O barco de 12 HP que
transportava a mim e ao meu tio Armando rumo ao lago de Autazes, aonde eu iria a
pretexto de descansar e pescar. Deixava para trás um rastro de fumaça pela
chaminé e, pela frente além do pouco banzeiro
que produzia devido a lentidão quase parada, alugada pelo meu tio como presente
de aniversário, se podia ver peixes
pulando como se estivessem evitando bater na pequena embarcação, tartarugas e
jacarés “escorregando” de cima dos toros de paus às margens do rio e entrando nas águas barrentas do Rio Madeira.
De tão lento que seguia o
barulhento barco, cheguei a perguntar se ele não poderia ir mais rápido, tanta
era a ansiedade de meus 26 anos de chegar ao local para descansar no meio do
lago, em uma rede, só ouvindo canto alegre de pássaros livres ao voar, vendo
floresta multiforme e comendo o que o lago nos proporcionasse. Para o café da
manhã, eu adquiria leite de uma fazenda em frente de onde ancoramos o pequeno
motor. Deu até para nos entrosar com os moradores e fomos convidados para jogar
uma partida de futebol. Eu, é claro, escolhi o gol e meu tio ficou no meio do
campo.
Vez ou outra ligávamos o
motor e nos deslocávamos a um flutuante para pedir verduras; no resto, era tudo
por nossa conta mesmo! No dia de meu aniversário, meu tio Armando achou de
fazer um prato diferente e decidiu atirar em um pato do mato. O pato foi
baleado, mas não morreu. Mergulhou na água e entrou em baixo de um mato, mas
meu tio não desistiu de meu presente e
pulou n’água e decidiu ir buscá-lo. Trouxe, terminou de matá-lo e o preparou só
com sal e arroz. Foi meu presente de aniversário dado com tanto carinho e gosto
porque vi o esforço que meu tio Armando fez para ir apanhar o pato depois que
ele se enfiou embaixo do capinzal. Voltou nadando, cansado e feliz, com o pato
do mato nas mãos e depois foi prepará-lo. Fiquei só olhando porque ele dissera
que seria meu presente de aniversário!
Vez ou outra subia em cima
do toldo do motor para filmar alguma coisa e, nesse instante, percebi a revoada
de pássaros aos bandos retornando aos ninhos. Depois, um silêncio sepulcral se
fez nas árvores. Mais tarde, um o outro canto se ouvia no total silêncio do
barco ancorado no meio do lago. Achei isso engraçado e registrei na crônica REVOADA
SOLITÁRIA, publicada na obra “CRÔNICAS DE UMA POESIA INACABADA” um
de meus vários livros publicados e esgotados.
Depois que descobri que
isso acontecia sempre cinco minutos antes das 18 horas, passei a subir todos os
dias no toldo do barco só para apreciar esse movimento coletivo em bando de
aves retornando aos seus ninhos e descia depois que o silêncio se fazia
presente. Depois, só conseguia ouvir o cantar barulhento dos sapos e o barulho
de peixes batendo na água a cada pulo que davam.
Era o silêncio inocente das
aves que ainda não haviam perdido seus habitats naturais para o homem,
felizmente!
QUE TEXTO LINDO E QUE LEMBRANÇA BOA , AMIGO....<3
ResponderExcluirMAGAL ROCHA.
Bela crônica retratando suas lembranças juvenil. Foi um prazer a leitura que nos fez também viajar nesse barco; Abraços.
ResponderExcluirAMIGO CARLOS, UMA BELEZA SUA CRÔNICA DESCREVENDO UM ESPETÁCULO MARAVILHOSO DA NATUREZA. ABRAÇOS CARINHOSOS.
ResponderExcluirAções
ResponderExcluirFrancisco Vasconcelos 16:33
Para: 'Carlos Costa'
Imagem de Francisco Vasconcelos
Um belo e sentido relembrar, meu caro Carlos Costa. E nem precisava fazer maior esforço para guardar lembranças os momentos felizes que se vive ( ou vivia-se) em nossos verdes pagos. A beleza era a perder de vista e, no silêncio, o cantar dos pássaros orquestrava e embalava nossos sonhos. Abraços. Vasconcelos.
São momentos como esses que se tornam inesquecíveis,mesmo!Abraços
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