(in CRÔNICAS COMPROMETIDAS COM A TUA VIDA, 1986 – Manaus, com trechos dessa crônica utilizados na composição do livro O HOMEM DA ROSA, 1988, indicado ao prêmio Jabuti)
São doces os caminhos que levam o homem de volta aos braços da mulher amada. Não a amada de ontem, cujos saborosos momentos se perderam nas nuvens do passado, buscando em algum lugar a força e a sustentação para o insustentável; mas a uma mais íntima – uma cuja boca não pronuncia outro nome que não seja o seu e ele se transforma em um menino, ansioso para abraçá-la, beijá-la, tocá-la; uma onde nasceu, cresceu e vive a certeza de ser amada, plantar canções, colher filhos e, ao sabor dos ventos, balançar em redes os sentimentos.
Sim, são doces os caminhos do homem que volta a sua amada, e tão mais doces e curtos são esses caminhos se lhes restar lembranças de algum instante que teve, viu, sentiu e explorou em braços e bocas de outras amadas.
Doces também são as amarguras e os sofrimentos vividos ao lado da mulher amada. Tudo que é difícil fica fácil, tudo que parece impossível se torna realizável. O coração bate mais forte; a amada sempre disposta a compreender, amar e perdoar.
Em algum lugar, distante ou perto, os olhos da mulher amada os acompanham; se não os conduz sempre pelos melhores caminhos, ao menos os auxiliam nos momentos de escuridão. Se apagados ficam os olhos da mulher amada, caminhos outros podem ser percorridos difícil fica o retorno.
Ciente e doce, volta o homem para os braços da mulher amada, cheia de paixões. Ele não vê ruas, atravessa avenidas, cruzas praças, passa os abismos e não sente obstáculos. Se for preciso, flutua, pula edifícios, passa pela fogueira e sempre chega aos braços de seus sonhos.
Ah, como é criança o homem apaixonado, capaz de se tornar dócil e brincar com os brinquedos do seu coração. Não vê o amanhã, não pensa no depois e se estira no tempo para sempre estar ao lado da mulher amada.
Feliz o homem que decide voltar aos braços da mulher amada, mesmo que não seja a primeira; porque logo vem a realidade e o homem que ama também chora, mesmo que esteja nos braços de outra mulher. Adorável é o pretexto noturno, único caminho para as fugas rumo aos braços da mulher amada.
Do amor à mulher amada, o homem sempre guardará lembranças em forma de profundas raízes, onde se plantou uma grande árvore que deu frutos. À amada, o homem guardará um lugar para sempre e nele estará a sua imagem, dentro do coração, capaz de refletir o futuro e lembrar que um dia foi doce o caminho de volta para os braços da mulher amada.