domingo, 19 de novembro de 2017

OS PUTEIROS DE MANAUS!

Todas as interessantes informações aqui prestadas tiveram como referência, inclusive com transcrições de trechos inteiros ou parciais, a dissertação do escritor Raimundo Alves Pereira Filho e estão contidas em sua dissertação “Lupanares e Puteiros” – os últimos suspiros dos rendez-vous na sociedade manauara (1959/1969).





Nos anos 1960, quando Manaus era uma cidade provinciana, com população não superior a 176.000 habitantes, os rendez-vous – alcunhados pela imprensa baré de lupanares – e puteiros – assim vulgarmente denominados por seus frequentadores – reinaram absolutos como locais de aventuras e prazer.

O apogeu dos puteiros, que também eram conhecidos como antros de prostituição ou antros de licenciosidade, deu-se exatamente naquela década e tiveram o seu fim decretado em meados da década de setenta.

O vocábulo rendez-vous significa bordéis abertos e eram assim chamados pelos franceses porque sua prática ocorria no início das tardes. Depois passou a se caracterizar como bordel, já que as prostitutas não moravam no local do trabalho.

O primeiro puteiro de Manaus foi o Bom Futuro, que em meados da década de cinquenta deixou de ser um “banho” familiar. Ficava à beira do igarapé que ainda hoje banha o Clube Municipal, na margem direita da Estrada Torquato Tapajós, onde hoje funciona a Frigelo.

O “Lá-Hoje”, que se localizava exatamente onde hoje está instalada a horrorosa Estação Rodoviária de Manaus, era tido como discreto e melhor frequentado. “Era um casarão enorme, em formato circular, afastado da estrada, com pista de danças […]. Nos fundos do terreno, que era grande, havia uma série de quartos destinados aos casais que desejassem folgar mais aconchegadamente. Ambiente de respeito e muito tranquilo”.

“[…] na Rua João Coelho, atual Avenida Torquato Tapajós, o puteiro “Verônica”, localizado onde hoje é o Shopping Millenium, […], localizado à margem direita do igarapé da Ponte dos Bilhares; o “Ângelus”, localizado na esquina de um pequeno ramal em frente do Hospício, onde hoje fica a IMESA, com a Rua João Alfredo, hoje Djalma Batista; o “Iracema”, que existia na rua ao lado da atual loja Solimões Veículos, também em Flores, o “Piscina Club”, que se situava num pequeno ramal atrás do atual Posto 5; o “Mon Petit”, que sucedeu o “Ângelus”, em frente à atual fábrica da Philips, na Avenida Torquato Tapajós; o “Bataclan”, um pouco mais acima; o “Rosa de Maio”, no ramal localizado após a entrada da cidade nova, onde na entrada temos o atual Motel Detalhes e, por fim, um dos mais antigos, o “Forquilha”, que se situava na atual rua que leva ao Aeroporto Eduardo Gomes. Para a zona leste, no que é hoje a Avenida Cosme Ferreira existia o “Bafo de onça”, onde funciona atualmente o Colégio Santana; o “Furna da onça”, um pouco mais adiante. Para o lado do Rio Negro existia, dentro da Cidade Flutuante, o “Cai N’água” e na zona oeste, na estrada da Ponta Negra, o “Mansão das Brumas”.

Na década de 1960, os rendez-vous situados na zona urbana de Manaus eram: Cabaré do Almeida, que se localizava no bairro do Morro da Liberdade; o Cabaré do Carroceiro, no Beco Boa Sorte e a Buate Fortaleza, no Bairro do Educandos. No centro da cidade ficavam: a Buate Odeon; os rendez-vous do Déde, Carolina e da Elisa, na Rua Frei José dos Inocentes; o rendez-vous da Rosimeire, na Rua Saldanha Marinho e a Pensão Royal, na Joaquim Sarmento. Nem todos possuíam quartos para a prática do sexo pago, serviam apenas de ponto de encontro.

A maioria dos puteiros localizados fora da zona urbana de Manaus ficavam às margens de algum igarapé. No local era regra que se fizesse um cerco de madeira, com direito a escada, a qual começava às margens e terminava na areia do fundo do igarapé. Curiosamente o Lá Hoje, o mais “refinado” dos puteiros, ficava localizado em terreno onde não passava nenhum igarapé.

Era comum o uso de trocadilhos entre os “putanheiros”, especialmente se na ocasião tivesse a presença de alguém que não era do “ramo”: “vais lá hoje? “; “está na hora do Ângelus”.

Havia ainda a figura do xodó, que era a relação que nascia dentro do puteiro quando a prostituta de engraçava de um cliente. Esse “passava a ser “propriedade” dela e, dessa forma, quando ele entrava no recinto, as outras prostitutas, na grande maioria das vezes, respeitavam essa posse e não mexiam ou davam confiança diante da “proprietária””. O xodó tinha a sua preferência na relação sexual. Este, por sua vez, a bancava parcial ou integralmente, ou era generoso na hora do pagamento.

“A transição ocorrida entre a segunda metade da década de 1970, entre esse tipo de bordel e o motel, se interpenetrando no espaço e no tempo, ocorreu claramente em Manaus com dois estabelecimentos – Selvagem e Saramandaia –, que assumiam um perfil misto, de lupanar, boate e dancing, sendo frequentados por uma nova geração que procurava outro tipo de prostituição, com características diversas daquelas anteriores”. Esses estabelecimentos se localizavam ao lado de onde é hoje o Colégio Denizard Rivail, na Estrada Torquato Tapajós.

 Ainda na década de 1970 surgiram os puteiros da Chica Bobó, localizado na Compensa e o da Chica Pacu, na Avenida Brasil, ambos na zona oeste.

O primeiro dos puteiros mais tradicionais a encerrar suas atividades foi o Ângelus, em 1965 e o último a cerrar as suas portas foi o Lá Hoje, em 1974.

A mudança da sociedade de Manaus com a ruptura de valores mais conservadores, o modo de pensar o sexo – especialmente por parte das mulheres -, a proliferação dos motéis, o progresso com a chegada da Zona Franca ou o envelhecimento dos putanheiros, talvez sejam fatores que tenham concorrido para o fim dos puteiros, talvez.

Bem, esse é só um aperitivo sobre os lupanares e puteiros que existiram na cidade de Manaus na década de sessenta até meados da década de 1970.


3 comentários:

  1. Muito interessante e bem precisa a história, que só esclareceram aquilo que eu já havia ouvido dos velhos colegas putanheiros...

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  2. Carlos Costa quando eu era criança e nos tempos da Ditadura Militar, eu devia ter uns 08 anos na época, meus tios andavam nesses recintos de "perdição", sendo que algumas vezes, eles me levavam e eu ficava que nem cachorro de estimação, ou seja, assistindo tudo e não entendendo nada do que faziam ou conversavam. Lembro-me que tais ambientes eram bem divertidos.
    Mas como reza a lenda que do céu para o inferno existe uma janela, pela qual os anjos quando estão tristes, abrem a janela e dão uma espiadinha para o inferno , para suas tristezas passar.

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  3. Devido isso,passamos fome.Nao sei ate hoje de quem foi a culpa.Se do meu pai o da minha mae.Ate hoje quero entender.A prostituiçao é a profissao mais velha do mundo.Minha mae era uma educadoura execultiva,falava 3 idiomas,e perdeu para uma prostituta,derivada da italia.Ate hoje nao entendo.Meu pai formou uma familia,com a prostituta,tenho uma irma e dois irmaos com ela.Tenho um bom relacionamento,depois que minha mae morreu,para nao desapontar a minha mae.Mas ate hoje nao entendo.Passei fome,e ele tinha muito dinheiro,as vezes penso poque ele fez,isso comigo?eu so era uma criança,e teu pai paga uma prostituta,e deixa o filho passar fome?Dair nao dar para entender,tudo isso.Eu tenho contato ate hoje com essa Pessoa,e de vez em quando faço perguntas que,quero saber,daquilo que nao sabia e nem entendia quando era criança.A maioria das resposta eram verdadeira.Essa Pessoa vive ate hoje.Minha mae,faleceu e eu esta longe,foi muito dificil saber que minha mae uma exeultiva,perdeu para uma prostituta.Eu entendir meu pai,mais ate hoje nao entendir minha mae.

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