitrolinha. Ficamos
muito orgulhosos do nosso feito.
O
Roque desenhava e pintava muito bem na sua adolescência. Tinha só mãe e morava
em uma casa de madeira, no bairro do Morro da Liberdade. Não tinha nem dinheiro
para comprar fardas. Ia para a Escola só de sandálias, isso quando conseguia comprar
uma. Se não conseguisse, comprávamos para ele.
Claudine
era de uma beleza embaraçosa. Estive na residência dela, quando começou a
faltar muitas aulas em virtude de uma gripe. Fui recebido por ela, em seu
quarto, ela usando apenas uma bata branca e com calcinha branca. Foi um colírio
para os meus olhos vê-la naqueles trajes.
Tivemos
inúmeras professoras: Haidée, que chegava sempre com seu namorado num carro
karmanguia, sem capotas; Rosa Eduarci Marinho, minha segunda paixão, esta
correspondida anos mais tarde quando comecei a trabalhar no Jornal “A Notícia”,
lancei meu primeiro livro de poesias “(Des)Construção...”, e ingressei um ano
mais tarde, na União Brasileira de Escritores, aos 19 anos.
A
professora Rosa, ao deixar nossa escola e ser transferida para uma outra,
mereceu de nossa parte uma festa com bolo e guaraná. Ficou muito emocionada com
a homenagem. Antes da transferência para outra escola, a convidamos para nos
dar aulas de educação física aos sábados, em uma área improvisada e aceitou.
Outra convidada foi a professora Francisca, mais conhecida como “Chiquinha”, pessoa
que gostava de encostar-se aos cantos das mesas ou sentar-se em cima
delas para ministrar suas aulas.
A
professora Rosa sempre arrumava um jeito de nos levar para lugares que não conhecíamos.
Alugava caminhões e nos levava ao Balneário do Parque 10 de Novembro, um dos
melhores que existiam em
Manaus. O Balneário ficava em frente à Fábrica de Jóias
Duque, da família De Carli, que também possuía a Fábrica de Roupas Raymond da
Amazônia. Em ambas as fábricas, empregavam muitas pessoas.
Anos
depois, quando o vereador Fábio Lucena acusou, pelo jornal “A Crítica”, o
empresário Carlos Alberto De Carli, de ter feito um empréstimo no Banco do
Brasil, em que o vereador também trabalhava, para financiar uma plantação de
cana-de-açúcar que afirmava não existir. Fui contratado pelo empresário para
fazer sua defesa pelo jornal “A Notícia” e provar que no seu empreendimento,
Fazendas Unidas, havia cana plantada, o que era uma realidade. Ficava na Estrada
Manaus – Itacoatiara.
Pedi
ao empresário para alugar ônibus, a fim de levar os jornalistas ao local que o
vereador afirmava não existir. Todos os jornais que foram convidados para a
visita e que se fizeram presentes ao local, publicaram matérias em páginas
inteiras dizendo que “As Fazendas Unidas são uma realidade”.
O
vereador passou a ter muita raiva de mim por esse meu profissionalismo. No dia
que em ele se elegeu pela primeira vez para um cargo federal, saindo da Câmara
Municipal direto para o Senado da República, recebi um telefonema pessoal dele,
convidando-me para ir a um jantar de despedida para a imprensa, que seria
oferecido em um restaurante que existia na Avenida Álvaro Maia, ao lado de onde
funciona hoje o Supermercado Roma e que serve de estacionamento. Consultei o
empresário Andrade Neto e ele disse que eu podia ir, mas nada sobre Fábio
Lucena seria publicado em “A Notícia”. Ele pessoalmente recebeu a mim na porta,
apertou minha mão e pediu desculpas por ter ficado aborrecido comigo no episódio
das “Fazendas Unidas”. Disse que queria esquecer o incidente, e se tornou meu
amigo.
Depois
da primeira pessoa com quem me relacionei a Edna, tive outras namoradas: Maria
Luiza, do bairro São Lázaro, Radija Barbosa de Melo, filha de Nilamon Barbosa de
Melo, um empresário da área de móveis, do bairro Educandos. Radija me conheceu
quando eu comprava uma cama de solteiro na loja do pai dela. Veio atender-me
com um imenso sorriso e deu-me o telefone dela, mas pediu que eu ligasse só na
hora em que o pai dela não estivesse em casa. Fiz isso algumas vezes, mas como ela nunca
aceitou sair comigo para festas, desistir.
Depois,
quando estudava no Colégio Dorval Porto, conheci Julia da Cunha e Silva, uma
professora de Inglês. Ela lecionava na mesma escola em que eu estudava e se
dirigia ao município de Manacapuru, em uma bolsa, para visitar a fazenda de seu
pai.. Depois veio Mara Lobato, do bairro
da Raiz, com quem tive um filho, Odimar Queiroz Sampaio, do bairro de Aparecida,Wandira Bezerra, do
bairro da Betânia, Dalva Pucu Carneiro,
do bairro Praça 14 de Novembro com quem pretendia me casar, Rosa, uma funcionária
do Incra, do bairro Praça 14 de Janeiro e Ormy da Conceição Dias Bentes, do
centro da cidade, Cl com quem também pretendia me casar, Cléia, do bairro da
Betânia, Cleide, do bairro Colônia Oliveira Machado, além de outras que não lembro mais os nomes
porque foram namoros de curta duração ou porque não tiveram grande importância
na minha vida. Mas a união só aconteceu aos 22 anos, no religioso, depois que
saí da Faculdade, com Maria Tereza Santos de Oliveira, viúva do delegado da
Polícia Civil, Itagiba Ramos de Oliveira.
Durante
os dois anos que estudei no Instituto de Educação do Amazonas – IEA, fiz e
também deixei alguns amigos pelo caminho: o colega de sala, Francisco, que
passou a ser professor de matemática e que eu o .apelidei carinhosamente de “Chico Tripa”,
mas não sei mais nem o porquê. Mantive uma longa relação com a irmã dele de
nome Ana, que depois se casou e foi morar
fora do Amazonas; o professor de matemática João Martins Dias; o diretor
Rosendo Neto, que sempre queria me expulsar da Escola; o psicólogo, professor e
orientador educacional, Glaucimar, que sempre intercedia a meu favor e vários
outros que não recordo mais.
Após
separar-me da Tereza, depois de cinco anos morando sozinho, casei-me novamente,
no civil, com Yara Marília de Souza Queiroz, com quem continuo casado até os
dias atuais. Yara, grande companheira, com quem tive outro filho, o Carlos
Costa Filho, é filha do saudoso Deputado Estadual e brilhante advogado
Francisco Guedes de Queiroz.
Quanto
às fases de aventuras com os amigos, por volta dos meus 30 anos, em que eu, o
Dr. Raimundo Silva, Dr. Flávio Queiroz de Paula e o Dr. Ivo Alberto Brasil Lagos
passeávamos de lancha aos finais de semana, tinha uma namorada que trabalhava
na Fábrica de Relógios Nelima, a Cleide. O certo mesmo é que o Silva – que
detesta ser chamado pelo seu primeiro nome, Raimundo, porque insiste em dizer
que “isso não é nome, é um palavrão”, um domingo à tarde, telefonou para minha
casa e pediu que eu fosse buscar uma namorada dele, que morava no Parque 10 de
Novembro, sobrinha do ex-reitor Octávio Hamilton Botelho Mourão, inventando
para ela uma desculpa qualquer.
Fui
lá, inventei que o Silva não estava se sentindo bem e me ofereci para levá-la a
uma festa. Levei-a e só saí da casa dela quatro dias depois. Eu tinha extraído
um dente e tive muita febre depois. Ela ficou cuidando de mim.
Maria
Luiza foi a primeira namorada que levei a sério. Cheguei a vir do Rio de
Janeiro, onde estava fazendo um curso de especialização em Assessoria de
Comunicação e Marketing Empresarial, para participar do aniversário de 18 anos
dela. Como eu já a namorava desde os 13 anos – eu já tinha 19 anos –, a mãe
dela Lady de Lima Magalhães pegou-me pelo braço e perguntou:
-
Afinal, o que o senhor está querendo com minha filha? Está enrolando a moça há
cinco anos e nada decide!
Maria
Luiza, atrás da mãe, respondeu:
- O
que eu queria com ele, já fiz quando tinha 15 anos. Agora, só somos
amigos!
A mãe
dela passou mal e quase desmaiou.
É que,
em sua festa de 15 anos, pediu-me para conhecer um motel e eu a levei. Depois,
a irmã dela ficou dizendo que se eu não a levasse também ao motel, iria contar
tudo para a mãe dela. Não adiantaria mais nada porque a Maria Luiza já tinha
contado tudo.
O pai
dela, Francisco de Lima Magalhães era do tipo calado, mas muito observador. Uma
vez, acendeu a luz da sala, que sempre permanecia apagada quando namorávamos e
nos pegou, a Maria Luiza debruçada na janela da sala com uma saia que usava
sempre abaixo dos joelhos, mas sem calcinha por baixo e eu, debruçado nas
costas dela.
Pigarreou
um pouco, mais um pouco depois de acender a luz. Estávamos tão entretidos que
nem percebemos o seu movimento e o acender da luz da sala. Ele perguntou:
-
Minha filha, já não está na hora de terminar o seu namoro, não?
Era o
sinal que a nossa “festa” havia chegado ao fim.
No
dia em que ingressei na União Brasileira de Escritores, com a publicação do meu
primeiro livro, (Des)Construção...,houve uma festa. Convidei a professora Rosa
Eduarci Marinho como minha companhia. Ela aceitou. De lá, saímos direto para a
Cabana dos Barés, um bar tradicional em Manaus, onde conversamos muito e a
professora queria saber mais informações ao meu respeito. Anos mais tarde,
ingressei, juntamente com o médico Simão Pecher, no Clube da Madrugada, grupo
de intelectuais que se reunia embaixo de um pé de mulateiro, na Praça Heliodoro
Balbi, mais conhecida como Praça da Polícia, para discutir temas do momento. O
Ivo Brasil Lagos participou da fundação desse Clube, pois também era um intelectual.

FATOS QUE DEVEM SER CONTADOS
Durante
um ano que estudei no Colégio Pedro II, eu e alguns amigos, costumávamos
freqüentar às sextas-feiras, a “Feira das Frutas”, também chamada de a
"Feira das Putas”, dada à grande quantidade de ‘mulheres da noite’ que lá
frequentavam.
Numa
certa sexta-feira, sete homens lisos, incluindo eu, foram à “Feira das Frutas”
atrás de sexo. Todos entre 18 e 19 anos. Menos eu que tinha 16. Encontramos uma
freqüentadora, de nome Raimunda, que aceitou sair com todos:
-
Desde que entre um de cada vez! Avisou.
Entrou
o primeiro, o segundo, o terceiro. Depois, entramos todos juntos, na
maior baderna. Ela parou, olhou e perguntou:
-
Vocês vão querer me currar, é?
Não a
curramos, mas todos pegaram uma carga de “chato”.
Na
segunda-feira, ficamos nos coçando em sala de aula. Eu fui logo procurar o Dr.
Menescal de Vasconcelos, em sua drogaria. Cheguei todo desconfiado, encostei-me
no balcão. Ele perguntou:
-
Pegou gonorréia, foi? Essa era a doença mais comum da época.
- Não
doutor. Estou me coçando todo e não sei o que é!
-
Entre aqui no consultório que vou lhe examinar.
Baixei
o short que usava na ocasião. Ele olhou. Olhou de novo e disse:
- Eu
tenho uma injeção infalível!
Decidi
tomá-la. Doeu muito quando ele aplicou-me nas nádegas. Era uma benzetacil, um
dos primeiros antibióticos a ser usado que servia para quase tudo.
Fiquei
bom e indiquei aos outros colegas o nome e o endereço da farmácia. Não sei se
alguém procurou pelo Dr. Menescal. Só sei que uma semana depois estavam todos
curados e nunca mais voltamos a procurar mulheres na “Feira das Frutas”. Alguns
se depilaram todo, até no peito. Outros passaram creolina, gasolina e Neocid e
nada resolvia.
Tivemos
um professor de Física, o Wandler que, ao saber que um colega nosso tinha
descoberto por onde passava a fiação do segundo andar do Colégio Pedro II,
perguntava sempre às sextas-feiras:
-
Será que vamos ter aula hoje? Acho que não vai ter energia elétrica.
Era o
sinal para o colega desligar o fio. Tínhamos que esperar por quinze minutos. Se
a luz não voltasse, as aulas eram suspensas e a turma liberada.
Seguíamos
para o “Bar Amarelinho”, onde o professor fazia a chamada.
Aliás,
as sextas-feiras era o pior dia que tínhamos para estudar. O primeiro e o
segundo tempo eram de física; depois vinha o professor Pedro Ivo, a “bomba de
nêutron”, com a aula de química, e o último tempo era de matemática.
O
apelido “bomba de nêutron” para o professor Pedro Ivo é porque ele sempre
carregava uma pasta tipo OO7. Antes de abrir a pasta e iniciar sua aula, sempre
dizia que “a arma mais perigosa e letal que existe era a bomba de
nêutron”.

“UM DIA FUI JORNALEIRO”
Como
citado anteriormente, Manaus era uma cidade muito pequena, mas cheia de carros
importados. No início da Zona Franca, eram vendidos em Manaus carros do tipo
Mustang, da Ford, Citroen, que tinha uma concessionária no mesmo local onde
hoje funciona a “Livraria Valer”. Os carros do tipo “Mustang” eram os
proferidos do filho do empresário hoteleiro, morto em uma pescaria, Jonas
Martins Lopes, senhor Jonas Martins. Ele apostava corridas e sempre que um se
acidentava, ligava para a concessionária e pedia outro. Sempre era
atendido.
A
Praça da Igreja da Matriz era toda cheia de palmeiras imperiais, em meio a
trilhos de bondes, toda com paralelepípedos. Em frente da Igreja, embaixo das
escadarias laterais, havia um zoológico.
O
comércio de artigos importados instalado na Rua Marechal Deodoro era quase todo
dominado por turcos e árabes e fechava sempre no mesmo horário. Era ora de
parar de vender jornais e ir prestar contas.
Na
Avenida Getúlio Vargas e ao final da Rua da Instalação, havia duas construções,
no meio a pista: eram os “Pavilhões São José” e o “Tabuleiro da Baiana”,
respectivamente.
Comecei
a freqüentar cinemas. Os filmes tinham início às 12hs, e só parava quando
assistia ao último filme, às 20h. Toda semana, a diversão era juntar dinheiro
para ir ao cinema no domingo. Se não conseguíssemos o dinheiro todo, catávamos
garrafas do tipo escuro e as vendíamos em frente ao cinema Guarany, para o dono
do “Pavilhão São José”, que pagava bem se a garrafa fosse preta. Com esse dinheiro,
entravávamos no cinema eu, Jorge Lopes da Silva, às vezes o João da Silva Couto
ou outro amigo que convidávamos.
Comecei
vendendo os jornais “A Crítica”, “A Notícia” e o “Jornal do Commércio”, os
únicos que existiam em Manaus, na saída do Porto de Manaus, em uma banca
coberta; depois, na esquina das Ruas Marechal Deodoro com Theodoreto Souto. Em
seguida, na Avenida Leopoldo Peres, na calçada da Fábrica de Cigarros Gaivota;
no interior do mercado municipal Walter Rayol e, por fim, em uma banca coberta,
nas esquinas das Avenidas 7 de Setembro com Joaquim Nabuco, na calçada da Drogaria
São Paulo. Pegava os jornais diretamente nas redações mas os revendia para uma
pessoa conhecida por “X-9” .
Muitos trabalhavam para ele e sempre prestavam contas das vendas no interior do
“Tabuleiro da Baiana”. Mais tarde, foi lançado o jornal diário “O Meio Dia”,
que saia às doze horas. Eu o vendi também. Era do empresário Andrade Neto.
Durante
o meu trabalho em frente a sede dos Correios, conheci uma senhora em uma Belina , de cor
amarela, que todos os dias parava no início da ladeira da Rua Theodoreto Souto,
pedia os três jornais e, em seguida, pedia para bater o tapete do seu carro e
tirar um lanche no banco de trás do carro. Tinha suco, fruta e café com
leite.
Durante
a fase em que vendia jornal, conheci uma moça que trabalhava no Supermercado
Agromar. Todo dia pegava ônibus junto
comigo. Ela sempre tinha uma flanela para passar no local em que eu sentava. De
tanto conversar com a moça, a convidei para ir ao Motel Cobras comigo,
único que existia na época.
Levei
quase um ano inteiro convidando-a, até que ela aceitou.
Pedi emprestado
o Fusca do meu cunhado, Edson Paixão. Mandei lavá-lo todo e fui buscá-la. Chegando
ao motel, ela tirou umas pílulas da bolsa, as tomou, tirou a roupa, ficou
totalmente nua na cama e o “principal” não reagiu.
Nervoso,
entrei no banheiro, imaginando-a nua e linda em cima da cama, mas nada
aconteceu.
Decidi
ir embora. No meio do trajeto, tive ereção, mas decidi que não voltaria mais ao
motel e fomos embora.
Depois
desse fato, procurei-a no supermercado, falei com ela algumas vezes, mas,
decepcionada, não aceitou sair uma segunda vez.
Fiquei
com esse trauma durante anos, mas depois passou, naturalmente.

COPA DO MUNDO DE 70, O GOVERNO MILITAR E O PROGRESSO NA BETÂNIA
No
ano de 1970, em
plena Ditadura Militar , a Seleção Brasileira ganhou o
tri-campeonato de futebol de campo na cidade de Guadalajara, no México. O
Governo aproveitou-se para fazer propagandas em cima do feito da seleção
brasileira. Muitas músicas foram gravadas na época enaltecendo o Brasil e, no
bairro da Betânia, começou o progresso: primeiro veio o asfaltamento da rua,
depois surgiu o Bar Copa 70, um pouco antes existia o Bazar Centenário, tudo na
Avenida Adalberto Valle, em que eu morava.
Adolescente,
costumava vestir roupas pretas, ao estilo da moda lançada pelo conjunto musical
“Os Incríveis”, com calças largas, boca de sino, para freqüentar o Bar Copa 70.
Todas as vezes que eu entrava no bar, cheio de espelhos, para assistir a mulheres
semi-nuas dançando no palco, uma garçonete sempre vinha sentar-se à mesa para
conversar. Gostava da conversa e da companhia dela, mas nunca procurei saber o
seu nome.
No
Bazar Centenário, uma televisão e um rádio pequeno narravam o último jogo da
Seleção. Depois do jogo, com o Brasil sagrando-se campeão, pulei e dancei de
alegria, sem entender de nada. A música “Guadalajara, mora em meu coração”
tocava a todo instante.
Havia
um campo de futebol no nosso bairro. Gostávamos de assistir aos times,
todos uniformizados, disputando as partidas com muita garra.

A CRIAÇÃO DO ISS, POR MANOEL RIBEIRO
No
meio da noite, toca o telefone na redação do Diário do Amazonas. Era a
Secretária Municipal de Comunicação da Prefeitura Municipal de Manaus, Celes
Borges, me consultando sobre o que eu achava da idéia do prefeito Manoel
Ribeiro passar a cobrar o Imposto Sobre Serviços na cidade de Manaus.
Disse-lhe:
- Vou
publicar uma nota no Diário do Amazonas sobre esse assunto e depois você pede a
opinião do povo.
O ISS
foi criado por Manoel Ribeiro. Eu, no Diário, de vez em quando publicava uma
notinha sobre a idéia do prefeito, elogiando-o pela iniciativa. Acho que, hoje,
o Imposto Sobre Serviços é uma das grandes fontes de receitas do Município de
Manaus.
O
projeto de criação da ZFM, aprovado em 1953 e só implantado em 1969, depois que
a guerrilha cubana destituiu o ditador Fulgêncio Batista, com medo de a
revolução comunista se espalhar pela Amazônia, nada falava sobre isenção de ISS
para as empresas de serviços. A Amazônia, em 1969 era uma região totalmente
desolada, mas com mão de obra barata em Manaus. O Governo
Militar tratou logo de construir a Estrada Transamazônica, implantar o Projeto
Calha Norte, construir batalhões de fronteiras na Amazônia e integrar a Região,
com o resto do Brasil, por telefonia, através da Camtel, depois Telamazon. A
Camtel era a Companhia de Telecomunicações. A CAMTEL era a Companhia
Amazonense de Telecomunicações.
Durante
o segundo governo de Amazonino Mendes, foi decretada a intervenção na
Prefeitura de Manaus, afastado o prefeito Manoel Ribeiro e, nomeado o prefeito
interventor Alfredo Nascimento. No meio da disputa política, Manoel Ribeiro
recorre contra a intervenção, Alfredo é afastado e assume em seu lugar o
presidente da Câmara, Carrel Ypiranga Benevides. Depois, volta o prefeito
eleito que estava em Brasília, Manoel Ribeiro. O prefeito tinha sido acusado de
superfaturamento de obras na construção de um Edifício Garagem pela Construtora
Santa Bárbara e de não colocar asfalto em uma espessura de 5 centímetros . No dia
da confusão, acusaram-no de ser proprietário de um prédio de apartamentos na
Constantino Nery, que teve seu nome trocado por outro: era Edifício Manoel
Ribeiro e passou a ter um outro nome.
Antes
do Governo Militar, a Amazônia era esquecida; uma ligação de Manaus para o Rio
de Janeiro, pela Cantel, pedia-se de manhã e tinha-se que esperar em casa, sem
sair, até que ligação fosse completada. Levava, em média, sete horas de espera
entre o pedido e a concretização do pedido. Hoje, tudo é mais fácil devido ao
desenvolvimento da tecnologia.

“PRÊMIO ESCRITOR DO ANO”
Na
década de 80, já tinha lançado o livro de poesias “(Des)Construção...” e,
ainda, trabalhava em “A Notícia”. A apresentadora da TV Amazonas, Consuelo
Nunes, lançou o “Prêmio Escritor do Ano”. Ganharia o prêmio o escritor que
vendesse mais livros e fosse colocada em uma urna, o comprovante da
compra. Eu, o Danilo Du Silvan e o poeta Jorge Tufic, fomos os participantes.
No final, o Jorge Tufic ganhou o prêmio. O Danilo Du Silvan denunciou que havia
fraude. Como ele não conseguiu provar nada, o Jorge recebeu o prêmio. Desde
essa época, fiquei amigo do Jorge Tufic, a quem, até então, eu só conhecia
pelos seus livros e de nome.
Fui e
sou amigo do poeta Jorge Tufic até os dias atuais. Hoje, está morando em Fortaleza. Foi embora
decepcionado com o Amazonas. Certa vez, em meu aniversário, apareceu em minha
casa com o também intelectual Aloísio Sampaio. Os dois beberam tanto que
dormiram nas cadeiras em que sentavam. Foi um porre daqueles!

PRÊMIO NACIONAL DE LITERATURA E A DEMISSÃO DE “A NOTÍCIA”
Ganhei
alguns prêmios literários também. O primeiro, em nível nacional, foi no Paraná,
quando fiquei em terceiro lugar em concurso de contos realizado na cidade de
Paranavaí, em 1982, com o conto “Esses Ladrões”. Estava ocupando o
governo o intelectual Homero de Miranda Leão, que decidiu me dar a passagem
para ir receber o prêmio. Consegui a licença do jornal e fui. Só não sabia que
o senhor Andrade Neto estava negociando a venda do jornal para o empresário
José Moura Teixeira Lopes, o “Mourinha”.
Como
tinha tirado férias, viajei ao Paraná. Segui, depois, para Paranavaí, com o
irmão do floriculturista de Manaus, Nelson Buoro. Deixei o Paraná e, usando o
dinheiro do prêmio, viajei para São Paulo, descendo depois para a cidade
praiana de Santos, onde fiquei hospedado na residência da família Henriques. O
pai, senhor Henriques, era funcionário da Petrobras na cidade de Cubatão e
tinha dois filhos: Sandra Regina Henriques, com quem me correspondia por carta
desde os meus 15 anos e André Henriques, que tocava nas noites de Santos.
Voltei
para Manaus ao término de minhas férias, apresentei-me ao novo dono do jornal.
Fui escalado por ele para cobrir o coquetel de inauguração de sua fábrica
“Jacks da Amazônia”. Não fui, mas pedi para a repórter Ivânia Vieira ir no meu
lugar. A matéria foi publicada normalmente, mas eu fui demitido do jornal.
Como
era membro da Cipa e ainda tinha quase um ano de mandato para cumprir na
função, procurei o senhor Andrade Neto. Ele esteve em minha casa:
- O
“Mourinha” está irredutível!
Minha
demissão foi concretizada no dia 25 de fevereiro de 1983, pelo senhor José
Augusto de Souza Baird, porque fui para a TV Amazonas no mesmo horário,
produzir um jornalismo eletrônico que nunca foi ao ar. Entrei na Justiça para
que o jornal indenizasse o meu período de mandato na Cipa ou determinasse minha
volta ao trabalho. A Justiça determinou minha reintegração, mas “Mourinha” preferiu
pagar meu salário sem eu trabalhar e ainda me avisou:
-
Onde você estiver, lá não estarei.
Dias
depois disso, na Cruz Vermelha Brasileira, dirigido no Amazonas por Francisco
Portela, da qual eu também fazia parte como membro, encontrei o “Mourinha”. Ele
me cumprimentou e se afastou. Recebi mais tarde diversos outros prêmios –
medalhas, comendas intelectuais até que em 1999, meu livro O HOMEM DA ROSA, foi
lançado na IX Bienal Internacional do Livro, no RJ, e indicado ao prêmio Jabuti
daquele ano.

“BAIACU DE OURO”
Depois
ganhei o prêmio “Baiacu de Ouro”, o único que recebi em Manaus, depois que já
tinha sido demitido de “A Notícia”, ofertado pelo colunista social Carlos
Aguiar, no Hotel Tropical, ganhei outras medalhas e
Comendas Literárias em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e tenho
biografias publicadas em Teresina-PI, por Adrião Neto, e, em Manaus, pelo
pesquisador, cronista e crítico literário, Arthur Engrácio.
Registrou
todo o evento o fotógrafo da entrega do “Baiacu de Ouro”, by Barros, de origem
cearense, que foi “lambe-lambe” na Praça da Matriz, mas virou fotógrafo profissional.
O
Barros, já famoso em Manaus, foi um dia visitar seu pai no Ceará, homem de
poucos estudos, levou um exemplar para mostrar ao pai. Quando o cearense, homem
pobre, sério e rude, mas honesto, viu “fotos by Barros” – como o Carlos Aguiar
escrevia no jornal, perguntou:
-
Esse by Barros aqui não significa que você virou boiola, não?
O
Barros teve que explicar-lhe que embora estivesse escrito “by”, a pronúncia
correta era “bay”.
-
Assim, melhorou.

ASSESSOR DE COMUNICAÇÃO NA MINERAÇÃO TABOCA S/A
Durante
quatro anos, foi assessor de comunicação da Mineração Taboca S/A, empresa
instalada no município de Presidente Figueiredo, que explora cassiterita.
Também
fui assessor de comunicação remunerado na Associação dos Exportadores da Zona
Franca de Manaus, na extinga Legião Brasileira de Assistência – LBA, na gestão
de Marisa Fonseca e no CDL, na administração de José dos Santos Azevedo, tendo
como meu chefe imediato o ex-sócio da empresa S. Monteiro, Paulo Monteiro.
Entrei
na empresa Mineração Taboca S/A depois de uma reportagem que escrevi em “A
Notícia”, com uma entrevista feita com o geólogo Waltair Prata Carvalho.
Fui
convidado a conhecer o projeto e escrever a matéria pelos diretores do
Departamento Nacional de Produção Mineral, José Belfort dos Santos Bastos e
Fernando Burgos. Todos gostaram da matéria de página inteira que havia
publicado.
Durante
os anos em que trabalhei na empresa, fiz duas amizades que permanecem ao meu
lado até hoje: a advogada Ivete Ivo Barros, de origem paulista e o hoje
empresário Flávio Willer Cândido. Tratando assuntos da empresa Mineração Taboca
S/A junto à empresa EMTU – Empresa Municipal de Transportes Urbanos, fui
recebido cordialmente pela advogada Ivete Ivo Barros.
Tinha
ido à EMTU pedir autorização para os ônibus que transportavam os funcionários
da empresa saíssem e deixassem os trabalhadores no terminal de
embarque/desembarque da Empresa Municipal de Transportes Urbanos. Recebi a
autorização, depois de muito negociar com a advogada da empresa.
Flávio
Willer Cândido era um dos motoristas da empresa Marlin que fazia o transporte
de funcionários, mas também era o responsável por desatolar os carros que
geralmente ficavam presos na estrada BR-319, ainda sem asfalto. Depois, devido a
sua dedicação, tornou-se sócio da empresa Marlin, fez vestibular, entrou e
concluiu a faculdade de Direito e diz que esse vai ser esse o maior exemplo de
vida que deixará para os seus filhos
gêmeos, Lucas e Mateus.
A
advogada Ivete Ivo Barros estava grávida, sensível, e muitas vezes a encontrei
deprimida. Ela estava esperando o seu segundo filho, o Onete Júnior. Eu, na
época, também tinha crises de depressão e nós nos ajudávamos mutuamente.
Fui
contratado dias depois e passei quatro anos seguidos na empresa. Durante esse
período, convidado, por ofício, pelo Secretário de Saúde do Governo Amazonino
Mendes, Humberto Figlioulo, para assessorá-lo. Fui liberado para compor um
Grupo Tarefa de Reestruturação Administrativa da Sesau – Secretaria de Estado
da Saúde.
Estava
almoçando junto com o Secretário Figlioulo quando o telefone tocou. Era o
Governador Amazonino Mendes, convidando-o para ir ao Palácio. Foi mas voltou de
lá demitido pelo governador
Retornou
à Sesau o ex-Secretário Euler Ribeiro, com quem diariamente eu despachava. Fiz
isso durante 30 dias. Já próximo ao final do ano, comunico a ele que o Dr. Theomário
Pinto da Costa, amigo dele e ex-deputado estadual e ex-Secretário de Saúde,
tinha entrado em coma na Bahia.
Olhando-me
de cima para baixo, respondeu:
- Tu
não és filho adotivo dele, por que ainda continuas por aqui? Eu te demiti no
dia em que assumi a Sesau.
-
Mas, doutor Euler, eu todos os dias despacho em seu gabinete com o senhor e de
nada fiquei sabendo!
-
Isso é problema do Departamento de Pessoal. Resolva lá!
Demitido
da Sesau, voltei para a Mineração Taboca. Tive novamente a carteira assinada,
mas como relações públicas, que nunca fui, com as mesmas atribuições de
antes.
Durante
essa nova fase, recebi um engenheiro alemão no staff da empresa, que tinha
vindo montar as turbinas da hidrelétrica do Pitinga. Ficou o geólogo
“Arapiraca” encarregado de ensinar algumas palavras em português para o alemão,
pelo menos o básico.
No
dia em que estavam almoçando na mina do Pitinga o presidente José Sarney, sua
esposa Marli Sarney e toda a sua comitiva, com o dono da empresa, Octávio
Lacombe, o engenheiro pede licença, põe sua mão na cabeça, levanta da mesa e
diz:
- Me
dão licença, por favor. Eu estou com muita dor na minha boc...
Todos
riram ao mesmo tempo, menos o Sr. Lacombe, já que sabia que o “Arapiraca” tinha
ensinado tudo errado para o engenheiro. Depois do almoço, foi conversar com o
“Arapiraca”.
Nessa
mesma época, conheci a funcionária de carreira da Suframa, Flávia Barbosa
Grosso, quando estive na autarquia para resolver problemas burocráticos em nome
da Mineração Taboca S/A.

ASSESSOR
DE COMUNICAÇÃO NA ACA
Iniciei
prestando serviços na centenária Associação Comercial do Amazonas, na
administração do empresário José Lopes da Silva. Era o diretor de comunicações
na época, o jornalista e empresário Milton de Magalhães Cordeiro.
Ele
foi um dos primeiros a criticar a implantação da fábrica de cimento em Manaus
na época em que só vendiam na cidade o cimento Poty. Ele dizia que, depois de
implantada a fábrica em Manaus, a empresa faria dumping, vendendo cimento ao
preço menor do que o de mercado. Quando a representação da Poty falisse, ela
subiria seus preços. E foi exatamente isso que aconteceu.
O
empresário Francisco Garcia Rodrigues chegou a importar cimento da Turquia, que
era reembalado com o nome de cimento Garcia e vendido no comércio de Manaus.
Mas também fechou, não agüentando a concorrência da Fábrica de Cimento Nassau.
No
lugar de José Lopes, assumiu a presidência da ACA o empresário Jorge Loureiro.
Ele criticava muito o Governo Federal em todo e qualquer assunto que ferisse os
interesses do comércio da Zona Franca.
De
tanto mandar ofícios para o Governo Federal, um dia o presidente da República,
João Figueiredo, veio ao Amazonas e o chargista de “A Crítica”, Miranda,
desenhou a caricatura do presidente e dos seguranças dele e pedia:
-
Primeiro, dêem uma olhada para ver se esse Jorge Loureiro não está no aeroporto
me esperando também!
Rimos
muito dessa charge de “A Critica”, pois ela refletia muito o grau de
importância que o Governo Federal estava dando para os assuntos relacionados ao
nosso modelo de desenvolvimento.
Deixei
a ACA ao final do mandato do senhor Jorge Loureiro, mas sempre trabalhei por
contrato de prestação de serviços autônomos. Mas lá deixei uma amiga
inesquecível, Amabeni, de quem até hoje sinto saudades.
Também
fui assessor de comunicação na LBA, já extinta, na época da administradora e
fiscal da Sefaz, Mariza Fonseca, fui ser
repórter entrevistador na Rádio Baré, comandada pela empresária Dra. Celma, em
que apresentávamos um jornalismo dinâmico, que veiculava o fato no momento de
sua ocorrência. Por pouco tempo, apresentei um programa musical com Augusto
Cláudio Pantoja, à meia, mas gravado às
19H00, com relógio e tudo para informarmos a hora certa a cada intervalo do
programa. Depois, fui trabalhar na TV Baré, dos empresários José Airton
Pinheiro e sua esposa Leonor Pinheiro, como repórter entrevistador.
THEOMÁRIO
PINTO DA COSTA / DULCE PINTO DA COSTA
Eu
tinha onze anos e pesava pouco mais de 30 quilos quando passei a morar com o casal Theomário
Pinto da Costa e Dulce Fernandes Neves Pinto da Costa.
Fui
apresentado a eles pelo pedreiro José Campos da Silva, que tinha uma micrempresa
de construção e para quem datilografava os recibos. José Campos fazia uma obra
na casa dos Costa
Passei
a ser criado como filho. Ele não tinha filho homem, só tinha um de criação,
Luiz Augusto, filho de uma cunhada dele, irmã da esposa. Tinha, também, uma filha, Thelma Fernandes
Pinto da Costa que, depois, pelo casamento, passou a se chamar Thelma Castelo
Branco.
Moravam
na casa, além dos outros: uma índia chamada Mercedes, conhecida como
“Maricota”, Maria Meirelles, cozinheira que, depois de estudar foi ser professora
no município de Autazes. Reinaldo Fernandes Neves Filho, o “Nadinho”, filho do
primeiro Governador do então Território de Roraima, o Carlos Alberto, o “Cacau”
e a Eliane, hoje uma conceituada médica pediátrica, casada com o Francinete
Teixeira, filho da tradicional família do Sr. José Leite.
Havia
também a dona Zizi, também baiana, mãe de Dulce Fernandes Neves Pinto da
Costa, a esposa do Dr. Theomário. Dona Zizi, como eu me acostumei a
chamá-la, era uma pessoa incrível. Foi quem me deu o primeiro presente que
ganhei na vida – um cavalinho feito todo em couro. Contudo ,
para merecê-lo, tinha que mostrar, diariamente, minhas notas da escola primária
“Adalberto Valle”. Quando ela encontrava alguma nota abaixo de 10,
aconselhava-me a estudar mais um pouco para tirar notas melhores porque eu era
“inteligente e tinha potencial”.
O Dr.
Theomário, que também era professor da Faculdade de Medicina e já tinha
sido deputado estadual e Secretário de Estado da Saúde, aos sábados,
sempre de bermuda branca e sandálias da mesma cor, esperava-me acordar – o que
sempre era cedo, e mandava-me comprar carteira de cigarros “Carlton” – ele
fumava muito, por isso talvez tenha falecido vítima de câncer nos
pulmões.
Depois
que eu voltava da compra, olhava de soslaio para o carro Corcel I, da Ford,
amarelo, que ele usava e dizia para mim:
-
Acho que meu carro está um pouco sujo na lateral. Isso era o sinal para eu
pegar água, escova e ir lavá-lo. Nem sempre estava sujo, mas eu tinha que bater
os tapetes também. Era um ritual de todos os sábados. Depois disso, tinha que
passar cera vermelha num imenso pátio que dividia a casa principal de uma
segunda casa aos fundos, onde todos comiam juntos - menos eu, que comia antes
para poder ir à escola. Durante a semana, semana, dava banho na cachorra
“Leika”. Aos finais de semana, terminadas as tarefas, eu recebia meu dinheiro
para ir ao cinema.
O
Luiz Augusto, adolescente, seperava a comida no prato e era chato para fazer
suas refeições. A Dra. Dulce chegou do seu consultório trazendo um embrulho nas
mãos e perguntou para a Maria Meirelles:
- O
que a senhora fez para o almoço de hoje?
-
Quiabada, como a senhora pediu!
O
Luiz Augusto, já sabendo o que teria para o almoço naquele dia, foi chamado
para comer:
-
Estou sem fome, “dinha”, diminutivo carinhoso de madrinha.
-
Venha, Luiz, a comida está muito gostosa.
Ele
sentou-se à mesa. A Dra. Dulce colocou a comida no prato, e ele ficou olhando
com cara de nojo.
-
Coma, Luiz, a comida está muito gostosa!
Ele
começou a comer. Logo entrou no banheiro que havia embaixo da escada e levava
ao andar superior dos fundos da casa.
-
Luiz, tome um pouco desse remédio que eu trouxe para você!
O
Luiz tomou o remédio e começou a provocar.
-
Agora, Luiz, volte para a mesa e coma mais um pouco!
Depois
desse dia, o Luiz Augusto nunca mais separou comida no prato.
A
casa dos Costa era sempre farta de comida, mas ninguém podia estragar.
Depois
de assistir a um show em Manaus, do Festival de Wodkstok, que protestava contra
a guerra americana no Vietnã e implantou a moda hippie no mundo, o Carlos
Alberto entra em casa, usando tamanco de madeira, o cabelo todo penteado para cima,
com escova de pregos, cantando a música de Tony Tornado, BR-3. Achei engraçado
o jeito dele.
Essa
convivência mudou a minha vida para sempre!

FRANCISCO SALDANHA BEZERRA, empresário.
Criou
a Apetram, depois o Sinetram, mais tarde, com Aviz do Amaral Valente, fundou e
passou a presidir à Federação das Empresas de Transportes Rodoviários da Região
Norte – Fetranorte, ajudou a criar as instituições SEST/SENAT, que a elas preside
até os dias de hoje. Fui assessor de imprensa na Apetram, assessor de imprensa
do Sinetram e depois superintendente no Sinetram, substituindo o Dr. Maury de
Macedo Bringel, e diretor do SEST e do SENAT, duas instituições criadas por
decreto do presidente Itamar Franco e presidida pela Confederação Nacional do
Transporte.
Francisco
Bezerra teve tudo para ser suplente do senador Fábio Lucena e não aceitou.
Áureo Melo aceitou e terminou o mandato de Fábio no Senado, depois que ele se
suicidou. Perdeu suas duas empresas de ônibus, mas não se abateu, embora tenha
perdido em duas canetadas U$ 15 milhões. Costuma dizer que através do SEST e do
SENAT tem maiores e melhores condições de ajudar o povo carente. Convivo com
ele há mais de 25 anos.
Um
dia, às vésperas do Natal, as empresas dele cassadas, fui até o escritório e
lhe disse que estava sem dinheiro. Ele respondeu que tinha no bolso R$ 50
reais. Se eu quisesse a metade do valor, podia entrar no carro dele. Ele ia
trocar o dinheiro. Aceitei. Nunca mais esqueci esse seu gesto e nem me saiu da
memória a cena daquele dia, até hoje.

A HISTÓRIA DA EMPRESA SANTA LUZIA
Em
fevereiro de 1978, Francisco Bezerra iniciou um trabalho de revitalização da
empresa – Viação da Amazônia Ltda - VIAMA, antiga Ana Cássia, de propriedade do
empresário Cassiano Cirilo Anunciação, o “Batará”. Na época, era prefeito de
Manaus nomeado por Henock da Silva Reis, filho de um padeiro em Manacapuru,
trazido para Manaus por André Vidal de Araújo, o coronel de Exército Jorge
Teixeira de Oliveira, que tinha grandes problemas com o Cassiano,
principalmente devido à gestão comportamental na condução da empresa. Eram necessárias
medidas mais modernas para gerir uma empresa de transportes coletivos, coisa
que o Cassiano não conseguia fazer.
A
empresa Ana Cássia foi vendida para o então Deputado Federal Francisco de
Oliveira Rocha, que logo colocou o nome de Viação da Amazônia Ltda. Ele mudou o
nome de Ana Cássia para VIAMA. O BEA – Banco do Estado do Amazonas, o avalista
do negócio, indicou Francisco Bezerra, funcionário do Banco, para a Gestão
Financeira da Empresa. O já empresário convidou o senhor Cid da Veiga Soares
para o auxiliar na tarefa. Depois de vários levantamentos no Grupo Rocha,
decidiram vender a Viação Alvorada, do DF e a Viação Itaguaí Ltda., do Rio de
Janeiro, ficando só a VIAMA, em Manaus, pois assim, teria mais credibilidade a
gestão.
Depois
da venda as duas empresas, foram pleiteadas junto ao BEA as linhas que tinham
sido transferidas em caráter precário para a Soltur, e Francisco de Oliveira
Rocha ficou com participação acionária na nova empresa: Francisco Bezerra ficou
com 70% e Cid Soares, com 30%. Havia um outro sócio, Enock Bezerra, que foi
devidamente indenizado por Francisco Bezerra e Cid Soares.
Depois
de dezoito anos fazendo a revitalização da Empresa Santa Luzia, houve uma cisão
societária na empresa, dividida por três sócios. Cid Soares havia contraído
dívidas junto ao BEA e não tinha como pagar. Francisco Saldanha Bezerra
indenizou-o e ele deixou a sociedade, isto ao longo de anos, após tomar várias
medidas saneadoras. O outro sócio, Enoch Bezerra, foi devidamente
indenizado por Francisco Bezerra e pelo Cid Veiga. Desta cisão, nasceu a nova
empresa com o nome de Viação Santa Luzia Ltda., uma homenagem prestada ao
bairro onde ficava a garagem. Mais tarde, convidou sua esposa, Zilmar Bezerra e
seu filho, João Bezerra para comporem a sociedade da empresa.

VIAÇÃO SANTA LÚCIA
A
Viação Santa Lúcia Ltda nasceu de parte adquirida da Ostur Transportes, de
propriedade do senhor Osmar Vieira da Costa, em sociedade com Luiz Roberto
Caldeira, Paulo Queiroz e Maury de Macedo Bringel. Maury Bringel foi convidado
para comandar a nova empresa. Ela operou até o ano de 1993 quando, no mês de
Abril, por motivos puramente políticos, foi cassada pelo então
prefeito de Manaus, Eduardo Braga.
Além
destas empresas, Francisco Saldanha Bezerra fundou a empresa Viação Amazonense
de Transporte Ltda.
A VIMAM,
que tinha um sócio paraense, foi vendida
para José Henrique de Oliveira, que a rebatizou de Vitória Régia Ltda.

DIRETOR DO SEST/SENAT POR DOZE ANOS
Formado
em Serviço Social
em 1995, e autor do livros O CAMINHO NÃO PERCORRIDO – A trajetória dos
Assistenes Sociais Masculinos em Manaus, hoje adotado por faculdades que têm o
curso e objeto de tese de doutorado na Espanha, e a CIDADANIA COMO FATOR DE
RESTATE SOCIAL, endereçado a quem trabalha com menor infratores, administrei o
SEST/SENAT desde o processo de aquisição do terreno para a sua construção, do empresário
Paulo Faria, que fazia loteamentos de terras em Manaus, fui nomeado depois
diretor, quando a Unidade ficou pronta, recebi todos os móveis e, junto com o
diretor financeiro da época, indicado também pelo presidente da Fetranorte,
fizemos a contratação de todos os funcionários.
Dando
aulas na Faculdade Nilton Lins, no curso de Serviço Social, em uma sexta-feira
à noite, perdi totalmente minha audição. Na segunda-feira, ainda sem ouvir,
procurei um médico que me recomendou procurar um cardiologista e receitou os
remédios que não comprei. Fui ao escritório da Fetranorte e comuniquei meu
problema ao presidente Francisco Bezerra. No expediente da tarde, procurei o
cardiologista Edward Costa Júnior. Após os exames, disse que:
- No
coração você também não tem nada, mas por via das dúvidas, vou lhe passar um pedido de tomografia
computadorizada. Caso o seu Plano de Saúde não aceite a requisição e não a
autorize, você procura um neurologista e pede para ele te pedir uma nova
tomografia.
Não
foi necessário. O Plano de Saúde aceitou, autorizou e fui para casa almoçar.
Depois do almoço, procurei a empresa para realizar a tomografia. Saí da
MAGISCAM direto para a internação. Eu tinha um coágulo na minha cabeça, de mais
ou menos dois centímetros e meio. Ao ver minha tomografia, o médico pensou que
eu tinha tido um derrame cerebral, mas como eu movimentava e falava normalmente,
pediu uma ressonância magnética para ter um diagnóstico mais preciso. Mas o
resultado não foi nada animador e o médico disse que não sabia o que eu tinha e
recomendou uma cirurgia de emergência.
Na
condição de representante da Fetranorte - Federação das Empresas de Transportes
Rodoviários da Região Norte, tinha presidido por duas vezes a Comissão Estadual
de Emprego, que administrava os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador –
FAT, no Amazonas. Só deixei a direção do SEST/SENAT para fazer uma cirurgia de
craniotomia, inicialmente pelo médico Dr. José Vieira. Depois, o médico peruano
Dr. Dante Luis Garcia Rivera prosseguiu meus atendimentos e cirurgias posteriores.
Já operei por onze vezes, sendo nove vezes em Manaus e duas em São Paulo , no Hospital
São Joaquim, da Beneficiência Portuguesa. Na quarta crâniotomia a que foi
submetido, mandei coletar material e solicitei um exame histoquímico, realizado
na clínica do Dr. Carlos Bacchi, do material na cidade paulista de Botucatu.
Recebi como resposta ao exame eu estava com leiomiossarcoma de alto grau
(câncer).
Como
já não dirigia mais por recomentações médicas, pois mesmo tomando diariamente
vários remédios a ainda tenho constantes confulsões e infeções que levam-me ao
hospital com certa frequência, em média a cada dois anos, minha esposa Yara Queiroz voltou para o nosso
carro chorando. Não acreditei no resultado do exame do médico especialista,
Carlos Bacchi, consultor de faculdades internacionais, mas decidi viajar para
São Paulo para fazer revisão de lâmina. O resultado deu negativo em três
laboratórios diferentes.
No Hospital Português São Joaquim, fiquei
internao no setor de cancerologia por alguns dias, mesmo sabendo que ali não
era meu lugar, fui mais tarde transferido para outro setor e fui operado pelos
médicos Drs. Antonio Almeida e Dra. Valéria. Môio.
Como
diretor do SEST-SENAT, formei uma equipe profissional comandada pela psicóloga
Vera Lúcia, mais tarde substituída pela pedagoga Ana Quadros da Silva. Mais
tarde, outras pessoas foram incorporadas à equipe e dizia-lhes se desejassem
fazer carreira na instituição, deveriam estudar. Muitos atenderam à
recomendação, estudaram e hoje dirigem unidades também e sinto orgulho de
tê-las tido em minhas equipe profissional e homem dizem-me que fui um “grande
professor”. Não lhes ensinei nada: só dizia-se o que deveriam fazer!
Durante
esse período, fazíamos muitos convênios com órgãos públicos, inclusive com a
Secretaria de Estado do Trabalho e Bem-Estar-Social, administrada pela
assistente social Maryse Mendes, para desenvolver o projeto “Serviço Civil Voluntário”.
Com esse trabalho, Unidade Manaus do SEST/SENAT recebeu vários prêmios, um a
nível nacional.
Depois,
tendo por prefeito Alfredo Nascimento, voltamos a ter um convênio com a
Prefeitura para desenvolver o programa “Criança Urgente”, que retirava meninos
das ruas e os levava para a instituição onde eles tomavam café, lanchavam e
depois voltavam para as ruas. Antes, recebiam toda uma proteção, com palestras
e aulas de formação profissional para as suas “inserções” na sociedade. Desse
período, lembro-me bem das assistentes
sociais, Rosalina Maués e Graça Prola, subsecretária de Ação Social do
Município.
Tive
a oportunidade de ir a Brasília, levando uma aluna do Projeto Serviço Civil
Voluntário, para receber um prêmio nacional sobre Direitos Humanos, das
mãos do presidente Fernando Henrique Cardoso. Depois, com a mesma aluna, viajei
para a Bahia, onde ela se apresentou aos alunos de outros projetos iguais ao
que eu desenvolvia em Manaus.

BAIRRO DA BETÂNIA, ONDE MOREI
Antes
de mudar-me para a residência da família Costa, residi alguns anos no bairro da
Betânia. Era um bairro tranqüilo, cheio de areais, cajueiros, buritizeiros. Não
havia luz elétrica, ainda. Mas havia ônibus, que nem sempre conseguiam entrar
pela rua principal do bairro, o que nem sempre era possível. Também não tinha
água no bairro. O progresso só chegou ao bairro na administração dinâmica do prefeito
Jorge Teixeira de Oliveira.
Havia
uma área que era chamada de “as cacimbas”, em que todos os moradores tinham
uma. Depois de aberta, a cacimba no meio da areia branca, tinha que ser colocada
uma tampa de madeira com cadeado para
evitar que estranhos toldassem a água.
Terminávamos
a partida de futebol na rua e depois íamos tomar banho nas cacimbas. Mas era necessário
levar a chave para abrir o cadeado. Um não podia tomar banho na cacimba do
outro.
Havia
um frigorífico da empresa Bordom, onde existe hoje o Supermercado DB, na
Avenida Costa e Silva. Atrás do frigorífico, tinha uma fazenda de gado e um
cajual, além do pasto para os bois. Também tinha o Igarapé do 40, com suas
águas cristalinas, sem qualquer tipo de poluição, no qual nadávamos à vontade.
No início da abertura da Avenida Costa e Silva e antes de construírem a ponte
por cima do Igarapé do 40, havia uma grande árvore no local.
Sempre
íamos brincar no local, pulando n´água e descendo até a área em frente às
cacimbas, em que também parava o motor de pesca de meu pai.
Com a
conclusão da Avenida Costa e Silva, teve início a construção do Conjunto Jardim
Brasil, talvez a mais antiga construção de apartamentos em Manaus. Depois
dessa construção, começou a poluição no Igarapé do 40.
O
jogo de peladas no meio da rua, peão, cangapé, barra-bandeira, 31 alerta,
kamone (como a meninada pronunciava a expressão norte-americana "Call
mone, boy", que a gente ouvia nos filmes de bang-bang do Guarany, ou seja,
em tradução livre "Alto lá, rapaz"), estátua e jogo com bola de gude
eram as nossas brincadeiras favoritas. Em frente a minha casa, havia um
terreno cheio de mato. Era o local preferido para os nossos esconderijos quando
brincávamos de 31 alerta.
O
Jorge Lopes da Silva, baixo, entroncado e bom de bola, era sempre o primeiro a
ser escolhido no processo de formação dos times de pelada. Ele era bom de bola,
driblador e não passava a bola para os seus companheiros. Pegava a bola,
passava por um, por outro e geralmente terminava fazendo o gol. Tinha, também,
o gol das dezoito horas. Ganhava o jogo o time que fizesse o gol antes de
escurecer, mesmo que o outro time estivesse vencendo. Normalmente, as partidas
começavam às 18h e terminavam quando a bola não era mais vista pelos jogadores.
A
escolha dos times para as partidas era feita através do tradicional par ou
impa. Quem vencesse no par ou “impa”, começava a escolher os peladeiros. Quando
não tinha mais nenhum jogador a ser escolhido, começava a partida. Às vezes.
havia time fora para entrar, mas nem sempre.
Um
rapaz, com camisa de seda branca, todos os dias ia esperar a namorada dele no
poste que usávamos em nossas brincadeiras. O Jorge bolou um plano, mas não o
revelou para os amigos. Pegou uma imensa vara, colocou um chumaço de pano na
ponta, foi no quintal, enviou dentro da “privada”, como eram chamados, na nossa
época. os poços cavados aos fundos do quintal das casas. Quando o rapaz
apareceu, o Jorge foi desafiá-lo para uma briga. Como o rapaz era grande e
forte, e o Jorge era baixo, mas entroncado, viu na luta a possibilidade de
vencer e estabelecer no poste o seu território. No meio do desafio, o Jorge pegou
a vaga preparada e tentou cutucar o rapaz que, desavisado, segurou no chumaço
de pano preparado, e o Jorge puxou: “espirrou fezes para todos os lados e
encharcou a blusa do rapaz”. Ele nunca mais apareceu.
Também
vivi a fase das brincadeiras em residências. Sempre freqüentávamos a casa do
senhor José Maria Palmeiras, que tinha dois andares e uma ampla sala. Os filhos
dele, Nathan Palmeiras e José Carlos Palmeiras eram nossos amigos. Em uma dessas
festas, conheci a Cléia, com quem fiquei por muitos meses. Gostava de ir à casa
de Cléia, com quem cheguei a namorar, porque sempre a mãe dela preparava “uma
galinha de terreiro” e eu ouvia as músicas do cantor Chisthofer.
Minha
residência foi utilizada, também, para promover festa. Mas, como eu gostava
muito de ouvir música e a ouvia sempre alta, a jornalista Baby Rizzato, ao
passar em frente, sempre olhava para dentro e via que era eu ouvindo música
alta. Em certa oportunidade, falou:
- A
tua casa era muito festeira!
Sempre
procurávamos saber, ao terminar uma brincadeira regada a “leite de cabra”,
“leite de tigre” e licor feito com bombom de hortelã “pipermeyte”, muito
consumido na época, onde seria a próxima brincadeira. Foi assim que conheci
Aparecida Chaves, filha única de um caminhoneiro. Com a “Cida” nunca namorei,
mas quase todos os dias, a visitava e dormia na casa dela, durante às tardes,
quando não havia aula. Seus pais me adoravam, e a mãe dela sempre fazia comida
deliciosa quando eu visitava a garota.
Sobre
essas brincadeiras sem armas, drogas ou bebidas alcoólicas, escrevi uma crônica
chamada “Tempos de Ontem”, publicada no meu livro “Crônicas Comprometidas com a
tua vida”.
A
primeira televisão que chegou ao nosso bairro foi na casa da dona Raimundinha,
onde a molecada fazia fila para ficar espiando a programação da TV pela janela.
As primeiras televisões eram de válvulas e seletor de canais. As válvulas
precisavam esquentar para depois o sinal ser recebido. Ela sempre autorizava a
entrada da molecada, que ficava sentada na sala
Mais tarde, meu pai comprou a nossa. Tinha uma única
retransmissora em Manaus, a TV Ajuricaba, fundada pelo casal Sadie e Kalled
Hauache, que entrava no ar, com músicas, somente às 15 horas. Alguns profissionais
fizeram história na televisão em Manaus: Arnaldo Santos, apresentando o seu programa
“AS nos Esportes”, Célio Antunes, apresentando o jornal na TV, Luiz Eduardo,
também apresentando jornal na TV. Mais tarde, com a TV Amazonas funcionando,
retransmitindo o sinal da TV Bandeirantes, Patrícia Bartoloti, Luiz Almeida, o
“Marron”, também fizeram história no jornalismo. Tinha também o programa
infantil do “Titio Barbosa”, apresentado ao vivo com a sua filha Marília Barbosa, na extinta TV Ajuricaba, da
família Hauache.
TRABALHANDO NO CONSÓRCIO UNIÃO
TRABALHANDO NO CONSÓRCIO UNIÃO
Adolescente,
em busca do meu primeiro emprego, trabalhei no Consórcio União, dirigido por Edson
da Silva Massulo, depois, trabalhei no escritório jurídico do Dr. Carlos Abner
de Oliveira Rodrigues com os estagiários João de Deus Gomes dos Anjos e
Guilherme de Mendonça Granja.
Durante
meu trabalho no Consórcio União, tinha uma visão privilegiada do estúdio de
transmissão da Rádio Baré. Foi assim que passei a conhecer a radialista Jerusa
Santos, uma das mulheres pioneiras na profissão. Depois, conheci José Costa de
Aquino, o “Carrapeta”, que se elegeu vereador e deputado estadual com o
programa de muita audiência que mantinha na rádio. Era um campeão de votos na época.
Depois, o radialista da Rádio Rio Mar, Erasmo Amazonas, também foi campeão de
votos para sua época.
O Dr.
Carlos Abner tinha o costume de pedir para eu comprar para ele, no Lanche
Ziza´s, um copo de milk-sheik e pegar uma coxinha de frango no lanche do Chang,
ao lado do Edifício Cidade de Manaus. Era o almoço dele.
Descia,
pedia o milk-sheik no Ziza´s e depois me dirigia ao lanche do Sr. Chang, que
fazia a melhor coxinha de galinha de Manaus. Ela era feita com macaxeiras e
tinha dentro uma azeitona e uma coxa de galinha, com carne e o osso.
O
lanche do Sr. Chang, que trabalhava com sua esposa e os filhos Chang, hoje
ortopedista e a Yamim, que os ajudavam, atendendo no balcão.
A
família Chang produzia e entregava, em outros lanches, as coxinhas de galinha
produzidas durante um dia inteiro de trabalho. Uma das melhores que já
provei. Aliás, tudo o que era feito pela família Chang ficava saboroso.

“PROGRAMA DEBATES”
Como
repórter de “A Notícia”, sempre era convidado para participar dos debates
políticos na TV Amazonas, apresentado
pela jornalista Beth Azize. Quando ela não podia ir, eu apresentava sozinho o
programa. A TV Amazonas era a retransmissora da TV Bandeirantes em Manaus
porque a TV Ajuricaba transmitia a programação da Rede Globo.
O
programa “Debates”, de muita audiência na cidade, era apresentado nas
quartas-feiras e abordava assuntos polêmicos que aconteciam na cidade, sempre
com uma pessoa comvidada. Na maioria das vezes, por ter escrito algum
comentário na coluna coletiva e democrática “Território Livre”, publicada em A
NOTÍCIA, era sempre um dos convidados ao programa.
Um
dia, recebi um telefonema às 22h20min informando-me que a apresentadora titular
não iria. O programa entraria no ar às 22h30min.
Não
calcei nem o sapato, fui de sandália mesmo, mas pedi ao câmera que não desse
close no meu pé. Ele abriu o programa dando um close exatamente no meu
pé. Logo depois disso, deixei de fazer ou ser convidado para os programas
“Debates”. Mas não tenho certeza se essa foi a causa!

REPÓRTER ENTREVISTADOR NA TV BARÉ
Durante
mais de um ano, trabalhei como repórter entrevistador na TV Baré, antes de ser
adquirida pelo jornalista Umberto Calderaro. Era meu câmera, o profissional
Mário César Dantas e o auxiliar era Pedro Augusto Assis.
Durante
a transição dos antigos proprietários para Umberto Calderaro, participava de um
programa de debates políticos, o “Câmera Aberta”, captaneado pelo jornalista
publicitário Eron Rizzatto e pelo jornalista e comentarista de notícias na
época, Plínio Valério. O programa entrava a uma hora da manhã, mas tinha uma
boa audiência.
No
dia em que o primeiro jornal ia ao ar, o profissional da TV Gilberto Piranha
correu pelos corredores da televisão, pedindo o sobrenome do Pedro.
Gritei:
-
Coloca Pedro “Bala”.
Estávamos
todos juntos eu, Mário César Dantas e o Pedro. Quando começaram a parecer os
caracteres, Pedro leu: “Auxiliar de Câmera Pedro Bala”. Imediatamente gritou:
-
Pedro Bala, não! Eu tenho nome! Pedro “Bala” é a pu...que...pariu!
O
Mário César Dantas ponderou:
- Mas
você agora vai ficar famoso como o nome artístico de Pedro Bala!
- Ah,
esse é nome artístico?
-
É...
-
Então, tá, eu aceito.
Hoje,
ele é um profissional competente e continua trabalhando na mesma TV A Crítica,
do sistema Umberto Calderaro Filho de Rádio e Televisão.

DE VOLTA À FACULDADE
Depois
de exercer o jornalismo como repórter, editor de cidade, pauteiro, cronista e
editor geral de vários jornais em Manaus, decidi abandonar tudo e voltar à
Faculdade para iniciar e concluir o curso de Serviço Social. Fiz vestibular,
primeiro, para o curso de Direito e freqüentei regularmente até o 5º período.
Tive duas grandes amigas durante o Curso de Direito, a hoje advogada Vanessa
Litaiff e a bacharel em direito
Marlíase. Sobre Vanessa, eu sempre lhe
dizia que ela não deveria ficar só advogando, mas fazer um curso para juíza de
direito ou promotora de Justiça. E ainda penso a mesma coisa sobre ela.
Abandonei o curso para assumir a chefia de gabinete em Manaus do deputado
federal Carlos Souza, atividade que exerci por quatro anos.
No
dia da matrícula no curso de Serviço Social, encontrei a professora Magela
Andrade. Como repórter, conheci a professora participando de movimentos
sociais. Ela me interrogou:
-
Você, por aqui? Vem fazer entrevista comigo ou sua matrícula?
- Vim
fazer minha matrícula.
- Vai
terminar, ou só começar?
-
Desejo terminar porque, com o jornalismo, só ganhei gastrite, úlcera e outras
doenças.
Concluí
a matrícula.
A
professora tinha razão em sua pergunta. Junto comigo, passaram mais três
homens. Eu era o quarto homem em uma sala de 36 mulheres. Um do município de
Parintins, só começou; o outro, abandonou logo depois. Só eu e o Odenias Raimundo,
o “ODD”, conseguimos concluir o curso, em turmas diferentes. Conclui o curso
com média bem acima de todos.
Depois,
em sala de aula, a professora Magela Andrade começou a produzir esquemas que eu
apelidei de “magelíticos”, uma vez que tudo era feito com setas de um lado para
outro e poucos entendiam.
Tivemos
outros bons professores: o Carlos Humberto, de Metodologia do Estudo, Maria do
Socorro Chaves, Heloisa Helena, Terezinha Praia, Cristiane Bonfim, Marinez,
Iraildes Caldas (Torres), Rita de Cássia Montenegro e muitas outras.
No 5º
período, quando começamos a fazer promoções para a formatura, a nossa sala
estava dividida: de um lado, a Telma da Conceição comandava um grupo e do
outro, eu comandava outro grupo. No centro da sala, não sentava ninguém. Isso
tudo aconteceu porque uma professora de Antropologia, defensora intransigente
do índio Paulinho Paiakã, que tinha violentado uma professora na cidade de
Belém e foi se refugiar na aldeia para
fugir da justiça. Como não aceitava a maneira que ele tinha praticado o crime,
uma vez que ele era piloto de avião, tinha vivido entre os brancos e possuía
identidade e CPF, não deixei a professora dar aula. Com isso, houve a divisão
porque um grupo apoiava os argumentos da professora, e outros não a apoiavam.
Identificando
nitidamente a divisão que havia, chegou uma professora para ministrar aula de
psicologia. Ela conseguiu a paz entre os dois grupos. Acabei dando uma flor
vermelha de presente para minha rival.
Depois
disso, conseguimos concluir o curso sem brigas e com muitas amigas
inesquecíveis: Ruinaltina Moraes Pires, Paula Francinete Batista, Rosaney Ramos
de Assis, Adriana Evangelista, Graciete e muitas outras. O meu livro “O Caminho
não percorrido – a trajetória dos assistentes sociais masculinos em Manaus”,
resultado da monografia que produzi durante o curso, foi dedicado à Ruinaltina
Moraes Pires, a Tina.
Convidamos
a professora Rita de Cássia Montenegro para ministrar a “Aula da Saudade”, para
matar a “saudade das aulas que ela não deu”, por viajar muito para Belém. Foi
uma aula magnífica.
Com
relação às viagens da professora Rita, devota da padroeira da cidade de Belém,
sempre que ela retornava, trazia a receita de uma dieta milagrosa.
Entrando
em sala, após uma de suas viagens para participar do Sírio de Nazaré, macérrima,
com uma bolsa no braço, uma saia bem justinha; a aluna Rosaney não resistiu e,
sem pensar, disse:
-
Professora, a senhora com essa bolsa, essa saia e macérrima do modo que está,
parece uma puta!
-
Rosa, você sempre diz tudo o que pensa?
- Sou
assim. Se eu penso, ponho para fora na hora.
Todos
riram da situação.
A
Rosaney era tão desligada, tão desligada, que se apresentava assim na hora da chamada:
“Rosaney Ramos de Assis, que já foi “Cardoso”. Todos riam! Ela era muito
espontânea em sala de aula.
REPRESENTAÇÃO DO DEPUTADO FEDERAL CARLOS SOUZA
Indicado
por Nicácio da Silva, chefe de gabinete em Brasília e aceito pelo
deputado federal Carlos Souza, que saiu direto da Câmara Municipal para a
Câmara Federal, trabalhei por quatro anos seguidos no escritório da
representação de Manaus, como chefe de gabinete. Hoje, Nicácio da Silva,
ex-colega de Dom Bosco, é escritor e membro da UBE – União Brasileira de Escritores
e da ANE – Associação Nacional de Escritores.
Tinha
a missão de administrar o trabalho de vários profissionais que prestavam
serviços para o deputado Carlos Souza, em Manaus.
Para
trabalhar com Carlos Souza, tive que pedir permissão do presidente do Conselho
Regional Norte do SEST/SENAT, administrador Francisco Saldanha Bezerra.
Chegava
ao Escritório de Manaus do deputado Carlos Souza às 7 horas da manhã,
despachava os assuntos e seguia para o SEST/SENAT. Também quando decidi ser
professor na Faculdade Nilton Lins, já que tinha feito Curso de Especialização
em Docência de Terceiro Grau pela Faculdade Cândido Mendes, do Rio de Janeiro,
novamente pedi autorização para Francisco Bezerra. Não tive problemas com ele.
Também
fazia a divulgação dos assuntos do deputado na imprensa, em Manaus. O jornalista Freitas,
do Jornal Amazonas em Tempo, publicou uma matéria quase de página inteira, com
perguntas e respostas, escrita por mim e só lida pelo deputado, que, no estúdio
do seu programa diário “Canal Livre” que apresentava com seu irmão, Wallace Souza,
pela TV A Crítica, autorizou a publicação.

“EMPIEMA BILATERAL SUBDURAL CRÔNICO”
Trabalhando
ao mesmo tempo como Diretor do SEST e do SENAT, por 12 anos, professor do Curso
de Serviço Social da Faculdade Nilton Lins, por oito meses, membro da Junta
Administrativa de Recursos Infracionais – Jari da EMTU – Empresa Municipal de
Transportes Urbanos, por quatro anos, presidente da Comissão Estadual de
Emprego, por dois anos intercalados e em rodízio, membro da comissão nacional
de reestruturação das Políticas Sociais de Trabalho, Emprego e Renda, em duas
oportunidades, membro da Jari do DNIT – Departamento Nacional de
Infra-Estrutura de Transportes, e ex-membro da Jari da Polícia Rodoviária
Federal por um ano, uma simples perda de audição me fez largar tudo e cuidar da
minha saúde.
Construí
uma sólida e verdadeira amizade com a diretora geral do SEST/SENAT, Lucimar
Coutinho, ao ponto de, sempre que lhe
sobrava tempo, telefonar para mim e
conversar sobre os problemas administrativos que tinha na condução da administração
nacional, perguntar sobre projetos em andamento e elogiar-me pelos bons
resultados obtidos no processo de gestão financeira e de resultados operacionais.
Também fiz muitas outras amizades em Brasília: Liliam Carla de Souza, Tereza
Pantoja, Nilson Souza, Aristides França Neto, Ilmara Chaves e tantos outros que
também os deixei pelo caminho, ou passaram pela minha vida.
Mas,
Lucimar Coutinho foi a que mais marcou minha vida, pela sua objetividade, espontaneidade
e firmeza e pela autonomia que ela deu
aos diretores, “mais com responsabilidade”. Produzi muito nessa fase, e sempre
que viajava a Brasília, fazia questão de ir visitá-la, mesmo quando viajava a
convite do Ministério do Trabalho, nos anos em que presidia à Comissão Estadual
de Emprego ou que coordenei o Projeto Serviço Civil Voluntário.
Depois
de ser submetido a um exame de tomografia computadorizada, que acusou a
presença de líquido a caixa craniana,
pressionando 2,5 cm de meu cérebro, o que ocasionou minha perda auditiva total,
fui submetido a onze cirurgias, sendo duas para a drenagem de um empiema
cerebral bilateral, subdural, crônico, – uma infecção que se manifesta entre o
crânio e o cérebro – e todas as demais para drenagem de pus que se forma em
minha cabeça devido duas infecções por bactérias adquiridas dentro do Hospital
Prontocord, conforme apontou laudo da Agência de Vigilância em Saúde, em meu poder.
A
denúncia contra o Hospital Prontocord,
quando me encontrava internado pela quinta vez seguida e submetido a mais
cirurgias, foi feita em julho de 2006, através do Jornal “A Crítica”, de
Manaus, em matéria assinada pela jornalista Ana Célia Ossame. Cópia do laudo me
foi entregue em cópia pela 51. Promotoria do Ministério Público no dia 22 de outubro
de 2011.
Durante
os seis anos de seguidas internações de emergências e eletivas, contei com o
apoio do presidente do SEST/SENAT, administrador Francisco Saldanha Bezerra, o
empresário e amigo e membro do Conselho do SEST/SENAT, Flávio Willer Cândido,
do empresário Reginaldo Murilo e sua esposa Ana, do deputado estadual Luiz
Castro e sua esposa Ana.
Sempre
que podiam, faziam me visitas em hospitais em que eu estava internado.
O
deputado Luiz Castro e o presidente do SEST/SENAT foram me visitar até em São
Paulo, quando lá estava internado.
Fui
operado inicialmente, em duas oportunidades, pelo Dr. José Vieira, quando
recebi alta hospitalar escorrendo líquido de minha cabeça.
- É
assim mesmo, tomando essa médicação, vai parar, disse-me o médico.
Minha
esposa não aceitou essa explicação do médico e os dois discutiram.
No hospital em Manaus, por cima de minha cama eram visíveis dois
canos de vasos sanitários e porque o líquido não parava de escorrer, mesmo
tomando os remédios receitados pelo médico José Vieira, decidi trocar de
médico e fui operado nove (mais duas depois, em 2012) vezes pelo médico neurologista,
Dr. Dante Luis Garcia Rivera, em Manaus, de quem me tornei amigo, e duas em São Paulo , no Hospital
São Joaquim, da Beneficiência Portuguesa, pelos médicos, Drs. Antonio Almeida e
Valéria Moio, todas para drenagem de pus que se formava entre meu cérebro e a
colota craniana. Na segunda cirurgia em SP, tive um derrame leve, mas que paralisou
todo meu lado esquerdo e entortou minha boca.
Retornei
para Manaus em cadeira de rodas. Fiz fisioterapia por um ano e hoje tenho sequelas neurológicas devido as
manipulações em meu cérebro, com constantes convulsões e vivo sem dois lados da
calota craniana, que foram retiradas por se encontrarem apodrecidas.
Em
Manaus, ainda fiz tratamentos complementares com a reumatologista Rosana Barros
de Souza, devido à paralisia do lado esquerdo que sofri em São Paulo , o Dr. Júlio
da Luz, médico especialista em tratamento de calcificação óssea e a Dra.
Silvana de Lima e Silva, infectologista, que acompanha até hoje.
Durante
os sete dias em que fiquei em coma induzido no Hospital Santa Júlia, tive a
companhia constante da minha esposa, Yara Queiroz e do amigo Flávio Willer
Cândido. Quando despertei, Flávio Cândido estava ao meu lado e perguntou:
- Se
você estiver me ouvindo bem, cruze suas pernas. Cruzei as pernas, e ele veio
para o meu lado. Disse-me que nem os médicos acreditavam que eu retornaria do
processo de coma induzido:
- Ele
vai resistir, sim. Meu marido “é um touro”, dizia minha esposa.
Yara
Marília, minha esposa, pessoa decidida em suas convicções, mas terna como a
brisa, depois de alguns contratempos, deu-me novamente a vontade de viver e ser
feliz e resgatou-me mais uma vez, do precipício em que estava desabando,
concretizando, novamente, o significado do sonho de criança que tinha
seguidamente. Com ela aprendi que, com a perseverança em Deus, tudo alcançamos,
inclusive o resgate de uma vida calcada em alicerces firmes e sólidos, recheada
de solidariedade, compreensão, amor e tolerância, como a que vivo ao lado dela.
Acredito
que meus sonhos de infância foram todos realizados. Mergulhei em um rio de águas
profundas, nadei muito, mas cheguei a uma margem tranquila em que deitei e
sonhei na relva de um campo verde que só existe na minha imaginação e em meu coração, que nunca deixou de sonhar e
acreditar que um dia eu venceria na vida, mas hoje vivo mais das lembranças do
passado do que de um futuro brilhante que poderia tê-lo. Contudo, tudo que
sonhei foi interrompido aos 46 anos de vida!
.
FIM.
Jean Luiz Castro Carlos costa uma inspiraçao!!! De jornaleiro a jornalista.
ResponderExcluirKeyla Maria Oliveira Silva Sua história é uma das mais lindas que eu já tinha visto, sua amizade é uma bênção de Deus!
ResponderExcluirQue tragetória amigo, és um grande exemplo de superação, parabéns, que DEUS continue te abençoando com muita saúde, paz e amor!
ResponderExcluirParabéns Sr. Carlos Costa...realmente é um belíssimo trabalho jornalístico...desejo mto sucesso pra vc! Abraços
ResponderExcluirParabéns amigo, pelo seu trabalho, mereces!!! Abração.
ResponderExcluirquem,tem carater conseguir.
ResponderExcluirgostei
ResponderExcluirEnquanto,aqui ninguem,acredita que voc êganhou na loteria.Ve tua roupa e esquece que o vento levou
ResponderExcluirEnquanto,aqui ninguem,acredita que voc êganhou na loteria.Ve tua roupa e esquece que o vento levou
ResponderExcluirEs mais que vencedor.
ResponderExcluirAgora aproveitar cada momento nessas margens tranquilas, com a flor do campo que está ao teu lado.
Luz graça e paz.