À Nirvana Beira-Mar e Chico Batera, pelo carinho
Resistindo ao progresso e à modernidade da tecnologia, bailavam no céu papagaios de papel que abrilhantavam, no asfalto negro cor da noite, o desfile da Escola de Samba Mirim do Reino Unido da Liberdade, resultado do trabalho de resgate e inclusão social realizado pelo Instituto Reino do Amanhã, comandado pelo presidente Neilo Batista e sua vice Andreia Castelo. O desfile foi sob um lado só da ponte da Rua Maués, construída sob o igarapé do 40, com águas límpidas e areia branca ao fundo, separando os bairros Cachoeirinha ao do Morro da Liberdade. Sem ponte, os bairros eram ligados por catraias coloridas que deslizavam suavemente sob força de remos pelo igarapé, onde nadava quando passei a residir na casa de minha madrinha Natércia Januário Calado, no final da Rua São Benedito, em 1968, ainda sem asfalto, aos oito anos, para estudar no Grupo Escolar Adalberto Valle e tinha que buscar águas com filhos dela do outro lado do igarapé, que era muito largo e fundo e dava para passar um motor por dentro dele.
E por falar em papagaios de papel, será que o IPAAM divulgará o resultado do laudo da dizimação dos periquitos que bailavam do condomínio Mundi, onde resido, ao condomínio Efigênio Sales, ocupado por empresários, juízes, desembargadores e políticos que têm o poder do dinheiro, só porque perturbavam os ouvidos sensíveis dos ocupantes que invadiram seus antigos lugares? Mesmo se for constatado venenos nas vísceras dos periquitos ou nas telas, tenho dúvidas se o IPAAM divulgará os resultados ou se alguém será punido por esse terrível e abominável crime ambiental! O Ministério Público do Meio Ambiente já havia determinado a retirada das telas que impediam os periquitos de comerem as frutas, mas elas voltaram e ninguém fez mais nada. Será que o poder do dinheiro também teria vencido o poder da Justiça?
Não sei, mas desconfio que sim!
Mas não é sobre o assassinato dos periquitos que escreverei essa crônica e nem sobre os papagaios de papel que bailavam suaves ao vento em um céu que começava a escurecer, emoldurando com suas levezas graciosas, o desfile com doze alas da Escola de Samba Mirim do Reino Unido da Liberdade. Muitas crianças e alguns adolescentes, acompanhadas dos pais. Com a ajuda de empresários como Mauro Souza e Clênio Franciné, proprietário da Padaria Fortaleza, que diariamente fornece pão para os alunos do projeto, pode ser que o Reino não tenha só uma coroa no símbolo de sua Escola Verde e Branco, mas, com certeza, terá também um amanhã, um futuro, porque ´é um projeto social que está cuidando de crianças carentes no seu entorno, formando futuros sambistas da Escola de Samba do Grupo I. Quando nasci no Morro em 1960 existia apenas o largo Igarapé do 40 e um depósito de açúcar do “Senhor Aguiar”, com um poço artesiano e uma torneira pelo lado de fora do muro, onde pegávamos água.
Comandada pelo mestre de bateria Dalto e Georgia Varela e porta-bandeira, a primeira Escola de Samba Mirim da Reino Unido da Liberdade, como anunciou na abertura do desfile a diretora de comunicação da Escola de Samba Reino Unido da Liberdade, Neide Maciel, a “Neidinha”, como é conhecida por todos, aluna de comunicação social da Uninorte, Dalto comandava o desfile das doze alas da Escola Mirim, com o enredo oficial da Escola de 2015, “Construção”. As alas começaram a desfilar sob a Ponte da Maués, às 17:30 hs. Eu, absorto, olhava para o céu para ver e admirar os papagaios de papel bailando e procurando encontrar a pedra sob a qual minha mãe Josefa Costa me conta até hoje que lavava meus cueiros. Nada encontrei e me senti um bobo procurando! Nada mais vi e reconheci!
Compareci à Escola Reino Unido da Liberdade pela segunda vez porque Nirvana Beira-Mar foi buscar-me seu namorado Francisco Carlos, “Chico Batera”, trouxe-me para casa às 19 horas. Ele ouviu o canto dos periquitos, Condomínio Efigênio Sales e eu lamentei que tivessem sido barbaramente mortos. Caso contrário, não teria tido a oportunidade de ver desfilar nas ruas o fruto de um trabalho que recebe a ajuda de empresários do bairro. A semente foi plantada e está e deve continuar sendo regada para que nasçam árvores e produzam frutos em forma de sambistas.
Todas as Escolas de Sampa do Grupo I do Carnaval do Amazonas compareceram ao evento. Thomé Mestrinho, presidente de honra da Escola do Morro, Anick Sena, porta-bandeira da Escola de Samba Vitória Régia receberam menções especiais pela presença. Como um desconhecido filho do Morro da Liberdade, cruzei a ponte da Rua Maués a pé, mas fui reconhecido e muito bem recepcionado por alunos do curso de comunicação social da Uninorte que decidiram me fazer perguntas na sala de comércio de produtos da Escola, dirigida por Nirvana Beira-Mar, dentre elas, além da diretora de comunicação da Escola, estava Francimeire Nery, a Meire, que está seguindo os passos de seu pai, jornalista e meu colega em A NOTÍCIA, Francisco Nery, que reside e trabalha em Porto Velho, como jornalista investigativo do tráfego de mulheres.
Fancimeire Nery, a Meire, me deixou profundamente feliz por ver que está seguindo a carreira de seu pai. Se será polêmico e combativo como pai fora, só o tempo dirá! Mas espero que sim!
Muito lindo Carlos Costa! Parabéns!
ResponderExcluirObrigado pelo carinho amigo Carlos Costa. O texto está maravilhoso. O elogio vindo do amigo, nos enche de orgulho!
ResponderExcluirOlá, Carlos. Projetos assim nem custam muito, mas fazem tanto pelas crianças, garantindo-lhes um futuro que muitas não poderiam nem sonhar... quanto aos papagaios, achei tão absurdo e tão egoísta, que contrastando as duas coisas - as telas e o projeto - fico ainda pasma pelo que o homem pode fazer de bom e de ruim, ao mesmo tempo.
ResponderExcluirAbraços!
Meu carinho!
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