(para Yara Marília, minha esposa, nos 15 anos de casados)
A rosa, o tempo e a vida se fundem em uma coisa só! Mas o tempo faz brotar lentamente o perfume da rosa, arrancando suas pétalas, os espinhos e transformando-a em coisa indefinida, indefesa e triste diante da implacável rotina de um casal. Mesmo assim, ainda prefiro sentir o perfume da rosa em vida do que depois de morto, depositadas sob meu corpo, em cima de meu caixão inerte que o tempo destruirá também!
Nos quinze anos de vida em comum, o cristal foi se quebrando aos poucos. Remendamos com as esperanças que nos restaram, mas a cola está sendo fraca. De vez em quando um novo pedaço se esvai...pelas inquietudes de nossos temperamentos fortes, as desconfianças que restaram de um passado que não se repete mais!
Embora o cristal esteja com fissura e destruindo a rosa com seu corte, penso que esta flor ainda exala um perfume; embora também os erros do passado sejam sempre ingratos e nos perseguem pelo resto da vida; ainda me resta esperança...
Mas hoje não há espaço para tristeza; alegrias ainda nos sobram, como quando eu a conheci dentro de um vestido amarelo, na cantina da Faculdade.
Não era um desconhecido para você; nem você era para mim. Conversamos rapidamente porque tinha que voltar para o seu curso de biblioteconomia e eu para a sala do curso de serviço social. Estávamos diferentes, mas continuávamos os mesmos. As pedras que enfrentamos na vida nos produziram dores e nos fizeram sofrer pelos caminhos... Mas resistimos e nos reencontramos.
Decidimos nos casar. No início, tudo foi maravilhoso! Depois, começaram a aparecer os defeitos e as provações. Cometemos pequenos deslizes (mais eu que você), superados pela força do amor. Restou-nos, ao final, um amor, forte e verdadeiro, mas, às vezes, fragilizado. Unimos novamente nossos cacos, reconstruímos nossos pedaços e formamos novo vaso de cristal. Seguimos em frente.
Eu errei; você errou, mas o perfume da rosa continuou expelindo sobre nós a gratidão, o perdão e um sentimento mais forte: o amor puro e verdadeiro! Não foi fácil vivermos quinze anos juntos, mas sabíamos que seria difícil a convivência por todo esse tempo, como está sendo...mas pelo menos estamos recebendo o perfume das flores que nos restaram e das dores que semeamos pelos nossos caminhos, construídos pelo amor, regados pelo ciúme e alimentados pela esperança.