domingo, 1 de maio de 2011

MÚSICAS DE UM PASSADO QUE NÃO ESQUEÇO


                “Fui ao tororó/beber água e não achei/encontrei pela morena/Que no tororó deixei...”, “Eu vou/eu vou/pra casa agora eu vou...”. E fazia continência, como se tivesse marchando mesmo!
                Fui despertado de meu sono em supermercado que costumo frequentar em Manaus, aos sábados, e fiquei surpreso ao ver quem as entoava era uma criança de no máximo uns 6 anos de idade, dando seguidas voltas em torno de sua mãe.
                - Senhora, senhora – perguntei à mulher a quem ele volteava, imaginando ser sua mãe -  quem ensinou essas músicas para essa criança? Ele canta e ainda as interpreta! Incrível! Nunca vi uma coisa dessas entre crianças!
                - A avó as ensinou e nunca mais ele as esqueceu e sempre que pode, as canta até hoje!
                Fiquei surpreso e feliz ao mesmo tempo. Surpreso por ser uma criança e feliz porque passei a entender melhor os psicólogos infantis que defendem a teoria de que as crianças nascem como se tivessem no cérebro uma folha de papel em branco a ser preenchida com as lembranças do tempo.
                Talvez seja por isso que meu filho até hoje decorou e sempre entoa uma música que eu cantava próximo ao ventre de minha esposa, quando estava grávida – “Era um garoto/que como eu/amava os Beatles e os Roling Stones/Girava o mundo/sempre a cantar/as coisas lindas da América...” para acalmá-lo, sempre que  se agitava e chutava muito. Depois que eu cantava meu filho que ainda ia nascer se acalmava.
                Mais novo ainda, recém-nascido, pedia emprestado um aparelho de som com essa música só para cantá-la. Nunca esqueci os momentos felizes que a mim proporcionou, no colo de sua babá,  rindo dele próprio e de suas próprias brincadeiras.
                Talvez fosse por isso que a criança estava entoando as músicas que a avó as ensinou. Fiquei encantado com a precocidade da criança, feliz por ouvi-la e por ter sido acordado dos remédios controlados que tomo para não ter novas convulsões, com músicas tão agradáveis.
                Comecei a rir dentro de mim mesmo, lembrando das brincadeiras e músicas que entoei no meu passado, quando não se tinham tantos apartamentos, mas sim casas com quintais, terrenos baldios, onde praticávamos as brincadeiras e as cantorias.
                Mário Ypiranga Monteiro, um dos maiores folcloristas do Amazonas, com o qual tive algumas desavenças pela imprensa no passado, se dedicou a pesquisar essas músicas e propor a criação de cirandas, onde eram cantadas as músicas pesquisadas por ele. Era um pesquisador tão detalhista, que explicava em seus livros como deveriam ser compostas as rodas de cirandas e entoado as músicas resgatadas e por ele. E muitas o foram através de suas pesquisas.
                O pesquisador já faleceu. Hoje é nome de Rua em Manaus e só me resta lembrar essas coisas boas de um passado não tão distante. Com saudades!
                Felicito o Secretário Municipal de Esporte e Lazer de Manaus, Fabrício Lima, um jovem ainda, por estar resgatando as brincadeiras de minha infância – perna de pau, canga-pé, barra-bandeira, bolinhas de gude, 31 alerta e muitas outras de minha infância e de tantos outros que, como eu, já passaram dos 50 anos e hoje só têm lembranças e saudades!
               
                              

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