A minha neta Ana Carolina Cardoso da Costa,
de 12 anos.
Era um raro sábado de
sol na transição do inverno de chuva para o verão intenso em Manaus, no dia 28/05. Com minha esposa Yara Marilia e eu, fomos
buscar Ana Carolina, minha única neta
até agora, filha de meu filho mais velho. Ao entrar no apartamento, o
apresentei-a ao Carlos Costa Filho e disse ser irmão do Daniel por parte de pai. Ela lhe pediu a “benção”. Carlos Filho se assustou, mas estendeu-lhe a
mão e deu sua bênção e acrescentou “não quero ser babá de ninguém”. Contudo, reconheceu em Ana Carolina é uma moça
bem criada e muito educada!
Depois de nadar de um lado para o outro da grande piscina
do Condomínio Mundi, se enrolou em uma toalha do Flamengo e subiu para o
almoço. Ao se despedir de mim, como se
fosse a médica que deseja ser, aplicou-me um remédio doce com suas palavras, “saúde, vô. Sua benção”! Abençoei, abracei-a e Ana Carolina foi embora,
levada no carro pela minha esposa. Nadou feliz como se fosse uma sereia de cabelos
longos. Admirava-a em sua graciosidade de adolescente de 12 anos,
sentado em uma cadeira, fotografando e
filmando tudo com meu celular. Estava orgulhoso por tê-la me visitando pela
segunda vez! Ao mesmo tempo, fiquei triste ao pensar no que seu pai perdera por não ter
aceito meu segundo casamento, saído de
casa, depois ter comparecido em minha residência aos gritos quando soube do
nascimento do meu segundo filho, por não ter seguido os conselhos que lhe dava,
ter abandonado três cursos superiores – direito, comunicação social e educação
física - no primeiro período e antes das provas. Lembrei, ainda, de ter tentado
fugir pelo portão de sua Escola de Alfabetização, na Avenida Djalma Batista e a
sua professora lhe ter prensado o dedo no portão. Chegou a casa reclamando e lhe perguntei por que
ele tentara fugir da Escola? “Porque é chata e eu não gosto”. Estudar nunca foi fácil,
é chato mesmo, cansativo também, mas prazeroso no final é necessário para a ascensão
social! Eu era jornaleiro nas ruas de paralelepípedos e trilhos de bondes de
Manaus e hoje sou jornalista e assistente social.
Durante o almoço aconselhei-a
não perder o foco nos estudos “Não vô,
meu pai quer que eu tenha um futuro melhor do que o que ele não soube ter”.
Fiquei feliz e aliviado com a resposta. Ana
Carolina n revelou-me que desejava ser médica ou dentista, ainda não sabe ao
certo. Disse que as duas profissões ótimas e expliquei-me cada uma delas, como
se ainda fosse um professor em sala de aula, repassando meus conhecimentos aos alunos
da Faculdade Nilton Lins. Ela ficou pensativa. Lembrei-me de um poema de Gibran
Kalil que diz: “teus filhos não são teus
filhos/São filhas e filhas da
vida/nascidos de ti e arremessados como filha rumo ao sol...”. Os hormônios
já começaram a transformar e a mudar o corpo de 12 anos de Ana Carolina. Porém,
a mãe, Melry Cardoso é bem educada, congrega na Igreja área 24 da Assembleia de
Deus, na Avenida Constantino Nery, 200 e repassa tudo com carinho e amor
materno a minha neta. Depois que Ana Carolina foi levada para sua casa, a
saudade se apossou de meu coração, como se fosse uma forte ventania que derruba
tudo. Era uma saudade é inexplicável, que só se pode senti-la; não descrevê-lo
ou explica-la com palavras. Na memória
debilitada e corroída por 11 cirurgias desde 2006 para tratar de um impiema cerebral
e vivendo infectado por bactérias hospitalares
até hoje, veio-me à mente a frase do escritor, cronista, poeta e atualmente presidente da União Brasileira de
Escritores do Rio Grande do Norte, Antônio Gosson que, ao narrar desventuras da família Gosson, sempre que mencionava a morte de alguém a concluía
dizendo: “Eu não sabia que doía tanto!” Gosson,
tomo-lhe emprestado a frase linda, profunda e emocionante de seu
livro memorial e a mudarei sem sua
autorização, só para dizer a minha neta Ana Carolina: “Saudade: eu não sabia que doía tanto!”, mas é uma dor que não dói,
uma chama que arde e mas não queima. As bolhas
da saudade estouram e, de dentro, brotam líquido branco em forma de lágrimas.
No
local das queimaduras produzidas pela
saudade, pessoas passam pasta de dente para aliviar a dor
invisível; lavam-nas com sabão grosso
para retirar as lembranças; usam lama
para cicatrizar as feridas da saudade que apenas se sente no fundo do peito, dentro do
coração. Tudo inútil, dizem os médicos especialistas em queimaduras. Tudo,
porém, fruto desesperado de crendices populares para aliviar a dor da saudade e
nada mais...
Amei. Lindo.
ResponderExcluirAlô vô, gostei muito do que li, parabéns. O senhor é um exemplo para mim. Saúde!
ResponderExcluirMuito legal fico feliz por vc e sua neta. Que os sonhos dela se concretizem! Parabéns!
ResponderExcluirLindoo
ResponderExcluirNossa, que lindo fiquei emocionada .Por essa linda trajetória de vida
ResponderExcluirMuito bonito!
ResponderExcluirParabéns
nossa amigo dor seu coração,sua neta mudou-se pra longe não possa ve-la mais.agora convive com está dor saudade,vai ver neta amigo,não perca tempo..saudade Ana Carolina..boa tarde amigo lute pelo seus ideiais..abraço...
ResponderExcluirQue linda ... sei bem o que esse amor de avô, pois já tenho 6 netos que me dão grandes alegrias e suspiros de saudades.
ResponderExcluirmuito bom!!
ResponderExcluirMuito lindo. Parabéns!
ResponderExcluirCaro Carlos fico feliz por tua alegria com tua neta.
ResponderExcluirEu tenho um casal de netos e sei como nos fazem bem Quanto ao filho,fazer o quê né? Queremos o melhor.damos conselhos e eles fazem suas escolhas.muitas escolhas lhes levarão a ruína, mas...
maravilhosa crônica. Chorei, amigo!
ResponderExcluirParabéns! Bela cronica
ResponderExcluirEu li belíssimo me emocionei
ResponderExcluirBelíssima cronica
Belíssimo trabalho!
ResponderExcluirOi amigo. Texto lindo!
ResponderExcluirFascinante Carlos Costa. Gostei!
ResponderExcluirLindíssimo o teu texto. Parabéns
ResponderExcluirLindo texto amigo! também sinto muitas saudades dos meus pais que já se foram.
ResponderExcluirSaudade palavra com sentido de perda. ...mas uma perda que a qualquer momento pode- se busca-la e mata- la sem culpa...
ResponderExcluirMinha única neta, Maria Eduarda. é da mesma idade da tua. Pelo que falas, concluo que somos dois vovôs babões. Mas que avô assim não se comporta, diante de tão bela e estuante promessa de vida? A propósito, pergunto: Tens meu último livro,(O menino e o velho)? Se não o tens, informa teu endereço para que eu possa mandar-te um exemplar. Abraços. Vasconcelos..
ResponderExcluirLindíssima esse seu relato!!! Ótima crônica!!!
ResponderExcluir
ResponderExcluirFiquei curiosa em conhecer sua neta! Deve ser muito esperta!
Amigo:
ResponderExcluirBelíssima a sua crônica para a neta.Sobretudo, do meio para o fim!
obrigado pela citação do meu bordão -Eu não sabia que doía tanto!