(ao meu pai e a todos os
que usaram esse tipo de aparelho)
Era lindo e demorado todo o
processo!
Meu pai Paulo Torres da
Costa, com calma, paciência e muito cuidado colocava água em uma pequena vasilha,
dissolvia parte de um sabonete dentro do recipiente, introduzia um pincel de
pelo que ele conservava muito bem - feito, acho que com pelos de rabo de cavalo
- e o levava ao rosto na direção de sua barba, toda lambuzada de sabão, que a
deixava com seu rosto todo branco. Depois, cuidadosamente também afrouxava um
aparelho de barbear em forma de um “T”, abria uma tampa superior e dentro dele,
introduzia em uma lâmina e, depois de fechá-lo novamente com cuidado, começava
a deslizar por toda a parte ensaboada. Seu rosto, que ficava lisinho que nem bumbum de
neném novo.
Eu olhava tudo espantado,
mas admirado também, porque me imaginava reproduzindo em meu rosto todo o
ritual de meu pai, quando crescesse. “Pai, será que eu vou ter barba?” perguntava.
“Vai sim, mas só quando você for adulto” – respondia ele, em meus pensamentos,
porque nunca tive coragem de fazer essa pergunta. Eu ficava apenas olhando todo o processo,
admirando tudo que meu pai fazia, talvez para imitá-lo depois!
Depois que terminava de
fazer a barba, lavava o aparelho em forma de “T”, o pincel e guardava tudo,
para um novo ritual que viria a realizar em outro dia, com toda certeza. Ao
contrário de meu pai que mantém seu rosto liso como bumbum de criança quando
nasce, uso barba fechada porque passava
cebola cortada em meu rosto para que a fizesse nascer de forma mais rápida e
forte! Se iria fazer algum efeito ou não, não queria sabe, mas eu continuava
esfregando cebola no rosto, escondido para ninguém ver.
No Brasil, os barbeadores
em forma de “T” eram genericamente conhecidos por giletes, tal referência à
marca Gillette. O pincel que meu pai usava era de pelos, mas também
comercializavam os com cerdas, fios ou outros filamentos de qualquer material
usado manualmente para limpeza, escovação, pintura ou maquiagem. Na indústria
moderna, é possível se encontrar muitas configurações de pincéis, tais como
retorcidos em arame, usados para limpar frascos ou os utilizados em
laboratórios químicos.
Mas o barbeador que meu pai
usava na comunidade de “Varre-Vento” era de modelo rústico, mas comprado. Ah,
como meu pai tinha cuidado com seus equipamentos de pincel e o barbeador em
forma de “T”. Hoje, os aparelhos são
descartáveis, com pouco uso e são e são jogados fora depois porque as lâminas
de corte cegam. Por isso, tenho o meu próprio aparelho de barbear elétrico e
com regulagem de corte!
Mas acho que naquele tempo
de meu pai os aparelhos eram melhores, mais duráveis, só havia a necessidade de
trocar as lâminas! Acredito que seja por
isso que uso barba desde meus 20 anos, mas já embranquecida pelo tempo e pintada
pela cultura (que dizem que tenho) do jeito que minha esposa Yara sempre me
pede para cortá-la! Também durante 13 anos, fiquei sem cortar o cabelo que
chegou ao meio da costa e não tinha a calvície que ostento com orgulho hoje,
como se fosse uma referência de localização!
ESSE PAIS MARAVILHOSOS E SEUS APARELHOS DE BARBA. LÁ EM CASA ERA EXATAMENTE ASSIM.E MEU PAI SEMPRE COLOCAVA UM POUCO DE ESPUMA NA PONTA DO MEU NARIZ.EU FICAVA ALI ESPERANDO POR ESTE MOMENTO.
ResponderExcluirGOSTEI VISITAR SEU BLOG.
PARABÉNS. ABRAÇOS CATARINENSES.
Amigo; adorei! E me deu saudade desse tempo também. Eu via meu pai também fazer uso desse mesmo aparelho e era um tempo em que qualidade era a marca registrada dos aparelhos... Eu li com sabor de saudade... desse tempo maravilhoso, do aparelho e especialmente do meu pai.
ResponderExcluirBeijos
Essa acima sou eu. Do facebook, Autores Delicatta. Lúcia Laborda. Esqueci de me identificar.
ResponderExcluirSÃO DOCES LEMBRANÇAS... PEQUENOS DETALHES QUE NOS ENCANTAVAM! UM TEXTO ESCRITO COM SIMPLICIDADE QUE NOS LEVAM A IMAGINAR E ESTAR ALI PRESENTES A ESSE RITUAL DE NOSSOS PAIS. SAUDADES!
ResponderExcluirGRATA POR NOS PROPORCIONAR ESSAS LEMBRANÇAS!
ABRAÇO!
Era todo um ritual cuidadoso e com umas pinceladas de brincadeira pelo meio.Abraços de alem-Mar
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