sábado, 21 de outubro de 2017

Capitulo V do livro O HOMEM DA ROSA

Obra lançada na Bienal Internacional do Livro em 1988 e 89, indicado ao prêmio Jabuti, mas ainda atual no no mento político do Brasil.
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Havia um grande jardim. Cheio da Rosas. Uma delas, maior que as outras, mais que bela que as outras, parecia ser a rainha de todas, dava ordens, gritava, dominava a vida e a morte das rosas mais fracas – Esta pode morrer, não serve. Não tem o perfume que deveria ter – dizia ela.
E a pobre e frágil rosa era impiedosamente arrancada e largada ao tempo. O sol, que lhe tinha pena, custava a destruí-la. Mas a Rosa - Rainha esbravejava.
- Até o sol está contra mim?
De repente, a Rosa do peito do homem que dormia no banco da praça ganha força e caminha por entre as menores rosas: - Vocês devem reagir. Vocês devem lutar. Não é possível que aceitem viver assim – dizia a Rosa.
As Rosas pequenas e frágeis escutavam silenciosamente. E na diziam. Do meio delas, uma voz fraca, quase inaudível, começou a falar:
- Ela está certa, ela está certa – todas se viraram para aquela rosa de voz fraca. Era a Rosa que tinha sido arranca minutos antes.
Parecia que o sol lhe tinha poupado a vida. E ela continuou: -
Temos que reagir. Nós somos todos iguais. A ninguém é dado o direito de determinar a nossa vida e nossa morte. Se eu nasci fraca, também tenho o direito de viver, tenho o direito de expelir o meu perfume, tenho o direito de crescer, conhecer o mundo, tenho o direito de ser alguém.
A Rosa do peito do homem que dormia na praça ouvia a tudo em silêncio. Quando a Rosa fraca parou de falar, as outras Rosas silenciosas começaram a murmurar entre s
- Minhas companheiras – começou a falar a Rosa do peito do homem que dormia na praça – eu estou percorrendo o mundo nas mãos de um homem. Estou sendo recusada pelas pessoas. Essas pessoas não estão recusando a mim, mas ao homem. As pessoas não sabem ver além dos olhos. Não sabem ler a Alma da Vida. Não entendem que não é a beleza do corpo que gera a beleza da Alma.
Eu estou sofrendo pelo homem que agora dorme na praça, cansado. Vamos lutar companheiras. Precisamos vencer a quem nos oprime, para podermos vencer o coração dos homens. Vamos à luta!

- O que estão fazendo aqui? Por que não estão nos seus lugares, perfumando o meu jardim? O que ela faz aqui? Guardas prendam-na. Eu quero interrogá-la. Pode ser uma espiã.

Os guardas iniciaram o cumprimento das ordens da Rosa – Rainha, mas viram-se cercados pelas rosas menores. A Rosa – Rainha tentou fugir, mas foi dominada, cercada e presa pelas Rosas menores. A Rosa arrancada e posta ao sol gritou:
- Não machuquem ninguém. Não queremos perder a nossa nobreza. Não somos violentas e nossos espinhos servem-nos apenas para a defesa de nossas vidas.
As outras Rosas menores obedeceram a soltaram a Rosa – Rainha, que permaneceu no meio da roda:
- Castiguem-me. Eu as castigava todos os dias porque eu era a Rosa mais forte e mais bela e por isso me fiz rainha. Matem-me. Eu o mereço.
- Não a mataremos. Nós a perdoamos por todos os seus erros.
Volte para o jardim e fique igual a nós. Aos guardas, damos também a liberdade. Voltem ao campo e digam a todas as outras rosas que não temos mais rainha. Todas nós seremos rainhas de nós mesmas. Temos que continuar perfumando o mundo. Temos que perfumar a Alma do Mundo. Vão, sigam em paz. E a você, rosa que nos despertou para a consciência ficará sempre nossa gratidão.
Você nos fez ver que nem sempre o mais forte é o vencedor. Se todas nós tivermos consciência, venceremos a todos os que nos oprimem. Vá. Diga ao mundo que o nosso reino vai continuar fazendo as pessoas felizes.
- Viva a liberdade! – Gritaram todas as rosas.
O homem que dormia no banco da praça acordou assustado. Levou a mão ao peito e encontrou sua Rosa no mesmo lugar. Olhou para o lado e viu um enterro que passava. Ficou curioso. Será que mataram a Rosa – Rainha? Não, não era. Era apenas um homem que havia morrido. As pessoas que acompanhavam o féretro traziam rosas nas mãos? Por que choravam se todas tinham rosas nas mãos?
Choravam pelo homem que morreu ou choravam pela dor das Rosas – Arrancadas? Será que a beleza da Rosa só era vista na hora da morte dos homens? E por que o homem que morreu não resistiu à morte, como fez a Rosa – Fraca arranca pela Rosa –Rainha? Por que o homem que morreu não resistiu à indiferença dos outros homens e mostrou aos homens que morrem que a união deles em torno de um ideal lhes torna fortes!



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