quarta-feira, 17 de abril de 2013

O SOCIAL: O AMAZONAS E UM MISTÉRIO A SER DESVENDADO!




Uma das causas ou a principal causa de não ter acontecido a retomada do desenvolvimento e produção da borracha no Amazonas pós II Guerra Mundial, depois da invasão japonesa aos seringais na Malásia, controlados pelos ingleses, possa ser atribuído ao total desconhecimento pelos engenheiros americanos do ritmo da Floresta Amazônica, tem um mistério próprio a ser desvendado, com ciclos de sol torrencial e chuva abundante, ao mesmo tempo.  Com conhecimentos apenas adquiridos em Universidade, os engenheiros e técnicos foram designados para ensinar aos caboclos considerados analfabetos de como plantar e colher o látex das árvores de seringueiras, não deu certo e o Amazonas passou a viver uma promessa de pujança econômica caindo na decepção pelo  abandono dos seringais e, mais ainda, da própria capital, Manaus, com a partida dos capitalistas e financistas, fechamento de bancos e empresas que “adquiriam” produtos necessários à entrada dos desbravadores do látex por 30 dias seguidos ou mais, seguido da quase total bancarrota da antes pujante e próspera promessa de um novo ciclo de desenvolvimento. (O CAMINHO NÃO PERCORRIDO – A TRAJETÓRIA DOS ASSISTENTES SOCIAIS MASCULINOS EM MANAUS, Carlos Costa: 1985, Imprensa Oficial – Am, in carloscostajornalismo.blogspot.com).

O clima da Região Amazônica é difícil, complexo e os americanos designados para repassar conhecimentos teóricos universitários aos caboclos acostumados a entrar na floresta, tomar chuvas torrenciais e em seguida se expor a um sol abafado e quente, era desconhecido completamente pelos novos “desbravadores” estrangeiros, levando a economia do Amazonas a uma nova frustração, mesmo com os elevados investimentos americanos para desenvolver o “esforço de guerra” com a criação do Banco da Amazônia e os vários Probor’s criados, para incentivar à produção do látex. Após um rápido momento de euforia e o ingresso de milhares de nordestinos transportados com incentivo do Governo Getúlio Vargas, que estava neutro em um primeiro momento, mas posteriormente se aliou aos americanos e depois decidiu entrar na guerra também contra a Alemanha, a cidade de Manaus inchou, ganhou novos bairros e se transformou em um destino forçado para os “soldados da borracha”. Nem mesmo os novos seringais criados para ajudar os americanos “no esforço de guerra” se sustentaram e faliram, como a  Fordilância, de Henri Ford, que chegou a construir uma verdadeira cidade no meio da floresta em 1920, no município de Belterra, no PA,  com a mais moderna estrutura da época, tendo hospital, postos de saúde, quadras de tênis, mansões para os diretores da empresa, residências para os trabalhadores, cafeteria e farmácia conforme relata o blog (http://rubensornelas.spaceblog.com.br/433825/Caso-Fordilandia) No mesmo blog há a expressão textual: As famílias da elite dirigente pareciam altamente impressionados com a simplicidade, a humildade e a amabilidade do caboclo amazonense”.

O livro A ILUSÃO DO FAUSTO – Edinéia Mascarenha Dias só compreende o período de 1890 a 1920 e é único escrito que afirma que a verdadeira riqueza é aquela que é distribuída com todos e não somente investidas em obras como ocorreu no Amazonas. Mas foi isso que se viu e ainda continua se vendo em Manaus! Naquele período, a cidade governada por Eduardo Ribeiro, sofreu seu primeiro grande surto de urbanização graças à economia da borracha. Outros autores, como Thiago de Melo (in Manaus, amor e memória – RJ, 1984), Raymundo Moraes (in Cartas da floresta Manaus – 1927) e Euclides da Cunha (in A Margem da História – 1909), mesmo de forma não muito objetiva, também abordaram o mesmo assunto em suas obras. Em 1927, Mário de Andrade – então cacique do modernismo brasileiro – visitava a Amazônia em sua famosa viagem de “Turista Aprendiz”, e, ao ser questionado sobre o que achou da capital do Amazonas, respondeu sem titubear que de “virgem de luxo” a cidade estava se transformando em “mulher fecunda”, garante a professora Aldrin Moura de Figueiredo, da Universidade Federal do Pará, na apresentação da obra de Ednéa Mascarenha Dias. A professora paraense ainda acrescenta, na obra A ILUSÃO DO FAUSTO: “Mário de Andrade viu com bons olhos esse duro aprendizado. Sem o dinheiro fácil da exportação do látex, os governantes locais teriam que ser criativos para produzir “uma nova florada de empreendimentos de alcance elevado”.

Com um misto de saudosismo inconfesso e alegria conformada, Thiago de Mello guardou na memória que, com a tal decadência da borracha, Manaus voltou a ser como antes: “pôde ser ela mesma, a viver de si mesma”. A cidade havia, afinal, empenhada um valor muito alto pelos benefícios da riqueza oriunda da exploração da goma, “ao preço da miséria e da servidão de milhares de caboclos”.  O fim dessa “virgem de luxo”, nas palavras de Mário de Andrade, era o consolo de quem não viveu os tempos eufóricos das “folies du látex.

Para se viver o Amazonas, no Amazonas e defender essa terra, a pessoa tem que conhecer sua história e não vir para cá com planilhas prontas, tudo no papel, achando que só porque tem conhecimentos acadêmicos pode se achar o dono de todo o saber, ensinando por que os caboclos ribeirinhos do Estado que, podem até não ser cultos,  mas têm experiência porque cultura não é tudo!

2 comentários:

  1. Concordo com o amigo, quando em seu último parágrafo, fala da importância da experiência, do conhecimento prático de sua terra, de sua gente. Isso realmente é muito importante. seria muito bom se houvesse a integração da formação acadêmica e da prática, da vivência real. Mas?...

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  2. O caboclo certamente não possui a chamada "cultura erudita", que seria confundida com conceitos de civilização, bons costumes, educação; no entanto, possui a "cultura popular", porque essa, todo e qualquer grupo possui, já que é um modo de viver e seus costumes.
    No caso em questão, a experiência é, sem dúvida, fundamental.

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