quarta-feira, 2 de maio de 2012

'TARZAN E AS AMAZONAS"


- Tarzan?!! – gritávamos em coro, todos ao mesmo tempo! Estávamos dentro do Guarany, hoje destruído para dar lugar a um banco, mas um dos mais belos e imponentes cinemas que já existiram na cidade de Manaus, onde se realizavam trocas de revistas coloridas dos heróis preferidos, adquiridas em bancas na Avenida Getúlio Vargas, ainda cheia de árvores.

Eu e amigos assistimos tantas vezes ao filme “Tarzan e as Amazonas” que decoramos todas as cenas, falas, principalmente aquela momento em que o herói estava fugindo das índias Amazonas por uma ponte de corda; parara,  olhava para trás. Nesse  momento exato, em coro, do mezanino do cinema, chamávamos ao mesmo tempo: “Tarzan?!!”.

Era uma risada geral de todos os outros que lá se encontravam. Durante as lutas, mesmo sabendo que Tarzan sempre venceria, torcíamos por ele aos gritos, quase chegando ao delírio, como hoje vi minha esposa torcendo pelos “Vingadores”.

Dentro do cinema O Guarany, havia o “Jardim do Namoro”, como chamavam as áreas laterais, mezanino, lanchonete e era tudo em ferro. Os adolescentes costumavam ficar na área do mezanino só para arremessar copos com urina ou resto de refrigerantes no pessoal que ficava na parte inferior do cinema. O Guarany possuía dois banheiros e as primeiras cadeiras surgiam bem próximas à tela de pano para a projeção. Tinham também os famosos “lanterninhas” que tanto ajudavam quando se queria encontrar um lugar vago como também atrapalhavam os namoros dos assanhadinhos.

O filme “Tarzan e as Amazonas, produção americana de 1945, em preto e branco,  com direção de Kurt Neumann, narrava a história de um grupo de arqueologistas que pedia ajuda ao Tarzan para  encontrar uma antiga cidade escondida no vale das mulheres. Em princípio, Tarzan recusava, mas Boy, que seria o filho de Tarzan, acabava tomando seu lugar e fazendo o serviço, depois de ser ludibriado pelo grupo.

Então, a Rainha das Amazonas pede a ajuda de Tarzan para que seus segredos não sejam revelados para o mundo. Durante esse desenrolar, há a cena de Tarzan fugindo das índias por uma ponte de corda e, bem ao meio, olhava para trás. Era nesse instante que todos gritavam: “Tarzan!”. Todos riam porque pensavam que herói estava atendendo aos nossos gritos.

Lembrei desse episódio a frequentar um cinema em Manaus para assistir ao filme “Os Vingadores”, reunindo heróis improváveis dos desenhos em quadrinhos: “Viúva Negra”, “Capitão América”, “Hulk”, “Thor” e o “Gavião Arqueiro”.  Filme muito futurista, com efeitos especiais impensáveis no passado, com naves especiais e porta aviões do qual os aviões se lançavam ao espaço etc.

Aliás, já observaram que estão fazendo muitos filmes com nossos antigos heróis dos quadrinhos? Os diretores parece que não têm mais qualquer criatividade e, por isso, ressuscitam os heróis dos quadrinhos, que tanto faziam a alegria, diversão e entretenimento de jovens adolescentes!

Enquanto minha esposa vibrava com as cenas em 3D como no passado, ficava recordando à época do Cinema Guarany, quando os filmes eram projetados em preto e branco, sem efeitos especiais,  a partir de 11 horas da manhã, com desenhos feitos à mão por “Peninha” e exibiam-no durante um mês inteiro. Eram anunciados em classificados de jornais e os adolescentes vibravam quando sabiam que o filme seria em película colorido. Hoje, muitos já são em 3D, quando se precisam usar óculos!

Em frente ao Cinema Guarany, existia o “Café do Pina”, que comprava  garrafas que garotada recolhia, lavava e colocava dentro de saco de estopa de pano e as vendia para adquirir os ingressos. “As garrafas escuras têm melhor preço”, dizia o comprador, por isso preferiam as de cores escuras e desprezavam as de cores claras.

Com o dinheiro da venda, um colega era sempre encarregado de ficar na fila e adquirir os ingressos para todos que frequentavam o cinema. Muitas vezes, a molecada entrava por um portão de madeira aos fundos e passava por debaixo da tela de projeção quando começava a exibição do filme. Mas era a única diversão possível nos anos 70 em Manaus!