terça-feira, 16 de junho de 2015
FUSCA DESAPARECEU NO PICADEIRO DO CIRCO FUMANCHU!
-Não percam hoje a estreia do Circo Fumanchu, com um número de mágica nunca visto no Brasil: um fusca desaparecerá no meio do picadeiro. Esse número nunca foi tentado antes! Era uma voz estranha, que não entendia direito, parecia ser uma mistura de português com o espanhol, um “portenhol” quase perfeito, entendi mais tarde. O fusca. era considerado, até então, um carro moderno e quase único tipo existente até que o presidente Itamar Franco, o chamasse de carroça, quando outros tipos de veículos passaram a ser lançados, inclusive o novo fusca, mais moderno.
O anúncio era feito também em um fusca, que andava lento pela Avenida Adalberto Vale, com um enorme alto-falante em seu teto, garantindo o espetáculo começaria “logo mais à noite”. Juntos com a divulgação, vinham elefantes, palhaços e funcionários do circo que estava armado em um terreno baldio, onde hoje fica hoje a “Feira da Betânia”! Eu jogava bola com os colegas, no asfalto recém-colocado na avenida em que morava!
Tinha 12 anos e, como todo menino tolo, carregava um esqueleto esguio de pouco mais de 20 quilos! Fiquei curioso e de noite, coloquei bermuda, vesti camisa e foi conferir o que estava sendo anunciado, não acreditando que um mágico faria sumir um “fusca em pleno picadeiro”. E para onde iria o fusca? De quem seria o carro, do mágico? Eram interrogações que me fazia enquanto caminhava a pé uns 500 metros até o local onde estava armado o circo. Entrei em uma fila, comprei ingresso com a venda de picolé e caminhei por uma longa entrada escura, procurando um tablado em erguido em cima de armações de ferro e sentei em uma tábua de madeira que servia de banco. Era a primeira vez estrava em um circo e fiquei admirando com tudo que via: o picadeiro, os palhaços fazendo piruetas, falando “respeitável público”, fazendo reverências a todo momento com o chapéu que tiravam e colocavam de volta na cabeça.
O que o palhaço falava era igual ao que eu havia escutado na “boca de ferro” em cima do carro, seguido por integrantes do circo e animais que usariam no espetáculo. Era uma forma de espetáculo-marketing-direto. Nervoso, esperava sentado a hora da mágica. E como demorou! Deixaram-no para o final, como último número do espetáculo. Será que era para prender os espectadores que para lá se dirigiram? Talvez sim! Por que sempre deixam sempre para o final, tudo que prende a atenção de alguém? Não sei, mas até em modernos programas de hoje, fazem isso também. Estranho, mas verdadeiro e fácil de constatar na prática diária!
Os tambores rufaram. O número de mágica tão anunciado e esperado pelos espectadores, estava para começar. O Circo Fumanchu talvez fosse uma tradição vinda do século XIX, com as famílias europias, que se agrupavam em guetos e manifestavam sentimentos através de interpretações teatrais, onde não demonstravam apenas interesses individuais e sim, despertavam consciência mútua, mas não tenho certeza. Será que também teria sido essa a origem do Circo? Não sei. Só sei que falavam com uma voz meio estranha, uma mistura que hoje eu sei que era de espanhol com o português.
- Respeitável público, sejam todos bem-vindos ao Circo Fumanchu. Estamos nos preparando e preparando o número final, quando um mágico fará desaparecer um fusca em pleno picadeiro. Os tambores rufaram, arrepiando a mim. Os palhaços retratistas tiravam fotos em binóculo. O fusca apareceu no picadeiro, um pano negro foi colocado em cima e depois de um toque com uma varinha mágica, o pano foi puxado e o fusca não estava mais no picadeiro, para espanto de todos que só faziam perguntas depois do “oh” geral, para onde teria ido o automóvel.
Até hoje “não sei, só sei que foi assim Chicó”, como escreveu o mestre Ariano Suassuna, em sua peça O AUTO DA COMPADECIDA, antes que alguém diga que estou escrevendo sobre um delírio!
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Muito bom!
ResponderExcluirE a referência ao AUTO DA COMPADECIDA...Obra prima popular de Ariano Suassuna...Está ótimo. Eu vi vc lá no banco...do circo.Imaginei...rsrsrs
Amo circo, um lugar onde o sonho, a fantasia e o mágico arrancam emoções e expectativas da plateia! E como sempre, vc escreve uma brilhante crônica que faz com que nos sintamos como se estivéssemos ali!
ResponderExcluirCaríssimo Colega, ah se não fossem os velhos circos de periferia da cidade, estes ainda nos traz alegrias e boas risadas, na verdade a tecnologia do Misterene & Cia não vale. Bom mesmo é o mágico de fusca, de preferência preto.
ResponderExcluirBastante interessante! Quando somos meninos, não nos damos conta dos ilusionismos. Principalmente a alguns anos, quando tudo era fantasia e delírios. Ainda não haviam os especialistas em desvendar o encantamento da mágica. Beijos
ResponderExcluirOnde?
ResponderExcluirO circo é sempre algo impressionante principalmente p/ as crianças pela sua beleza e magia e sua crônica retrata isso muito bem!...
ResponderExcluirMuito legal esse texto!!! Amei!!!��
ResponderExcluirEu gostei demais do TEXTO e eis que vivi também este momento. Eu tinha lá meus 10 anos de idade. Estou escrevendo um livro onde relato o meu mundo mágico até os dias atuais... e Fu Manchu faz parte dele.
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