sábado, 5 de dezembro de 2015
AH, QUE SAUDADES DO VARRE VENTO! (homenagem à atriz Marília Pera)
Ao entrar em um supermercado de Manaus, parei para ouvir notícias sobre a morte da atriz Marília Pera, pela TV. Depois segui e entrei na fila para comprar presunto, queijo e, em outra fila, para comprar um peixe de cativeiro. Olhando-os tão pequenos sobre uma área fria de gelo, senti saudades do meu Varre Vento, que o deixei para estudar em Manaus aos 8 anos de idade. A comunidade ficou gravada em mim como se fosse uma tatuagem. Enquanto esperava para recebê-lo tratado, conversei com uma senhora de idade, que me disse que perdera sua filha para o lupos, professor da Ufam e seria muito inteligente, mas morrera nova, deixando-lhe um neto para criar. Tirou o celular da bolsa o atendeu e me mostrou a foto do neto que sua filha deixara para ser criado por ela. Era fofura” em seus braços.. Fiquei pensando com meus botões: como a vida é uma sucessão de “vida e morte” que nunca vai parar; una morrem; outros nascem e a vida continua. Por isso na aula de filosofia na Ufam, o professor Nélson me disse que o homem era um ser angustiado porque se reconhece mortal e caminha sempre rumo ao encontro da morte. Algumas vezes ela vem cedo demais. Outras, permite que e ultrapassando a casa dos 70 anos, como foi o caso da atriz global, que faleceu de câncer.
A senhora da fila com quem conversava me dizia que os peixes estavam muito pequenos e lembrei do meu Varre Vento. Contei à senhora que meu pai Paulo Costa, pegava tambaqui no lago de mais de 40 quilos de peso, até o final dos anos 70. Imediatamente recordei, também, que a criação de peixe em cativeiro no Amazonas e no Brasil começou com discursos inflamados no Congresso Nacional, do advogado e senador amazonense Evandro Carreira, no final dos anos 70 e início dos anos 80. Ele afirmava época, que a fartura de pescado no Estado desapareceria com a pesca precatória e os conflitos entre armadores com grandes embarcações os moradores das comunidades. Evandro Carreira estava certo, mas foi quase execrado pelos seus pares de outros Estados. “Como o peixe dos rios acabará?” se perguntavam em tom ironia, descrença e um pouco de deboche.
Também recordei de meus 7 anos de idade, caminhando com meu corpo ainda em formação com pai, Paulo Costa, rumo ao lago, para ele revisar espinhéis e malhadeiras colocadas na água no dia anterior. Quando o acompanhava essa tarefa de colocar seus instrumentos de pesca na água, poucas vezes, o vi marcando árvores onde os tinha colocado. O espinhel recebia seringas que eram colhidas quando espocavam e caíam dos das seringueiras, nas suas pontas; as malhadeiras, tinham pedaços de chumbos para afundarem e ficavam retas. Durante as revisões, meu pai, com todo silêncio, passava a pá do remo sobre os locais diferentes, suspendia-os e dizia alegre “aqui tem um peixe grande”; em outros, com tristeza, “nesse não tem nada”. Mesmo onde não existindo nenhum tipo demarcação, sempre acertava todos os lugares. Será que tinha o GPS em sua cabeça, na época em que nem se falava em GPS? Não! Era instinto, conhecimento no que fazia e sabedoria de cabocla mesmo, de quem nasceu e viveu a vida entre a pesca e à lavoura. Na fila, contei à mulher tudo e ela me disse que possuía um sítio e que hoje tudo tem que ser trancado porque existem muitos ladrões, drogas e roubos. “Esse passado era gostoso porque não tinha nada disso”, disse-me com saudosismo em suas palavras.
Vez ou outra, o cachorro “Téu” que sacudia o rabo sempre que meu pai pegava o terçado, colocava o chapéu na cabeça, entrava na canoa se colocava no meio dela, se equilibrando para não cair na água. Eu, na popa servia de compra peso com meu corpo de idade e pouco peso. Fui desfiando histórias e memórias durante a espera até que chegou meu peixe tratado chegou. Ele tinha pouco mais de 2 quilos e não era como os que meu pai pegava feliz na comunidade, em qualidade e peso. A senhora recebeu o peixe dela antes do meu e seguiu para a área da carne. Depois, não a vi mais.
Tristemente fiquei pensando na notícia da morte da atriz Marília Pera e na não morte de minhas saudades sempre que lembro do meu Varre Vento, comunidade no município de Itacoatiara. Será que ainda verei o lugar que me causa tanta recordação? Talvez, mas não tenho certeza porque deixei a comunidade para estudar em Manaus aos 8 anos de idade, mas a comunidade não me deixou e me acompanha até hoje como se fosse uma tatuagem gravada em meu peito. Ah, que saudades sinto do meu Varre Vento que não me abandona. Dizem que nada mais é igual porque também foi atingido pelo fenômeno das terras caídas, mas quero voltar, mesmo que seja para matar em mim essas lembranças e torná-las só mais uma estrela brilhando no céu, como se tornou Marília Pera.
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Marilia Pera morreu.Mas estará viva na memoria de muitas pessoas.
ResponderExcluirAmeii!
Muito bom
ResponderExcluirBeleza. Esse Varre vento mexe com
ResponderExcluirVento mexe muito com vc será uma cabrocha ️q ficou na saudade
Gostei muito da sua crônica. Se eu fosse contar a minha seria bem parecida com a sua .
ResponderExcluirBoa noite meu amigo
Saudades de seu varri vento e eu de minha Itacostiara a nossa Velha Serpa que com certeza para mim e para você é uma lembrança e de momentos especiais......
ResponderExcluirMuito lindo o relato!
ResponderExcluirGoste. Eu também tenho saudades do meu bairro Celendin na cidade de Iquitos no Perú.
ResponderExcluirUma cronica perfeita sem radicalismo ideológico. A oposição se irritou com os mandatos bem sucedidos de Lula e Dilma,querem lembrar os golpes de 1954 e 1964. Mensalão e Lava Jato, é blábláblá para inserir um golpe. Até esses empresários presos estão sacrificando-se para o golpe. Por que não investiguem nada da oposição, principalmente os tucanos? Tenha um bom fim de semana.
ResponderExcluirGostei da crônica, sua infancia com seu pai. A defesa de Carreira da criação de peixes em cativeiro. Tu tá, com todo o respeito q tenho e sempre terei como meu orientador do Mestrado, faço uma pergunta, ele me dá 5 livros pra ler, vou morrerreeeeeeeeeeeee
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