Na comunidade do
Varre-Vento, município de Itacoatiara, onde não nasci e vivi antes de vir
estudar em Manaus, andava dentro do Cacoal nativo do meu avô, sempre com um
estilingue a pendurada no pescoço. Todos meus irmãos e outros meninos também
andavam um estilingue no pescoço e eu os
imitava. Diziam que balar “anum preto” dava um tremendo azar! Talvez por isso tenha perdido vários estilingues
presos em uma espécie de forquilha que servia de mira para balar passarinho,
como se dizia.
Não podia ver um
passarinho em um galho de árvore que colocava logo na funda de pano, uma bolinha de barro de tabatinga e mirava
rumo ao rumo a ele. Diziam que se
matasse um “anum preto”, teria azar.
Perdi
vários estilingues bons e sem defeitos, quando mirava rumo ao ou
pássaro. Ou ele voava antes do
disparo ou se me visse antes voava do
mesmo modo. Antes de voar, porém, só de olhar quebrava o estilingue feito com tiras finas de pneus.
Seria verdade a fama?
Até o dia que acertei
em um “anum preto” e ele caiu ao chão se debatendo todo. Juntei o pássaro agonizante no chão, com muita
pena do animal e, como imitador que era, fiz o que via minha mãe fazendo com as galinhas
do quintal quando matava uma para o sustento da família:, torci o pescoço do indefeso pássaro, o coloquei apoiado na coxa e puxei de leve. Fiquei com a cabeça do anum preto em minha
mão e o sangue escorrendo em meu calção
de saco de açúcar.
Nervoso com o que tinha
feito, corri para casa assustado e me questionando: será que puxei com muita
força ao ponto de arrancar-lhe a cabeça ou será
não tinha feito corretamente ou que vira minha mãe fazer várias vezes, sem
nunca ter ficado com a cabeça da galinha em sua mão?
Se dá azar ou não
acertar “anum preto” com bolas de tabatinga que recolhia da margem do rio
que parece mais um mar , secava-as ao sol amazônico, não sei dizer. Mas que fiquei com o corpo do anum entre as pernas, a cabeça dele na mão e o
sangue escorrendo em meu calção, ah, isso fiquei sim!
Hoje, aos 56 anos, admiro
e defendo a natureza da devastação dos homens, mas em 1967, vivendo ainda na idade
das trevas, não sabia que a ela seria e
é tão importante para a sobrevivência também dos homens no planeta terra!
Uma belíssima história...minha traumática experiência se deu com um gato...desde esse dia aprendi a valorizar a natureza e o que ela nos oferece
ResponderExcluirO assum preto comeu o menino que andava com o bodoque malvado na mão.
ResponderExcluirBelíssimo relato. Memórias de um escritor. Parabéns!
ResponderExcluirBelíssima crónica.
ResponderExcluirPalmas..