terça-feira, 27 de setembro de 2016

TÚNEL DO TEMPO!



Retornar ao município e não poder rever o companheiro caboclo jornalista Roberval Vieira, seria como não ter ido à “Velha Cerpa”. Revê-lo, seria entrar em um túnel do tempo de boas lembranças. Não fazê-lo, seria o mesmo que ter ido à cidade do Vaticano não ter visto o papa Francisco, tal a importância que você representa na vida cultural da cidade de Itacoatiara, que a adotou como se fosse seu filho legítimo, esse caboclo que nasceu no município amazonense de Manicoré. “Onde mora o meu amigo jornalista Roberval Vieira?”, perguntei à professora Ester Araújo, presidente da AIL, após receber-me na bonita e limpa Rodoviária Municipal. “Não sei onde ele mora, mas o Nato Neto, que é amigo dele e trabalha com o Raimundo Silva sabe e vai leva-lo lá” e acrescentou: “ele foi convidado para integrar os quadros da Academia de Letras, mas respondeu que a saúde frágil não lhe permitia aceitar o convite”. Fiquei mais curioso para revê-lo e abraçá-lo. Como era uma sexta-feira, desejei muito que o dia passasse rápido, como passou para nós dois, só para reencontra-lo anos depois, já nos seus 70 anos de vida!

Durante a noite, sai para abraçar a cidade onde tive a certeza da gravidez de meu primeiro e único filho e lancei o primeiro e único livro de poesias, (DES) Construção...Não lembro o ano, mas lembro de que contei  com a ajuda de companheiros inestimáveis como o advogado, brilhante orador e hoje vereador e ex-presidente da Câmara por duas vezes, Raimundo Silva, também membro da Academia. Como era muito conhecido na cidade em que nasceu, pediu ao então presidente da Casa, na época, vereador José Resk, que mandou abrir as portas do prédio antigo da Câmara Municipal do Município para receber-me de braços abertos. Mas meu pensamento era logo chegar o sábado para rever Roberval Vieira e foi lendo o seu livro “Memórias de um Repórter”, que soube que o José Resk já falecera de AVC, em Manaus.

O sábado chegou e saímos para novamente respirar o ar da cidade e rever alguns amigos queridos. Estive na fazenda do João do Joca acompanhado do vereador Raimundo Silva e de Nato Neto, que dirigia o carro. Depois, fomos ao prédio da Câmara Municipal. Ele estava fechado, mas o ex-presidente bateu no vidro e o vigia o abriu. Raimundo Silva, orgulhoso, queria mostrar-me o resgate histórico feito durante suas duas gestões à frente da casa legislativa, prestando homenagens às pessoas ilustres do passado, como a primeira vereadora do Brasil, professora Raimunda Vasconcelos Dias, o deputado estadual João Valério de Oliveira e ao jornalista Aguinelo Oliveira. Senti falta de homenagem ao também jornalista Herculano Castro e Costa e a Miss Brasil, Terezinha Morango,  quase miss universo. Mas sei que ainda serão feitas.

Na volta das visitas, finalmente chegamos a sua casa. Senti-me como se também estivesse entrando em um túnel do tempo só meu. Há muito tempo não o encontrava. A cuidadora veio ver quem batia palmas com tanta insistência como se fosse um louco e disse que você estava dormindo. “Não tem problema, acorde-o e diga-lhe que é um antigo amigo do jornal A NOTÍCIA, que veio de Manaus para visitá-lo”. A cuidadora respondeu: “Ele não gosta de ser acordado quando toma remédio para dormir”. Nato Neto disse “vamos embora, depois você volta”. Insisti. Pedi que dissesse que era o jornalista Carlos Costa.  Ela abriu o portão e entrei com o Nato Neto atrás de mim. Você, Roberval, nos recebeu na cama, com dificuldades para ficar em pé!

Não esperava encontrá-lo tão debilitado, usando uma bengala para apoiar-se, devido ao AVC que sofreu duas vezes. Nem tão deprimido e se culpando pela morte de sua esposa e companheira, assassinada em Manaus. Chorando baixo, disse-me não “fiz nada para defendê-la”. Pelo carinho que você falou dela e pelo choro rápido que teve, ela fora muito importante  em sua vida, como minha Yara Queiroz também o é na minha. Abraçamo-nos muito e esqueci-me de entregar-lhe o livro científico na área do Serviço Social, “O CAMINHO NÃO PERCORRIDO – A TRAJETÓRIA DOS ASSISTENTES SOCIAIS MASCULINOS EM MANAUS” reescrito e publicado pela Editora da Universidade do Amazonas, que seria lançado logo mais à noite na Academia de Letras da cidade. A obra estava no carro do Nato Neto. A levei autografada especialmente para você e, traído pela emoção do reencontro, não lhe entreguei, companheiro! A emoção foi tanta que choramos os dois, abraçados fortemente. Eu lamentando pela vida de infectado por bactérias hospitalares que levo desde 2006 e você se culpando pela vida que passou a viver! Somos dois guerreiros pela vida e, tomando remédios como se fossem armas, prolongando o quando forem possíveis nossas vidas, amigo!

Você se abaixou e retirou um livro e autografou-o na hora para mim.  O li as “Memórias de um Repórter”. Elas remeteram-me a grandes lembranças de quando nos encontrávamos em Manaus, durante as caldeirada de tucunaré, patrocinada pela advogada Letícia Teles Guimarães, em seu barzinho na Avenida Tarumã, onde um angolano sorridente nos servia. Desses encontros, surgiram histórias hilariantes no jornalismo de então, com a criação de personagens como o “Nego Angola”, “Chupa-Chupa”, “Mão Branca”, algumas das criações geniais dos jornalistas policiais Luiz Octávio Monteiro, de A NOTÍCIA e Altair Rodrigues, de A CRÍTICA, que rivalizavam entre si. Durante as conversas, você me contava sobre as aventuras no interior do Estado do Estado, de suas viagens de barcos e lia suas belíssimas e suaves crônicas publicadas nos jornais de Manaus. De tanto defender o que  acreditava ser o correto e a inclusão do município de Itacoatiara no cenário político do Estado, fui conhecer  ainda adolescente, a terra na qual você não nasceu, mas a adotou por ser da família de seus avós.

Depois que o deixei com a alegria do dever cumprido e o reencontro sendo registrado pelo companheiro Nato Neto, deixei sua casa mais leve e me questionando porque o tempo anda tão rápido e nos envelhece tanto. Dos jovens que éramos o tempo nos transformou em dois velhos cheios de lembranças para registrar, o que estamos fazendo!


11 comentários:

  1. Realmente uma lição de vida, valeu.

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  2. Roberval Vieira Júnior28 de setembro de 2016 às 03:31

    Parabéns aos dois....
    A amizade nunca acaba..

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  3. Que essa amizade nunca acaba..

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  4. Amizade linda que resiste ao tempo!

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  5. Amizade que nunca acaba!

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  6. Parabens...envrlhecem e continuam amigos

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  7. Elem Bezerra do Amaral Amaral28 de setembro de 2016 às 06:39

    Que lindo e Emocionante Relato Carlos Costa.

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  8. você sabe descrever as coisas... Fiquei visualizando seu amigo e sua bengala... Muito bom!

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    1. Meu querido Carlos Costa, ao ler sua publicação passou um filme na minha cabeça do seu reencontro ao nosso querido jornalista Roberval Vieira, homem de grande valor na nossa Itacoatiara, foi amigo e vizinho do meu avô Eliezer por um tempo.

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  9. Seu coração mostra estar carimbado por pessoas que são os sempre de todos instante dentro do seu amor.

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