Levei pela primeira vez meu filho a um cinema quando tinha apenas seis anos de idade. Todo serelepe, largou minha mão e saiu correndo pelo escuro, seguindo somente as luzes amarelas colocadas ao chão, indicando emergência.
Sentando-se na poltrona, percebeu que o cinema era escuro demais e pediu que eu acendesse as luzes e, em seguida, pediu o “controlho” para ligar a televisão grande, ou seja, a tela.
Eu disse a ele que não podia acender as luzes e que não haveria controle algum para ligar a televisão grande, porque aquilo era um cinema.
Ele nunca tinha entrado em um cinema e fomos ver um filme de sessão livre. Só que antes de projetarem a exibição do filme livre, exibiram vários treleres de filmes adultos de violência e outros gêneros adultos.
Meu filho, vendo-as, perguntou-me: “é isso que o senhor e a mamãe assistem quando vêm ao cinema, e nunca me trazem junto?” Respondi que era. Em seguida ele voltou a me perguntar, espantado: “é isso que vocês assistem, por isso eu não posso vir junto?”. Respondi “sim” mais uma vez.
Ora, se o filme é para criança, livre, o CONCINE – Conselho Nacional de Cinema, deveria orientar que fossem exibidos apenas treleres de filmes para crianças, e não filmes para adultos, com a famosa frase ao final: “consulte e verifique a faixa etária desse filme”.
Quando decidi ir ao cinema com minha esposa assistir ao filme “Bruna Surfistinha”, observei muitas garotas adolescentes entrando com seus pais para assistir ao mesmo filme também.
Não estou defendendo a volta da censura, mas somente que Decreto número 93.882, de 23 de dezembro de l986, que dispõe sobre a criação do Conselho Nacional de Cinema, que tem por finalidade disciplinar as atividades cinematográficas em todo o território nacional, por meio de normatização, controle e fiscalização e dá outras providências, vinculado ao Ministério da Cultura, seja modificado para que só exibam treleres de filmes infantis, quando o filme for para crianças.
Ou então, que seja instituída novamente a presença dos agentes pagos ou voluntários do Juizado de Menores que ficavam nas portas dos cinemas verificando uma a uma a idade das pessoas menores que entravam.
Olhavam as identidades e a foto até se convencerem que a pessoa tinha mesmo a idade que constava na CI, muito embora nos anos 70 fosse muito difícil ou quase impossível se falsificar uma Identidade.
Lembro com saudade do “Xerife” que era uma espécie de fiscal no antigo e já demolido Cinema Guarany, de propriedade de Adriano Bernardino que, à porta, com uma bota de caubói e uma estrela de xerife ao peito - daí seu apelido - conferia a idade das pessoas que entravam nas sessões “não recomendadas para crianças”.
Eu mesmo usava calças de bocas largas, sapatos tipo Luiz XV, branco e preto, para parecer mais alto e tentar enganá-lo, mas não conseguia porque ele sempre levantava a minha calça e constatava meu sapato alto e não me deixava entrar.
E dizia: “tá tentando me enganar, é? Aqui você não entra!”. E não entrava mesmo! Por mais argumentos que tivesse para usá-los na hora.
Muito raramente, esse expediente surtia efeito e não assistíamos filme “não recomendado para menores” que, perto dos que exibem hoje, ficavam todos no chinelo! Os tempos mudaram, a vida mudou; acho que só eu não mudei; mas estou tentando!
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