domingo, 7 de agosto de 2011

O CAMINHO NÃO PERCORRIDO - A trajetória dos Assistentes Sociais Masculinos em Manaus

     Prefácio

O convite para prefaciar um livro é sempre um mergulho na obra e na subjetividade de seu autor. Minha historia pessoal com “O caminho não percorrido...” do jornalista e assistente social Carlos Costa, começou em 2003, quando cursava o programa de Doutorado em Serviço Social na UNESP - Universidade Estadual Paulista, na cidade de Franca. Eu uma psicóloga tentava compreender a história e a consolidação desta profissão no país, traçando um paralelo entre sua história e a da Psicologia, buscando entender por que eram tão poucos os homens em ambas as carreiras. Numa destas ‘coincidências’ eu me deparo com uma nota de rodapé no livro de Iamamoto[1], fazendo alusão ao livro de Costa, e, na mesma semana, lendo a tese da professora Iraildes Caldas Torres[2], reparei que também ela o citara em sua obra. Não tive dúvida: pus-me ao encalço do livro, o que me fez ligar várias vezes para a Imprensa Oficial do Estado do Amazonas, mas minha busca resultara infrutífera. A persistência do(a) pesquisador(a) o leva, muitas vezes, ao imaginável. Percebendo que ambos eram conterrâneos, e não tendo o contato de Costa, apelei para a ‘verve’ de investigadora que todos nós, pesquisadores, temos. Consegui entrar em contato com a professora, obtendo seu correio eletrônico na Plataforma Lattes no intuito que pudesse adquirir o livro. Para minha grande e agradável surpresa, não somente ela o providenciou como, me colocou em contato com o autor, uma vez que eram amigos, e ela havia sido sua orientadora na graduação em Serviço Social! Quanta feliz e providencial coincidência.
Eis que no início deste ano, sou surpreendida pelo autor, com um honroso convite: o de prefaciar uma segunda edição, e novamente me vi às voltas com novo mergulho na obra, desta vez com outros objetivos e olhares. Nesta segunda ‘viagem’ revi cenas, refiz percursos e descobri que, para sempre, uma obra ‘parida’ entre documentos, depoimentos, análises históricas e sociais, não mais pertence ao seu mentor intelectual, mas é apropriada pelos olhos de quem a lê. Ao aceitar a honrosa incumbência de apresentá-la, eu, de certa forma, me torno partícipe, e me sinto um pouco responsável também por seu destino. Ouso ainda comparar Costa a um ‘artífice de caminhos’ que, com maestria, nos conduz pela história da gênese do Serviço Social, traçando um panorama internacional e nacional dos diversos momentos históricos que culminaram na consolidação de uma profissão, trazendo todo seu aporte teórico-metodológico, e sua importância nas políticas públicas sociais, na gestão de pessoas, nas empresas, enfim, onde existam pessoas e demandas criadas pelas desigualdades que geram novos pleitos a partir de um desenho social específico.
Mas a obra não se limita apenas a fazer um apanhando histórico da profissão e de seus movimentos e momentos que culminaram com novas propostas e perspectivas de atuação, como no movimento de reconceituação. O autor, de maneira brilhante, permite ao leitor que recrie o cenário da Manaus que conheceu seu apogeu econômico e ‘glamour’ na época do ciclo da borracha e, posteriormente, com a criação da Zona Franca. A obra mostra o perfil de uma sociedade que conheceu as duas faces da moeda econômica: os investimentos que culminaram com a emergência de uma sociedade consumista, densamente povoada e urbanizada de maneira irregular, que recebeu migrantes de outros estados, atraídos pela promessa de serem empregados como mão de obra nos inúmeros e diversificados tipos de construções que passaram a compor o cenário da sociedade manauara. Com todo este charme e encantamento produzido pela riqueza, mas de maneira não planejada, findo os recursos e o interesse, abundam os problemas sociais decorrentes da migração; rápida urbanização, pobreza, exclusão social, analfabetismo, violência e alto índice de natalidade: situações peculiares para justificar a criação da Escola de Serviço Social, a terceira no país e a primeira no estado do Amazonas, formando profissionais que dessem conta dos problemas e adversidades advindos desta constelação social produzida pelo ocaso de um ciclo econômico que não perdurara.
Mas a obra de Costa não para na ambientação sócio-histórico-econômico e cultural da sociedade manauara, culminando com as vicissitudes e requisitos para a concepção das condições de existência do curso de Serviço Social.  Num esforço (e muito fôlego), vai ao encontro de personagens do sexo masculino, que estiveram diretamente relacionadas à profissão, a maioria egressos da Escola de Serviço Social, buscando entender alguma das dificuldades que encontraram no exercício desta, além de tentar entender suas percepções sobre o motivo desta carreira atrair tão poucos homens, cuja presença, mesmo que insignificante em termos numéricos, aparece desde as primeiras turmas.
É fato que, num determinado momento histórico, houve um repentino interesse dos homens pela carreira, justamente quando esta se tornara mais ‘visível’ e presentes nas agendas políticas que passam a reivindicar maior presença de assistentes sociais em seus quadros, decaindo sua participação, todavia, à medida que os salários se estagnavam, ou quando não recebiam a devida consideração e destaque que deveriam ter como trabalhadores da área social, motivos estes, majoritariamente que afastaram os homens desta formação, dentre outros fatores elencados por alguns. Costa finaliza seu livro biografando Andre Vidal de Araujo, educador, jurista e criador da Escola de Serviço Social de Manaus, apontado por ele como um humanista, acima de tudo, preocupado com as questões sociais e educacionais de seu povo.
É por este motivo que, ler a obra de Costa é, acima de tudo, uma viajem, às origens do nascimento de uma sociedade que ajudamos a construir. Entender sua trajetória, seu passado, conhecer suas fragilidades e potencialidades, é mister, se quisermos içar as velas rumo a um futuro, cuja paisagem não seja a de um  “caminho não percorrido”, mas que permita que outro horizonte seja vislumbrado; o da consolidação de uma práxis comprometida com as verdadeiras questões sociais e com o resgate da cidadania de nosso povo.
Cléria Mª Lobo Bittar Bueno - Doutora pelo Programa de Serviço Social da UNESP/Franca. Docente do curso de Psicologia e do Programa de Mestrado e Doutorado em Promoção da Saúde da Universidade de Franca/SP.



[1] IAMAMOTO, Marilda Vilela. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 4a. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
[2] TORRES, Iraildes C. As primeiras - damas e a assistência social. Relações de gênero e poder. São Paulo: Cortez, 2002.

                      Neste livro surpreendente, Carlos Costa alia uma rigorosa pesquisa Histórica sobre a profissão de Serviço Social, onde procura uma resposta científica para a pergunta: por que os homens, em Manaus, não exercem a Profissão se Serviço Social?
                        A ousadia de escrever um livro tão ambicioso custou a Carlos Costa algum despeito dos enfermos de sentimentos de inferioridade, que não admitem a um intelectual brasileiro, o direito de entrar nesse debate tão apaixonante, tratando de uma matéria tão complexa.
                        Quando analisa a profissão de Serviço Social, Carlos Costa o fez com muita propriedade e vai buscar embasamento na Terceira fase da Igreja, quanto tem início a participação das mulheres; era chamada entrada do sexo feminino, na participação dos Trabalhos da Sociedade.
                        Até pouco tempo atrás, as mulheres solteiras, mesmo que tivessem ótimos empregos, não conseguiam empréstimos bancários; as que fossem casadas sempre precisavam pedir a seus maridos que assinassem por elas. As mulheres só podiam ser enfermeiras, professoras ou secretárias.
                        Raras mulheres então consideradas “avançadas” se formavam em Medicina ou tornavam-se diretoras de escolas e pouquíssimas a ser superintendentes ou diretora de empresa. Se naquela ocasião, se dissesse que aquilo não era justo, muita gente ficava chocada. Estava-se tão-somente tentando fazer o que era “bom” para as mulheres.
                        O que Carlos Costa mostra neste trabalho é exatamente o que hoje vem acontecendo com os homens na profissão de Serviço Social.
                        O resultado é um livro delicioso, sério, com profundo embasamento teórico e prático, dando abertura para novos estudos e a busca de novas respostas para um assunto bem atual.
                                   Mário Jorge Corrêa, sociólogo.
                                     INTRODUÇÃO
                   Por que os homens não exercem a profissão de assistentes sociais, em Manaus?
                   Esta pergunta, aparentemente com resposta óbvia, desafiou-nos a encontrar uma resposta científica. Para encontrá-la, remontamos nosso estudo ao século XIX, quando o processo de desenvolvimento capitalista da Revolução Industrial, iniciado na Inglaterra, começou a gerar as desigualdades sociais e exigiu a mediação de “espíritos humanitários caridosos” para “aliviar os problemas’. É nesse momento que, no seio da igreja Católica, surge a profissão de Assistente Social.
                   Historicamente a profissão foi sendo construída com a identidade feminina, inicialmente dentro da Igreja e depois no interior do Aparelho de Estado. Em ambos os caminhos, aparecem sempre as mulheres no exercício das ações sociais. Essa verdade, contudo, não nos pareceu suficiente para responder à pergunta de nosso questionamento.
                   Dividimos o trabalho, então, em fases. Era preciso analisar e questionar a trajetória da demanda masculina no curso de Serviço Social, em Manaus, a partir dos anos 40, quando é criada a Escola de Serviço Social de Manaus.
         Iniciamos nossos estudos teóricos seguindo a linha materialista histórico dialética. Começamos com a organização dos dados documentais e bibliográficos sobre o assunto e formamos uma base de análise de conteúdo. Depois, aleatoriamente, aplicamos questionários quantitativos e qualitativos a treze assistentes sociais, representando um universo de dez por cento dos assistentes sociais masculinos identificados em registros. Também desenvolvemos o processo de observação participativa. Com os dados coletados, iniciamos o processo de análise e interpretação das informações recolhidas.
                   Dividimos nosso trabalho em cinco capítulos distintos. No primeiro, traçamos a trajetória da profissão ao longo da história, na Inglaterra, nos Estados Unidos, no Brasil e no Amazonas. Também nesse capítulo, desenvolvemos estudos sobre o processo de Reconceituação do Serviço Social no Brasil e indicamos seus efeitos positivos e, também, as críticas que lhes são atribuídas. 
                   No segundo capítulo, desenvolvemos estudos sobre a conjuntura econômica do Amazonas nos anos 40, analisando a crise da borracha e suas conseqüências sociais. Nesse período de crise social é criada a Escola de Serviço Social de Manaus, em 1940. Ainda nesse capítulo, teceremos comentários sobre a prática profissional frente às demandas sociais.
                   Dedicamos o terceiro capítulo a um estudo sobre o Projeto Zona Franca de Manaus e a institucionalização do serviço social no mundo do trabalho amazônico, com a criação da Divisão de Serviço Social do Estado. É também neste  capítulo que discorremos sobre o serviço social no mundo do trabalho, analisando a postura profissional frente aos problemas gerados pelo modelo de desenvolvimento Zona Franca, inclusive com depoimentos de treze  homens que cursaram Serviço Social.
                   No quarto capítulo, fazemos a análise da pesquisa de campo que buscou resposta para nossa pergunta inicial. Essa resposta precisava ser dada no contexto por nós analisado. Não era suficiente apenas justificar a gênese feminina da profissão como única resposta aceitável. E a resposta nos foi dada com clareza: a ausência masculina no mercado de trabalho não tem causa na gênese da profissão, mas na sua falta de autonomia, de status e de reconhecimento financeiro. Os homens, após a conclusão do Curso, abandonaram-na e buscaram na carreira de advogado, médico, administrador, professor e outras, aquilo que não encontraram na carreira de serviço social.
                   Em nosso último capítulos, prestamos uma homenagem ao criador da Escola de Serviço Social de Manaus, desembargador André Vidal de Araújo; mesmo sem pretendermos contar sua biografia, narramos alguns fatos ainda desconhecidos  sobre o homem que teve uma visão social de futuro.
                   Este trabalho não pretende ser a última palavra sobre o assunto; mas, a primeira. Acreditamos que os dados nele contidos servirão para que outros estudos também sejam feitos, buscando novas respostas para o questionamento inicial. Entendemos que o homem é produto e construtor de sua história e, como tal, a nossa história não tem fim. Apenas, começo.
                                                                  Carlos Costa
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
1.    DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO
1.1.       As Fundações Religiosas: a gênese do Serviço Social
1.2.       O Serviço Social no Brasil
1.3.       A Reconceituação do Serviço Social no Brasil
CAPÍTULO II
2.    AMAZÔNIA: A CONJUNTURA ECONÔMICA DOS ANOS 40
2.1.       A Crise da Borracha
2.2.       A criação da Escola de Serviço Social de Manaus
2.3.       A  prática profissional frente aos problemas sociais
CAPÍTULO III
3.    O PROJETO ZONA FRANCA DE MANAUS
3.1.       Institucionalização do Serviço Social em Manaus: A Divisão de Serviço Social
3.2.       O Serviço Social no mundo do trabalho
3.3.       Depoimentos de Assistentes Sociais masculinos sobre o exercício da profissão e o mercado de trabalho
CAPÍTULO IV
4.    Análise e interpretação dos dados
CAPÍTULO V
5.    ANDRÉ VIDAL DE ARAÚJO: O HOMEM, O HUMANISTA, O SOCIAL
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBILOGRÁFICAS
         CAPÍTULO I
1.   A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO

Os últimos anos do século XV marcam o fim da Idade Média, o início do desenvolvimento da ciência, a intensificação do comércio e a transferência econômica do capital comercial para o industrial. A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra ao longo dos séculos XVII e XVIII, marca o aperfeiçoamento das técnicas artesanais do feudalismo, o aparecimento e aperfeiçoamento das primeiras indústrias familiares e o surgimento de uma mão-de-obra farta, barata, desqualificada e despreparada que passou a ser explorada pelo capital, através de longas jornadas de trabalho, dos ínfimos salários, das condições insalubres de trabalho e moradia e a através da divisão hierárquica do trabalho, que mais facilmente permitia a acumulação do capital.
                   Natálio Kisnerman, sobre esse período histórico, assim se posiciona:
                                          “Ela, (a Revolução Industrial) quebranta as forças tradicionais de trabalho das corporações artesanais, dando início a livre empresa, regida pela livre concorrência, o que produz uma concentração urbana, cada vez maior, de populações e de capitais e um empobrecimento de grande setor que é obrigado a vencer seus trabalhos, para poder sobreviver. Frente ao incremento de fontes de trabalho, contrata-se quem está disposto a fazer mais horas por um salário menor 1980:17,18).

                   A falência da atividade artesanal e manufatureira e a transferência de seus antigos donos para as fábricas, na condição de operários, como informa Kisnerman, fez surgir uma nova classe de operários – eram os proletários, privados de suas propriedades, sem instrumentos de produção e obrigados a vender sua mão-de-obra como mercadoria à classe capitalista, que a explorava. Com isso, os então homens livres de obrigações que os ligavam aos senhores das terras, deslocavam-se para as cidades, favorecendo o desenvolvimento do capital e da exploração do homem pelo próprio homem.
                   Essa divisão social do trabalho não nasceu com o capitalismo, segundo Gorz, e está presente em todas as sociedades complexas. Adam Smith afirma que a divisão do trabalho apareceu por causa de sua superioridade tecnológica. Independentemente de sua gênese, a divisão do trabalho capitalista fez sucumbir a divisão que existia no trabalho corporativo e tornou a tarefa do operário tão especializado que ele deixou de ter produto para vender, submetendo-se ao capitalista para combinar seu trabalho com o de outros  operários e fazer dessa combinação, um produto comercial.
                   Deslocados de seus habituais ofícios e explorados dentro das fábricas, os proletários perdem suas condições de existência e passam a ser vítimas do novo processo econômico. Sem salários dignos e vivendo em precárias moradias, a mendicância cresce, a pressão social aumenta e o descontentamento contra as máquinas é cada vez maior. (1).
                   Segundo Gorz, a divisão capitalista do trabalho, é a fonte de todos os problemas, pois ela estropia o trabalhador e faz dele uma espécie de
Monstro (1998:9). Marx, por sua vez, afirma que “subdividir um homem (...)
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(1)   Inicialmente, os operários reagem de forma espotância sem se organizarem para fazer suas reivindicações. Não tendo condições de analisar quais as causas de seus baixos salários e de seus desempregos, em bancos entram nas fábricas, armados de pesadíssimas marretas e começam a atacar e destruir as máquinas. Depois, aos poucos, vão percebendo que os responsáveis por suas misérias não eram propriamente as máquinas. A partir de então, começaram a se organizar e exigir melhores condições de vida, através de greves. Em 1838, os operários redigem um documento público reivindicando melhores salários e direito de voto. Esse movimento ficou conhecido como o nome de “cartismo”. Ele conseguiu mudanças na forma de votar, mas isso não fez mudar a situação dos operários.
é assassinato... e que “A subdivisão do trabalho é o assassinato de um povo”(1980: 248)
                   A divisão social do trabalho, uma das fontes fundamentais do privilégio burguês (propriedade privada dos meios de produção e outras), repercute em toda a produção da riqueza social. Sobre isso, afirma Marco Márcio(1).
                                    “Mesmo se for privada dos seus meios de produção, a burguesia pode manter seus privilégios pela manutenção da divisão do trabalho, isto é, mantendo-se dono da técnica. Divisão burguesa do trabalho e privilégios acham-se, portanto,  ligados. Só se a técnica ficar nas mãos do povo todo, a será possível realizar a igualdade e colocar a produção a serviço das massas”(1989: 143,144).
                   A Revolução Industrial modificou completamente o cenário econômico e social de sua época. Nas fábricas, a classe operária é masculina, feminina e infantil. Kisnermam afirma que “as novelas (...) descrevem mulheres, crianças, homens trabalhando em condições sub-humanas, testemunhando o ajustamento do capitalismo às custas da exploração do homem (1980:16)  As indústrias, procurando sempre lucros cada vez maiores, pagam baixos salários. Famílias inteiras são obrigadas a trabalhar até mais de 15 horas por dia para sobreviver. As indústrias artesanais rurais entram em total decadência. As famílias mudam do campo para os centros industriais, gerando um crescimento desordenado, miserável e sem as mínimas condições de sobrevivência. É um mal social na definição de Balbina Ottoni Vieira.
                   Nesse contexto histórico, surge a teoria socialista de Karl Marx, para quem a tendência central do capitalismo é a concentração do capital, representado pelo crescimento médio em função da procura de maior produtividade, o que só pode ocorrer com a exploração do trabalho, gerando a mais valia, resultante:
                                      “...de um excedente quantitativo de trabalho, da duração prolongada do mesmo processo de trabalho...”(Marx, 1987:222).
                                         Marx, em “O Capital” diz, ainda, que mais-valia é “produto do trabalho não pago”
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(1)  MARCO MARCCIO, teórico italiano, incluído no livro “A Crítica da Divisão Social do Trabalho, de André Grz, acredita que não basta o operário controlar os meios de produção para que a desigualdade desapareça. Essa desigualdade só deixará de existir, segundo ele, quando o operário dominar os meios de produção, a técnica de produção e colocá-la inteiramente a serviço das massas.
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De acordo, ainda, com Marx, para o capitalismo a força de trabalho é uma mercadoria que cria valor.  O lucro poderia ser conseguido através do aumento do preço de venda do produto, mas isso seria transitório. O simples aumento da jornada de trabalho, porém, faz aumentar os lucros. O uso de máquinas aumenta a produtividade e, tanto em um caso como no outro, o salário permanece inalterado. Esse valor excedente produzido pelo operário com o aumento da jornada de trabalho e o uso de máquinas é, para Marx, o que se chama de mais-valia. Em uma situação dessas, a força de trabalho vale cada vez menos e os lucros são cada vez maiores.
O capitalismo, responsável pelo “mal social”, também é responsável pelo surgimento das classes sociais, um arranjo de coisas que percebemos como relacionadas e semelhantes entre si, formando linhas separados de demarcação (2)”. Teóricos com E. Durkheim, M. Weber, Mashal, Joseph Hahl, Althusser, um dos mais lidos no Brasil, procuraram estudar e definir o conceito o conceito sociológico de classes  sociais e de modos de produção. O conceito de classes sociais pode ser definido pelo lugar    que ocupam no processo de produção, segundo Neuma Aguiar (1). De acordo com Althusser, as classes sociais se localizam na estrutura de um modo de produção. Esse modo de produção é composto por um conjunto de níveis, onde estão presentes o econômico, o ideológico e o político. Dentro do nível econômico é que está a organização da produção:

“ O econômico situa o papel que cada nível vai ocupar na matriz de um modo de produção. O papel predominante deste pode ser deslocado para outros níveis, embora em última instância, o econômico detenha uma importância maior” (Althusser, 1969:18).

                 Esse autor afirma que o papel da divisão social do trabalho é a condição necessária para o desenvolvimento intelectual e material das sociedades. Com isso, porém, não concorda Marx, para quem a divisão do trabalho “’é o assassinato de um povo”, que altera a base de todas as antigas condições e de comércio, faz desaparecer a colaboração voluntária dos indivíduos e tira dos operários a condição de opinar, permitindo uma maior exploração por parte do capital.
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1.     Neuma Aguiar, no livro “Hierarquia em Classes (1974) apresenta conceitos de classes sociais. “mal social” é uma expressão utilizada por Balbina Ottoni Vieira, em seu livro “História do Serviço Social”. Com essa expressão, a autora define as mazelas do capitalismo que, ao mesmo tempo em que gera tecnologia, empregos, etc., também gera desemprego, miséria, consumismo.

1.1.AS FUNDAÇÕES RELIGIOSAS: GÊNESE DO SERVIÇO SOCIAL

Os problemas sociais criados pelo processo capitalista de produção passaram a merecer atenção. A Rainha Elizabeth I, da Inglaterra, cria a “Poor’s  Law” (lei dos pobres), em 1601, pela qual o município tomava conta de seus pobres. Essa lei foi a primeira forma de assistência na Europa, em uma tentativa de amenizar os efeitos da exploração do capitalismo, Outros países, como a Dinamarca, em 1683, e a Suécia, em 1686, também legislaram sobre o assunto, criando um “Código de Assistência” para disciplinar o atendimento aos pobres que foram expropriados das suas condições de sobrevivência.
No ano de 1788, em Nuremberg, ajudado por vários voluntários das causas sociais, foi criado o Bureau Central, órgão que passou a centralizar todas as ações sociais em uma tentativa de tornar o trabalho mais abrangente e eficiente.
“...designando-se, para cada, um supervisor, ajudado por vários voluntários. Estes não somente visitavam as famílias pobres para prestar-lhes assistência, mas também estudavam as causas da pobreza” (Vieira, 1980:41).

A Igreja Católica, desde o final do século XIX, desenvolveu trabalhos de assistência social aos explorados pelo capitalismo, condenando-o em seus excessos por entender que a ganância do capital, seu desejo de lucros cada vez maiores, o seu apego ao luxo e ao esbanjamento, eram as causas de todos os desajustes sociais. A ação social da Igreja frente às relações sociais originárias do capitalismo industrial, conhecida como a “Doutrina Social da Igreja” (Papa Leão XIII, 1891), buscava encontrar uma forma de convivência econômico-social justa, mas sem negar o direito de propriedade. A Doutrina Social da Igreja  propunha aos católicos uma ação frente aos conflitos sociais gerados pelo capitalismo:
“Essa ação se daria de várias formas. Uma primeira, partiria dos próprios capitalistas, quando católicos, chamados a cumprir seu dever moral em relação a seus empregados. Uma segunda, seria de orientação e formação moral das classes trabalhadoras. A terceira medida seria o assistencialismo não no sentido de esmola, mas de atendimento”(Montenegro, 1986:47)

Segundo afirma o site de consulta Wikipedia (acessado às 10:15  do dia 05/09/2011), a simples a “existência da Doutrina Social da Igreja não implicava a participação do clero na política, que é expressamente proibida pela Igreja, exceto em situações urgentes. Isto porque a missão de melhorar e "animar as realidades temporais", nomeadamente através da participação cívico-política, é destinada aos leigos. Logo, a hierarquia eclesiástica "não está no negócio de formar ou dirigir governos" nem de escolher regimes políticos; ela está apenas "no negócio de formar o tipo de pessoa que consegue formar e dirigir governos nos quais a liberdade leva à genuína realização humana".
O agravamento da crise de relação social entre o capital e o trabalho, exigiu da Igreja um posicionamento mais firme. As encíclicas “Rerum Novarum”, em 1891, e a “Quadragésimo Anno”, em 1931, além de fazerem interpretações sobre as classes sociais e a origem das também incluíram diretrizes claras de ação concreta, demandando aos católicos a ação assistencial sob a perspectiva formulada pela Igreja, que tomava para si o papel político de forjar a Reforma Social sob a ótica da conciliação de classes.
Organizações religiosas e leigas começaram a se formar na Alemanha, França e vários outros países. Em 1869, em Londres, surge a Charities Organization Society , com a finalidade de coordenar o trabalho das obras particulares de assistência. Tanto na Europa como nos Estados Unidos foi muito grande a influência das COS no processo de formação de outras entidades de ajuda voluntária aos explorados do capitalismo.
A Charities Organization Society – COS, de Londres, iniciou o trabalho de investigação da pobreza. Esse trabalho era desenvolvido por alunos de Ciências Sociais (1) remunerados, que tinham por dever determinar quanto e quem deveria receber auxílio. A família aceita para receber ajuda era confiada a um “visitador voluntário”. Esse visitador tinha por finalidade promover uma compreensão mútua entre ricos e pobres, prevenindo os conflitos entre as classes sociais.
1.NATÁLIO DISNERMAN – Em seu livro “Estudos sobre Serviço Social”, 1980, Cortez Editora, diz que a COS de Londres era integrada “por homens de classe superior”, universitários de Oxford, e Cambridge, dispostos a prestar assistência aos “atingidos pelos ricos de vida”. Aparece, assim, a assistência social como forma sistemática de ajuda, destinada a reparar os efeitos do industrialismo crescente, proporcionando-lhes meios para a subsistência.
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                   O Serviço Social ainda sob forma de trabalho voluntário, criado no seio da Igreja Católica, espalha-se por outros países. A Igreja, incentivando cada vez mais essa prática, em suas encíclicas “Rerum Novarum”, do Papa Leão XVIII, e, 1892 em “Quadragésimo Anno”, do Papa Pio XI, de 1931, demarcou as diretrizes de ação concreta, demandando aos católicos o reordenamento da ação assistencial sob a perspectiva de uma Reforma Social.
                   A Sociedade de Organização de Caridade, dos Estados Unidos, fundou a Escola Filantrópica Aplicada em 1898, junto a Universidade de Columbia, em Nova York. A primeira Escola de Serviço Social do continente americano surgiu em um momento em que toda a atividade social era um serviço voluntário, exercido por pessoas que não tinham capacitação específica para a função que cumpriam. Co­­­­­­­­­­­m a criação da Escola, o Serviço Social passou a ser definido como helping procers (processo de ajuda, processo de socorro), pela criadora da Escola e primeira sistematizadora da profissão, Mary Richmond. Para Richmond, o Serviço Social deveria fazer filantropia, via instituição. Ela, que era contra as Reformas Sociais, tratava as questões sociais através da abordagem individual, pois entendia que a melhoria do agregado social e a melhoria do indivíduo eram processos interdependentes. “Os seres humanos são interdependentes, diferente um dos outros”, dizia M. Richmond.
                     Dentro de todo esse contexto, nasce o Serviço Social nos Estados Unidos com um sentido de ajuda, uma prestação de assistência para a solução de problemas via instituição. Sem metodologia, a Escola seguia um marco filosófico-ideológico liberal, positivista, individualista, defendendo reformas à vida do homem. Mary Richmond afasta-se desse caminho do Serviço Social, mais tarde, e inicia um trabalho objetivando criar uma metodologia para a profissão.
                     Em 1917, Mary. Richmond lança o livro “Diagnóstico Social”.  Essa nova corrente, chamada de Escola Sociológica, aproveitou das pioneiras sociais a idéia de uma reforma social pacífica e, de Richmond, a metodologia de caso. O caso para Richmond, tinha que ser visto no binômio indivíduo-situação. Dentro dessa visão, quando o Assistente Social procurasse tratar um  caso, sempre teria que considerar as relações sociais e as relações de trabalho, porque nunca o caso será  um elemento totalmente isolado. Ele sempre se apresentará dentro de uma situação social.
                   Com o fim da I Guerra Mundial, surge um novo tipo de idéia e uma nova disciplina, a Psiquiatria e, junto com ela, a difusão da teoria psicanalítica de Freud. Em 1928, surge na Escola de Serviço Social da Pensilvânia, a chamada Escola Psicológica no Serviço Social, que é uma antítese da Escola Sociológica. Essa nova corrente no Serviço Social passou a ver o passado do homem e o seu interior, fazendo surgir o Serviço Social Psiquiátrico.
                   Com a crise econômica de 1929, na Bolsa de New York, que abalou o mundo inteiro, as empresas americanas, que ainda mantinham o estilo “american way of life”, passaram a não ter para quem vender e isso afetou também o Brasil, que dependia das exportações de café para os Estados Unidos. O Brasil ficou sem mercado consumidor e não conseguiu conter esse desastre econômico que atingiu a classe cafeicultura e chegou a abalar até as estruturas políticas da República Velha, permitindo a Getúlio Vargas perpetrar a chamada “Revolução de 1930”, o que levou de novo ao poder. Antes da crise, as indústrias americanas detinham quase 50% do comércio mundial, mas demitiu muitos trabalhadores e fez surgir 13 milhões de desempregados, após o fim da I Guerra Mundial.
                  O Serviço Social já não tem tempo para os trabalhos psiquiátricos e psicanalíticos. Para atender à nova realidade, elementos das Escolas Sociológica e Psicológica são usados para ver o homem em sua situação concreta, aperfeiçoando ao máximo o método de casos de Richamond, fazendo surgir o “metodologismo’,  em 1936. O marco filosófico era, ainda, o pensamento liberal, o subjetivismo filosófico.
                   Natália Kisnerman, em seu livro “7 Estudos sobre Serviço Social”, faz um rápido comentário sobre as Escolas de Filantropia e de Sociologia. Diz ela,
                                      “...em sua primeira orientação (...) a Escola de Filantropia de Nova York (tinha por) finalidade (...) formar Assistentes Sociais; enquanto que a Sociológica se dedica ao estudo dos problemas sociais a partir do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Chicago, criada em 1903 (1980:19)


1.2.      O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL.

Os primeiros registros de ação social, por parte da Igreja ou do Estado, só começaram a ser feitos depois da Proclamação da República, quando a Igreja se desliga do Estado e passa a atuar no campo social, com obras patrocinadas por senhoras da sociedade.
Não tendo atuação política e tendo uma atuação social através de senhoras católicas, somente na década de 30 a Igreja funda a Confederação Católica Brasileira. Em 1922, a senhora Stela de Faro foi nomeada Secretária Geral do ramo feminino da Confederação. Os trabalhadores da Confederação cresceram e em 1937 a Secretaria Geral funda a Escola de Serviço Social, a primeira do Brasil, no Rio de Janeiro.
Os anos 10 a 30 geraram as bases para a implantação do Serviço Social no Brasil. O processo de industrialização do país, o progresso tecnológico e o desenvolvimento do capitalismo no início dos anos 20, foram os responsáveis pela alienação das forças de trabalho e o surgimento da marginalização de uma larga parte da população, geando a “questão social”. Marilda Iamamoto explica que essa questão social era causada pela exploração abusiva a que eram submetidos os operários e a sua falta de consciência para reagir a esta exploração. Iamamoto diz, ainda,

A questão social (...) diz respeito à generalização do trabalho livre numa sociedade em que a escravidão marca profundamente seu passado recente( Iamamoto, 1988:127),

                                         A questão social de que nos fala Iamamoto, resultado do processo de industrialização do Brasil, é representada por crianças abandonadas, lares desfeitos, desemprego, despreparo profissional, má utilização dos lares. Falta de iniciativa tanto na vida familiar como política e social, vida indigna, falta de moradia, favelas, mendicância etc.,

                                                                                “...tudo isso dentro de um contexto onde a antiga mentalidade colonialista e escravocrata se mistura com idéias novas, causando completa desorientação  entre os que procuravam ajuda”(Vieira, 1980:139)

A expansão do capitalismo no Brasil fez surgir um imenso exército industrial de reserva, permitindo que a força de trabalho fosse transformada em uma mercadoria barata. Os operários tinham diante de si, como proprietários dos meios de produção, não um senhor em particular, mas toda uma classe capitalista, à qual ele é obrigado a vender sua força de trabalho para sobreviver.
A luta pela sobrevivência, travada pela classe proletária brasileira, gerou o que Iamamoto chama de “verdadeira guerra civil”. Os operários lutavam defensivamente para fugir da exploração abusiva. Essa luta foi entendida pela classe burguesa como uma ameaça aos mais sagrados valores, “a moral, a religião e a ordem pública”. O Estado reagiu e impôs um controle social da exploração da força de trabalho. Afirma Iamamoto que, com a intervenção do Estado,
A compra e venda dessa mercadoria especial sai da pura esfera mercantil para imposição de uma regulamentação jurídica do mercado de trabalho...” (1988:128).
As péssimas condições de vida dos proletários ficam evidentes para a sociedade com a realização inúmeras manifestações  de protestos,  Ao  Estava ficava impossível desconhecer a existência de uma grave questão social. As diversas classes e frações de classe dominantes, subordinadas ou aliadas, o Estado e a Igreja tiveram que se posicionar. O Estado, aqui entendido como um árbitro que atua acima dos conflitos sociais (1), foi obrigado a rever seu relacionamento com as classes que o apoiavam porque os movimentos sociais exigiam uma mudança de perfil da sociedade
A classe operária começa a se fortalecer e a surgir verdadeiramente como uma classe, entrando no cenário político, o que passou a exigir do Estado o seu reconhecimento e entendimento de seus interesses. As Leis Sociais, então, são colocadas pelo Estado na ordem do dia. Sobre isso,  comenta Iamamoto:
“As Leis Sociais surgem em conjuntos históricos determinados que, a partir do aprofundamento do capitalismo na formação econômico-social .
_____________________________________________
­­(l)Mary Souza Serra, em seu livro A prática institucionalizada do Serviço Social = determinações e possibilidades, 1986, diz que o Estado  que atua como um arbitro acima dos conflitos sociais,  está amparado nos valores básicos do liberalismo, na medida que a concepção de Bem-Estar Social. Desse modo, o  Estado mantém uma relação de nautralidade. Assim, cabe ao Estado a responsabilidade da busca do consenso entre os cidadãos, a partir da visão que os coloca com interesses diversos que precisam ser harmonizaosem função do interesse comum que lhe é básico.

 “questão social” de um segundo plano da história social para, progressivamente, colocá-la no centro das contradições que atravessam a sociedade. Ao mesmo tempo, a “questão social” deixa de ser apenas contração entre abençoados e desabençoados pela fortuna, pobres e ricos, ou entre dominados e dominantes para constituir-se , essencialmente, na contradição antagônica entre burguesia e o proletariado dependente do pleno amadurecimento das condições necessárias à sua superação”(1988:129).

Depois do agravamento da “questão social”  nos anos 30, durante o Governo Vargas, que apoiava abertamente o progresso tecnológico e o regime tecnológico e o regime capitalista, agravando ainda mais a alienação das forças de trabalho e a marginalização de uma larga escala da população, o Estado toma uma série de medidas promulgando leis trabalhistas e criando a Previdência Social. As Leis Sociais criadas para aliviar as contradições entre o capital e o trabalho, não atingem a todos os interesses dos operários e a crise fica mais acentuada. Cresce numericamente o proletariado, solidificando os laços de solidariedade política e ideológica e a classe buguêsa, representada pelos donos do capital, pensa em um projeto alternativo para enfrentar os operários.  É editada, então, uma legislação sindical que vincula ao controle estatal a organização da classe operária.
                       

              ­­­     Iamamoto afirma que a presteza com que as medidas  legislação social e sindical são projetadas e a sua amplitude,
“...não podem ser vistas desigualmente da crise de poder que caracteriza aquela conjuntura e do longo processo de organização de luta do movimento operário...”(1988:153)
Embora imperfeitas na sua aplicação, as Leis Sociais do Governo Vargas representam um progresso para a classe trabalhadora. O Governo Vargas acreditava que recursos bem homogeneizados e em número suficiente resolveriam a situação dos necessitados. Como isso não aconteceu, a sociedade agro-exportadora da época, que antes desconhecia a existência da questão social, preocupada com a desagregação do Estado Novo, por quem era apoiada, e com o término da Segunda Guerra Mundial, que fez aumentar ainda mais os problemas sociais, inicia uma ação assistencialista para o surgimento do Serviço Social no Brasil, vindo da Europa (1).
O Serviço Social no Brasil surge no decorrer desse processo histórico, em 1932, quando a sociedade ainda apresentava traços colonialistas, com carregada tradição de caridade individual e falta de ação social. As obras sociais eram privadas e de limitados espaços de ação. O Estado, aqui entendido na visão de Engels, como um instrumento que garante o excedente de produção para uma determinada classe social, assumia quase inteiramente a ação social.
Essa visão de Estado, marca todo o período do Governo Vargas que, embora apareça em alguns momentos como liberal, visando o bem comum, na verdade ele não pode ser entendido assim, pois pertencia a uma classe dominante e se colocava a favor do capital desta mesma classe, aparecendo como um instrumento de dominação da burguesia. É dentro desse enfoque contraditório do Estado que o Serviço Social é criado no Brasil.
                           “Relações Sociais e Serviço Social no Brasil, obra de Marilda Iamamoto, explica que durante o período de transição – 1939/37 -, o empresariado, inicialmente relutante, só apoiou a legislação social com medo de perder poder político e confiante na compensação dos custos
1.3.      A RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL,
O aparecimento do Serviço Social, enquanto conjunto  de atividades conhecidas dentro da divisão social do trabalho,  percorre duas décadas. Durante a década de 20 tem início esse processo, que se acelera na década de 30, com a mobilização pela Igreja, do movimento católico leigo. O Serviço Social então surge como um departamento especializado de Ação Social, embasado em um uma doutrina social.
Em 1936, retornaram da Bélgica, para onde haviam ido quatro anos antes em companhia de M. Adele de Loneux, Maria Kiel e Albertina Ramos, formadas na Escola de Serviço Social de Bruxelas, fundaram a Escola de Serviço Social de São Paulo e, mais tarde, o Instituto Social, em 1937, no Rio de Janeiro. Dessas duas Escolas, saíram as Assistentes Sociais que iriam organizar a maioria das Escolas surgidas nos dez anos seguintes. A definição de Serviço Social, era de Loneux:
“Serviço Social  é o conjunto de esforços feitos para adaptar o maior número possível de indivíduos à vida social ou para adaptar as condições de vida social às necessidades dos indivíduos (Vieira, 1980:142).
No primeiro período de sua história, o Serviço Social apresentava características assistencialistas, centradas nos problemas do ajustamento individual, apoiando-se em valores confessionais e em uma atuação empírica, numa perspectiva positivista, objetivando o ajustamento social do indivíduo ao processo de desenvolvimento econômico sem, contudo, questionar as origens das desigualdades sociais. Assim, os Assistentes Sociais não tinham uma percepção da realidade.
Os modelos de atuação “franco-belga”, de tendência assistencialista, “o americano” e o “clínico”, apoiados em teorias psicodinâmicas, praticadas pelo Serviço Social no Brasil, encontravam aplicação em numerosas obras sociais existentes. Mas às mudanças que se efetuavam no Brasil nos anos pós-guerra – o desenvolvimento econômico e político e o progresso das Ciências Sociais – criaram novas situações problemáticas em todos os setores da sociedade, gerando dificuldades para a atuação do Serviço Social que buscava a melhoria da qualidade de vida.
Inspiradas por ideologias diversas e críticos da perspectiva positivista, que era a base da profissão, Assistentes Sociais levantaram a bandeira da “reconceituação” da profissão no país, acompanhando uma tendência que já existia na Inglaterra, nos Estados Unidos e mais intensamente, na América Latina, que vivia um intenso movimento político apoiado pelos Estados Unidos, preocupados com a propagação do comunismo  na região, depois do Golpe de Estado liderado por Fidel Castro na Ilha de Cuba, em janeiro de 1959.
A resposta dos Estados Unidos ao Golpe foi dada pela Organização dos Estados Americanos – OEA, que criou a Aliança para o Progresso com o objetivo de direcionar recursos econômicos para os países latinos e promover programas nacionais de desenvolvimento de comunidade, tudo para combater a ameaça do comunismo. Era, então, impossível negar a participação ideológica nos programas de Serviço Social.
No ano de 1966, em Buenos Aires, acontece o I Encontro Regional de Desenvolvimento de Comunidade na América Latina. Os países signatários da “Carta da Aliança para o Progresso”, em Punta Del Este se comprometeram à realizar uma série de grandes progressos sociais. Esses programas começaram a funcionar dois anos mais tarde ao Encontro, oferecendo ao Serviço Social Latino, pela primeira vez, a possibilidade de trabalhar a nível macro. Essa nova perspectiva profissional frustrou os Assistentes Sociais que não estavam preparados para trabalhar a nível macro. Os programas de Desenvolvimento de Comunidade aplicavam o conhecimento de Planejamento e de ações multidisciplinares. Mas os Assistentes Sociais só estavam preparados para trabalha com caso, grupo e pequenas comunidades.
O desenvolvimentismo norte-americano, portanto, produziu uma frustração no Assistente Social, gerando a base para a última corrente do Serviço Social, a “reconceituação”.
Em 1966, o CBCIS – Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio do Serviço Social propôs um estudo sério e fundo da profissão para esclarecer os conceitos aceitos, os valores de base e os conhecimentos necessários para a prática eficiente.
Embora a atuação do Assistente Social tenha sofrido mudança ao longo dos anos que seguiram à criação da profissão, somente em 1967  é que as discussões se aprofundam para buscar uma nova identidade de atuação científica.
Os seminários promovidos pelo CBCIS, em Araxá. Em 1967, em Teresópolis, em 1970, em Sumaré, em 1978, foram responsáveis pelas maiores mudanças no Serviço Social, que passou “de uma atuação empírica para a procura de uma atuação científica”  (CBSIS – Documentos, 1986:13).
A reconceituação do Serviço Social, no Brasil, resultado de profundos debates nos encontros, foi um movimento de mudanças fundamentais filosóficos e científico da profissão, em um esforço de busca de respostas adequadas à problemática social do contexto latino americano, a partir
.”...de novas posições epistemológicas e contribuições das Ciências Sociais contemporâneas (Macedo, 1986:13).
O serviço social reconceituado gerou uma prática profissional evidenciada com elemento fundamental para a construção da teoria orientada por um referencial teórico operativo, objetivando intervir de forma objetiva no saneamento ou eliminação das situações de “carência” da população. Com a reconceituação, segundo Iamamoto, o Serviço Social
“...afirma-se numa perspectiva que questiona a própria legitimidade da demanda e dos compromissos políticos subjacentes ao exercício da prática profissional”(1988:372).
A reconceituação, na visão de Macêdo (1968), pode ser entendida como resultado das inquietações e idéias predominantes em uma época – o método dialético e o materialismo histórico, onde a prática social é orientada, essencialmente, pelos princípios da realidade, da intencionalidade e da transformação. Nesse sentido, a ação profissional passa a ser dotada de dimensão política. Sendo assim, esse movimento deve ser entendido não como um processo de mudança de origem interna, mas a partir de referências externas, ou seja, do ponto de vista das Ciências Humanas e Sociais, segundo Macedo.
Como profissão, o Serviço Social considerou-se como parte integrante do aparato estatal em uma estreita vinculação com o crescimento das grandes instituições de serviços sociais e assistenciais criadas ou subsidiadas pelo Estado, onde a prática do Assistente Social realiza-se através das instituições sociais que somente reproduzem as condições vigentes na sociedade brasileira.
Dentro dessa visão de Estado positivista, a instituição é vista como um sistema pronto e acabado, que busca se manter em permanente estabilidade, utilizando-se tanto dos mecanismos coercitivos de controle, autoridade e poder para reproduzir, sem contestar, a ideologia o sistema que a cria e, neste sentido, a reforça permanentemente. Contra essa visão de instituição e de exercício da profissão é que a reconceituação se colocou, entendendo a instituição em uma perspectiva dialética de espaço contraditório e complexo.
Em Gramsci, instituição aparece como um aparelho de hegemonia. Essa definição é dada por Gramsci ao formular a concepção de Estado Ampliado, onde se estabelece uma unidade entre a estrutura sócio-econômica e a superestrutura política e ideológica. Madel Luz, baseada em M. Foucault, diz que as instituições estão ligadas à sociedade política quando exercem sua função repressiva e estão ligadas à sociedade civil, ao exercerem sua função persuasiva ou educativa. De acordo com Madel Luz, instituição
“...é o conjunto articulado de saberes (ideologias) e práticas (formas de intervenção normalizadora na vida dos diferentes  grupos e classes sociais” (1979:30).

                                               É dentro dessas discussões, que o serviço social reconceituado desenvolve sua prática profissional. Em um primeiro momento, lhe é negado o espaço institucional como prática profissional; em um segundo momento, entendendo a instituição como um espaço contraditório onde a prática profissional propicia uma maior discussão sobre as mudanças desejadas.
                                      O professor José Paulo Nero, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em sua obra Ditadura e Serviço Social – Uma análise do Serviço Social pós 64”, afirma que o movimento de reconceituação não promoveu uma ruptura com o serviço social tradicional, mas apenas um “intervenção de ruptura (1994:302) que apenas enriqueceu o debate profissional. Ele diz:
                                                         “...vale assinalar que é com a vertente da intenção de ruptura que repercutem produtivamente no Serviço Social no Brasil as questões referentes à dinâmica contraditória e microscopia da sociedade (...) A reconceituação crítico-analítico viabilizada pelo desenvolvimento teórico da perspectiva da intervenção de ruptura propicia novos aportes no nível prático-operativo da profissão...” (Idem: 302, 303).
                                          Neto, em seu livro, analisa a extensa bibliografia produzido pelas ciências sociais nas décadas de 60 - período inicial do movimento de reconceituação -, a 80, período em que o Estado se organizou de acordo com os interesses do capital monopolista. Nesse período, o Estado era o principal empregador dos assistentes sociais que negavam a instituição como espaço profissional. Para o professor José Paulo Neto, o desenvolvimento do Serviço Social como instituição no Brasil, mantém uma conexão clara com o desenvolvimento das relações capitalistas na formação social:

                                                         “...o processo de renovação do Serviço Social no Brasil, operado sob a autocracia burguesa, configurou a emergência de um quadro profissional sintonizado com as realidades sociopolíticas e ideoculturais da sociedade brasileira que ultrapassou as contrições do ciclo autocrático da burguesia”(Ibidem: 307).
                                      O movimento de reconceituação se processou dentro de um conjunto de transformações econômico-sociais e políticas do ciclo autocrático burguês, com reflexos na vida cultural brasileira. O Serviço Social reconceituado no contexto daquelas transformações, como já disse José Paulo Neto, enriqueceu o debate profissional. Marilda Iamamoto, por sua vez, afirma que essa vertente modernizadora pós064 apenas atualizou a herança conservadora da profissão,  adequando-a,
                   ‘...às novas estratégias de controle e repressão da classe trabalhadora, efetivadas pelo Estado e pelo grande capital, para atender às exigências da política de desenvolvimento com segurança”(Iamamoto, 1982:213)
José Paulo Neto afirma que houve três momentos distintos da reconceituação no Brasil. A perspectiva modernizadora, primeira expressão do processo de renovação do Serviço Social, resultante do Seminário de Teorização do Serviço Social, promovido em Araxá, Minas Gerais, pelo CBCISS, em 1967. Essa perspectiva, porém, teve início em 1965, em Porto Alegre, quando é realizado o I Seminário Latino Americano de Serviço Social, com a participação de 415 profissionais do Brasil, Argentina e Uruguai. Essa perspectiva modernizadora é confirmada em 1970, no Encontro de Teresópolis. Sobre os textos finais desses encontros, afirma Neto:
“Os textos finais desses dois encontros -O Documento de Araxá e o Documento de Teresópolis – possuem (...) características e ênfase diferenciadas, mas podem perfeitamente ser t0kados como a consolidação modelar da tentativa de adequar as (auto) representações profissionais do Serviço Social às tendências sócio-políticas que a ditadura tornou dominantes e que não se punham como objeto de questionamento substantivo pelos protagonistas que concorreram na sua elaboração”(1994:164,165).
A segunda perspectiva apontada por Neto é a de reatualização do conservadorismo, resultante dos Seminários de Sumaré e do Alto da Boa Vista. Neto afirma:
Nesta perspectiva, o processo de renovação do Serviço Social no Brasil se manifesta no interior da complexa dialética de ruptura e continuidade com o passado profissional, a ponderabilidade maior da herança profissional, sem prejuízo dos elementos renovadores que apresenta”(Idem:202)
                    A terceira e última perspectiva de reconceituação no Brasil, é a intenção de ruptura. Para José Paulo Neto, comenta:
                                          ...deveria construir-se sobre bases quase que inteiramente novas: esta era uma coerência do seu projeto de romper substantivamente com o tradicionalismo e suas implicações teórico-metodológicas e político-profissionais”(2994:250).
                                         Neto afirma, ainda, que esta intenção de ruptura se evidenciou explicitou-se como produto universitário sob o ciclo autocrático burguês. Nesse espaço, houve uma quebra no isolamento intelectual do assistente social e foi possível viabilizar experiência de prática auto-geridas. Neto diz:
                       Mais que uma forma de sobrevivência, porém, o investimento na vida acadêmica significou objetivamente uma escolha de assistentes sociais empenhados numa renovação profissional que rompesse substantivamente com o tradicionalismo e seus corolários”(Ibidem:252).
A tentativa de reconceituação do Serviço Social que, na opinião de José Paulo Neto, não foi total, possibilitou ao menos a construção de tendências que mobilizaram às classes e os grupos sociais brasileiros no enfrentamento dos problemas econômicos, da cultura e da história, abrindo um novo caminho para o futuro.
O Serviço Social funcionalista atuava com um homem genérico, sob a ótica do humanismo, e não as condições sociais concretas da classe trabalhadora. Com essa perspectiva, o Serviço Social servia a um homem situado fora do contexto histórico, omitindo o fato de este homem não ser interdependente em suas relações, mas ligado a um processo produtivo.
Com  reconceituação, a profissão perdeu esse homem genérico, ou seja, passou a não dispor de um quadro de referência delimitado e de uma prática teorizada, o que gerou um certo impasse, fazendo com que a profissão não deixasse o terreno da prática pela prática limitando meso seu desenvolvimento, ou sua inserção no quadro das ciências.
A nova prática generalizou a forma de intervenção, havendo uma transposição mecânica da intervenção baseada em características particulares de uma dada formação social para outra, sem observação de suas especificidades.
Como Alayon (1992), também entendemos que talvez o equívoco maior da reconceituação tenha sido a negação radical do assistencialismo, sem recuperar a perspectiva do assistencial, elemento imprescindível ao Serviço Social. A simples recusa do assistencialismo levou os Assistentes Sociais à abstração, afastando-se dos problemas e necessidades concretas da população.
Dentro desse cenário de equívocos o Serviço Social no Amazonas começa a sua trajetória nos anos 40, quando a Amazônia também vivia um grande processo de contradição econômica: ser desenvolvida pelo trabalho árduo dos nordestinos que fugiam da seda e da miséria do nordeste. No Amazonas, o Serviço Social, como veremos mais adiante, nasce com a perspectiva  de atender um homem genérico, em uma visão funcionalista.
(1)         sociais com ganhos econômicos cada vez maiores.                          

CAPÍTULO II


2.           AMAZÔNIA: A CONJUNTURA ECONÔMICA DOS ANOS 40
Como vimos no primeiro capítulo, os problemas sociais do Brasil, nos anos 30, fizeram surgir uma profissão, a de Assistente Social. Depois de criada a primeira Escola de Serviço Social (1936), outras foram sendo formadas e a profissão vai gradualmente tomando corpo. No Amazonas, os anos 40 marcam o início do Serviço Social como prioridade do Governo Getúlio Vargas. Contudo, para entendermos melhor o surgimento do Serviço Social no Estado, faz-se necessário conhecer melhor a conjuntura econômica da Região, nos anos 40.
A Amazônia passou a integrar a grande divisão internacional do trabalho no final do século XX, na condição de fornecedora de matéria prima, inicialmente através da expansão do mercantilismo português e, mais tarde, com o extrativismo. A sociedade extrativista que se formou, apoiada pela Inglaterra, tinha por natureza produzir excedentes econômicos pela exportação de produtos primários, principalmente, o látex, suco leitoso, retirado da seringueira que, depois de defumado, resulta em sernambi, produto utilizado em isolamento para vários produtos e, também, para a fabricação de pneus para automóveis.
Um trabalhador inglês, durante a Revolução Industrial, era obrigado a trabalhar em torno de 10, 12 e até 15 horas por dia. As condições de trabalho eram tão debilitantes que a mão-de-obra necessitava ser mantida sobre constante vigilância e terror, sobre isso, nos explica Márcio Souza, em ensaio publicado em 1987, na revista Civilização Brasileiro n. 5, comentando o processo o processo colonialista na Amazônia:
“Sabemos que a mão-de-obra, em sua maioria, foi trazida do nordeste, e já chegava endividada no primeiro trabalho. Isolado na selva, numa paisagem totalmente hostil, o trabalhador tinha que produzir. O patrão nem precisava se preocupar com os expedientes dos seus  congêneres ingleses que, para ampliar a jornada de trabalho,  praticava o roubo de míseros minutos de seu operário. A mais-valia era retirada de uma maneira mais extorsiva porque o trabalhador extrativista encontrava-se à mercê do patrão, com um contrato de trabalho quase sempre por tempo indeterminado, além de enredado por endividamento crescente no comércio da empresa.”
O extrativismo na Amazônia foi feito sem qualquer disciplina. O comércio era diretamente com Lisboa. Atraídos pela exploração, os trabalhadores começaram a ocupar lentamente a Região. Essa população que crescia era resultado da miscigenação e da introdução de casais da Ilha dos Açores, em Portugal, trazidos no século XVIII, soldados e de degredados portugueses.
A produção do látex tomou um grande impulso a partir de 1907 quando começou a extração da borracha natural silvestre, impulsionado por uma demanda sempre crescente, baseada em avanços tecnológicos que exigiam quantidades cada vez maiores do produto.
O historiador Antônio Loureiro, em sua obra “A Grande Crise” (1986),  divide  o “Ciclo da Borracha”, em três grandes fases, todas sucessivas e de acordo com a descobertas tecnológicas:
a)   Fase das Utilidades – do início do século XVIII até a descoberta do telefone, em 1876 e da transmissão da eletricidade, de 1873 a 1882;
b)   Fase dos Condutores – quando a borracha passou a ser utilizada no capeamento e no isolamento de fios de corrente elétrica:
c)   Fase dos Pneumáticos – a partir de 1885, quando passou a ser utilizada em pneus de bicicletas e automóveis pelos irmãos Michelin.

A fim de melhor cumprirmos os objetivos deste Capítulo II, que é o de traçar um perfil da crise social dos anos 40, enfocando a questão econômica, faremos um recorte histórico em nosso trabalho, aprofundando-o a partir do Ciclo da Borracha. Nesse Ciclo, situa-se o verdadeiro tempo áureo da borracha amazônica,  quando a cidade de Manaus ganhou luz elétrica, bondes elétricos, água encanada, esgoto, porto organizado, comércio florescente, centro de diversões, prédios públicos suntuosos, colocando-a na dianteira das cidades mais desenvolvidas do país, sendo também chamada de a Paris dos Trópicos.
Sobre a ocupação da Amazônia, pelos nordestinos, nos comenta o historiador Artur César Ferreira Reis, in -  Temas Amazônicos.

A presença nordestina, a princípio realizada através de colônias montadas pelo Governo, mas em breve fracassando como experiência e propósito de colonização ordenada, intensificando-se, marcou o novo momento de maneira ponderável. O que é hoje o Estado do Acre, resultou da expansão sobre áreas que bolivianos e peruanos consideravam de sua soberania...”(1983:45).

A Amazônia, uma região longínqua, marginalizada no contexto nacional, com pouco menos de 1.000,00  habitantes, explorada colonialmente, era responsável pela produção de mais de 38% das divisas do Brasil, o início do século XX. A Região, contudo, nada recebia de volta do Governo Republicano. Segundo o historiador Antonio Loureiro, em livro já citado, nos esclarece:
“...a União, apenas aqui interveio, obrigatoriamente, como interessado no cumprimento do Tratado de Petrópolis, na construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, assim mesmo com capital estrangeiro”(1986:13). 
Durante todo o processo de exploração da borracha, a Amazônia sustentou o Brasil, gerando libras esterlinas – moeda dominante da época – para a manutenção do equilíbrio de seu comércio internacional, pagamento da dívida externa, embelezamento do Rio de Janeiro, construção da estrada de ferro do Centro-Sul, além de outros investimentos. Sobre isso, mais uma vez nos fala Loureiro em sua obra:
“...O Brasil dependia da Amazônia para a obtenção das libras esterlinas (...) que lhe permitiu investir no embelezamento do Rio de Janeiro, na construção da estrada de ferro do Centro-Sul, na implantação de novas instalações portuárias, na execução de grandes campanhas de saúde pública e, pasmem, na manutenção do preço do café, com a consequente salvação desta lavoura, enquanto o próprio produto que a tudo garantia, sofria pela ausência de uma política de amparo, minguava  lentamente e levava consigo toda a onda de progresso que injetara na nossa vida econômica”(1986:13).
Como deixa claro Loureiro, na Amazônia nada era investido da grande riqueza que a produção de borracha gerava e a região que sustentava a economia do país era abandonada e de baixa densidade demográfica, com sofrível representação política e ainda era desprovida de qualquer planejamento regional e, por de tudo, ainda era espoliada colonialmente pelos ingleses.
Com a economia estagnada, a Amazônia viveu décadas de abandono. Em 1958, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –IBGE, divulgo relatório informando que a Amazônia se apresentava como uma das Regiões do Brasil de mais baixa produtividade em termos de renda territorial e de rendimento per capta. A grande extensão territorial, a situação de pobreza da população e a inexpressiva produtividade global e por indivíduo do látex faziam com que o balanço de pagamentos da Amazônia se apresentasse permanentemente deficitário, cabendo ao Governo Federal, através de dotação orçamentária e custeio de serviços, a complementação de sua economia.
Do final da crise da borracha  a implantação do modelo Zona Franca de Manaus – assunto sobre o qual nos deteremos mais profundamente no Capítulo III -, a economia do Amazonas viveu debilmente sustentada pelo extrativismo. Foi um período de estagnação, marasmo, falta de horizonte e de desesperança no futuro. Esse processo perdurou até que a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial – ONUDI -, desenvolveu estudos do ponto de vista técnico, organizativo, especial e legislativo para a criação e implantação de Zonas Francas. A Zona Franca de Manaus, implantada em 1967, a partir de projeto aprovado de autoria do deputado amazonense Francisco Pereira da Silva, em 1957, apresentou-se como a salvação para a economia e para o desenvolvimento regional.  
2.1. A CRISE DA BORRACHA

Abandonada pelo Governo Republicano e explorada pelo capitalismo expansionista-colonialista inglês, a Amazônia despertava interesse maior do que simplesmente aquilo que podia oferecer, o seu látex. Os ingleses não queriam só explorá-la mais, dominá-la, dominando também a produção que gerava a riqueza. Com esse, sob a condição de botânico profissional e com a missão de estudar a flora da região, Henry Vickhan esteve na Amazônia no início do século. Ele, porém, recolheu sementes de seringueiras e as enviou ao Kew Gardens, de Londres.
 As sementes foram cultivadas com sucesso nas colônias britânicas do Ceilão e da Malásia e, já em 1912, eram responsáveis por 9% da produção mundial de borracha. Um ano mais tarde, a produção do Oriente alcançou toda a produção do Vale Amazônico e, nos anos seguintes, as plantações orientais gradativamente ultrapassaram as do Amazonas, tanto no nível de produção como em seu preço.
                   O Estado do Amazonas, próspero e com um futuro promissor na primeira década do século, rapidamente tornou-se isolado, atrasado e sem esperança no futuro. As condições sanitárias, piores no interior pela falta de medicamentos, pareciam um problema sem solução. Abandonados e isolados, os seringueiros migraram para Manaus, capital do Estado,        que viveu uma profunda crise social. Os comerciantes, sem dinheiro circulante, fecharam suas portas e muitos deixaram a cidade, falidos ou desanimados.
A população rural abandonou a extração da borracha e passou a morar na cidade. Os navios da Europa, que regularmente faziam viagens para Manaus; agora eram raros. O Governo do Estado não tinha recursos financeiros; as utilidades foram abandonadas e as escolas fecharam por falta de professores.
Depois de 1912, toda a estrutura econômica da Amazônia desmoronou e fez desaparecer o otimismo e a ostentação dos anos de prosperidade. Com o agravamento da crise, a maioria das casas comerciais de Manaus arruinou-se com o colapso financeiro e uma série sucessiva de desastres econômicos conseqüentes atingiu os comerciantes rurais e os seringueiros.
Charles Wagley, antropólogo americano que viveu por longo tempo no Brasil e, particularmente, na Amazônia, onde trabalhou, assim descreve essa fase histórica:
 “Todo o sistema comercial, superdesenvolvido e totalmente de concessão de crédito, era extremamente vulnerável. Os postos de comércio foram abandonados ou prosseguiram suas atividades, mas com estoque reduzido. Os seringueiros tiveram permissão para abandonar as plantações de borracha. Muitos deles voltaram para o Ceará, outros se estabeleceram nas terras dos comerciantes como pequenos lavradores e uns poucos supriram à sua existência continuando a extrair borracha e outros produtos...”(in “Uma Comunidade Amazônica: estudo do homem dos trópicos, 1988).
A crise econômica da Amazônia era ignorada pelo Governo Federal, tanto que Getúlio Vargas, em 1939, defendia uma política mundial de neutralidade  diante das grandes potências, aproveitando-se das vantagens econômicas por elas oferecidas. Contudo, segundo os registros históricos, ele vê-se diante de um dilema: entrar ou não entrar na II Guerra Mundial. Informa o a brasileiros foram torpedeados por submarinos alemães, provocando a morte de 652 pessoas, o Brasil declarou-se um estado beligerante e entrou em guerra contra a Alemanha e a Itália.
A Amazônia, mais uma vez foi chamada à dar sua contribuição em favor da guerra. Mais do que isso: a Guerra teve uma grande importância econômica para a Região. As plantações de borracha do Oriente, responsáveis pela ruína econômica da Amazônia, caíram nas mãos dos japoneses, obrigando aos aliados voltarem-se desesperadamente para a Região Amazônica, em busca de borracha natural.
Com a total aceitação do Governo Vargas, o Governo dos Estados Unidos, então, criou a Companhia de Desenvolvimento da Borracha e, em conjunto com o Governo do Brasil, investiu recursos financeiros para melhorar os meios de transporte e comunicação e facilitar a importação do material necessário à extração da borracha, concedendo crédito aos produtores e investimento na melhoria das condições de extração.
Esse novo esforço de desenvolvimento da Região atraiu mais nordestinos que fugiam da Grande Seca e engrossaram a mão-de-obra na extração da borracha, que era transportada por via aérea, de Manaus para os Estados Unidos. Segundo o professor da Fundação Universidade do Amazonas e amazonólogo Samuel Benchimol (1977), a arrancada sertaneja para a Amazônia foi resultante do deslocamento da fronteira econômica pela supremacia da borracha.
Contudo, nem mesmo a Guerra foi capaz de salvar a economia extrativista do Amazonas. O programa de desenvolvimento da borracha fracassou. Houve dificuldades para  o desenvolvimento da indústria de borracha nativa e, além disso, as arvores ficavam muito distante uma das outras, dentro da floresta, o que tornava a extração  do látex um trabalho árduo e às vezes, improdutivo. Como se isso não bastasse, os técnicos americanos desconheciam a realidade da Região e tinham dificuldades para abrir estradas. Também lhes faltava a prática dos caboclos da Amazônia (1).
Mais uma vez abandonada, a Amazônia esperava a ajuda do Governo Federal. Em 1940, Getúlio Vargas prometera que necessidades da Região, constituiriam assunto de interesse nacional. Ele cumpriu sua promessa e determinou importantes medidas.  Dois anos depois, ainda como parte do esforço de guerra e em virtude de um acordo internacional com os Estados Unidos, criou o SESP – Serviço de Saúde Pública. Em 1949, o SESP já tinha estabelecido postos de saúde em trinta pontos da Região, em um gigantesco programa de saúde pública.
Contudo, abandonada pelo capital inglês e sem a ajuda do capital nacional, Manaus era uma cidade com muitos e sérios problemas. Segundo o historiador Antonio Loureiro, em obra já citada, não há registros históricos referentes à prevalência das doenças no Amazonas e, por isso mesmo, pouco ou quase nada conhecemos da real situação sanitária da cidade de Manaus, no período áureo da borracha.
Contudo, um relatório do Dr. Figueiredo Rodrigues, Inspetor de
Saúde  no Porto de Manaus,, datado de 1915, nos informa que houve 299 óbitos de paludismo (
Impaludismo ou malária, causada por um hematozoário pertencente ao gênero Plasmodium), havia um hospital, 33 médicos, 15 farmácias, além de  outras mortes. De acordo ainda com o mesmo relatório, 1.204 morreram em Manaus contra 2.196 mortes em 1910, em todo o Estado. O relatório é esclarecedor:
“...esta diminuição na mortalidade pela malária é proporcional ao decrescimento da população que baixou um terço com a crise econômica que tem oprimido o Amazonas...”
Com o fim do Ciclo da Borracha , Manaus herdou todo o acervo material e humano representado pelos milhares de novos ocupantes dos seringais, para lá encaminhados com ajuda oficial conjunta dos Governos do Estado do Amazonas e Federal. Era dever da União assegurar-lhes tratamento conveniente, a fim de evitar a repetição da crise que abalou a economia regional entre 1929 e 1932, período em que a produção de borracha foi reduzida a 6 mil toneladas, em virtude do quase total abandono dos seringais.
O pesquisador Cosme Ferreira Filho, relatando sobre a dimensão do problema social existente em Manaus na década de 40, assim diz:
“O organismo estatal que deveria executar essa política  fassistencial, o Banco de Crédito da Amazônia S.A. (primeiramente Banco de Crédito da Borracha), continuando a operar como comprador exclusivo e revendedor único da borracha produzida, não se revelou instrumento hábil” (in Amazônia em novas dimensões, 1961)
Com uma população que havia crescido de 365.166 para 438.000 (20,6%) em uma década, sem geração de novos recursos para o seu sustento, os problemas sociais exigiam investimentos de recursos financeiros que o Governo do Estado não dispunha. Esse quadro era mais grave, ainda, porque o êxodo rural, no mesmo período de 1929 a 1930 tinha sido de 40,55% com destino à capital. O interior do Estado, portanto, estava abandonado e a cidade de Manaus, crescia face às massas humanas que fugiam dos municípios, além da vinda de contingentes de fora do Estado. Como se tudo isso não bastasse, Manaus ainda possuía 3.941 estrangeiros e 219 naturalizados, em 1940, quando sua população total era de 106.399 habitantes.
Manaus, cidade outrora rica, próspera, imponente, estava pobre, abandonada e com muitos problemas sociais à resolver. Toda a riqueza do passado se traduzia em prédios, pontes de ferro, Teatro Amazonas, casas coloniais – e muita miséria humana. Explorada colonialmente, abandonada pelo Governo Federal e responsável pela produção de 38% da riqueza nacional, estava necessitando urgentemente de uma política social para resolver suas dificuldades. O Governo Federal, preocupado com os problemas relatados pela contradição capital X trabalho, a partir dos anos 30, começou a pensar em soluções e colocou na Constituição de 1937, instrumentos que propiciaram ao surgimento de uma política social oficial.
No Amazonas, o Governo do Estado começa a se preocupar com a crise social e propôs a criação de um Programa de Assistência Social para o Estado. Desse programa surge a Escola de Serviço Social de Manaus, em 1940.

2.2. A ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL DE MANAUS

O Interventor Federal no Amazonas, Álvaro Botelho Maia, no Golpe do chamado Estado Novo de Getúlio Vargas, preocupado com os problemas sociais de Manaus, gerados pela exploração colonialista de suas riquezas extrativistas e pelo abandono a que foi relegado pelo Governo Federal após o fim do Ciclo da Borracha, convidou o Juiz de Direito, André Vidal de Araújo, um estudioso da sociologia e da antropologia, para criar um Programa de Assistência Social para o Amazonas.
Nesse período, André Vidal de Araújo, era só um Juiz de Menores e dirigia o “Circulo Operário”, criado por ele para amenizar os problemas sociais e preparar trabalhadores à enfrentar seus problemas. O Circulo Operário preparava os trabalhadores também para à sindicalização,  atendia às políticas trabalhistas do Governo Federal e ainda respondia pela solução dos problemas de saúde.
Os problemas sociais da população, mesmo através do Circulo Operário, naquele período, eram atendidos de forma isolada, por pessoas voluntárias de boa vontade, senhoras da sociedade, mulheres de funcionários públicos que, através de um espírito religioso, prestavam socorro aos desvalidos. Entretanto, ão havia qualquer programa oficial do Governo do Estado nesse sentido.
André Vida de Araújo, em sua obra Introdução à Sociologia da Amazônia, resume  bem sua visão sobre a missão que lhe foi confiada por Álvaro Maia, e sobre a Política Social por ele pensada.
                                      “Na Amazônia, de pequena densidade humana, de vasta extensão territorial, em que a proliferação é imensa e a mortalidade infantil é também assustadora – entendemos que uma assistência não pode ser desviada destes três rumos fundamentais: a) a assistência às famílias numerosas; b) proteção à maternidade; c) proteção à infância (1956:348).
Essas três áreas de assistência eram uma exigência da Constituição Federal de 1937.
De acordo com André Vidal de Araújo, a assistência social poderia ser aplicada de quatro maneiras: assistência paliativa, curativa, preventiva e construtiva.
Nesse ponto, achamos importante diferenciar assistência de assistencialismo. Assistência é um direito constitucional consagrado ao povo; Assistencialismo é uma prática social historicamente de domínio à classe trabalhadora. O assistencialismo só reduz minimamente a miséria e geram um vício de pedir sempre, e cada vez mais.
De acordo com Alayon (1982), o assistencialismo constitui a essência não apenas das formas de ajuda anteriores à profissão, mas também do próprio Serviço Social.
A simples implantação de atividades de bem-estar social sem a erradicação das causas que produzem a desigualdade e da justiça social e, ao mesmo tempo, não  atuando contra a grandes causas geradoras da exploração e da miséria, é assistencialismo.
O Programa de Assistência Social, idealizado por André Araújo, previa a criação de um Serviço Social de Assistência. Seria uma atividade para suprir, sanar e prevenir, por meios técnicos e métodos próprios, a deficiência e os desajustamentos individuais ou grupos sociais, em uma visão funcionalista para amparar o povo. Esse Serviço Social pensado devia ser feito em família, no trabalho, na comunidade, na escola, no meio rural, entre detentos egressos do sistema prisional e entre os médicos.
 Manaus dos anos 40 era uma cidade de muitos contrastes. Dona de uma arquitetura belíssima, de luxuosas casas comerciais, deixava em suas rua, as marcas do abandono e da miséria. As fusões de povos indígenas e brancos, europeus e morenos e, ainda, nordestinos fizeram surgir uma cultura que atrai a atenção do mundo.
As marcas da crises desfilavam nas ruas: o tifo mata em média 20 pessoas por cada grupo de 100 mil habitantes; a febre amarela ainda faz muitas vítimas; a mortalidade infantil é elevadíssima e as condições de vida da população são precárias. O colapso da borracha havia matado e transformado o mundo amazônico.
Manaus era, portanto, uma cidade cheia de problemas sociais, resultantes da crise econômica e agravada pela contínua exploração da mão-de-obra barata que havia em função da falência dos seringais. Nesse contexto histórico, surge em 16 de novembro de 1940, a Escola de Serviço Social de Manaus, fundada por André Vidal de Araújo, como parte do seu Programa de Assistência Social do Governo Interventor de Álvaro Maia, no período do Estado Novo de Getúlio Vargas.
Sobre o processo de criação da Escola, assim se manifesta, Rita de Cássia Montenegro em sua dissertação de mestrado:
 “A fundação da Escola de Serviço Social de Manaus se insere dentro de uma tendência nacional, que se manifestou sobretudo nos grandes centros, onde as pressões políticas e a crescente industrialização faziam sentir os efeitos de uma nova realidade...”(2986:44).
A Escola de Serviço Social de Manaus foi uma das primeiras do Brasil; a primeira foi criada em 1936 em São Paulo, em 1937 surge a segunda no Rio de Janeiro; em 1940 surge a de Manaus. A mestra Rita de Cássio Montenegro atribui esse pioneirismo às condições sociais de Manaus, que exigiam soluções inovadoras”
Mais do que a criação de uma Escola, o Interventor Álvaro Maia pretendia dar sequência aos objetivos aos objetivos do Estado Novo de Vargas que, ao mudar a Constituição do Brasil durante o golpe civil sem armas e violência, tinha por objetivo enfrentar a questão social.
O Serviço Social no Brasil foi sempre marcado pela influência da Igreja Católica. Com o desenvolvimentismo norte-americano, assunto que será aprofundado ao estudar a II Guerra Mundial, passou a sofrer novas influências. Em Manaus, a Escola de Serviço Social seguia uma linha de influência franco-belga, assumindo posteriormente a linha norte-americana. Sobre isso, mais uma vez comenta Rita de Cássia Montenegro:
“A linha franco-belga dava ênfase 1ª Ação Social, enquanto a norte-americana da partia do caso social (...). Assim como ocorreu em outros Estados, também no Amazonas a influência da Ação Católica da Igreja se fez sentir na Escola de Serviço Social (1986:45).
                  A Escola de Serviço Social de Manaus surgiu a partir do poder do Estado, seguindo uma linha cristã, para resolver problemas de doenças, prostituição, mendicância, exploração do trabalho das mulheres,  dos menores nas fábricas e organizar as famílias. Era preciso, portanto, preparar tecnicamente as pessoas que teriam por missão combater esses problemas, conjugando a assistência pública à particular.
Diz novamente Rita de Cássia Montenegro:
“Como solução dos graves problemas da sociedade moderna em geral, e do Estado do Amazonas, em particular (...) um primeiro passo (...) seria a realização de “inquéritos sociais”, ou seja, pesquisa social, como forma de avaliar problemas e recursos disponíveis para combatê-los” (Ibidem,67).

Esses “inquéritos sociais” identificavam tudo o que existia em termos de serviço social ativo no Amazonas. Em todo o Estado, havia 55 órgãos desse tipo, sendo 21 na capital e 34 no interior. Em Manaus, havia somente 3 hospitais para atender a uma população de 106.399 habitantes. Para atender aos 438.008 habitantes do Estado, havia somente 9 hospitais. Com essa realidade, a população, em sua grande maioria, não tinha acessos a esses serviços.
Outros problemas também foram identificados nas áreas do menor e da família. André Vidal de Araújo acreditava que o menor merecia uma atenção redobrada e sugeria que o Governo Federal destinasse mais verbas para atendê-los. Com verbas provenientes do corte orçamentário de algumas repartições, Haveria dinheiro para organizar centros de saúde, escolas de instrução, seguros contra morte e invalidez, hospitais e toda a infra-estrutura necessária ao correto atendimento da população.
Seguindo uma linha teórica positivista, a Escola começou a funcionar e formar alunos para “normalizar a vida dos indivíduos, melhorando-os de condições, readaptando-os à vida normal da sociedade”, como destaca Montenegro em sua monografia de mestrado e acrescenta:
“A assistência social compreende os esforços destinados a aliviar a miséria, o sofrimento e a desgraça, sobretudo, em relação às classes desamparadas”(1986:79).
A Escola de Serviço Social de Manaus foi criada, portanto, para resolver os problemas sociais e econômicos enfrentados pó 438.008 mil habitantes do Estado que viviam na década de 40 no Estado. O ciclo de borracha, responsável pelo crescimento de 660,3% da população em um espaço de 70 anos, no Estado, contra 332% na Região Amazônica, no mesmo período também foi responsável por todos os problemas sociais existentes.
O crescimento populacional no Amazonas se deu em um período em que o mundo e o Brasil viviam crises financeiras. Piorando ainda mais esse quadro, o aumento populacional não foi acompanhado pelo aumento de produção e de novos recursos para o seu sustento. A conseqüência disso foi o acúmulo de problemas sociais e a total falta de recursos para enfrentá-los exigindo, por isso, a criação de uma Escola de Serviço Social, a fim de formar profissionais qualificados técnica o operacionalmente, para amenizar os efeitos desse quadro caótico. A prática profissional do Assistente Social, a partir da criação da Escola, é o que veremos a seguir.
2.3. A PRÁTICA PROFISIONAL FRENTE AOS    PROBLEMAS SOCIAIS .
O  processo de criação da Escola de Serviço Social de Manaus foi resultado de um processo histórico, obedecendo a um imediato interesse do  Estado Novo de Vargas, representado no Amazonas pelo Governador Interventor Álvaro Botelho Maia porque
As condições objetivas do exercício profissional e o jogo de forças sociais presentes nos anos 40 em Manaus não eram conhecidas naquela época e foram estudadas em profundidade. Com isso, houve um completo distanciamento crítico entre os objetivos da Escola e à realidade social apresentada. (Trecho de mensagem de Álvaro Maia à ALE)
O criador da Escola definia o Serviço Social como sendo,
                                      “...uma atividade que pretende suprir, sanar e prevenir, por meio técnico e métodos próprios, a deficiência e os desajustamentos individuais e de grupos sociais (1956:362).
                                          André Vidal de Araújo, com isso, entendia que não bastava só criar a Escola. Era preciso, também, criar um órgão, um Aparelho de Estado, para dos problemas sociais. Sobre esse órgão, o criador da Escola nos esclarece novamente:
                                                            “Só um órgão perfeitamente aparelhado, poderá, a todo o momento, atender às necessidades do povo, às necessidades mais imperiosas. Um órgão que aja, imediatamente, no sentido de amparar o povo, é de alto interesse para o Estado (...). Mas esse novo órgão só deverá agir através do campo da assistência médica e da assistência econômica aos premidos pelas misérias sociais (...) O Serviço Social deve ser feio na família, no meio rural, entre detentos egressos, no meio médico. Há uma técnica especialmente diferentes dos serviços de visitadores, de enfermeiros, de atendentes etc. (Ibid: 352).
                                          O órgão de Serviço Social idealizado por André Araújo, criado mais tarde sob o nome de Divisão do Serviço Social do Estado, conforme observa na citação acima, não deveria atuar de forma amadorística, como tudo o que vinha sendo feito até então. Ele teria a função de coordenar o esforço em busca de soluções para amenizar os problemas sociais, em uma visão positivista, sem questionar as causas desses problemas.
                                          A Escola de Serviço Social, como já vimos, foi criada no bojo do projeto de Organização da Assistência e Serviço Social do
Amazonas, elaborado por André Araújo a pedido do interventor federal no Amazonas, Álvaro Botelho Maia. Trouxe em sua gênese toda uma concepção cristã e uma influência da Escola de Serviço Social de São Paulo, de onde foram tiradas as diretrizes principais. A fundamentação cristã está explicita na Exposição de Motivos do Projeto: 
“Sem uma base espiritualista cristã, sem uma orientação à altura de nossas necessidades sociais, nada se poderá fazer à favor de uma geração que se sente ameaçada por desordens oriundas de uma falsa compreensão dos nossos problemas vitais”(1)         

A professora Montenegro (op. cit.) assegura que a assistência social no Amazonas adotou o sistema de Elbertifeld, instituído na Alemanha por Daniel Von Der Heydt. Este sistema tinha por base a conjunção da assistência pública com a particular. O Serviço Social, dentro deste sistema, usando base ideológica cristã, deveria usar técnicas científicas para combater os problemas, os quais deveriam ser levantados e estabelecidos ser levantados a estudados através de “inquéritos científicos”. Esses “inquéritos” também identificavam os recursos disponíveis para combatê-los.
Manaus, na década de 40, era uma cidade com muitos problemas sociais, como doenças, prostituição, mendicância, exploração Fo trabalho de mulheres e de menores em fábricas, além de conviver com um enorme crescimento populacional, em um momento em que o Estado e o país passavam por crises econômicas, como já foi informado.
O escritor Samuel Rogel, residente no Rio de Janeiro, professor adjunto, doutor do Departamento de Ciência e Literatura da UFRJ, em seu romance histórico ficcional, lançado no Rio de Janeiro (OIO Editora),  “O Amante das Amazonas” (1992) ,  no qual faz uma mistura de história com ficção, assim se pronuncia sobre esse período da história:

“O Amazonas era uma imensa planície de miséria. A depressão econômica pairava no seu construoso silêncio (...). Manaus era bela. Calma, profunda, na estagnação da crise econômica art-mpuveou – Manaus era uma espécie de cidade fantasma, mini-metrópole abandonada, batida pela cidade de um sol esplendidamente brilhante”.
        Nesse momento histórico, o trabalho de assistência social aos pobres era desenvolvido de forma isolada, por pessoas caridosas, senhoras da sociedade, esposas de funcionários públicos e religiosos, conforme já explicitamos anteriormente. Com o agravamento da  crise social, o Governo do Estado foi obrigado a destinar verba para atender a casos prementes nas áreas de educação, saúde e transporte. Mais tarde, o Governo construiu casas para viúvas e continuou recebendo pedido de ajuda para resolver outros problemas. A Igreja, então, ficou sensibilizada com os problemas, em um momento que difundia sua doutrina social.
Os “inquéritos sociais” definidos como necessários à identificação dos problemas, então, passaram a ser uma prática profissional dos Assistentes Sociais formados pela Escola de Serviço Social de Manaus.
Esses “inquéritos”, como afirmamos anteriormente, permitiam um mapeamento dos problemas e também, a identificação de recursos disponíveis para solucioná-los, Contudo, eles não identificavam as causas dos problemas que estudavam e nem propunham         qualquer tipo de solução para erradicá-los.
Sobre esses “inquéritos”, nos informa  Montenegro (Idem):
“Dentro dessa orientação, foi realizado por André Araújo, um levantamento das instituições de saúde e assistência em funcionamento no Estado do Amazonas no ano de 1940(...) O exame dos recursos disponíveis demonstra a extrema carência do atendimento (1986:67,69).

A crise econômica gerada de toda a crise social transformou Manaus em uma cidade de miséria. Como já dissemos, havia somente três hospitais para atender 106/399 pessoas. A tuberculose e a hanseníase eram doenças que imperavam e a mortalidade infantil se apresentava em curva ascendente. Menores eram abandonados nas ruas, muitos se envolviam em pequenos delitos. O trabalho infantil também era preocupante porque estes menores eram explorados e pelo menos 1% da população era formada por crianças órfãs, resultado da morte dos país seringueiros que nunca voltaram de seus trabalhos.
                   Sobre todo esse quadro social, nos valemos novamente da mestra Rita de Cássia Montenegro (Ibid:1086:75) , em trabalho de mestrado, já citado em várias oportunidades:
“...o problema dos menores era apenas um dos que afligiam Manaus, o ponto de vista social, na década de 40. Com relação aos demais, pode-se apenas supor uma dimensão, pois existem outros dados senão os constantes no Projeto de organização do Serviço Social do Amazonas” .
Diante de tudo isso, a prática do Serviço Social dava-se a partir do conhecimento da realidade social que se dava a conhecer através dos inquéritos sociais. Conhecendo o meio social, seria possível promover as reformas sociais de maneira científica, sistemática, a partir dos resultados das pesquisas. A base ideológica de todo esse trabalho, era a cristã, voltada para a organização social a partir dos ensinamentos de Cristo. A dignidade da pessoa humana era o ponto de partida de todo o trabalho. A dignidade da pessoa humana era o ponto de partida de todo o trabalho. O homem, portanto, deveria ser respeitado em sua totalidade, compreendo-o em sua realidade biológica e social e harmonizando as suas realidades espirituais e materiais.
Esse posicionamento da prática profissional do Assistente Social, em Manaus, mereceu da professora Montenegro, o comentário que segue:
“Se o Estado encarar o homem à luz da verdade cristã poderá reequilibrar-se. Mas deveria criar um sistema que favorecesse o desenvolvimento da pessoa humana, em seus aspectos biológicos e psicológicos, fornecendo-lhe condições para ganhar a vida, educação, assistência e proteção. As leis assistenciais surgem para estabelecer o equilíbrio social naquilo em que ele se desfez e, para restabelecê-lo no que esteja falho. Dentro, pois, de uma orientação e com bases científicas, o Serviço Social que contar com o apoio do Estado, solucionaria os problemas sociais (1986:81).
Conforme se observa em Montenegro, somente o trabalho social não é suficiente para resolver todos os problemas porque as causas destes não são objeto de discussão na prática profissional. Ao Estado, legitimador da prática profissional, cabe estabelecer mecanismos de desenvolvimento integral da pessoa humana.
O Serviço Social, como prática profissional, aparece como uma intermediação entre o Estado e as desigualdades sociais. Seu papel seria, então, o de solucionar esses problemas sociais.
A criação da Escola de Serviço Social de Manaus e a formação de pessoas qualificadas para fazer o enfrentamento dos problemas sociais não puseram um fim aos problemas sociais. A estagnação econômica e a crise social no Amazonas e, particularmente, em Manaus, continuaram fortes por pelo menos mais duas décadas, até a implantação da Zona Franca de Manaus, em 1967, que será tratada no próximo capítulo, ao qual também veremos que  foi a partir de 1964, com o Golpe Militar no Brasil e a ditadura de presidentes militares – os generais de Exército,  Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médice, Ernesto Geysel e João Batista de Oliveira Figueiredo - , que a Amazônia voltou a viver um novo processo de desenvolvimento econômico.
 A doutora em Serviço Social, Iraildes Gonzaga Torres, ainda em seu Trabalho de Conclusão de Curso, afirma que os governos pós-64 definem os destinos regionais, através da Operação Amazônia,  considerada o marco na história social do desenvolvimento regional, assunto que será tratado mais tarde.
CAPÍTULO III
3.   O PROJETO ZONA FRANCA DE MANAUS
         A Zona Franca de Manaus foi criada pelo Decreto-Lei n. 288, de 28 de fevereiro de 1967, durante o Governo Militar de Alberto de Alencar Castelo Branco. De acordo com o estabelecido no Decreto, a ZFM deveria ser uma área de livre comércio de importação e exportação e de incentivos fiscais especiais. O seu objetivo principal, ainda de acordo com o Decreto, era criar no interior da Amazônia um cetro industrial, comercial e agro-pecuário, dotado de condições econômicas que permitisse seu desenvolvimento em face dos fatores locais e da grande distância em que se encontravam os centros consumidores de seus produtos. O prazo de duração, fixado em 30 anos, está sendo seguidamente prorrogado.
O processo de implantação da ZFM ocorre em um período em que o Brasil já havia passado por um amplo processo de internacionalização de sua economia, em particular de sua produção industrial, segundo observou o doutor em sociologia da Universidade Federal do Amazonas, Ernesto Renan Freitas Pinto, durante o Seminário A Amazônia sob a Divisão Social do Trabalho promovida pelo setor de Pesquisas do NAEA, em setembro de 1986:  
“Na realidade a implantação de uma área de livre comércio e, posteriormente, de um Distrito Industrial se realiza a partir de uma nova estratégia do sistema capitalista a nível mundial. E a necessidade do próprio capitalismo ao procurar sempre novas formas de ampliar a margem de lucro de cada unidade de produção em particular, e do conjunto de produção em geral, que faz com que se desenvolva uma nova difusão internacional do trabalho. E as Zonas Francas do mundo inteiro passam a ser implantadas dentro dessa estratégia”(in “Seminários e Debates” N. 15, UFPa.)
Nesta palestra, Freitas Pinto questiona as defesas apaixonadas em torno do modelo Zona Franca, sem criticidade e, também, questionar as vantagens e desvantagens desse modelo de desenvolvimento.
O modelo mundial para as Zonas Francas e, consequentemente, para a de Manaus, foi desenvolvido pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial – ONUDI, com seus aspectos técnico, espacial, legislativo e organizativo. Historicamente, a ZFM começou a ganhar forma através do Decreto-Lei n. 3.173, de 6 de junho de 1957, de autoria do deputado federal pelo Amazonas, Francisco Pereira da Silva. A sua implantação, porém, só ocorreu dez anos mais tarde, como parte de uma estratégia de desenvolvimento regional do Governo Castelo Branco, que também previa a ocupação da Região por questões de segurança nacional. Com esse discurso,
“Criou-se (...) um espaço para uma integração mais efetiva da Região à divisão internacional do  trabalho com amplas vantagens para o capital nacional e internacional e suas consequentes contradições em termos de processo de concentração de riquezas e elevação da pobreza (in “Zona Franca de Manaus, os filhos da era eletrônica, organizado pela professora da UFPa, Edila Arnaud Ferreira Moura, pág. 17).
O modelo ZFM, livre de entraves burocráticos, conseguiu atrair um grande número de empresários empreendedores, inicialmente no setor comercial e depois no da industrialização. Nos primeiros anos de implantação dos incentivos comerciais, o comércio importador cresceu e atraiu uma forte emanada do trabalho feminino, migrante da zona rural. O segundo da ZFM é marcado pelo crescimento do setor industrial, o que fez desaparecer as indústrias tradicionais essenciais tradicionais.
As indústrias que se instalaram na ZFM, aproveitando o processo de internacionalização da economia brasileira, são grande parte originária de um processo de transferência de plantas fabris, a fusão com outras ou a compra de empresas já instaladas são procedimentos explicados pela necessidade de o capitalismo procurar sempre novas formas de ampliar a margem do lucro de cada unidade de produção em particular e do conjunto de produção em geral:
“AZFM integra-se, dessa forma, ao processo de uma nova divisão internacional do trabalho, dirigido pelo modelo mundial estabelecido para as zonas francas industriais e desenvolvido sob o ponto de vista técnico, organizativo, espacial pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial – ONUDI.”
Sobre o assunto, recomendamos a leitura do trabalho do professor Ernesto Renan Freitas Pinto e o livro Zona Franca de Manaus, os filhos da eletrônica, ambos já citados neste trabalho.
Samuel Benchimol, em seu livro “Amazônia Fiscal” analisa a política fiscal do modelo ZFM. Ele garante que o modelo comprova a validade de uma política fiscal de parcial desagravação e desoneração tributária:
“Essa política fiscal iniciada no final da década dos anos 60, provou a sua validade operacional (...) os benefícios são entregues aos empresários antes e durante o processo de implantação dos seus empreendimentos...”(1988:111).
Do ponto de vista fiscal, o modelo também tem levado a muitas distorções e desperdícios. Do ponto de vista social, a política de incentivos fiscais transfere recursos do Estado às empresas, em sua grande parte multinacional. O Estado, ao abrir mão desses recursos, limita a aplicação de recursos públicos em setores básicos para o desenvolvimento integrado da sociedade, como saúde pública, educação, melhoria do sistema de transporte coletivo, estímulo à produção agrícola, sistema de abastecimento alimentar, privando crianças e adolescentes da participação neste processo de produção social.
A instalação da ZFM fez crescer a população urbana. Até 1949, apenas 23,9% da população do Amazonas residia na capital. Em 1970, esse número já era de 32% e, em 1991, segundo dados do IBGE, já eram de 48,5% da população total do Amazonas residindo na capital, representando no período um crescimento de mais de 100%. Com esse crescimento, cresceram também a demanda por alimentos, transporte, saúde, escolas etc. desemprego e subemprego, denunciando, “o fracasso da proposta de desenvolvimento social estabelecido pelo programa da Zona Franca de Manaus”, segundo a conclusão da organizadora do livro “Zona Franca de Manaus, os filhos da era da eletrônica”,  Edila Arnaud Ferreira Moura, editado em 1993 pela UFPa.
A mestra Elise Faria Scherer, em dissertação de mestrado, onde traça um diagnóstico sobe o processo de assistência aos desassistidos, sustenta que a questão social, em Manaus, começou em 1912, com a chamada crise da borracha, quando houve uma grande migração de nordestinos para Manaus à procura de novas oportunidades, repetindo-se em 1940, durante a II Guerra Mundial, durante a chamada II Batalha da Borracha,  e, por último, em 1967, com a Zona Franca. Ela sustenta que a lógica do desenvolvimento demográfico está condicionado à dinâmica do capital. E não foi diferente com o desenvolvimento demográfico da cidade de Manaus. Contudo, como também observa Sherer, não pode ser imputado à ZFM toda a responsabilidade pela “desordem”da cidade, mas
“...é preciso assinalar que ela exacerbou a “questão social”, pela sua forma excludente do desenvolvimento em que se insere”(1986:69).
Como sustenta Sherrer, a ZFM não foi a única culpada pela crise social em Manaus, mas a partir dela agravou-se com o surgimento de inúmeras favelas na capital em virtude do esvaziamento do interior do Estado.  A partir da ZFM, Manaus passa a ser a sede do Aparelho Burocrático do Estado e também a sede do aparelho produtivo, atraindo cada vez mais de forma crescente, pessoas da zona rural do Estado à morar na Capital, em busca de emprego e melhores condições de vida. Hoje, o espaço urbano de Manaus é palco de enormes desigualdades e injustiças sociais. Em torno do Distrito Industrial, criado a partir de renúncias fiscais, inúmeras favelas se formaram.
Como esses problemas sociais foram tratados pelos Governos, é o que veremos a seguir. 
3.1. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO AMAZONAS: A DIVISÃO DE SERVIÇO SOCIAL
O modelo ZF, criado como parte de um plano internacional de desenvolvimento capitalista, produz riquezas e misérias.
O processo migratório, conseqüência da implantação da ZF, despovoou a zona rural, fez crescer a população urbana e, com esse crescimento, também os problemas. Hoje, Manaus, segundo dados demográficos, é uma cidade de população jovem. Essa população, ainda segundo dados censitários de 1980, participa de atividades econômicas.
Estudos desenvolvidos pela Codeama apresentam um crescimento significativo da participação feminina no mercado de trabalho, o que gera alteração de papéis na estrutura familiar. As condições sociais, segundo esses mesmos estudos, demonstram um acentuado processo de concentração de renda, manifestado, em parte, pela distribuição das faixas salariais.
Em estudos apresentados no livro “Sistema de Classificação de Ocupações e Organização da Força de Trabalho”, (1985)  de Maria Lúcia Sá Maia, publicado pela Universidade Federal do Pará,  como tese de mestrado, trabalha de forma mais precisa este assunto.
O crescimento econômico proporcionado pela ZF traduzia-se em ganhos sociais diminutos para a população, havendo um processo gradativo de concentração dos benefícios decorrentes desse crescimento na cidade de Manaus,  escreveu  o governador José Lindoso ao apresentar à Assembléia Legislativa do Estado o seu Plano Global de Governo -1980 -1983.
O governador José Lindoso dizia que somente os principais centros urbanos ofereciam serviços sociais básicos, sendo ainda insuficientes para atender às necessidades. As áreas rurais do interior não possuíam e nem possuem infra-estrutura social que possibilite a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes. O governador, diante disso, no mesmo documento já citado, volta a afirmar:
A necessidade de transformação da estrutura social do Estado e da elevação das condições de vida do homem amazonense é imperiosa. Assim, é necessário estender a toda a população os recursos essenciais ao seu auto-desenvolvimento, tais como: maior oferta de empregos, alimentos e condições de educação, saúde, saneamento e habitação”.
A estrutura sócio-econômica inadequada e os fatores dela decorrentes – baixa renda familiar, desemprego, falta de qualificação de mão-de-obra e baixa escolaridade, entre outros -, tornaram os problemas de conduta social no Estado, “complexos de difícil solução  a curto prazo”, admitia o governador José Lindoso. Essa conclusão permite afirmar que as políticas governamentais adotadas por Artur César Ferreira Reis, em Plano Bienal de Governo, pós-64, defendia em Plano Bienal de Governo que tentava implantar políticas sociais destinadas à população, segundo Iraildes Gonzaga Torres, doutora em Serviço Social,  não surtiram grandes efeitos e também foram infrutíferas as tentativas nesse mesmo sentido tentadas pelos governadores João Walter de Andrade (1971-1975) e Henock da Silva Reis, este que foi substituído por José Lindoso.
Sobre o período do Governo de Artur César Ferreira Reis, a doutora em Serviço Social Iraildes Gonzaga Torres assim se manifesta:
“Artur Reis fica desencantado no início de seu Governo ao se deparar com o quadro social de miséria em estado avançado (...). A situação dos moradores da cidade flutuante incomoda sobremaneira o novo governo que pretendia embelezar a cidade, retirando todas as excrescências comprometedoras de seu visual (...) Isso porque era preciso construir na Regi!ao, uma nova economia, uma nova sociedade, o que possibilitaria ao Amazonas “integrar-se”ao todo nacional (1991: 27).
Iraildes Gonzaga Torres afirma, ainda, que Arthur Reis, no setor social, seguiu o Plano de Ação Econômica (PAEG), do Presidente Costa e Silva (1964/66):
“Espantado com a miséria que se depara (sic), Artur (sic) pretendia, a partir dessas reformas, implantar, no Amazonas, um “Estado de Bem-Estar Social (Caldas,1991:28)  
Elenise Scherrer, em sua tese “Assistência aos Desassistidos Manauara”,  citada por Iraildes Gonzaga Torres, em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), sobre esse mesmo de Governo, afirma:
“A miséria urbana acumulada no percurso da história regional estava ante seus olhos. Torna-se necessário a índices de mortalidade infantil, as altas taxas de mal de hansen, o analfabetismo, o desemprego, a malária, o tratamento rude da mulher e do menor e a mendicância”.
O Governador Artur César Ferreira Reis, para implantar o seu Plano Bienal, precisava redefinir o espaço urbano da cidade. Uma de suas primeiras medidas é a remoção da Cidade da Flutuante, onde residiam mais de mil famílias, com uma média seis pessoas residindo em cada família, o que representava uma população elevadíssima. Antes de removê-las, determinou a realização de um estudo nas condições sócio-econômicas das famílias, para  transferi-las.
Essa transferência não foi total. As casas construídas pela Companhia de Habitação do Amazonas – Cohab, não foram suficientes. Das duas mil casas que deveriam ser construídas, foram concluídas e entregues somente 130 moradias. Havia, ainda, outro problema: as famílias não tinham condições financeiras para arcar com as despesas. Algumas famílias retornaram para a “Cidade Flutuante”e outras preferiram procurar outras áreas para ocupar.
A Assistente Social, Iraildes Gonzaga Torres, (op.cit), assim comenta esse período:
“Nesse contexto de transladação da cidade flutuante, é que Artur Reis vai acionar os assistentes para mediarem as políticas sociais do Estado. Cria a Divisão de Serviço Social, instala-a no próprio Palácio Rio Negro, a qual será o embrião das políticas de promoção e de assistência social dessa nova etapa histórica do “desenvolvimento regional”. Ela foi a forma encontrada pelo poder público para cuidar dos pobres e mendigos provenientes da cidade flutuante, os quais constituíam o “cancro social” formado pelas filas no Palácio Rio Negro. Não obstante os assistentes sociais passam a contribuir diretamente com o poder constituído sendo um elo de ligação do Governo para amenizar a situação dos pedintes”(1991:30).
O governador João Walter de Andrade, sucessor de Artur César Ferreira Reis, trocou sua linha de Governo no período de 1971/74, através de uma programação bastante abrangente na área empresarial, com “o inclinável e patriótico objetivo de integração do Estado ao todo amazônico e ao Brasil”. Ele criou um programa de assistência técnica-gerencial, modernizou o sistema fiscal e tributário, instituiu o Fundo Estadual de Desenvolvimento Econômico – FUNEDE, para financiamento de capital fixo e variável às indústrias e ao comércio, lutou pela manutenção dos incentivos fiscais da ZFM e garantiu aos empresários apóio político à implantação de novos projetos industriais na Zona Franca.
O Governo João Walter de Andrade também ampliou e melhorou a estrutura física e funcional do setor de saúde e, na área habitacional, construiu e entregou 2 mil casas populares através da Cohab. O Governo também deu ênfase ao problema do menor abandonado, “para os quais os recursos sociais sempre foram extremamente escassos”(1973:13), conforme trecho de mensagem governamental à Assembléia Legislativa do Estado. Reformou e ampliou a Escola “Darcy Vargas”, para meninas “desajustadas”; a Escola “Melo Matos”, para “menor desajustado”. Construiu e fez funcionar o Centro de Recuperação e Triagem do Menor, cujo objetivo era:
                        “promover a recuperação do menor com idade            de 5 a 14 anos com problemas de comportamento anti-social, através da aplicação de métodos e estudos de natureza psicológica assistencial, no campo médico-odontológico, jurídico e educacional, com vistas a devolvê-lo  à sociedade como membro socialmente produtivo”(op cit.: 1973:15).
O governador Henock da Silva Reis, em sua mensagem à Assembléia Legislativa do estado, em 1º de março de 1977, dá especial destaque à Operação Manaus, em conjunto com o Projeto Rondon e a Universidade do Amazonas, com o apoio da Suframa – Superintendência da Zona Franca de Manaus. Essa Operação Manaus tinha por objetivo desenvolver estudos da população para o um “novo modelo de planejamento”.
Os bairros de Santa Luzia, Glória, Santo Antônio e Colônia Oliveira Machado foram visitados por estudantes da Universidade do Amazonas, em 1976. Essas visitas tinham o propósito de identificar soluções para os problemas constatados, com a participação dos atores sociais envolvidos.
O Governo Henock Reis criou o Sistema Estadual de Trabalho, a partir da organização estrutural da Secretaria de Trabalho e Serviços Sociais, sucessora da Divisão de Serviço Social criada por Artur Reis. Em 1976, com a organização da Secretaria, o Governo retoma os estudos preliminares para a implantação da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor, o que ocorreu em 21 de dezembro daquele ano, pela Lei 1.214.
Também é do governador Henock Reis o ato de criação da Unidade de Bem-Estar do Menor – UEBEM. Essa unidade tinha a finalidade de realizar ações preventivas e ações sócio-terapêuticas. A ação preventiva era exercida través de um Plano Integrado de Menores na Comunidade, da Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor – Funabem. Foram criados cinco núcleos e unidades instaladas em cinco bairros de Manaus, atendendo 5.359 menores de 7 a 18 anos e 690 pais.
A ação sócio-terapêutica era exercida por duas casas de reeducação, uma masculina e outra feminina, além de uma casa de triagem. Naquele ano, foram atendidos 489 menores de zero a 18 anos. Havia também, uma Unidade de Assistência e Orientação Social, que prestava auxílios de natureza variada, indo desde a assistência médica à complementação alimentar. A Unidade de Desenvolvimento de Comunidade preparava as comunidades para as mudanças “introduzidas pela Sham (Sociedade de Habitação do Amazonas) no sentido aperfeiçoar e elevar a qualidade de vida nos seus conjuntos” conforme estava escrito no Plano de Governo de Henock da Silva Reis à Assembléia Legislativa do Estado.
Conforme já afirmamos anteriormente, os problemas sociais de Manaus não começaram com a Zona Franca de Manaus. Eles começaram em 1912, com a chamada crise da borracha. Nos anos 40, época da criação da Escola de Serviço Social, eles foram agravados durante a II Batalha da Borraha, durante a II Guerra Mundial, época em que os nordestinos foram “incentivados” a trabalhar na extração da borracha. Com o fim da Guerra, migraram para Manaus e não tiveram para quem vender sua força de trabalho, formando favelados sobrevivendo de salários ocasionais e trabalhando em atividades informais.
Os Assistentes Sociais desenvolviam sua prática profissional, dentro do Aparelho do Estado, como mediadores dessa crise social, agravada pela falta de escolas, habitação, saúde, saneamento, meios de transporte etc.
Como se viu até aqui, a prática profissional do Assistente Social se dá dentro de um processo de mediação dos problemas surgida com o desenvolvimento econômico do Amazonas. As políticas sociais do Estado não foram criadas aleatoriamente mas mediante o estabelecimento de critérios que objetivavam o controle e a dominação dos atores sociais, a fim de permitir o desenvolvimento do capital.
Fica claro, portanto, que a presença do assistente social está associada ao objetivo do Estado. Ele trabalha no contexto da administração de carências materiais, sempre legitimado pelos interesses do Estado e do capital. Como várias outras profissões, o Serviço Social é um controlador das misérias humanas da sociedade.
3.2.    O SERVIÇO SOCIAL NO MUNDO DO TRABALHO
O modelo Zona Franca gerou um crescimento populacional, em um momento em que o Brasil atravessava um regime de exceção, tomado pelo Golpe Militar de 64. O êxodo rural recebeu incentivos fiscais dos Governos Federal e Estadual. O sistema de comunicação via rádio, divulgava com entusiasmo, o novo modelo de desenvolvimento,
O interior não possuía bons serviços governamentais e tudo isso contribuiu para o inchaço de Manaus, na idéia de que a capital do Estado fosse o novo “Eldorado”.
Sherer (op.cit:1989) diz que, como um passe de mágica, a Zona Franca surge como um novo “Eldorado”, depois de duas décadas de estagnação econômica. A riqueza voltava a circular, tirando o Amazonas da estagnação em passou a viver desde o fim do período áureo da economia extrativista da borracha.
Iludidos com as promessas de emprego fácil no Distrito Industrial que se formou com a Zona Franca, famílias inteiras da zona rural migraram para Manaus, capital do Estado. Essa migração também contou com a ajuda da crise agro-extrativista que se instaura no campo, contribuindo para deteriorar ainda mais as condições de vida dos interioranos. Sobre esse fluxo migratório, assim nos comenta Elenise Sherer:
“A migração é uma estratégia encontrada pelo capital para produzir sua força de trabalho (Iden, 1989:71).
Como consequência, ainda, desse fluxo migratório, Sherer acrescenta:
O cenário urbano manauara agrava-se ainda mais com o progressivo processo de lupanização (bandidos, trombadinhas, prostitutas) pós-64. Presume-se que 100% das prostitutas são originárias da zona rural e/ou são mulheres desempregadas das empresas do Distrito Industrial (Ibidem: 75).

A Legislação Básica da Zona Franca estabelece incentivos fiscais à programas sociais como creche, saúde, lazer, educação e alimentação, mas estes não são cumpridos na sua integralidade por algumas empresas. Os salários são baixos e não atendem às necessidades, fazendo aumentar a pobreza e a “favelização” de Manaus. Inúmeros bairros foram criados por grupos de invasão ou ocupação, com preferem definir alguns. Segundo Scherer,
A dinâmica demográfica está condicionada à dinâmica do capital ((1989:68).
O Grupo de Estudos de Assistentes Sociais de Empresa – GEASE, em trabalho preparado para o VI CBAS – Congresso Brasileiros de Assistentes Sociais, realizado em 1979, em Natal, Rio Grande do Norte, afirma:
“Sabe-se que as perspectivas de trabalho no Distrito Industrial de Manaus, para o interiorano, não é muito rara e que ele imaginava ser uma solução para o seu problema, passa a não ser só seu, mas de ordem social: desemprego, sub-emprego, palafitas, ocupações de terra, roubos, prostituição e miséria. A situação de marginalidade infantil, decorrente da vida do trabalhador do Distrito Industrial é alarmante, o que nos faz afirmar que na América Latina, especialmente na Amazônia, a forma de integração de certos segmentos da força de trabalho contribui fortemente para essa situação (GEASE, 1989:11).
O GEASE, em seu trabalho, informa também que no Amazonas, o Serviço Social apareceu, primeiramente, como administrador da área de recursos humanos em uma indústria extrativista montada em Manaus por um empresário do sul do país. Essa indústria, que não foi identificada pelo GEASE, montou toda uma infra-estrutura na área de recursos humanos para atender a comunidade carente.
Segundo afirma Úrsula M. Simon Darsch, em seu livro “O Serviço Social na era dos Serviços”(Cortez: 1989) a existência e a permanência de Serviço Social instituído, e a crescente multiplicidade das formas de organização, decorrerem da “terceirização”constante d economia e da sociedade, particularmente nos grandes centros urbanos. “Sobre esse assunto, a autora garante”
“É o tamanho da empresa que vai determinar a necessidade de novas combinações do processo de trabalho (...). O Serviço Social desenvolve um movimento constante no conjunto do trabalho coletivo, na medida em que acompanha as modificações internas da política que se realizam fora e dentro da empresa”(1898: 29,37).
O marco histórico do Serviço Social do Trabalho, no Amazonas, se dá com o advento da Zona Franca. A política de incentivos fiscais do modelo de desenvolvimento estabelece a obrigatoriedade de as indústrias oferecem “benefícios”aos seus funcionários. Sobre isso, o GEASE conclui:
“Dessa forma, o campo do Serviço Social do Trabalho estava aberto, numa visão bem assistencialista, para atender de fato as novas necessidades advindas com a implantação e exportação industrial, e o objetivo não era diferente – identificar, delimitar, esclarecer problemas humanos, para que a empresa pudesse atingir seu objetivo; o lucro”.(1989:11).
A nova relação com o trabalho, surgida com a Zona Franca, marcou um desequilíbrio entre capital X trabalho. A efusiva idéia de dias melhores em Manaus era real. A miséria também existia ao lado da riqueza. Nas indústrias, os baixos salários desencadearam um processo de tomada de consciência. Os Assistentes Sociais foram mais exigidos e, com isso, surge uma nova prática para o Serviço Social do Trabalho no Amazonas.
A intermediação dos conflitos entre capital X trabalho, passa a exigir dos profissionais uma identidade ideológica:
“...entendemos que quem assegura a identidade ideológica é a definição de um projeto profissional e para a construção deste é necessário se ter consciência crítica da realidade. Assim, criar mediações, estratégias de acordo com o posicionamento político do profissional, para fortalecer a organização da categoria do trabalhador de cada fábrica, no sentido de enriquecer o acordo coletivo no momento do dissídio. (1989:13).
A prática do Serviço Social nas Indústrias se que o dá em meio a divisão do trabalho pelo capital, a fragmentação do processo de produção, a desqualificação e a desorganização do trabalhador, e a ação de uma camada social com a função de supervisão de controle direto e indireto. Há, além disso, uma rede de hierarquia de superioridade, poder e persuasão através de prêmios materiais simbólicos, repressão direta e ideológica, além de difusão de valores como forma de subordinar o trabalho ao capital.
Dentro dessa realidade, o Assistente Social desenvolve desde  atendimentos individuais à mobilização dos trabalhadores.
O GEASE, em seu trabalho, identifica o espaço ocupacional do Assistente Social. De acordo com o estudo, não é o Assistente Social quem determina seu espaço ocupacional; mas, sim, o capital que o requisita como instrumento utilizado para administrar o conflito capital X trabalho.
“Diante dessa questão, o Assistente Social vem estudando os possíveis fenômenos, que possibilitem no próprio espaço de constituição da assistência, nas empresas, fortalecer a ação política dos trabalhadores nos seus locais de trabalho, e que o avanço desta luta de classes consiga romper, de certa forma, o “místico assistencialismo” e atingir um outro patamar político. (2989:13).
O Serviço Social do Trabalho, no Distrito Industrial, se dá através de uma prática assistencialista. Os profissionais trabalham na administração de benefícios (empréstimos para construção de casa própria, problemas de saúde, problemas emergenciais, subsistência familiar etc.), no controle do absenteísmo (entrevistas, visitas, estatísticas), no acompanhamento de casos (família, transferência de setor, problemas de saúde), no trabalho voltado para a comunidade (realização de cursos de educação familiar), e recrutamento, seleção e desligamento de trabalhadores (entrevistas, integração). Esse quadro de atividades, elaborado pelo GEASE, apresenta como práticas de maiores demandas dos Assistentes Sociais, os empréstimos financeiros e o controle do absenteísmo;
“Tal conclusão deve-se ao fato destes retratarem com maior clareza as próprias contradições das práticas do capital, do trabalho e da profissão (...) No entanto, observamos que os trabalhadores vêm organizando-se nos próprios locais de trabalho, passando a reivindicar das empresas melhores condições de trabalho, utilizando-se do montante de negociações salariais para barganhar novos direitos nos Acordos Coletivos, regulamentando juridicamente nos Contratos de Trabalho, diversos serviços, benefícios e assegurando participar nas políticas da empresa (1989:17)
A prática de empréstimo financeiro ao trabalhador pelas indústrias se dá como uma forma de mascarar a realidade dos baixos salários e transparecer “a bondade” do capital. Os Assistentes Sociais que trabalham com esse benefício, segundo o TEAS, têm consciência de sua ineficiência à mudança social ou à tomada de consciência do trabalhador, no sentido de desvincular-se desse mecanismo de submissão.
Os Assistentes Sociais das Indústrias do Distrito Industrial, como estratégias e ação, desenvolvem cursos de formação familiar, campanhas educativas com pais e filhos, formação educativa às chefias através de palestras e cursos, participação em CIPAS, empréstimos e controle de absenteísmo. Essas práticas profissionais se apresentam como uma tentativa de gerar consciência crítica e estabelecer uma nova prática mediadora entre
Capital X Trabalho.
Como se viu até o momento, o Serviço Social é considerado uma especialização do trabalho coletivo, inserido na divisão social e técnica do trabalho coletivo, como garantem Elizabeth da Mota em seu livro “O feitiço da ajuda: as determinações do Serviço Social na empresa”(Cortez, 1991. Segundo essa autora, a mediação do Serviço Social é plasmada contraditoriamente, podendo servir ora ao capital, ora ao trabalhador, dependendo das condições objetivas das opções políticas de seus agentes. Segundo ela,
As empresas capitalistas modernas (...) mantêm Serviços Sociais tais como ambulatórios médicos, refeitórios, transportes etc. para economizar o tempo despendido pelo trabalhador quando se torna usuário desses serviços fora do ambiente de trabalho e controle da empresa” (Idem, 26).
Afiramos, anteriormente, que as políticas sociais do Estado visavam o controle e a dominação. Essa afirmativa também serve para as políticas sociais das empresas. Estas também não são criadas aleatoriamente, mas mediante ao estabelecimento de critérios que objetivam o controle e a dominação. E isso nos parece claro,pena análise que fizemos até o momento.
Sobre essa nossa assertiva, nos diz Mota:
“...ao justificar a presença do assistente social na instituição, o empresário se refere ora ao objetivo da empresa, ora à problemática dos empregados, ora às formas de intervenção da profissão (...) O  Assistente Social surge num contexto de administração de carências materiais, sendo legitimado pelo capital na qualidade principal requisitante institucional (Idem: 1991:65).
Conforme demonstramos nesta análise, o Serviço Social de Empresa é útil ao capital e às leis de mercado de trocas. Acreditamos que o Assistente Social seja mais um produtor de mais-valia do que um trabalhador produtivo.
Como todo e qualquer serviço, o Assistente Social participa intensamente da produção da riqueza, através das mudanças no processo produtivo. O Serviço Social de Empresa, portanto, trabalha dentro da condição onerosa que a sociedade tem de suportar para manter diferentes níveis de renda, diversos padrões de vida e desiguais formas de consumo.
A visão dos Assistentes Sociais homens sobre a profissão, veremos a seguir. Contudo, não nos ateremos à quaisquer comentários sobre seus pronunciamentos, coisa que só faremos no próximo capítulo, quando analisarmos o resultado da pesquisa de campo.
3.3.    DEPOIMENTOS DE ASSISTENTES SOCIAIS MASCULINOS SOBRE O EXERICIO PROFISSIONAL E O MERCADO DE TRABALHO.

Com o objetivo de conhecermos o pensamento dos Assistentes Sociais Masculinos sobre o exercício profissional, o mercado de trabalho, a profissão, o preconceito etc., consideramos importante os depoimentos de profissionais masculinos graduados no Amazonas. Por uma questão de metodológica, convém deixar os depoimentos como foram dados, sem maiores comentários, porque eles são precisos, esclarecedores e conclusivos.
Dos assistentes sociais ouvidos,alguns exerceram a profissão; outros, não porque abandonaram-na logo depois da graduação, seguindo para outras profissões como veremos no capítulo seguinte. Outros começaram mas abandonaram o curso.
1.    NILO PAIXÃO( in memória). Graduou-se em 1957 e exerceu a profissão até seu falecimento: Continuo acreditando na profissão de Assistente Social e encorajando pessoas de ambos os sexos a segui-la. Não acho que a profissão seja feminina ou masculina, posto que até prova em contrário, profissão não tem sexo e nem é propriedade particular de ninguém...
Acredito na profissão, tanto assim que, tanto eu como outros colegas de quem tenho notícias, fomos bem sucedidos nela...
Exerci a profissão, inicialmente, no Departamento Estadual da Criança, órgão da então Secretaria Estadual de Saúde; depois na Hospedaria dos Imigrantes, órgão pertencente ao Instituto Nacional de Imigração e Colonização, de onde fui transferido para o antigo INPS, hoje INSS, por onde me aposentei e atualmente exerço as atividades no grupo empresarial Bemol. Isto tudo de 1958 até a presente data, 1994...”
2.   JOSÉ ROBERTO RIBEIRO DE ARAÚJO. Graduado em 1959, mas não exerceu a profissão; também não informou se exerceu outra profissão: “Havia preconceitos moralistas, típicas da cultura brasileira, que não admite o homem externe sentimentos como a mulher, chegando ao absurdo, até de querer impedi-lo de chorar pois “homem que é homem, não chora...”Senti que haveria um forte preconceito contra o exercício da profissão por pessoas do sexo masculino...Por ser cada maior o número de pessoas carentes, desprovidas de educação, saúde e sujeito a todo tipo de violência, é imprescindível a atuação de profissionais que atuem junto a esse público, conscientizando-os e orientando-os no sentido da organização de seus direitos de cidadania...Assistente Social só pode ser mulher, é um preconceito machista que não tem razão de ser. Assim como qualquer outra profissão, que presumidamente fosse do exercício privativo dos homens e pode ser exercida por mulheres, o serviço social pode ser exercido por homem...”

3.   JOSÉ VICENTE SILVA. Graduou-se em 1958. Exerceu a profissão por treze anos na Previdência Social:
Sou realizado na profissão...
A família, em todos os seus níveis, necessita de um pronta ação do Serviço Social...
Eu não senti qualquer tipo de preconceito por ser homem e exercer serviço social...Eu sempre acho que deveria ter seguido a profissão de assistente social. Sou uma pessoa realizada...”
4.   BISMARCK CORRÊA BARAÚNA. Graduou-se em 1958. Exerceu a profissão por trinta anos no Serviço Social do SESI – Serviço Social da Indústria, onde se aposentou: “Eu não senti qualquer tipo de preconceito...Hoje, mais do que nunca, o Serviço Social é uma necessidade. A profissão é positiva porque há grande mercado. Só não sei se os assistentes sociais se dedicam de forma ampla para atender às necessidades sociais...A profissão não é valorizada...O Sesi, onde trabalhei, não dá valor ao assistente social e desconheço quem dá...O Assistente Social não é tratado como deveria ser, pela sua importância. Eles também não estudam e não pesquisam...O desajustamento social requer cada vez mais a presença do assistente social, mas este encontra uma barreira pesada porque a sociedade está se desiludindo...O assistente social vai muito longe e o homem pode atuar em campos mais perigosos...”
5.   JOSÉ RIBAMAR SOARES AFONSO. Graduou-se em 1962, mas não exerceu a profissão. É advogado. Como aluno, foi presidente do Diretório Acadêmico “Mary Rochamond”em 1961: Não exerci porque não havia valorização profissional. Hoje, a profissão avançou sobre a conscientização, pela comunidade, “do que é” o assistente social. Sabe-se hoje, mais sobre a profissão...O Serviço Social é a “ante sala”do analista, do sociólogo...”.

6.   JAIR CARDOSO BENARROZ. Graduou-se em 1969. Exerceu a profissão por 13 anos na Fundação Universidade do Amazonas e foi professor do Curso de Serviço Social. Hoje, é advogado: Eu senti preconceitos. Comentavam que a profissão era feminina.          Quando eu fazia o curso, diziam que era um curso feminino, o salário era baixo e o mercado de trabalho era reduzido...O Serviço Social é uma profissão importante, que deveria merecer um espaço em qualquer repartição (privada ou pública), considerando a formação acadêmica do Assistente Social e os estágios do curso. Lamentavelmente a profissão, na minha ótica, na minha ótica, não é valorizada. O Poder Público, de maneira geral, aceita a inclusão do Assistente Social nos setores da produção de serviços assistenciais, quando poderia colocá-lo nos planejamentos. Na área privada, o empresário desconhece a importância profissional do Assistente Social. A sociedade sempre necessitará do Assistente Social. Em primeiro lugar, porque todos somos diferentes. Em segundo lugar, os problemas de caráter social sempre existirão e o assistente sócia deveria atuar neste campo junto com outros profissionais”.
7.   ALOISIO LEAL DE SOUZA. Graduou-se em 1982. Trabalha no Der-Am – Departamento de Estrada de Rodagem do Amazonas, há três anos: “Não é uma profissão rentável e, em muitas ocasiões, você se desgasta muito. Não é um curso muito acreditado no Serviço Público, mas tem um vasto campo de pesquisa e projeto. Você é mais valorizado por outros profissionais. O assistente social é um profissional que atua por vocação, com amor próprio. Não é uma profissão não que deva ser exercido por quem não tenha vocação.”
8.   CARLOS ALBERTO LOUREIRO PINAGÉ. Graduou-se em 1974, mas não exerceu a profissão. Ao ingressar no curso, via vestibular, já era Bacharel em Direito. “A profissão de assistente social é promissora. Todavia, não é reconhecida (principalmente em Manaus) pela estrutura do Estado. A sociedade precisa de assistentes sociais porque vivemos em desigualdade social e em estado de abandono. Conclui o curso mas não requeri meu registro profissional porque eu era Promotor de Justiça e atuava na comarca de Humaitá.
9.   PAULO DOS ANJOS FEITOSA. Graduou-se em 1951. Exerceu a profissão por quatro anos no Serviço Social da Indústria e fez curso de especialização na Escola de Serviço Social, na cidade de Natal, Estado do Rio Grande do Norte. Deixou a profissão, ingressou na Faculdade de Direito e, pois, seguiu a carreira da magistratura no Tribunal de Justiça do Amazonas e hoje é desembargador aposentado: Deixei de exercer a profissão porque não havia prestígio, o salário era muito baixo e eu precisava dar condições à família. A natureza do trabalho social me agradava muito. Eu fui convidado para trabalhar no SESI. Por isso, decidi fazer serviço social. A profissão cresceu muito e hoje a gente sente a influência a influência do Serviço Social nas relações empregado/empregador. Hoje, há mais mercado e mais prestígio. É preciso dar mais espaço ao assistente social. Hoje, o assistente social funciona como um advogado para harmonizar o conflito social.
10   AMBRÓSIO COHEM ASSAYAG. Abandonou o Curso de Serviço Social em 1960. Tentou fazer outros dois cursos de nível superior, mas os abandonou também. Hoje, é empresário: Havia preconceito, sim. Diziam que exercer Serviço Social era caracteristicamente emprego de mulher e tirava a masculinidade do homem. Seguramente é uma das mais importantes profissões do setor de relações humanas. É impossível não ter um Assistente Social para mediar essas questões. Ela tem um parâmetro com a odontologia: todo mundo sabe da importância do dentista mas privilegia o médico. Além disso, o assistente social não é chamado de doutor e nós vivemos a síndrome do doutor... Hoje, mais do que nunca, precisamos de assistente social porque quanto maior é o problema social de um povo, maior a necessidade de pessoas qualificadas para tratar dos problemas sociais”.
11   FÁVIO DE PAULA FIGLIOULO. Graduado em 1953 e foi transferido para o Rio de Janeiro, onde seguiu os cursos de Direito e Administração de Empresas.”Hoje o Serviço Social tem mercado e a instrução que o curso oferece dá mais condições de projeção profissional. Na área da industrial, tem uma posição definida e é uma profissão que discerne as coisas. O assistente social tem que ser visto como um espelho que reflete e orienta.”
12   JOSÉ ROBERTO CÉSAR M. CARVALHO. Graduou-se em 1991 e exerce a profissão há três anos no IEBEM – Instituto Estadual do Bem Estar do Menor, em Manaus: “Eu sinto preconceito...As pessoas vêm com espanto e admiração um homem assistente social...A profissão de assistente social não tem um papel definido dentro das relações sociais. Acredito que esta indefinição esteja na ação direta do Estado, na manipulação das políticas sociais...Infelizmente a profissão não é valorizada porque, por ser uma atividade na área social, qualquer pessoa que pratique ajuda em qualquer nível assistencialista, passa a considerar-se “um assistente social”...O Estado não valoriza a profissão porque  não existe um política social séria. O que o Estado faz é puro assistencialismo. Não há vontade política de levar à sério para solucionar os problemas sociais...”
13   HUGO MÁRIO TAVARES. Abandonou o curso de Serviço Social para ser professor de Administração em Serviço Social, na Escola de Serviço Social de Manaus. Ao ingressar no curso na Escola, já tinha graduação em Economia, Administração de Empresas e Contabilidade, todos os cursos feitos fora do Amazonas:  “Eu já tinha três cursos superiores e queria aumentar meus conhecimentos. Mas fui convidado pelo desembargador André Vidal de Araújo para ser professor de Administração na Escola. Aí tive que deixar de ser aluno para dar aula para os meus colegas...O mercado de trabalho era pequeno, mas eu sentia falta do serviço social nas empresas. As questões sociais exigem a presença do assistente social nas empresas. As questões sociais exigem a presença do assistente social. É preciso pressionar para abrir mais mercado para o serviço social...Eu presumo que ingressei no curso porque seria uma ampliação de minhas profissões...Em relação a outros cursos e nível superior, a valorização do serviço social é muito pequena. O Estado paga muito mal, embora o assistente social tenha importância no contexto geral da sociedade...”
CAPÍTULO IV
4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA
Com respaldo no referencial teórico abordado nos capítulos anteriores, analisaremos os caminhos percorridos pelos homens que cursaram Serviço Social, em Manaus, a partir de 1941, quando aconteceu a formatura da primeira turma de alunos da Escola de Serviço Social de Manaus, criada um ano antes.
Os dados foram obtidos através da aplicação d questionários, observações diretas, entrevistas e análise documental, permitindo a obtenção de informações sócio-econômica-cultural e política. Em nossa pesquisa de campo, identificamos 138 homens que cursaram Serviço Social, em Manaus, a partir de 1941. Desse total, aleatoriamente, elegemos 10% e os entrevistamos.
De acordo com os dados da pesquisa, fica claro que havia outra forma de ingresso no curso de Serviço Social, nos primeiros anos de funcionamento da Escola de Serviço Social de Manaus. Essa outra forma de ingresso, “era o convite” feito pelo criador da Escola, André Vidal de Araújo, quando ele próprio aplicava um teste de conhecimentos gerais. Outros passavam apenas por entrevistas e tinham avaliadas as suas notas obtidas em cursos regulares em nível de segundo grau.
André Vidal de Araújo, o criador da Escola, era descrito pelos que o conheceram como uma “pessoa cativante”  e teria influenciado, com o seu carisma a  escolha da profissão por muitos alunos:
Tabela 1
Forma de ingresso no curso de Serviço Social
Evento
f
%
Vestibular
8
62
Outro meio
5
38
Total
13
100
Fonte: pesquisa realizada com os assistentes sociais masculinos em Manaus, em dezembro de 1994.

Criado em 1940, o Curso de Serviço Social é o segundo mais antigo de Manaus e o terceiro do Brasil. O primeiro, de Direito, era disputado pelos filhos de famílias com um elevado poder aquisitivo. Era inacessível à maioria. Essa dificuldade e a falta de outros cursos geraram a opção pelo Serviço Social. Contudo, alguns alunos dos oriundos de outros cursos superiores, realizados fora de Manaus, decidiram fazer Serviço Social como forma de conhecer a profissão. A inexistência de concurso vestibular e, sim, a aplicação de uma aprova de conhecimentos gerais, o que poderia tornar o ingresso na Escola mais fácil, não atraiu muitos alunos. O ingresso no curso dava-se por falta de opção e por influência pessoal do criador da Escola, André Araújo. Alguns dos entrevistados disseram que, em alguns casos, “o professor André” os apanhava em casa e os levava para a Escola:
Tabela 2
Que razões o levou a ingressar no Curso de Serviço Social, em Manaus?
Eventos
f
%
Era o mais fácil
1
8
Não havia opção
6
46
Outros motivos
6
46
Total
13
100
Fonte: pesquisa realizada com ao assistentes sociais masculinos em Manaus, dezembro de 1994

Dos alunos que ingressaram no curso de serviço social, muitos desistiram antes de concluí-lo, por já serem possuidores de diploma de nível superior. Um desses alunos (Hugo Mário Tavares), por já ter duas formações de nível superior, cursadas fora do Amazonas, foi convidado pelo diretor da Escola, André Vidal de Araújo, para deixar a sala de aula e tornar-se professor de seus antigos colegas de sala, ministrando a disciplina “Administração em Serviço Social”. Outros alunos, devido a transferência de suas famílias para outros Estados, também não conseguiram concluir o curso (ver tabela 3).

Tabela 3
         O senhor concluiu o curso  de Serviço Social, em Manaus?
Eventos
F
%
Concluíu
10
77
Não concluiu
3
23
Total
13
100
FONTE:  Pesquisa realizada em 1994, com os Assistentes Sociais Masculinos
Dos alunos que concluíram o curso, 80% exerceram a profissão.  Embora não tenha sido objeto da pesquisa saber o período, onde se deu essa atividade ou quantificá-la, nos foi possível detectar que alguns logo após a conclusão do curso, fizeram vestibular para seguir outra carreira. Mesmo os que exerceram por maior tempo, também, alguns destes optaram por outra profissão. O preconceito contra “homem assistente social”, existia(ver tabela 6), mas este não foi o fator influenciador da mudança da profissão. Conforme se observa na tabela abaixo, o que levou a muitos assistentes sociais a abandonarem suas carreiras foi a própria “desvalorização da profissão”.
Tabela 4
Se o senhor abandonou a da carreira de assistente social, por qual foi o motivo?
Evento
f
%
Desvalorização da profissão
6
50%
Falta de prestígio
1
8
Falta de autonomia
1
8
Falta de mercado
2
17
Não informou
2
17
Total
12(.)
100
FONTE: Pesquisa realizada com ao assistentes sociais masculinos em Manaus, em 1994
  • Resposta em aberto, não obrigatória.
                   ­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­________________________________________________________
O Estado, na opinião da maioria dos assistentes sociais, na opinião dos assistentes sociais, não valoriza a profissão, embora ele a legitime. Os profissionais masculinos que exerceram a profissão em Manaus garantem que a profissão não é valorizada em termos financeiros. Os baixos salários são, portanto, a razão principal para o abandono do exercício profissional e à busca de novas formações. Os homens, por razões diferentes, mas a manutenção de suas famílias é uma das principais, não aceitam os baixos salários. Dentro do Aparelho de Estado, a profissão de Assistente Social é vista como apêndice de outras profissões. Essa verdade é agravada, ainda, pela discriminação profissional entre os profissionais de nível superior, principalmente em termos salariais. Dentro de um quadro de ganhos, o assistente social é sempre o que ganha menos, de qualquer outra profissão de nível superior. Às vezes, ganha até menos que um técnico, que não precisa ter formação qualificada de anos de duração.
Tabela 5
Existe valorização da da profissão de assistente social social em Manaus, pelo Estado?
Evento
f
%
Valorizada
3
23
Desvalorizada
8
62
Não informou
2
16
Total
13
100
FONTE: Pesquisa realizada com os assistentes sociais masculinos em Manaus, em 1994
De acordo com registros no Livro de Matrícula de Alunos, da Escola de Serviço Social de Manaus, de 1941 a 1971, quando a Escola passou à pertencer oficialmente à Fundação Universidade do Amazonas, 138 homens cursaram serviço social; ou seja, se o período de 30 anos for dividido pelo 138 homens, equivale a um resultado de 0,2173 alunos por turma. Contudo, como mais na frente veremos, o número de homens matriculados ultrapassava ao de mulheres, principalmente no início da implantação da Zona Franca de Manaus. Mas esse é um assunto que será tratado posteriormente. Do total de 138 alunos que concluíram o curso, só encontramos 28 Trabalhos de Conclusão de Curso. A razão é que alguns, depois de formados, ou não apresentavam  o TCC ou os entregariam posteriormente e não há qualquer registro nos livros da Escola. A baixa predominância de homens no curso, não está diretamente relacionada à existência de preconceitos aos assistentes sociais masculinos, mais ao pagamento de baixos salários aos profissionais, depois de formados, à falta de prestígio e à falta de autonomia (ver tabela 4).
Tabela 6
Preconceito
Existe preconceito contra o exercício profissional do assistente social masculino?
Preconceito
f
%
Sim
6
46
Não
6
46
Não percebeu
1
8
Total
13
100
FONTE: Pesquisa realizada com os assistentes sociais masculinos em Manaus, em 1994
Na opinião dos assistentes sociais pesquisados, Manaus não é uma cidade machista, mas já foi em período bem recente de sua história. Diante disso, os assistentes sociais masculinos responderam de forma dividida: para 46% existe preconceito; para outros 46%, não existe preconceito contra o homem assistente social, depende do ponto de vista que se faça a análise. O desaparecimento do machismo é consequência de uma evolução histórica da sociedade e das conquistas femininas no mesmo período pesquisado. Hoje, garantem os assistentes sociais masculinos, Manaus é uma cidade que oferece oportunidades iguais para homens e mulheres  em vários campos profissionais. Em nossa pesquisa, tentávamos identificar o possível vínculo entre o machismo e o preconceito. Como o machismo não está presente (tabela 7), o preconceito passa a ser uma situação isolada, não havendo qualquer relação com a questão cultural histórica.
Tabela 7
Existe machismo na cidade de Manaus?
Evento
F
%
Sim
3
23
Não
9
69
Não informou
1
6
Total
13
100
FONTE:  Pesquisa com os assistentes masculinos em Manaus, em 1994
Depois de abandonarem o serviço social pelas razões já expostas nesta pesquisa, os assistentes sociais seguiram as seguintes profissões, todas ais rentáveis economicamente e com mais autonomia e status na época. Das várias profissões seguidas pelos assistentes sociais, à Formação em Direito teve maior prevalência (53%).
Tabela 8
Depois que o senhor abandonou o serviço social, que carreira seguiu?
Eventos
f
%
Advogado
7
53
Economista
1
8
Administrador
3
23
Contabilidade
1
8
Pedagogo
1
8
Total
13
100
FONTE: Pesquisa com os assistentes sociais masculinos em Manaus, em 2994
__________________________________________________________________
“Conhecer bem a profissão”. Esta foi a principal resposta dos entrevistados. É natural essa definição. A profissão, mesmo inserida na força de trabalho como mercadoria também, tem um componente técnico importante (Ver tabela 9):
Tabela 9
Quais as qualidades que o senhor aponta como indispensáveis para o profissional de Serviço Social? (respostas abertas)
Eventos
F
%
Conhecer bem a profissão
6
28
Ter vocação
4
16
Ser humanista(...)
4
16
Ter índole ilibada
3
12
Gostar da profissão
2
8
Ser humilde
1
4
Ser sincero
1
4
Não se envolver
1
4
Não ser paternalista
1
4
Ter equilíbrio social
1
4
Total
24
100
FONTE: Pesquisa com os assistentes sociais masculinos em Manaus, em 1994
(...) O espírito humanista tem origem na doutrina social de Igreja, em uma linha tomista (São Thomás de Aquino).

4.3. PERFIL DAS FAMÍLIAS DOS ASSISTENTES SOCIAIS PESQUISADOS
Os assistentes sociais, formados em Manaus, pela Escola de Serviço Social criada por André Vidal de Araújo, eram em grande parte originários do Nordeste, atraídos que foram para as riquezas da borracha, em 1900. População inteira do Amazonas era de 363.166 habitantes (dados do Censo) e, a de Manaus, 106.399 habitantes. Em 1940, quando foi criada a Escola, havia uma formação cosmopolita na cidade, sendo 64.824 pardos; 38.585 brancos; 2.273 negros, 86 amarelos e 272 não declarados. Em todo o Amazonas, em 1940, residiam 438,008 habitantes.
As famílias que fugiram da seca do Nordeste e se encontraram com a riqueza da borracha, sofreram influência dessa mistura de raças existentes e, para piorar, desconheciam qualquer tipo de controle de natalidade. Ao contrário, tinham uma prole sempre muito numerosa porque diziam com freqüência, “onde come um, comem dez” e também “minha riqueza são meus filhos”. Portanto era compreensível e normal se encontrar famílias numerosas naquela época, com alta renda para sustentá-la, como constataremos a seguir. Com relação ao grau de escolaridade dos pais dos assistentes sociais, também é compreensível o fato de 70% terem apenas o 1. Grau. Naquela época, havia poucas escolas; poucos cursos superiores e, além disso, havia a cultura “pai analfabeto; mas, filho doutor”.   Os 39% de entrevistados que informaram que a renda de suas famílias era de até 10 salários mínimos, também é compreensível, pois eles se enquadram dentro 47% das famílias constituídas de 10 a 15 filhos. Com as conclusão da pesquisa, podemos afirmar, com toda a certeza, é que todo amazonense tem sempre como formação de sua raça uma mistura de sangue nordestino, ou negro, ou amarelo, ou branco, embora os pesquisados (47%) tenham se declarado do Amazonas. Mas quando questionados informalmente, quase 100% informaram ter algum parente direto que veio para o Amazonas atraído pela riqueza da borracha. Com isso, seguramente, não existe uma raça pura no Amazonas, mas sempre uma miscigenação dessas raças que convivam com os caboclos com mistura de sangue de nordestinos com os índios ou outras raças existentes no Estado. Vamos aos dados sócio-econômico e cultural das famílias dos assistentes sociais entrevistados, nas tabelas 10, 11, 12 e 13/2005:
Tabela 10
Composição das famílias

Eventos
(faixa de pessoas)
f
%
De 1 a 5
4
30
De 5 a 10
3
23
De 10 a 15
7
47
Total
13
100
FONTE: Pesquisa realizada com os assistentes sociais masculinos em Manaus, em 1994
Tabela 11
Renda familiar em salários  da época
Eventos (em salário mínimo da época)
f
%
De 1 a 3
1
8
De 3 a 6
4
30
De 6 a 9
5
39
Mais de 10
5
39
Mão informou
5
23
Total
13
100
FONTE: Pesquisa realizada com os assistentes sociais masculinos em Manaus, em 1994

Tabela 12
Grau de Instrução dos pais dos assistentes sociais entrevistados.
 Eventos (em instrução dos pais)
f
%
Analfabeto
0
0-
1º  Grau
9
70
2º Grau
2
15
Nível superior
2
13
Total
13
100
FONTE: Pesquisa realizada com assistentes sociais masculinos em Manaus, em 1994
Tabela 13
                     Origem das famílias dos assistentes sociais entrevistados
Eventos
f
%
Manaus (*)
6
47
Interior do Estado
3
23
Outros Estados*
5
30
Total
13
30
FONTE: Pesquisa realizada com assistentes sociais masculinos em Manaus, em 1994
(*) Em conversa informal com os entrevistados, pude observar que todos tinham ascendência nordestina (pai, mãe, avô ou avó tinham vindo sobretudo de Fortaleza ou outros Estados do Nordeste  atraídos pela febre da produção de látex no Amazonas.


CAPÍTULO V
ANDRÉ VIDAL DE ARAÚJO: O HOMEM, O HUMANISTA, O SOCIAL
ANDRE VIDAL DE ARAÚJO nasceu em 13 de outubro de 1898 na cidade pernambucana de Goiana e faleceu em Manaus no dia 15 de março de 1975 – Dia do Professor.
Araújo Filho, quando decidiu residir no Amazonas, trouxe toda a família constituída de várias filhas mulheres e três filhos homens. André Vidal de Araújo era o mais velho. Ruy Araújo, que se destacou na política do Amazonas como deputado estadual e, por várias,  deputado federal pelo Amazonas, era um ano mais novo do que seu irmão Martim Francisco de Araújo, que falecera logo depois de chegada da família ao Amazonas.
Em toda sua trajetória de vida elegeu como seu valor maior, o ser humano. Para ele, as coisas só ganhavam valor na medida se relacionassem com o homem. Era um humanista no sentido mais primário da palavra. André Araújo era um leitor de São Tomas de Aquino.
Com isso, ele via o ser humano como o centro da criação. Suas leituras se encaminhavam nesse sentido. Lia os clássicos, pensadores católicos e os filósofos gregos. Isso vez com que ele, em toda a sua vida, se despojasse dos bens materiais. Como desembargador do Tribunal de Justiça do Amazonas, fazia questão de usar camisas costuradas pela sua esposa e companheira de ideais, a professora Milburges Araújo. Seus sapatos, usava-os  até acabar e se roupas ou sapato lhes fossem dados pelos seus filhos, crescidos e já formados, ainda assim preferia seus sapatos velhos. André Araújo achava que a pobreza podia engrandecer o homem se fosse vivenciada porque, em sua opinião, o poder e o dinheiro deformavam a personalidade do ser humano.
O menino André Vidal de Araújo era filho do jurista Francisco Pedro de Araújo Filho. Araújo Filho decidiu morar no Amazonas para fugir de injunções políticas em sua cidade natal. Com Araújo Filho, aportaram outros juristas que se tornaram famosos, como Artur Virgílio do Carmo Ribeiro e Sadoc Pereira, ambos se tornaram desembargadores do Tribunal de Justiça do Amazonas. Acompanhou-o também à Manaus, outro ilustre homem, João Corrêa
O menino André Vidal de Araújo cresceu em um ambiente tranquilo. Do pai, latinista erudito, aprendeu lições. Araújo Filho, embora tenha feito uma brilhante carreira de jurista, não quis ingressar na magistratura. O filho André Vidal de Araújo também não desejava seguir a carreira do pai. Desejava ser engenheiro. Era muito habilidoso com as mãos e achava que poderia ser um excelente engenheiro.
Conhecendo o desejo do filho pela engenharia, curso que não era ministrado em Manaus, começou a guardar dinheiro para isso.
Contudo, um roubo mudou os planos do jovem André Araújo. Sem dinheiro, como sustentar seus estudos fora do Amazonas? Impossível! Sem condições de fazer uma opção livre (a Universidade Livre de Manaus já começava  a desmoronar com os cursos de Farmácia,  Odontologia e Direito), restou-lhe ingressar na Faculdade de Direito. Este curso, ao menos, preenchia sua vocação pelo humanismo. Como aluno, foi impecável e um exímio orador. Recebeu o Diploma de Bacharel em Direito, com destaque. Logo em seguida, prestou concurso para o Ministério Público e foi aprovado. Mas desistiu da carreira de promotor para ingressar na judicatura.
Como juiz, André Vidal de Araújo atuou em praticamente todos os municípios do interior do Amazonas, mas antes ingressou no Ministério Público e só depois ingressou na magistratura.  Enquanto André Vidal de Araújo desenvolvia suas atividades judicantes no interior, em Manaus o interventor do Estado, Nelson de Melo, colocou em disponibilidade todos os desembargadores. Isso não abalou o trabalho desenvolvido por André Araújo.
Mas só a judicatura não o satisfazia mais. Era preciso despertar, além da judicatura, o seu lado humanista, humanista que estava adormecido dentro dele. Decidiu, com o apoio de sua esposa e professora Milburges Araújo, dar aula também. E assim o fez. Começou a exercer também o magistério. Em alguns municípios, só o juiz André Araújo e a esposa do juiz, Milburges Araújo, eram os únicos professores que existiam no município.
Bacharel em Direito, André Vidal de Araújo exerceu função de Promotor de Justiça no Ministério Público e depois ingressou definitivamente na carreira da magistratura.
Ainda era necessário algo mais: então, por onde passou, passou a mostrar ainda mais seu lado humanista. Aproveitando suas tardes livres e, com a ajuda da comunidade construiu escolas, contando com a ajuda de sua esposa e o tempo disponível  dos moradores. Ao trabalho iniciado por André Araújo se juntaram depois os padres dos municípios. As escolas foram construídas em regime de multirão.
Hoje, muitas dessas escolas ainda existem e são as mais importantes no município. É o caso do Instituto Araújo Filho, em homenagem ao seu pai, em Parintins e, em Manacapuru, a primeira e mais importante Escola construída por André Araújo anda existe.
Cruzada pela Educação,  como André Araújo batizou seu trabalho, implantou mais de 200 Escolas nos municípios do Amazonas, sem qualquer verba pública.
Como juiz na cidade de Manacapuru, André Vidal de Araújo se encantou com dois garotos, considerados por ele como muito inteligentes e talentosos. Os trouxe para Manaus. Custeou seus estudos, um, filho de um padeiro, matriculou-o  no Colégio Dom Bosco e outro, filho de outro, amigo foi matriculado no Colégio Estadual. O primeiro garoto, Henoch da Silva Reis, foi Ministro  do Federal de Recursos e depois foi indicado pelo Governo Militar para Governador do Amazonas. O outro, Carlos de Almeida Barroso, mais tarde foi professor da Escola de Serviço Social de Manaus, a primeira do Estado e a terceira do Brasil, foi professor e diretor do Colégio Estadual (Gynnasio Amazonense) e, ao falecer no Rio de Janeiro era presidente da Associação Brasileira das Academias de Letras.
O juiz André Vidal de Araújo ainda estava trabalhando como juiz no interior do Estado quando ocorreu o Estado Novo de Getúlio Dornelles Vargas, em 1930. Álvaro Botelho Maia foi escolhido pela Assembléia Legislativa do Estado como interventor federal de Getúlio Vargas para administrar o Amazonas.
O interventor, seguindo as idéias do juiz André Vidal de Araújo criou o Juizado de Menores pela Lei n. 18, de 21 de setembro de 1935, o primeiro do Estado e um dos primeiros do Brasil. No Rio de Janeiro, Melo Mattos já havia criado um. O juiz André Araújo foi convidado por Álvaro Maia para assumir a direção do juizado. Aceitou e passou a residir em Manaus.
Mais uma vez, André Vidal de Araújo se colocava frente à frente com sua vocação humanista, pois iria trabalhar em uma Vara de Menores com grande humano e social. Nesta função, revelou mais uma vez sua vocação para o social.
De Álvaro Maia, recebeu uma parte do prédio da Penitenciária Central do Estado, fazendo frente para a Rua Duque de Caxias. Embora não tenha gostado muito do local, André Araújo criou no local a Agro-Escola Melo Mattos, em 1937, para menores delinquentes, abandonados, mas em moldes muito humanistas. E esse fato foi tão significativos que os seus filhos – João Bosco, Platão Araújo e Martim Araújo – iam brincar de manja, barra bandeira e de bola com os internos da Agro-Escola, que tratavam André Araújo pelo diminutivo de pai,  “paim” como também seus filhos o chamavam.
Em  1945, André Araújo cria uma instituição semelhante para meninas abandonadas, carentes e semi-prostituídas, a Escola Premonitória Bom Pastor, mais conhecido como Instituto Maria Madalena, ampliando ainda mais seu trabalho com a infância e a adolescência.
Animado com os resultados positivos de seu trabalho, amplia-o ainda mais e cria  o Circulo Operário de Manaus, predecessor  da Previdência Social no Amazonas,  criada mais tarde pelo Estado Novo de Vargas. Os operários das fábricas de beneficiamento de borracha, sova, balata etc.,  pagavam uma pequena contribuição mensal  e recebiam uma pensão, assistência médica, aposentadoria etc., coisas que a Previdência Social passou a fazer mais tarde.
Criou, ainda, Creche Circulista Menino Jesus, até hoje em funcionamento na Avenida 7 de setembro, destinada a abrigar os filhos das operárias que trabalhavam nas fábricas de beneficiamento de produtos extrativistas. Às crianças, eram prestadas assistência médica, dentária, alimentícia e educacional.
O trabalho social realizado por André Vidal de Araújo fica cada vez mais ampliado mais ainda não o satisfazia plenamente, Então, ele adquiri um sítio no bairro Adrianópolis e decide construir no local o Instituto Montessorano Álvaro Maia, inspirado na pedagoga Maria Montessori. Como não havia bairro que o limitasse, o sítio foi sento ampliado seguidamente. Moravam em Adrianópolis, nessa época, famílias que se tornaram tradicionais no Amazonas: Adriano Jorge, Dr. Thomas, Martins, Monassa e Daou, além de outras não menos importantes.
No Instituto Montessoriano Álvaro Maia, André Araújo começa o seu grande trabalho de educação, em moldes concretistas:  mandou construir no jardim que havia em seu entorno, um relevo terrestre com lagos, montanha, rios etc., para o ensino de geografia.  Com o auxílio do Governo do Estado, que pagava professores e lhes propiciava cursos de especialização em educação de surdos–mudos, fora do Estado Suas filhas, Rita Araújo (esposa de Umberto Calderaro Filho) especializou-se em trabalho com surdos-mudos e fez estágio com padre redentorista Eugênio, um do maiores especialistas no assunto, e Tereza Araújo, que especializou-se em método braile e as duas deram aulas no Instituto.
Todo o trabalho do Instituto era mantido com a contribuição mensal através de um carnet. de comerciantes como J. G. Araújo, J. Rufino, J. S. Amorim, a ajuda de comerciantes do Mercado Municipal Adolfo Lisboa, que lhes dava alimentos e outros gêneros alimentícios, membros ilustres da sociedade e com a ajuda do Governo do Estado.
Ajudado pelo surdo mudo Moacir, usando uma carroça puxada por um só cavalo, diariamente André Araújo percorria os comerciantes do Mercado Adolfo Lisboa recolhendo doações de alimentos. Não há notícias de que um só comerciante tenha se recusado à contribuição.
André Araújo assume o posto máximo da magistratura. Como desembargador, cumpria as formalidades judicantes e as vezes dava sentenças eu não eram consideradas ortodoxas porque ele sempre contemplava muito o lado social em suas sentenças. Como escrevia e argumentava muito bem, muito bem decidia contra os textos legais, colocando sempre motivações humanas e sociais dentro de suas sentenças de mérito. Isso o tornou o desembargador maio deslocado dentro da ortodoxia do Tribunal.
Mas, apesar disso, André Vidal de Araújo não abandonou suas obras sociais e percebeu que elas não poderiam mais ser realizadas de forma amadorísticas.
Ele já tinha conhecimento do surgimento de uma nova profissão nos Estados Unidos, a de  trabalhador social, mais tarde conhecida como Assistente Social.
Começou a levantar dados sobre a nova profissão e constrói, em 1940,  a Escola de Serviço Social de Manaus, a primeira do Amazonas e a terceira do Brasil.
Com a ajuda financeira da Legião Brasileira de Assistência, criada no Governo Vargas e presidida em Manaus  por  Helena Araújo, esposa do deputado federal pelo Estado , Ruy Araújo, seu irmão, constrói em um terreno de sua propriedade a obra física.
Depois, com a ajuda do frei Pio, constrói o Museu Amazônico e expõe uma coleção de máscaras e flechas de índios da etnia ticunas.
Na Escola de Serviço Social de Manaus, ministraram aulas Henock da Silva Reis, Carlos de Almeida Barroso, os dois garotos que André Araújo os trouxe de Manacpuru para estudar em Manaus e, ainda, Nário Ypiranga Monteiro, João Corrêa, Sadoc Pereira, Artur Virgílio do Carmo Ribeiro, Raimundo Said, mas nenhum recebia dinheiro por isso. E ainda havia na Escola, como administrativas, duas  negras Sofia e Vitória,  que eram remuneradas.
A Escola de Serviço Social de Manaus foi reconhecida com a ajuda de seu irmão, Ruy Araújo, deputado federal pelo Amazonas, que conseguiu trazer a Manaus,  representantes do Ministério da Educação e Cultura – MEC. Dessa comissão de inspetores do MEC fez parte também, o professor Agenor Ferreira Lima, que representava o órgão em Manaus.
Reconhecida, a Escola de Serviço Social passa a receber recursos do Governo Federal e, depois de todos os pagamentos realizados, se permanecia ainda dinheiro em caixa, André Araújo se excluía, reunia os demais funcionários e anunciava: “ainda temos tantos contos de reis, nós somos tantos. Tantos dividindo por tantos é igual a tantos reis para cada um” e os entregava o que já estava separado para todos os professores e demais funcionários da Escola.
Com o reconhecimento do Curso de Serviço Social, o Amazonas passou a ter dois cursos superiores reconhecidos pelo MEC. Mais tarde, surgiu o curso de enfermagem, da Escola de Enfermagem de Manaus, ligada ao Ministério da Saúde.
Em 1965, é implantada a Fundação Universidade do Amazonas. André Araújo, come;a a se preocupar com a perenidade do curso da Escola de Serviço Social de Manaus. Em 1967, durante a reitoria de Jauari Marinho, apresentou uma proposta de compra da Escola de Serviço Social de Manaus.
“Eu sou contra. Neste momento, proponho a doação à FUA inteiramente grátis. Sou pedir que a Universidade respeite o direito de todos que trabalharam  aqui por tanto tempo, e de graça!” teria dito André Araújo durante reunião com todos os professores e funcionários da Faculdade de Serviço Social de Manaus.  E essa resposta foi repassada à FUA.
Na administração do reitor Aderson Dutra (1970-76), a Escola de Serviço Social de Manaus  foi incorporada ao acervo da FUA e o curso de Serviço Social foi transferido de seu antigo endereço. O local precisava de uma reforma em seu telhado, mas isso nunca aconteceu e hoje só restam ruínas no local.
O homem André Araújo, extrovertido, brincalhão, dono de um humor impressionante, capaz de fazer e contar piadas, sempre acessível às novas idéias, apaixonado pelo trabalho e pela sua biblioteca de 35 mil volumes,  prossegue sua vida como desembargador e decide entrar na política.
Em 1950, lança-se candidato ao Governo do Estado. O seu amigo Álvaro Maia, morando no Rio de Janeiro, em total ostracismo político, decide voltar para Manaus. André Araújo, então, desiste de sua candidatura  e indica Álvaro Maia em seu lugar como candidato. Faz isso em praça pública, sem consultar a ninguém. Os amigos, surpresos com o fato, o lançam candidato a deputado federal ao lado de seu irmão, Ruy Araújo. Abertas as urnas, Álvaro Maia é eleito governador, André Araújo é o mais votado para a Câmara Federal e Ruy Araújo também foi eleito. Licenciou-se do Tribunal, onde ainda era desembargador para assumir o mandato político.
Como deputado federal, levou um esboço do que ele achava ser um Código de Menores  moderno, revolucionário, educativo e não policialesco para ser aprovado na Câmara dos Deputados, depois no Senado da República e ser sancionado pelo presidente Getúlio Vargas, que prometeu apoiá-lo durante essa tramitação.
Como Getúlio Vargas não apoiou, André Araújo decidiu ir à Tribuna, fez um discurso de renúncia, voltou à Manaus e se lançou, de novo, candidato a deputado estadual, mas foi derrotado. Os líderes do PTB, Plínio Ramos Corrêa, Gilberto Mestrinho, Artur Virgílio do Carmo Ribeiro Filho e Áureo Melo, o consideravam remanescente do péssimo governo de Álvaro Maia.
Derrotado, reuniu a família e disse que a sua derrota era um sinal de que a política não era seu caminho e decidiu reassumir seu cargo vitalício de desembargador, onde permaneceu até sua morte.
O pai André Araújo, em família, era um homem rigoroso nas questões morais, mas nunca autoritário. Sobre as moças que vinham do interior para trabalhar morar em sua casa: “respeitem essas moças como se fossem irmãs de vocês. Não admitirei que um filho meu se prevaleça do fato de ser filho do dono da casa para abusar de uma pobre moça”. Depois, ele continuava a reunir e conversar, todos juntos. Os filhos emitiam opiniões, objetivavam mais isso era feito sempre em total harmonia.
 O homem André Araújo sempre foi uma pessoa simples. Viveu em dificuldades financeiras e, ao morrer,  deixou apenas uma casa, comprada financiada pelo Banco Popular de Manaus, avalisada pelo seu irmão, o deputado federal Ruy Araújo. A casa custou 11 contos de réis e ele pagava 1 conto de reis, mensalmente. Durante o Governo Álvaro Maia, o salário dos funcionários públicos sempre atrasava. Passou a comprar fiado na mercearia do português Manoel das Cabaças. Tudo era anotado em caderneta, Quando saía o pagamento, André Araújo quitava seu débito.
Em 1973, o desembargador André Vidal de Araújo perdeu a esposa Milburges Araújo. Entrou em depressão. Duas vezes por semana entrava na loja de cosméticos “Recanto da Beleza”, adquiria dois vidros de água de colônia e os despejava sobre a cova da esposa. Com a morte da esposa, companheira, amiga e confidente, decidiu que seria capuchinho. Chegou a conversar com os padres sobre isso mais faleceu de enfarto no dia 15 de 1975 sem realizar seu último desejo.
A família, após sua morte tentou identificar os credores de André Araújo. Um dos credores, Sr. Barata, dono da Livraria Acadêmica, um dos únicos que se apresentou, disse: aqui na minha livraria o desembargador André Araújo não deve mais nada. E o valor do debito do homem que era apaixonado por livros – ele os comprava muito -, nunca chegou a ser revelado.
André Vidal de Araújo, ainda em vida, viu desmoronar seu maior sonho concretista: o fim do Instituto Montessoriano André Araújo. Ele não se abateu. Não tinha simpatia pelos ricos e era um admirador do nobre francês Charles de Foucaud, que após se tornar monge fundou uma ordem, abandono toda  riqueza e a nobreza que possuía e morreu trucidado no deserto do Saara ...
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este trabalho, tivemos a intenção de identifica às causas que levaram o home a ser minoria no exercício profissional de Serviço Social. Esperando encontrar respostas na gênese da profissão, genuinamente feminina, desenvolvemos estudos em sua origem, na Inglaterra, nos Estados Unidos, no Brasil e no Amazonas. A profissão de Assistente Social no Estado só começou a partir dos anos 40, quando foi criada a terceira Escola de Serviço Social do país; a primeira do Amazonas. Embora tenhamos confirmada que foi feminina a gênese da profissão, a resposta não nos foi revelada.
O Serviço Social, como profissão, realmente surgiu dentro da Igreja Católica, durante o período da Revolução Industrial, na Inglaterra. A industrialização, o avanço tecnológico e o desenvolvimento capitalista geraram as desigualdades sociais e às primeiras contradições capital X trabalho, pela crescente produção da mais-valia.
Durante décadas, o Serviço Social assumiu e atuou em um papel assistencialista, até a criação das Escolas de Serviço Social, quando ele passou a ter uma formação mais técnica; porém, ainda voltada para o ajuste social do indivíduo. O Assistente Social como integrante também da força de trabalho remunerada, de um modo ou de outro, participou desse processo.
Sem isolá-la das relações sociais que lhes deram origem e a legitimaram, a profissão de Serviço Social pode ser vista historicamente dentro de uma divisão social e técnica do trabalho. Nessa concepção, pode encaminhar sua prática na perspectiva dos interesses da população que atende, colocando em questão a estrutura de classes existentes no bojo do desenvolvimento capitalista. Essa realidade é entendida pelos homens e pelas mulheres assistentes sociais.
Às mulheres, formadas dentro de uma estrutura de submissão historicamente em subalternidade, têm menos poder de mudanças, aceitando mais fácil e passivamente as imposições e limitações impostas à profissão, muito embora não seja uma regra geral. Hoje, as assistentes sociais desenvolvem suas práticas em uma perspectiva materialista dialética, segundo uma tendência que se difundiu na América Latina a partir dos anos 60, com a reconceituação. No Aparelho de Estado essa prática renovadora é quase despercebida e, no setor industrial, ainda é muito tímida.
Os homens assistentes sociais que se inseriram na força de trabalho, conforme apontou o resultado da pesquisa de campo, apontaram os baixos salários, à falta de autonomia e à falta de mercado de trabalho como componentes que os fizeram não continuar exercendo a atividade, buscando outras profissões que lhes davam o que faltava na profissão de assistentes sociais masculinos. Não encontramos, portanto, a discriminação e o machismo como pensávamos que fosse contra homens assistentes sociais, à causa maior e principal do não exercício profissional por parte da população masculina.
No Amazonas, o Serviço Social surgiu nos anos 40, com a criação da Escola de Serviço Social de Manaus,  também atrelado ao Aparelho de Estado. Antes daquela época, os problemas sociais da população eram atendidos de forma isolada por pessoas de boa vontade, senhoras da sociedade  a mulheres de funcionários públicos. A Escola de Serviço Social de Manaus surgiu no bojo do Programa de Assistência Social do Estado para suprir, sanar e prevenir, em uma visão funcionlista, os desajustamentos individuais e de grupos sociais.
A criação a Escola de Serviço Social, e à formação qualificada de pessoas para enfrentar os problemas sociais do Estado, agravados com o fim do Ciclo da Borracha, passou a ser importante, mas não resolveu e nunca resolverá o conflito capital X trabalho.
 Depois da implantação da Zona Franca de Manaus, em 1967, os problemas sociais crescem ainda mais com o êxodo rural. A cidade de Manaus sofreu com o inchaço populacional e as péssimas condições de vida. O Serviço Social, então, assume uma nova postura profissional, atuando dentro das fábricas, inicialmente como administrador de recursos humanos e só, posteriormente, de benefícios.
Nossa pesquisa documental em busca de respostas para a ausência de homens exercendo a profissão de Assistente Social nos levou a uma constatação aparentemente óbvia: os homens não estavam presentes no curso, em sua maioria formada por turma de mulheres, dando uma média de 0,21730 homens/ano para cada mulher; embora em alguns anos  – 1957,  1960, 1961 (vice relação).  E, onde eles estavam trabalhando, se não os encontramos no mercado de trabalho?
O assistente social, enquanto mulher, têm identidade social construída como subalterna, fomentada pelos mitos femininos. Esse fato dá à mulher a identidade profissional de assistente social. Aos homens, historicamente, não cabe esse papel.
Na literatura do Serviço Social, o tema da identidade masculina não está presente; mas da mulher assistente social, está.
Conforme constatamos em pesquisa de campo, os homens que cursaram serviço social em Manaus, passaram a exercer outras  profissões mais tarde – direito, administração, administração, pedagogia, contabilidade etc.
Dentro e fora do Aparelho de Estado, a profissão sobre com os baixos salários e à falta de prestígio, de autonomia, de mercado e outros.
No máximo o homem que exerce é visto com estranheza; não, preconceitos como esperavam que fosse constatado. Mas isso não ocorreu.
Depois de toda análise feita nas respostas da pesquisa de campo, afirmamos, portanto, que a profissão de assistente social não é valorizada social ou economicamente e que o Estado, seu principal legitimador, sempre paga baixíssimos salários a estes profissionais qualificados, de nível superior, contra outras profissões que têm formação idêntica, tempo de duração do curso idêntico, mas salários sempre bem mais elevados.
Historicamente, a profissão incorpora a mística do servir da ajuda, guiada por valores nobres de altruísmo, de caráter não utilitário. Porém, com isso não, não concordam os homens. Estes entendem a profissão como parte integrante do Aparelho de Estado como qualquer outra – direito, medicina, administração, contabilidade, etc., deve ser também mais valorizada.
Diante de tudo isso, concluíamos que não existe uma identidade masculina ou feminina na profissão, mas somente uma identidade plural. Hoje, os crescentes problemas sociais exigem cada vez mais a presença de homens no mercado de trabalho.
Não deve existir uma única identidade para a profissão, mas uma identidade plural como garanti. Não existe “o homem assistente social” ou ”a mulher assistente social”, mais sim, várias formas de pensar e inserir esse profissional no mercado de trabalho.
Hoje, existe uma nova identidade profissional. Essa nova identidade deve ser pensada a partir da luta pelo fim dos baixos salários, pela elevação do prestígio profissional e social e pelo status. É preciso estabelecer autonomia profissional, dano-lhe um espaço maior, separando o poder o capital das mazelas por este criadas. O Assistente Social é um ator social qualificado e, como tal, deve ser valorizado e entendido em sua prática profissional
    
ANEXOS
1.   Lista com o nome de todos os Assistentes Sociais Masculinos, matriculados, anualmente, na Escola de Serviço Social de Manaus – 1940 à 1971;
2.   Lista com os Trabalhos de Conclusão de Cursos, catalogados na Fundação Universidade do Amaonas, no período de 1941 à 1982.;
3.   Lista dos Trabalhos de Conclusão de Concurso dos Assistentes Sociais masculinos  no período de 1941 a 1970, quando a FUA incorporou a Escola de Serviço Social de Manaus;
4.   Lista com os nomes dos Assistentes Sociais Masculinos registrados no CRESS-Am-RR, 15ª. Região, desde 1941.

GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E CULTURA DO ESTADO
ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL DE MANAUS “ANDRÉ ARAÚJO”

Alunos masculinos matriculados:
TURMA 1941 – 198 matrículas – 16 homens e 182 mulheres
1.   LAURO AMERICK T. LOBO
2.   WALDEMAR LINS DE OLIVEIRA
3.   GUILHERME DOS SANTOS FERREIRA
4.   ELIAS DOS SANTOS FERREIRA
5.   DANIEL DOS SANTOS FERREIRA
6.   ARON YPIRANGA BENEVIDES
7.   WALTERLEY DE ANDRADE NORMANDO
8.   OSWALDO TEIXEIRA MENDES
9.   ADELSON PEREIRA DUTRA
10.               JOSÉ BERNARDINO LINDOSO
11.               HIPÓLITO CELESTINO DA SILVA
12.               JOSÉ IVAN DE A. SILVA
13.               RAIMUNDO NONATO GARCIA FILHO
14.               CLAUDIONOR GOIS PONTILHÃO
15.               SILVESTRE DA COSTA LUCENA
ANO DE 1942 – 12 matrículas e 1 homem
1.   ANDRÉ VIDAL DE ARAÚJO
ANO DE 1943 – Não consta registro de matrícula.
ANO DE 1944 – 15 matrículas – Nenhum homem.
1945 – 36 matrículas e 1 homem
1.   BENEDITO ARRUDA FERNANDES
ANO DE 1946  - 29 matrículas. Nenhum homem
ANO DE 1947 – 28 matrículas. Nenhum homem
ANO DE 1948 – 25 matrículas. Nenhum homem
ANO DE 1949 – 29 matrículas – 25 mulheres e 4 homens
1.   BISMARCK CORRÊA BARAÚNA
2.   ELMAR ANTUNES STONE
3.   PAULO DOS ANJOS FEITOSA
4.   RUI MORAES DOS SANTOS
ANO DE 1950 – 12 matrículas – 11 mulheres e 1 homem
1.   JOSÉ SIMÕES PEREIRA FILHO
ANO DE 1951 – Não consta registro de matrícula neste ano.
ANO DE 1952 – 85 matrículas – 64 mulheres e 21 homens
1.   DEMONSTENES RAIMUNDO DE QUEIROZ BUZÁGLO
2.   FRANCISCO OROFINO
3.   DANILO VITOR BRAGA DA SILVA
4.   GARCITYLZO DO LAGO E SILVA
5.   GUILHERME PINTO NERY
6.   ISMAR VASCOCELOS MENDES
7.   JOSÉ CAITETE DA SILVA FILHO
8.   JOSÉ RIBEIRO DO NASFCIMENTO
9.   JAIME REBELLO DE SOUZA
10.               JOSÉ FABIANO ROBERT PINTO
11.               JOÃO VICENTE TORRES
12.               JARI GUIMARÃES
13.               PEDRO AUGUSTO ALVES DA SILVA
14.               RUY ALBERTO DE SOUZA MARINHO
15.               SILVINO LOPES LINS
16.               WASHINGTON ALMEIDA STEPHANO
17.               AFONSO LIBERATO DE CARVALHO
18.               SÍLVIO MOURA TAPAJÓS
19.               MARCO AURÉLIO AGOSTINHO ARAÚJO
20.               CLAUDIO DA SILVA LIMA
21.               JAIME DE PAULA GONÇALVES
ANO DE 1953 – 28 matrículas – 10 homens
1.   JOÃO CATUNDA DE SOUZA
2.   EDSON CORRÊA DOMINGUES
3.   NAPOLEÃO CAVALCANTE DE LACERDA
4.   ARMANDO MESQUISA FILHO
5.   KLINGER COSTA
6.   JOSÉ BAPTISTA VIDAL PESSOA
7.   JOEL FERREIRA DA SILVA
8.   HYPERION PEIXOTO DE AZEVEDO
9.   FLÁVIO DE PAULA FIGLIOULO
10.               JÚLIO SOARES FREIRE
ANO DE 1954 – 17 matrículas – 1 homem
1.   DEOLINDO DE FREITAS DANTAS
ANO DE 1955 – 15 matrículas – 4 homens
1.   HAROLDO TORRES DE T. MIRANDA BRAGA
2.   JOSÉ RIBEIRO DO NASCIMENTO
3.   ALMIR  BEZERRA JEZINI
4.   RAIMUNDO DA CONCEIÇÃO RODRIGUES
ANO DE 1956 – 11 matrículas – 2 homens
1.   JOSÉ GOMES DA SILVA
2.   JOSÉ RIBEIRO DO NASCIMENTO
ANO DE 1957 – 25 matrículas 14 homens e 11 mulheres
1.   EDSON DE AGUIAR ROSAS
2.   ÁLVARO CÉSAR DE CARVALHO
3.   AURELIANO RIBEIRO CARMINÉ
4.   ROBERTO CARVALHO LEAL
5.   IVANIR HERCULANO BARROSO
6.   ITHUY OLIVEIRA LIMA
7.   JOSÉ ROBERTO RIBEIRO DE ARAÚJO
8.   JOÃO BOSCO EVANGELISTA
9.   EDSON CÉSAR MELLO
10.               JOSÉ GERALDO GARCIA GUEDES
11.               RAIMUNDO DA COSTA SANTOS
12.               RUI MELO ERNANDO DANTAS
13.               RADOLPHO DE SOUZA BITTENCOURT
14.               JOSÉ LUIZ DE ARAÚJO RIBEIRO
ANO DE 1958 – 25 matrículas - 13 homens
1.   AMROZIO COHEN ASSAYAG
2.   ANTÔNIO BITENCOURT GOMES
3.   CARLOS ANTUNES FERNANDES
4.   MOACYR JORGE DA COSTA
5.   JOSÉ LUIZ DE ARAÚJO RIBEIRO
6.   RUI MELO DANTAS
7.   HUGO MÁRIO TAVARES
8.   ÁLVARO CÉSAR DE CARVALHO
9.   RAIMUNDO DA COSTA SANTOS
10.               WASHINGTON ALMEIDA STEPHANO
11.               FRANCISCO QUEIROZ BRAGA
12.               JOSÉ AUGUSTO DE ALMEIDA
13.               ITHUI OLIVEIRA LIMA
ANO DE 1959 – 18 matrículas – 9 mulheres e 9 homens
1.   ADELSON DE SOUZA LIMA
2.   HAROLDO JOSÉ DA SILVA
3.   HIPÉRIDES FERREIRA DE MELO
4.   JOSÉ RIBAMAR SOARES AFONSO
5.   ÁLVARO CÉSAR DE CARVALHO
6.   RUI DE MELO DANTAS
7.   HUGO MÁRIO TAVARES
8.   RAIMUNDO DA COSTA
9.   WASHINGTON ALMEIDA STEPHANO
ANO DE 1960 -  28 matrículas – 13 mulheres e 15 homens
1.   ÁLVARO CÉSAR DE CARVALHO
2.   ADELSON DE SOUZA LIMA
3.   ANTÔNIO CARLOS SIMÕES PEREIRA
4.   FERNANDO ALBERTO SOARES PÉREZ
5.   JOSÉ AUGUSTO DE ALMEDA
6.   JOÃO  MENDES DO NASCIMENTO
7.   JOSÉ RIBEIRO DO NASCIMENTO
8.   JOSÉ AGOSTINHO BALBI
9.   LUIZ HUMBERTO DA SILVA ROSAS
10.               ONÉSMO GOMES DE OLIVEIRA
11.               OSWALDO LUCAS FREITAS
12.               RUI DE MELO DANTAS
13.               RAIMUNDO DA COSTA SANTOS
14.               VICENTE DE PAULA PEREIRA
15.               WASHINGTON DE ALMEIDA STPHEFNO
ANO DE 1961 – 17 matrículas – 7 mulheres e 10 homens
1     ORLANDO MARQUES FRADERA
2      LUCINDO ANTUNES FERREIRA
3      JOSÉ AGOSTINHO BALBI
4     OSVALDO LUCAS DE FREITAS
5     RUY DE MELO DANTAS
6     ONÉSIMO GOMES DE SOUZA
7     VALDETE GURGEL DO AMARAL (no registro, consta como    homem)
8     CARLOS GOMES
9     FERNANDO ALBERTO SOARES PÉRES
10   FRANCISCO NERY DE OLIVEIRA CABRAL
ANO DE 1962 – 17 matrículas – 5 homens
1      FERNANDO ALBERTO SOBRAL PÉRES
2     JIDDU REBOUÇAS
3     HUMBERTO PEREREIRA DA SILVA
4     ROMILDO RODRIGUES SANTIAG
5     ARTUR TEIXEIRA ALVES
ANO DE 1963 – 21 matrículas – 3 homens
1     PAULO ROBERTO AGUIAR LOPE
2     MARCO AURÉLIO BARBOSA
3     ARTUR TEIXEIRA ALVES
ANO DE 1694 – 30 matrículas – 3 homens
1     MARCO AURÉLIO BARBOSA
2     JIDDY REBOUÇAS3
3     ADEMIR CUNHA DOS SANTOS

ANO DE 1965 – 2 homens
1.   AZEMILKOS TAJANO MONTEIRO
2.   MAURÍCIO GALBA MONTEIRO
ANO DE 1966 – 39 matrículas – 1 homem
1.   OSVALDO LUCAS DE FREITAS
ANO DE 1967 – 33 matrículas. Nenhum homem
ANO DE 1968 – 29 matrículas – Nenhum homem
ANO DE 1969 – 39 matriculas – 1 homem
1.   LAURINDO DA SILVA CÔCO
ESCOLA DE SERIÇO SOCIAL DE MANAUS, DOADA PARA A FUA
ANO DE 1970 – 58 matrículas – Nenhum homem
ANO DE 1971 – 40 matrículas – Nenhum homem.

FONTE DA PESQUISA: Livro de matrícula do DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DO ESTADO e depois registros da FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO AMAZONAS.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADAS
ALAYON, Norberto. Assistência e Assistencialismo – controle dos               pobres ou erradicação da pobreza? SP; Cortez, 1992
ARAÚJO, André. Sociologia de Manaus – Aspectos de sua cultura. Edições Fundação Cultural do Amazonas, Sérgio Cardoso, 1974.
AGUIAR, N. Hierarquias de Classe, RJ: Zolar, 1979.
ALTHUSSER, Louis. Lire Le Capital. Maspeso, Paris, 1968.
BOBBIO, Norberto. A Teoria das formas de Governo. Trad. Sérgio Bath, Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 1980.
BURHARIN, N. Tratado do Materialismo Histórico. Trad. Edgard Carone, RJ: Agir, 1980. Aidil de Jesus Paes de. LEHFILD, Neide Aparecida de Jesus Souza. Projeto e Pesquisa: Proposta Metodológica, 2ª Ed. Vozes, Petrópolis, 1991.
BARROS, Aidil de Jesus Paes de. LEHFELD, Neide Aparecida de Jesus Souza. Projeto de Pesquisa: Propostas Metodológicas, 2a Ed. Vozes, Petrópolis, 1991.

BENCHIMOL, Samuel. Romanceiro da Batalha da Borracha, Manaus:  Imprensa Oficial, 1992.
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FILHO, Cosme Ferreira. A Amazônia em Novas Dimensões. Editora Conquista, 1961, sne.
GORZ, André. Crítica da Divisão Social do Trabalho, SP: Martins Fontes, 1989.
RECkERT, Sonia Maia Rocha. Identidade e Mulher no Serviço Social, in Serviço Social & Sociedade, Ano XII, N. 36, SP: Cortez, 1991.
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WAGLEY,  Charles. Uma Comunidade Amazônica: estudo do homem nos trópicos. BH: Itatiara, 3ª Ed. 1998.
VIEIRA, Balbina Ottoni. História do Serviço Social. RJ: Agir, 1980.


3 comentários:

  1. Nossaaa!! nao tinha conhecimento desta obra tão rica em conhecimentos, mas foi através da leitura do livro, O SERVÇO SOCIAL NA CONTEPORANEIDADE, TRABALHO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL de Marilda Vilela Iamamoto que tive oportunidade de conhecer pesquisando na internet, queria aqui parabenizar o Assistente Social, Jornalista e poeta pela obra.
    abraco social

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  2. Cheguei aqui através do livro da Marilda Iamamoto,que obra maravilhosa,grande abraço amigo!

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