segunda-feira, 10 de março de 2014

A FAMÍLIA CHENG E AS COXINHAS DE GALINHA!


 (uma visita às lembranças de um passado)


Depois de adquirir uma coxinha de galinha na Padaria Conde, na Avenida Joaquim Nabuco e saboreá-la com minha esposa dentro do carro estacionado, me vi caminhando apressado pela Rua 24 de Maio, no centro de Manaus, para adquirir uma coxinha de galinha produzida pela família Cheng – pai, mãe, filho e filha -  desde as primeiras horas da manhã. Logo cedo, se comprava ainda quente, saindo do forno como se diz: depois, continuavam mornas porque ficavam em um recipiente aquecido por lâmpadas. Era tudo feito de macaxeira ralada manualmente!


Também na Rua 24 de Maio, funcionavam lado a lado, o Curso Pré-Vestibular Objetivo e a sede da Procuradoria Geral de Justiça (Ministério Público) Lotava de alunos, quando a Universidade do Amazonas divulgava o resultado do vestibular. O Curso Objetivo, um dos primeiros a existir em Manaus, promovia a festa dos aprovados e raspava a cabeça dos alunos que desejassem. Era um grande farra que eu, mais tarde, como jornalista, passei a escrever matérias. Até banda de música era contratada para alegrar a festa dos aprovados. Muita bebida era distribuída para quem desejasse. Era um acontecimento na cidade e o Objetivo pregava a relação dos aprovados na parede e fazia propaganda nos jornais dizendo que era o que mais aprovava!


Ah, que saudades sinto do procurador, Luis Verçosa, o ¨Lulu¨ para os mais íntimos como eu, de seu irmão, o desembargador Mário Verçosa, que foi presidente do TJ-Am. Ambos simples, sinceros e amigos. Recebiam-me a qualquer hora e prestavam as informações que buscava para JORNAL A NOTÍCIA, onde comecei a carreira de jornalista, aos 19 anos. Certa vez, cheguei a ser convidado para visitar a casa do desembargador Mário Verçosa, na Rua 24 de Maio, próximo a Avenida Getúlio Vargas, antiga, simples, com tinha uma biblioteca grande, cheia de livros diversos - os de direito eram a maioria. Fiquei encantado. Hoje a casa virou um hotel. Voltemos à crônica, antes que eu divague demais e canse os leitores com inúteis memórias de uma época que nunca mais será como fora no passado!


Junto com as coxinhas, um risoles, no Lanche Ziza's, localizado no térreo do Edifício Cidade de Manaus, adquiria milk sheik e os levava para os advogados Carlos Abner de Oliveira Rodrigues, com maior tempo de graduação,Guilherme Mendonça Granja, menos experiente, mas profissional dedicado, que mantinham escritório no segundo andar do Edifício e, algumas vezes, também os recém-formados João de Deus Gomes dos Anjos e Luiz Humberto Monteiro, quando chegavam de demoradas e exaustivas audiências no Fórum de Manaus. Eles estavam fazendo prática forense de dois anos para receberem a carteira da OAB. O Ziza´s também era o ponto de encontro dos alunos do pré-vestibular Objetivo, - mais tarde  foi o embrião da Faculdade Uninorte - junto com a cantina da família Cheng.


Luiz Humberto, entrou para a carreira policial e foi nomeado delegado. João de Deus continua na militância forense. Ainda temos contato de vez em quando, mas mudou muito. Eu era  office boy, (menino de escritório) dos advogados. Ninguém ouve mais falar em office boy porque a nova nomenclatura do Ministério do Trabalho, a fez desaparecer, como a muitas outras profissões dignas e honestas que existiam e empregavam os jovens que buscavam uma primeira atividade. Mas voltemos de novo à família Cheng! 


No final da década de 70/80, Manaus estava no auge do desenvolvimento comercial da Zona Franca, principalmente o comércio que vivia a forte febre de uma novidade que impressionava: os pesados, grandes e caros vídeos cassetes. Nesse período, as Ruas Marechal Deodoro, Theodureto Souto, Guilherme Moreira e Dr. Moreira, que formavam o quadrilátero comercial dessa época, se adquiria coxinhas de galinha de macaxeira em muitos comércios da Rua Marechal Deodoro, onde eu vendia jornais. Com a aquisição de três vídeos, que se podia tentar levar escondido da Receita Federal, uma se despachando como bagagem de mão e duas como contrabando mesmo! Chegando ao destino, se vendia por bom preço e, com isso, se podia cobrir despesas de passagens aéreas, hotel e ainda sobrava dinheiro para quem conseguisse passar. 


Mas se a pessoa não conseguisse sair do aeroporto de Manaus, era cana na certa. Muitos contrabandistas compravam cotas de bagagem, pagavam pequeno valor para quem se dispusesse a correr o risco de levar a encomenda, como chamavam os vídeos cassetes contrabandeados que revendiam e ainda pediam que em caso de interrogatório pelos fiscais, não revelasse o nome de ninguém porque a mercadoria seria retirada na chagada no aeroporto de destino por uma pessoa que davam o nome antecipadamente. O maior valor ficava com os contrabandistas.


Na Rua Marechal Deodoro também se poderia adquirir coxinhas de galinha. Se eram ou não fornecidas pela família Cheng não sei dizer, mas que eram iguais, ah, isso eram: tinha dentro carne e o próprio osso de galinha, acompanhado de macaxeira e de uma azeitona verde, marca registrada de todas as que adquirira para os advogados.

Dizem – mas também não sei garantir – que a família Chang acordava todos os dias de madrugada, ralava a macaxeira dentro de uma bacia e depois e  enrolava tudo e as vendia a partir das primeiras horas da manhã. Com isso, teriam colocado seus dois filhos na faculdade e custeado em todas suas despesas para cursarem nível superior, o filho médico ortopedista e a filha medicina, mas não sei em qual especialidade!


O exemplo da família Chang, com seu casal de filhos, ora ajudando-os no balcão fazendo vendas, ora ralando macaxeira para produzir coxinhas, risoles e outros produtos que fazia honestamente, mantinha um comércio na Rua 24 de Maio, em um grande terreno ao lado do Edifício Cidade de Manaus. No terreno desnivelado, a casa da família ficava nos fundos e era ligada ao comércio, por uma longa escada lateral. Dentre os fregueses cativos, lá estava eu para adquirir coxinhas e risoles para os advogados. 


Despertei e percebi que a coxinha de galinha que havia adquirido na Conde era crocante, com recheio cremoso, mas não chegava nem aos pés das que a família Chang produzia com muita dedicação e cuidado higienico, em uma época que não se falava muito sobre o assunto. Mas as que comia eram de  trigo e àquelas eram de macaxeira. Mesmo sem saber, talvez a família Chang, tenha sido a introdutora de todas as outras coxinhas vendidas hoje em muitos locais e que as pessoas as saboreiam como se fossem originais: as originais, eram as que a família Chang vendia. 


Pelo menos eram mais gostosas e saborosas porque eram feitas com macaxeira e não com trigo!

3 comentários:

  1. Excelente relato de uma memória prodigiosa. Parabéns! Antönio Carlos-BH

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  2. Arlene Paula Poxa Carlos Costa fiz uma viagem no túnel do tempo. As canas foram passando em minha memória dos lugares que vc tão bem descreve. Também fui aluno do Objetivo e pude viver esses momentos. Parabéns sempre por seus seus artigos cheios de lembranças vividas, carinho e sdd.

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  3. Geraldo Rodrigues da Costa GOSTOSO DE LER E EU DIRIA QUE ALÉM DA MACAXEIRA A COXINHA DO PASSADO TEVE UM SABOR DIFERENTE CHAMADO SAUDADE...

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