Todos os jornalistas novos
que ingressavam no Jornal A NOTÍCIA, na década de 80, tinham que passar por um
“trote” ou um “batismo”. Passei pelo meu também. O meu devido, ao meu nome ser
Carlos Costa, passei a ser chamado de “CC” entre muitos colegas e, me foi
aplicado pelo jornalista Francisco Monteiro de Lima: tomar quatro banhos no
próprio jornal para tirar o meu “CC”. Cumpria fielmente meu “batismo” e ainda
tirava “sarro” dos colegas, pedindo que me cheirassem depois de sair de cada
banho.
Levei na esportiva a
brincadeira. Mas narrarei nessa crônica do “batismo” de uma colega que veio
recomendada por um amigo do dono do jornal, Sr. Andrade Netto:
Um dia, uma jornalista nova
foi treinar na redação e redigia um texto nas velhas e sambadas máquinas marca
Olivetti. Estavam na redação, eu, o jornalista policial Luiz Octávio Monteiro,
barbaramente assassinado pela própria polícia, o Editor Geral Gabriel Andrade
e, ao fundo, como Editor Responsável pela primeira página, o jornalista Bianor
Garcia, um homem de estatura baixa, relativamente obeso e que chegou a ser
vereador na Câmara Municipal de Manaus, autor de fantásticas manchetes de
primeira página na época. Todas as manchetes de primeira página tinham que
passar por ele nessa época.
De tão baixo que era, Bianor quase conseguia se esconder em sua grande
poltrona de trabalho. Era exigente o Bianor, mas eu o agüentava com suas rabugices
porque eu também estava começando na profissão.
O Bianor sentava aos fundos da redação e o que o separava dos outros jornalistas era apenas uma parede
de vidro.
- Ei, vocês têm café aqui,
perguntou a jornalista novata, em experiência.
- Temos, respondeu alguém -
acho que o jornalista Gabriel Andrade - e acrescentou: “Só que você vai ter que
pedir daquele jornalista baixinho e gordo que está lá dentro” e apontou para a
sala do Bianor Garcia, um excepcional
jornalista por convicção mesmo.
Não satisfeito, o Gabriel
ainda recomendou: “Mas entre devagar na sala dele e grite diretamente em seu
ouvido, quando estiver perto dele: “Bianor, o senhor tem café?!!!!!”
A que poderia ter sido uma
nova colega de profissão, foi pé ante pé, se postou atrás do jornalista Bianor
e perguntou, aos gritos, como tinha sido orientada. O jornalista pulou de sua
cadeira com o susto que tomara e respondeu bem alto:
- Tenho não, sua f.d.p. E
também não precisa gritar que não sou surdo, não! Também não uso qualquer
aparelho para surdez! – respondeu Bianor Garcia aos gritos também, mais alto
até do que o grito da jornalista, que foi ouvido em toda a redação. Na redação,
por trás dos vidros, ficamos rindo com o susto do Bianor, que quase caiu de sua
poltrona!
A que poderia ter sido
nossa nova futura colega baixou a cabeça, saiu chorando e nunca mais voltou a
pisar em A NOTÍCIA. Uma pena!
Ficamos sem uma colega, mas
eu tive que concluir o texto dela usando sua mesma máquina Olivetti, línea 98.
E não é que ela escrevia até bem!
Keyla Maria Oliveira Silva kkkkkkkkkkk, seria cômico se não fosse trágico!
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