Retornar ao município e
não poder rever o companheiro caboclo jornalista Roberval Vieira, seria como
não ter ido à “Velha Cerpa”.
Revê-lo, seria entrar em um túnel do tempo de boas lembranças. Não fazê-lo, seria
o mesmo que ter ido à cidade do Vaticano não ter visto o papa Francisco, tal a
importância que você representa na vida cultural da cidade de Itacoatiara, que
a adotou como se fosse seu filho legítimo, esse caboclo que nasceu no município
amazonense de Manicoré. “Onde mora o meu
amigo jornalista Roberval Vieira?”, perguntei à professora Ester Araújo, presidente
da AIL, após receber-me na bonita e limpa Rodoviária Municipal. “Não sei onde ele mora, mas o Nato Neto,
que é amigo dele e trabalha com o Raimundo Silva sabe e vai leva-lo lá” e
acrescentou: “ele foi convidado para
integrar os quadros da Academia de Letras, mas respondeu que a saúde frágil não
lhe permitia aceitar o convite”. Fiquei mais curioso para revê-lo e abraçá-lo.
Como era uma sexta-feira, desejei muito que o dia passasse rápido, como passou
para nós dois, só para reencontra-lo anos depois, já nos seus 70 anos de vida!
Durante a noite, sai
para abraçar a cidade onde tive a certeza da gravidez de meu primeiro e único
filho e lancei o primeiro e único livro de poesias, (DES) Construção...Não
lembro o ano, mas lembro de que contei
com a ajuda de companheiros inestimáveis como o advogado, brilhante
orador e hoje vereador e ex-presidente da Câmara por duas vezes, Raimundo
Silva, também membro da Academia. Como era muito conhecido na cidade em que
nasceu, pediu ao então presidente da Casa, na época, vereador José Resk, que
mandou abrir as portas do prédio antigo da Câmara Municipal do Município para
receber-me de braços abertos. Mas meu pensamento era logo chegar o sábado para
rever Roberval Vieira e foi lendo o seu livro “Memórias de um Repórter”, que soube que o José Resk já falecera de
AVC, em Manaus.
O sábado chegou e
saímos para novamente respirar o ar da cidade e rever alguns amigos queridos.
Estive na fazenda do João do Joca acompanhado do vereador Raimundo Silva e de
Nato Neto, que dirigia o carro. Depois, fomos ao prédio da Câmara Municipal. Ele
estava fechado, mas o ex-presidente bateu no vidro e o vigia o abriu. Raimundo
Silva, orgulhoso, queria mostrar-me o resgate histórico feito durante suas duas
gestões à frente da casa legislativa, prestando homenagens às pessoas ilustres
do passado, como a primeira vereadora do Brasil, professora Raimunda
Vasconcelos Dias, o deputado estadual João Valério de Oliveira e ao jornalista
Aguinelo Oliveira. Senti falta de homenagem ao também jornalista Herculano
Castro e Costa e a Miss Brasil, Terezinha Morango, quase miss universo. Mas sei que ainda serão
feitas.
Na volta das visitas, finalmente
chegamos a sua casa. Senti-me como se também estivesse entrando em um túnel do
tempo só meu. Há muito tempo não o encontrava. A cuidadora veio ver quem batia
palmas com tanta insistência como se fosse um louco e disse que você estava
dormindo. “Não tem problema, acorde-o e
diga-lhe que é um antigo amigo do jornal A NOTÍCIA, que veio de Manaus para
visitá-lo”. A cuidadora respondeu: “Ele
não gosta de ser acordado quando toma remédio para dormir”. Nato Neto disse
“vamos embora, depois você volta”.
Insisti. Pedi que dissesse que era o jornalista Carlos Costa. Ela abriu o
portão e entrei com o Nato Neto atrás de mim. Você, Roberval, nos recebeu na
cama, com dificuldades para ficar em pé!
Não esperava encontrá-lo
tão debilitado, usando uma bengala para apoiar-se, devido ao AVC que sofreu
duas vezes. Nem tão deprimido e se culpando pela morte de sua esposa e
companheira, assassinada em Manaus. Chorando baixo, disse-me não “fiz nada para defendê-la”. Pelo carinho
que você falou dela e pelo choro rápido que teve, ela fora muito importante em sua vida, como minha Yara Queiroz também o
é na minha. Abraçamo-nos muito e esqueci-me de entregar-lhe o livro científico na área do Serviço Social, “O CAMINHO
NÃO PERCORRIDO – A TRAJETÓRIA DOS ASSISTENTES SOCIAIS MASCULINOS EM MANAUS” reescrito
e publicado pela Editora da Universidade do Amazonas, que seria lançado logo
mais à noite na Academia de Letras da cidade. A obra estava no carro do Nato
Neto. A levei autografada especialmente para você e, traído pela emoção do
reencontro, não lhe entreguei, companheiro! A emoção foi tanta que choramos os
dois, abraçados fortemente. Eu lamentando pela vida de infectado por bactérias
hospitalares que levo desde 2006 e você se culpando pela vida que passou a
viver! Somos dois guerreiros pela vida e, tomando remédios como se fossem
armas, prolongando o quando forem possíveis nossas vidas, amigo!
Você se abaixou e
retirou um livro e autografou-o na hora para mim. O li as “Memórias
de um Repórter”. Elas remeteram-me a grandes lembranças de quando nos
encontrávamos em Manaus, durante as caldeirada de tucunaré, patrocinada pela advogada
Letícia Teles Guimarães, em seu barzinho na Avenida Tarumã, onde um angolano
sorridente nos servia. Desses encontros, surgiram histórias hilariantes no
jornalismo de então, com a criação de personagens como o “Nego Angola”, “Chupa-Chupa”, “Mão Branca”, algumas das criações
geniais dos jornalistas policiais Luiz Octávio Monteiro, de A NOTÍCIA e Altair Rodrigues, de A CRÍTICA, que rivalizavam entre si.
Durante as conversas, você me contava sobre as aventuras no interior do Estado
do Estado, de suas viagens de barcos e lia suas belíssimas e suaves crônicas
publicadas nos jornais de Manaus. De tanto defender o que acreditava ser o correto e a inclusão do
município de Itacoatiara no cenário político do Estado, fui conhecer ainda adolescente, a terra na qual você não
nasceu, mas a adotou por ser da família de seus avós.
Depois que o deixei com
a alegria do dever cumprido e o reencontro sendo registrado pelo companheiro
Nato Neto, deixei sua casa mais leve e me questionando porque o tempo anda tão
rápido e nos envelhece tanto. Dos jovens que éramos o tempo nos transformou em
dois velhos cheios de lembranças para registrar, o que estamos fazendo!
Realmente uma lição de vida, valeu.
ResponderExcluirParabéns aos dois....
ResponderExcluirA amizade nunca acaba..
Que essa amizade nunca acaba..
ResponderExcluirAmizade linda que resiste ao tempo!
ResponderExcluirAmizade que nunca acaba!
ResponderExcluirParabens...envrlhecem e continuam amigos
ResponderExcluirParabens...!
ResponderExcluirQue lindo e Emocionante Relato Carlos Costa.
ResponderExcluirvocê sabe descrever as coisas... Fiquei visualizando seu amigo e sua bengala... Muito bom!
ResponderExcluirMeu querido Carlos Costa, ao ler sua publicação passou um filme na minha cabeça do seu reencontro ao nosso querido jornalista Roberval Vieira, homem de grande valor na nossa Itacoatiara, foi amigo e vizinho do meu avô Eliezer por um tempo.
ExcluirSeu coração mostra estar carimbado por pessoas que são os sempre de todos instante dentro do seu amor.
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