sábado, 12 de janeiro de 2013

UMA 'REVOLVADA" NA CABEÇA!



 No início de minha atividade profissional como repórter, quando me encontrava  casualmente com o jornalista Oscar Carneiro, no Comando Geral da Polícia Militar, eu apelidava faca de “carteira de identidade”; revólver 38 de “CPF”; Bereta de pente, de “identificação policial”. Depois disso,comecei ai escrever e publicar crônicas no jornal A NOTÍCIA, sempre aos domingos, em uma coluna chamada de “Crônicas de Carlos Costa”, com minha foto no canto da página. Lá, ocorreu um episódio engraçado, divertido, mas que me tirou de um “aperto” gramatical danado, já que escrevia bem e conhecia a gramática, pelo menos a elementar – porque ninguém pode afirmar que conhece a gramática à fundo!


E assim, nominava as crônicas que escrevia e publicava na década de 80, no Jornal A NOTÍCIA, em plena época da Censura Militar que, para fugir dela, que era implacável com meus textos, passei a criar alguns personagens em diálogos. Um desses foi o Eleutério, o mais constante e que  me salvou de muitos  “convites” à Polícia Federal.


- Foi meu personagem quem disse isso. Não eu!  


Era o que sempre respondia que era indagado sobre qualquer afirmação que fizera em minhas crônicas e muito lidas, por sinal! E assim fui sobrevivendo, mas não escapei da censura quando quis publicar meu segundo livro de poesias: SEM PÁTRIA/SEM BANDEIRA, em plena época do Governo de Ernesto Geisel. Mas isso é passado. Para que desenterrá-lo agora, em pleno século XXI, cheio de corrupção pública? Não vejo qualquer propósito!


Relembrei desses fatos ao visitar um delegado de polícia e ver todos os “instrumentos de trabalho” de bandidos sob a mesa Eurico Nogueira, dentro de sacos plásticos e devidamente identificados.


Quando segurava a “carteira de identidade” na mão, entrei em um túnel do tempo, relembrando um fato engraçado quando escrevia e publicava crônica  ao lado dos excepcionais cronistas Chico Anysio e Guido Fidellis, este funcionário da Petrobras e também cronista de ocasião.


De tanto dar apelido aos “instrumentos de trabalho” e devido à censura da Polícia Federal, “bravamente” representada por Paraguassu Oliveira, decidi dar nomes aos personagens que também passei a criar. Dei vida ao personagem “Eleutério”, um semi-analfabeto, casado com uma socióloga e pai de oito filhos, pretendente a se “dar bem na vida, como político”, um criador de confusões, entrando em festas de carnaval sem pagar por “possuir imunidade parlamentar” e uma “identidade” na cintura, enfim.


Era a maior farra o que eu fazia com as crônicas hilárias que escrevia usando como personagem, o “Eleutério”, para que a censura e o censor não percebessem. Como candidato a vereador, Eleutério já apresentava projetos de lei para pagar a galopante dívida externa  de Delfin Neto; o rombo da previdência na gestão de outro Ministro, enfim. Eleutério tinha solução para tudo, mesmo ainda como simples pré-candidato  a vereador! Fiz até ele ser atendido pelo SUS para criticar o Governo! Era demais o “Eleutério”! Levava-o para onde pretendia  e o envolvia nas mais loucas idéias e confusões mas, ao final, ele sempre se dava bem!


Um dia, descrevendo crônica em que narrava mais uma de suas inúmeras, famosas e desastradas confusões em que meu personagem se envolvia,  esqueci a palavra “coronhada” e datilografei a palavra “revolvada”, na máquina Olivetti, línea 98 que possuía na redação. Depois das confusões de Eleutério, sempre precisava de socorro médico e era atendido por amigos, no único hospital público que existia em Manaus naquela época, o Getúlio Vargas.


A crônica passou pelo feroz censor, pelo revisor da redação mais não conseguiu passar pelo voraz leitor dentro do próprio jornal A NOTÍCIA, Wilson, gráfico, que colocou a palavra “revolvada” entre aspas, isso na época da linotipo, quando tudo tinha que ser reescrito e as letras caiam de um balcão, uma a uma, até formarem as palavras. E era Wilson quem a digitava minhas crônicas.


E o pior é que quando desci à gráfica onde era impresso o jornal o Wilson queria a todo custo me conhecer e fui  aos linotipistas como eram chamados esses profissionais.Wilson, era meu primeiro leitor e nem eu sabia disso e viera me pedir desculpas por ter colocado aspas na palavra “revolvada”.


Obrigado companheiro Wilson, onde quer que você esteja trabalhando hoje.


Salvou meu domingo!

Um comentário:

  1. As vezes é bom lembrar esses tempo do Salv-se se poder.

    Oh! eu tambem teve um Wilson na minha vida.

    Obrigada

    M.Hirschi
    Swiss

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