quarta-feira, 10 de julho de 2013

EU, O MÁGICO SEM CAPA E SEM CARTOLA!



-  Horário de criança dormir é 9:02, né pai?

-  É, meu filho!

Era meu filho se dirigindo ao quarto, arrastando seu pequeno e frágil corpo de 4 anos de idade, porque no dia seguinte teria que acordar para aula de alfabetização na Escola “Floresta Encantada”. Talvez, o horário que sempre repetia ao ir para cama, lhe tenha sido ensinado pela babá Miraceli Ferreira, a “Mira” ou a “Mãe 2” como ficou conhecida nos consultórios médicos,os pelos onze anos seguidos que cuidou de nosso filho, porque minha esposa e eu trabalhávamos muito.

Recordei esse fato enquanto a Yara conversava com o Carlos Costa Filho na varanda do apartamento onde resido com a família. Eles estavam protegidos apenas pelo véu negro da noite que lhes cobria e observados por poucas estrelas teimosas que ainda se permitem brilhar na escuridão dos céus de Manaus, com  poluição e prédios de concreto armado.

Achava engraçada a frase: “horário de criança dormir é 9:02, né pai?”, porque nem imaginava como meu filho soubesse disso ou o horário exato em que ele dormia, porque nem horas ele sabia ver ainda, exceto, talvez,  pelas informações que a “Mira” lhe repassava – não usa relógio até hoje, embora já tenhamos lhe dado quatro!  “Para que quero isso, pai?”, me pergunta sempre que lhe comprava um novo relógio! “Não preciso, não vou usar”, acrescentava em seguida, mas o experimentava. Depois o retirava do braço e guardava.

Também recordei da brincadeira que fazia com meu filho, após o almoço! “Deixa o pai adivinhar o que você comeu hoje?” e começava a tocar com a ponta dos dedos em seu estômago e “dizer” o que havia em cada lugar – como se o estômago não misturasse toda a comida em um mesmo espaço. “Aqui tem arroz, aqui tem macarrão...”. De propósito, eu errava porque dizia “aqui tem água” e ele gritava alegre, “pai, você errou porque tomei suco hoje”. “É, meu filho, as vezes o pai erra!” admitia, desejando passar ao meu filho que a vida é feita de erros e acertos.  Ria muito porque eu “adivinhava quase tudo” o que comera no almoço. Também, não poderia ser diferente!

Sempre que podia, almoçava em casa, antes para fazer essa brincadeira depois, quando ele retornava da aula de condução!Com 15 anos, meu filho me surpreendeu: “Pai, descobri como o senhor adivinhava o que eu comia!” .“Como é que eu fazia meu filho?”, perguntei sério, demonstrando surpresa e olhando fixamente para ele, como se já não soubesse a resposta que ele me daria.

- O senhor comia antes e a Mira lhe dizia tudo o que eu comeria depois no almoço! – respondeu-me, com ar de sério, de sabedoria não mais inocente!


O pior é que era isso mesmo que acontecia! Pronto. Acabara a graça da brincadeira porque eu tentava passar ao meu filho a ideia de que era um mágico capaz de ver tudo dentro do estômago dele! E consegui por algum tempo, mas sinto saudades dessa época inocente que ainda lembro com carinho e uma ponta de ternura!

3 comentários:

  1. Linda crônica, amigo Carlos. Muitas vezes, diante da tão importante e imprescindível relação Mãe e filhos, nos esquecemos da relação pai e filhos, modestamente, quase tão importante.
    Um abraço amigo.
    Defranco Frossard

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  2. Uma crônica educativa, com conhecimentos, e demonstrando o quanto é importante, o relacionamento em família, para o aprendizado dos filhos, para a harmonização do lar.

    Um especial abraço, amigo Carlos Costa,
    Arline Silva.

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  3. Quanto carinho e ternura...Abraços de além-Mar

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