segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A VIDA NOS TROTES DE UM CAVALO...


Momentos de minha vida recente ressurgiram junto com o trote compassado e leve de um cavalo que transportava a criança em uma aula de eco-terapia, quando transpus o muro do quartel do Batalhão da Cavalaria da Polícia Militar “Coronel Bentes”, em Manaus, quando fui solicitar doação de sangue à voluntários do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças – CEFAP. Relendo placas na parede, revi nomes de pessoas com as quais convivi, como os então tenentes Mael Rodrigues de Sá, Ferreira Lima, Edson, Costa, o “Costinha”, o militar mais civil que conheci, Hilmar dos Santos Faria, Élson Mota, Assante, Henriques, Bonates, Bentes, Benfica, Correi aspirantes Sirothoau, Paulo Roberto Castelo Branco, Paulo Roberto, comandantes de OPMs,

O  1º Batalhão, ficava em Petrópolis; a Rádio Patrulha, na Duque de Caxias; Polícia de Trânsito, dentro do prédio do CG na Praça Heliodoro Balbi, depois ao lado da Rádio Patrulha; a Polícia de Guarda, na Duque de Caxias, se unindo por trás à RP. Alguns faleceram e outros que seguiram carreiras, chegaram ao posto máximo de tenentes-coronéis e foram nomeados comandantes gerais da PM. Os vivos, mas não sei onde andam. Só tenho notícias boas sobre eles! Mas fui esquecido por eles!

Os tenentes Mael e Ferreira Lima, em momentos diferentes,  comandaram à temida PP-2, uma divisão de repressão da PM no fim da década de 70 e início de 80, com todos seus membros andando disfarçados. Nesse período, todos os comandantes da Corporação Polícia Militar eram sempre originários das fileiras do Exército Brasileiro. Convivi com coronéis Mário Perelló Ossuoski, Wilson Ribeiro Raizer, Henriques Lustosa e outros que vieram depois até ser nomeado o primeiro coronel PM, Élcio Mota, quando deixei de ser credenciado e publicar em A NOTÍCIA, informações oriundas da Polícia Militar.

No dia 30/06/79, recebi diretamente das mãos do então chefe da 5ª Seção de Comunicação, em plena ditadura militar, do tenente Alfredo Assante Dias, uma Credencial que ainda a guardo comigo, no qual se lia no verso “SOLICITO AOS COMANDANTES DE OPM O APOIO NECESSÁRIO PARA O QUE O MESMO POSSA EXERCER SUAS ATIVIDADES PROFISSIONAIS”.  em plena continuidade da Ditadura Militar, que me permitia livre acesso a todas as ações executadas pela PM. Naquela época, acompanhei e escrevi sobre as execuções pela temida PPD-2, das quadrilhas do Padeirinho, Alan, X-9, Abílio e outras consideradas perigosas na época de uma Manaus ainda pacata de pouco mais de 700 mil habitantes e tranquila, com lembranças vivas de um secretário de segurança que permitia que se dormisse de janelas e portas abertas.  

Quando o tenente Assante assumiu a diretoria do Detran-Am, o tenente Correia fio levado com ele para ser o examinador de direção e decidi tirar pela primeira vez a CNH, no dia 21/03/1979 e o tenente me conheceu, se espantou e me pergunto o que tinha ido fazer ali. “Vim fazer prova de rua!”! Respondeu-me, brincando: “E tu ainda faz exame de rua? Passe no dia tal no Detran-Am, para receber sua CNH”. Isso se deu e eu estava habilitado. Era verdade, eu já tinha dirigido até para o diretor do Detran-Am, inclusive subindo a ladeira da Rua Tapajós, onde eram feitos os testes de rua para se receber a CNH, porque ele não dirigia carro!

Mas não sei quem inventou que o “o para sempre” é como um relâmpago em nossas vidas porque nada dura para sempre e o “para sempre” é mais uma utopia linguística que nos faz acreditar que a vida será eterna, como a morte a será por certo. Nas patas do cavalo que trotava em uma aula de eco-terapia, relembrei nitidamente quando estacionava meu velho fusca amarelo ao lado e entrega no CG, com um guarda sempre à porta para quem eu dava continência e ele batia as botas em resposta ao meu  cumprimento. Eu, mesmo a despeito de usar um cabelo longo, barba comprida e uns óculos pequenos e redondos, estilo John Lennon, que conferia a mim o aspecto meio desleixado e alguns estudantes da época dizendo que eu era um “comunista” ou dedo duro da ditadura ou agente da repressão em razão de meu aspecto ser igual a todos os integrantes da temida PP-2, comandados pelo tenente Mael Rodrigues de Sá e depois pelo tenente Ferreira Lima, fossem como eu era também.

Nessa época, publiquei a matéria e guardei a fonte, informando apenas, em letras garrafais “JOSÉ LINDOSO, PRESO NO PALÁCIO DO GOVERNO, ROUBANDO TOALHAS”. O jornal vendeu muito nesse dia, mas deu problemas porque no dia seguinte o Secretário de Comunicação Social, poeta Elcio Farias apareceu em A NOTÍCIA querendo saber qual era a fonte da informação e por que já havíamos escrito a manchete associando ao nome do governador do Estado. Em todas as Delegacias de Polícia da época, vi essa matéria colada nas paredes. Daquele dia em diante, foram proibidos aos jornalistas informações desse tipo.

Com muita saudade relembro companheiros valorosos como Oscar Carneiro, com certa idade, de quem eu adorava ouvir histórias da imprensa do passado, já com certa idade, e Francisco Pacífico, por apelido de “Cachacinha”, que faleceu vítima de cirrose hepática, ambos do Jornal do Comércio e já falecidos. O primeiro, ha mais tempo na imprensa, me contava que havia dormido no “casarão da Rua Marechal Deodoro”, em cima de rolos de jornais, só para pegar notícias policiais fresquinhas com o Sr. Jióia e dar “furo de reportagem”, nos outros jornais. As ocorrências eram todas registradas em um grande livro. O outro, o Pacífico, só queria que chegasse o final de semana para “tomar uma”. O jornalista Oscar Carneiro se dizia apaixonado pela secretária do tenente Alfredo Assante Dias, e fazia muitas brincadeiras com ela! Tudo era mesmo brincadeira porque o Oscar era uma pessoa muito séria!

Relembro com saudades quando fui iniciado no dia 19/08/89,  elevado e o dia 31/05/90 e exaltado ao Grau 3 na Loja Maçônica Manaus 28 por convite do então companheiro de Rotary Clube do Distrito Industrial, George Mendonça Marques, que reunia alguns empresários do DI. Lembro-me de ter sido convidado pelo empresário Cristovão Marques Pinto, mas convivi ao lado de companheiros como Otto Fleck, Sérgio Witte Gueiller, diretores da Gradiente, Francisco de Freitas Rola, que fazia questão de se apresentar como “Rola” e todos riam o economista José Fernando Pereira da Silva, o “Zica”, com quem brincava sempre que “amor de Zica, onde bate fica”, Nizardo Rebouças Chagas no fim da década de 70...além de outros que não recordo mais porque os anos e as onze cirurgias no cérebro não permitem uma memória tão prodigiosa como já o fora no passado!

Hoje não frequento mais nada...mas lembro com saudades! Depois, no Lions Clube de Manaus Centro, com o empresário José dos Santos Azevedo; Uirapuru, com Rosedilson Lopes de Assis...


E tudo isso recordei na ponta de meus dedos quando parei para olhar um menino sendo conduzido por três terapeutas em uma aula de “eco-terapia”, em volta do quartel. Ele mudando a bola de uma mão a outra, se equilibrando no dorso do cavalo, ao lado de três instrutores e minha vida passada recente se descortinando nos passos daquele cavalo que trotava lento, como se estivesse quase parado, como está parada a ajuda à Cavalaria Coronel Bentes para construir baias cobertas que permitirá o aumento do número de alunos, independentemente do tempo sempre inconstantes que ocorre em Manaus. 

3 comentários:

  1. Um interessante conto que nos prende a boa leitura. Parabéns e um forte abraço.

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  2. Quantas recordações,quantas memórias enriquecedoras no seu trajeto de vida!Uma vida vivida e bem aproveitada aos mínimos pormenores,como aliás continua sendo.Parabéns!Continue dando sempre o máximo e o melhor de si.Abraços de além-Mar

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  3. Valeu, Carlão! Um abração do Pau de Barraca!

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