Crônica
extraída do livro de Carlos Costa “CRÔNICAS COMPROMETIDAS COM A TUA VIDA”,
de 1979/1ª Edição, Imprensa Oficial, Manaus-AM e, segunda edição em 1990,
Editora Nacional, Belém publicado no blog carloscostajornalismo.blogspot.com,
com mais outras 30 crônicas.
Porque
hoje é sábado, todos se reúnem na casa de alguém para, perguntando um a um e
interrogando os que passam, descobrir na casa de quem será a festa, logo mais à
noite. Hoje está definido, a festa não será na minha casa, mas na casa do João,
que namorou minha irmã mais não namora mais, mas que tem uma irmã bonita que eu
já namorei todos os meninos da rua. É fácil saber onde fica a casa do João.
Definido
o local, a notícia corre rápida e até de bairros distantes aparece gente. Da
sala principal da casa, foram afastados todos os móveis, que eram poucos, e
transportados alguns para o terraço e outros para o quarto. Estava pronto o
local da festa para receber os convidados.
O dono,
como é lógico, ficou à porta, recebendo os que eram convidados e os que se
convidaram porque conheciam alguém, que conhecia outro alguém, que era amigo de
um amigo do dono da casa. Ao final, todos entravam, brincavam, dançavam,
namoravam e terminavam se conhecendo mesmo.
Eu,
tímido, ficava só olhando e ouvindo as músicas de Pepino de Capri, Y Santo
California, Gilbert, Nazareth, Michael Jacksson, com seus 10 anos de menino
prodígio cantando “Beem”e tantos outros sucessos bons que hoje não se escuta
mais. A irmã do João, a única pessoa que interessava praticamente a todos os
que lá estavam, dançava com outro e eu não tinha coragem de me chegar.
E a festa
entrava noite à dentro, cada vez chegando mais gente. Em frente à casa, muitos
jovens olhavam para dentro para ver se havia muitas garotas. Festa sem garotas
não era festa. Também tentavam descobrir onde seria a festa da semana seguinte,
na casa de quem, e se haveria muitas meninas.
O João,
dono de tudo, deixou dar onze horas e parou o som da vitrola Nivico. Ninguém
entendeu nada. De repente, entrou na sua a sua mãe, dizendo que estava na hora.
Na hora de quê, de terminar a festa? Foi o que todos se perguntaram ao mesmo
tempo. Não, não era de terminar a festa, mas de cantar parabéns, afinal, havia
um aniversariante na festa e era o próprio João.
O
estranho é que ninguém sabia que ele estava aniversariando. Todos pensavam que
aquela era mais uma simples brincadeira de final de semana, como era comum
entre todos os jovens. Muitos esboçaram um sorriso e cantaram parabéns a você.
Outros se encostaram pelos cantos, confidenciando alguma coisa nos ouvidos das
garotas. Eu fiquei parado, esperando um tempo para me chegar à irmã do João.
Veio parabéns e todos cantaram, recomeçando a festa em seguida, que só terminou
depois das duas da manhã, um horário considerado já muito tarde para todos os
jovens daquela época.
Terminada
a festa, desci a rua acompanhado de um grupo de rapazes, ouvindo atentamente o
falatório das conquistas. O que menos falava, dizia que havia tocado nas mãos
de uma garota. Outros iam mais além e apostavam que tinham beijado fulana, irmã
de outra fulana, que namorava com fulano. Já outro havia descoberto que uma
garota não namorava mais com aquele rapaz e por aí afora.
Eu,
calado, só pensava mesmo no dia em que eu poderia me chegar à irmã do João, que
namorava minha irmã. Sabia que, em primeiro lugar, eu teria que aprender a dançar
coisa que eu considerava muito difícil. Mas, afora isso, a festa tinha sido
ótima, afinal, eu pude ver, mesmo de longe, a irmã do João!
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