terça-feira, 31 de maio de 2016

SAUDADE: "EU NÃO SABIA QUE DOÍA TANTO!", a minha neta Ana Carolina Cardoso da Costa, de 12 anos


                                              
                                          A minha neta Ana Carolina Cardoso da Costa, de 12 anos.

Era um raro sábado de sol na transição do inverno de chuva para o verão  intenso  em Manaus, no dia 28/05.  Com minha esposa Yara Marilia e eu, fomos buscar  Ana Carolina, minha única neta até agora, filha de meu filho mais velho. Ao entrar no apartamento, o apresentei-a ao Carlos Costa Filho e disse ser irmão do Daniel por parte de pai.  Ela lhe pediu a “benção”.  Carlos Filho se assustou, mas estendeu-lhe a mão e deu sua bênção e  acrescentou “não quero ser babá de ninguém”. Contudo, reconheceu em Ana Carolina é uma moça bem criada e muito educada!

Depois de nadar de um lado para o outro da grande piscina do Condomínio Mundi, se enrolou em uma toalha do Flamengo e subiu para o almoço.  Ao se despedir de mim, como se fosse a médica que deseja ser, aplicou-me um remédio doce com suas palavras, “saúde, vô. Sua benção”!  Abençoei, abracei-a e Ana Carolina foi embora, levada no carro pela minha esposa. Nadou feliz como se fosse uma sereia de cabelos longos.   Admirava-a  em sua graciosidade de adolescente de 12 anos,  sentado em uma cadeira, fotografando e filmando tudo com meu celular. Estava orgulhoso por tê-la me visitando pela segunda vez! Ao mesmo tempo, fiquei  triste  ao pensar no que seu pai perdera por não ter aceito meu  segundo casamento, saído de casa, depois ter comparecido em minha residência aos gritos quando soube do nascimento do meu segundo filho, por não ter seguido os conselhos que lhe dava, ter abandonado três cursos superiores – direito, comunicação social e educação física - no primeiro período e antes das provas. Lembrei, ainda, de ter tentado fugir pelo portão de sua Escola de Alfabetização, na Avenida Djalma Batista e a sua professora lhe ter prensado o dedo no portão.  Chegou a casa reclamando e lhe perguntei por que ele tentara fugir da Escola?  “Porque  é chata e eu não gosto”.  Estudar nunca foi fácil, é chato mesmo, cansativo também, mas prazeroso no final é necessário para a ascensão social! Eu era jornaleiro nas ruas de paralelepípedos e trilhos de bondes de Manaus e hoje sou jornalista e assistente social.

Durante o almoço aconselhei-a não perder o foco nos estudos “Não vô, meu pai quer que eu tenha um futuro melhor do que o que ele não soube ter”. Fiquei feliz e aliviado com a resposta.  Ana Carolina n revelou-me que desejava ser médica ou dentista, ainda não sabe ao certo. Disse que as duas profissões ótimas e expliquei-me cada uma delas, como se ainda fosse um professor em sala de aula, repassando meus conhecimentos aos alunos da Faculdade Nilton Lins. Ela ficou pensativa. Lembrei-me de um poema de Gibran Kalil que diz: “teus filhos não são teus filhos/São filhas  e filhas da vida/nascidos de ti e arremessados como filha rumo ao sol...”. Os hormônios já começaram a transformar e a mudar o corpo de 12 anos de Ana Carolina. Porém, a mãe, Melry Cardoso é bem educada, congrega na Igreja área 24 da Assembleia de Deus, na Avenida Constantino Nery, 200 e repassa tudo com carinho e amor materno a minha neta. Depois que Ana Carolina foi levada para sua casa, a saudade se apossou de meu coração, como se fosse uma forte ventania que derruba tudo. Era uma saudade é inexplicável, que só se pode senti-la; não descrevê-lo ou explica-la com palavras.  Na memória debilitada e corroída por 11 cirurgias desde 2006 para tratar de um impiema cerebral  e vivendo infectado por bactérias hospitalares até hoje, veio-me à mente a frase do escritor, cronista,  poeta e  atualmente presidente da União Brasileira de Escritores do Rio Grande do Norte, Antônio Gosson que, ao narrar  desventuras da família Gosson,  sempre que mencionava a morte de alguém a concluía dizendo: “Eu não sabia que doía tanto!” Gosson,  tomo-lhe emprestado a  frase linda, profunda e emocionante de seu livro memorial  e a mudarei sem sua autorização, só para dizer a minha neta Ana Carolina: “Saudade: eu não sabia que doía tanto!”, mas é uma dor que não dói, uma chama que arde e mas não queima. As bolhas da saudade estouram e, de dentro, brotam líquido branco em forma de lágrimas.


No local das queimaduras produzidas  pela saudade, pessoas passam pasta de dente para aliviar a dor invisível;  lavam-nas com sabão grosso para retirar as lembranças;  usam lama para cicatrizar as feridas da saudade que  apenas se sente no fundo do peito, dentro do coração. Tudo inútil, dizem os médicos especialistas em queimaduras. Tudo, porém, fruto desesperado de crendices populares para aliviar a dor da saudade e nada mais... 

24 comentários:

  1. Ana Carolina Cardoso da Costa31 de maio de 2016 às 09:03

    Alô vô, gostei muito do que li, parabéns. O senhor é um exemplo para mim. Saúde!

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  2. Índio do Brasil D'Urso Jacob31 de maio de 2016 às 09:07

    Muito legal fico feliz por vc e sua neta. Que os sonhos dela se concretizem! Parabéns!

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  3. Nossa, que lindo fiquei emocionada .Por essa linda trajetória de vida

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  4. Muito bonito!
    Parabéns

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  5. nossa amigo dor seu coração,sua neta mudou-se pra longe não possa ve-la mais.agora convive com está dor saudade,vai ver neta amigo,não perca tempo..saudade Ana Carolina..boa tarde amigo lute pelo seus ideiais..abraço...

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  6. Que linda ... sei bem o que esse amor de avô, pois já tenho 6 netos que me dão grandes alegrias e suspiros de saudades.

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  7. Adilson Tínoco Rezende31 de maio de 2016 às 11:37

    muito bom!!

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  8. Caro Carlos fico feliz por tua alegria com tua neta.
    Eu tenho um casal de netos e sei como nos fazem bem Quanto ao filho,fazer o quê né? Queremos o melhor.damos conselhos e eles fazem suas escolhas.muitas escolhas lhes levarão a ruína, mas...

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  9. Sarah D A Linch/Escritora31 de maio de 2016 às 13:52

    maravilhosa crônica. Chorei, amigo!

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  10. Parabéns! Bela cronica

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  11. Simone Hiyssao Abrahihim31 de maio de 2016 às 15:02

    Eu li belíssimo me emocionei
    Belíssima cronica

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  12. Rosa Nem Ramos Assus31 de maio de 2016 às 15:04

    Belíssimo trabalho!

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  13. Oi amigo. Texto lindo!

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  14. Lindíssimo o teu texto. Parabéns

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  15. Luiz Carlos Costa De Oliveira1 de junho de 2016 às 13:53

    Lindo texto amigo! também sinto muitas saudades dos meus pais que já se foram.

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  16. Saudade palavra com sentido de perda. ...mas uma perda que a qualquer momento pode- se busca-la e mata- la sem culpa...

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  17. Francisco Vasconcelos1 de junho de 2016 às 13:56

    Minha única neta, Maria Eduarda. é da mesma idade da tua. Pelo que falas, concluo que somos dois vovôs babões. Mas que avô assim não se comporta, diante de tão bela e estuante promessa de vida? A propósito, pergunto: Tens meu último livro,(O menino e o velho)? Se não o tens, informa teu endereço para que eu possa mandar-te um exemplar. Abraços. Vasconcelos..

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  18. Lindíssima esse seu relato!!! Ótima crônica!!!

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  19. Suelem Freitas/jornalista2 de junho de 2016 às 11:53


    Fiquei curiosa em conhecer sua neta! Deve ser muito esperta!

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  20. Antônio Gosson/UBE/RN6 de junho de 2016 às 19:15

    Amigo:

    Belíssima a sua crônica para a neta.Sobretudo, do meio para o fim!

    obrigado pela citação do meu bordão -Eu não sabia que doía tanto!

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