http://www.youtube.com/watch?v=wnEkapJoI6U&feature=youtu.be
Arrastando as asas cansadas
por tanto querer afinar seus alunos cantadores ainda desafinados e barulhentos,
o maestro invisível da “ORQUESTRA DOS PERIQUITOS VERDES DESESPERADOS“ que
canta na árvore quase desfolhada que ainda resta no terreno do Condomínio Mundi,
pousou na janela da cozinha, local onde ouço melhor o desespero dos seus
lamentos desafinados do que poderá ser transformada depois na Orquestra
Filarmônica dos Periquitos do Mundi e decidiu ter um diálogo ecológico
e de protesto comigo.
Inicialmente, agradeci por
começarem a cantar sempre às 5:30 hs da manhã, horário em que tenho que
levantar e acordar também meu filho para ir à Escola com a mãe e pararem os
ensaios depois das 22:30 hs., quando começo a dormir. Aproveitando o momento
inusitado do encontro, lhe perguntei se o pássaro de cor marrom que bica minha
janela no horário da tarde, quando recomeçam os ensaios, era seu enviado ou
não. Respondeu que não, mas por ser um membro integrante da natureza destruída
para dar lugar a onze torres de 18 andares, também estava desesperado como os
seus alunos periquitos verde, porque também não conseguia mais ver como eu via
as araras, pacas, cutias, preguiças, macacos da noite, soltos e livres. O
pássaro marrom era só mais um sobrevivente. Entendi! Como os periquitos verdes que decidiram
formar uma orquestra e cantar em protesto também eram!
Explicou sua invisível
presença dizendo que não precisava aparecer, porque apenas era um maestro tentando afinar sua
orquestra. Pediu-me desculpas pelo barulho que faziam logo cedo e explicou que
os “seus
alunos eram teimosos”, mas seu papel era o de tentar afiná-los para
montar o coro da orquestra dos periquitos verdes desesperados e transformá-los
na “Orquestra Sinfônica dos Periquitos
Verdes do Mundi” para ver se alguém lhes escutaria. A orquestra passou a
ser regida em frente minha janela, na árvore da cozinha. Depois, disse-me que
estava muito cansado e me pediu desculpas por ainda não estarem perfeitos e
uníssonos e, de novo, pediu-me desculpas
porque talvez eu estivesse incomodado. Disse-lhe que não e até gostava de seus
cantos desafinados. Confessou-me que não podia usar baquetas e comandava todos batendo
apenas as asas, razão de seu cansaço.
Expliquei que não fui o culpado
pela destruição do habitat natural, mais me sentia culpado por estar morando no
Mundi também, depois da destruição da linda floresta primária que existia no
terreno, ocupando o espaço que era de todos. De minha janela, no Florença
Residencial Park ou de sua piscina do Condomínio, admirava e filmava araras
vermelhas e amarelas, preguiça, macaco da noite... Depois, quando a floresta
começou a dar lugar a uma matança de árvores,vendi o apartamento e mudei para
outro prédio, com uma linda vista de pés de açaí e gostava de ouvir o canto dos
pássaros pela manhã e no final da tarde, mas de novo tudo foi destruído para
dar lugar a uma concessionária de automóvel. Mudei para outro imóvel na mesma Avenida
Efigênio Sales, com dois clubes na frente; um alagava com as chuvas e o outro,
foi aterrado para virar uma loja. Como síndico, denunciei o desmatamento do terreno,
expliquei ao maestro, para reduzir minha culpa. Ele entendeu, mas me perguntou: “então,
porque o senhor veio morar aqui?” E lhe respondi: “para ajudá-los, denunciando o
sofrimento de todos vocês”.
Depois de ouvir a resposta,
o periquito maestro se foi com dificuldades pelo cansaço de tanto reger uma
orquestra ainda desafinada e eu fiquei com saudades, porque fui cativado por
suas palavras de lamento. Mas nada posso fazer a não ser escrever sobre a dor
de todos os animais que foram despejados pela ganância imobiliária que não
respeita o direito da natureza viver em paz e não lhes reserva espaços para que
ela sobreviva! No Mundi, ainda respeitaram uma mata em meio a um córrego que
dividi o complexo de onze torres em dois mundos!
Belo texto, bela orquestra. Sensibilidade. Parabéns e um fraterno abraço.
ResponderExcluirMuito bonita esta crónica.A orquestra é ensurdecedora,mas encantadora ao mesmo tempo,conforme verifiquei no vídeo.Achei impressionante conseguir ter tão perto de si um aglomerado de aves tão grande,o que me pareceu irreal,não fosse o conto que li.Aqui deixo meu abraço de além-Mar
ResponderExcluiré sentir uma grande impotencia,fugir,fugir e sempre defrontar com o mesmo tema.Tenho a esperança de dias melhores.Nosso Clima.Tem alguem ai que possas me falar.Temos tornados em Manaus?podemos ter vetos mais fotes que esses de tornados?Quem pode explicar?Essa ilha esta sendo devidamente abitata?quem controla isso.Devemos ter predios altos?Ok! pro futuro?Entao que engenheiros tenha a responsabilidade de erguer em toda a cidade um sistema,sustentavel.Esse sistema ja existiu na nossa cidade so que nossos governates,Dr. e estudados destruiram muito dos nossos xistemas,e nunca mais voltyram pq os bolsos deles estavam cheios de dinheiro e nossa cidade padeceu muito e ainda paidece,
ResponderExcluirMaria Botelho Hirschi
Carlos, uma bela e sentimental crônica,
ResponderExcluirUm abraço,
Adelaide Reys