sexta-feira, 17 de agosto de 2012

MÚSICA AO LONGE


Incorporei a moda indígena de tomar vários banhos durante o dia, começando pontualmente às 7H30 da manhã, ao fim do programa jornalístico Bom dia Brasil que também adotei como mais um de meus diversos hábitos matinais; durante o banho, ouço vozes de crianças correndo e cantando alegres de um jardim de infância e músicas de uma escola pública aos fundos do prédio onde moro provisoriamente alugado na Rua Mário Ypiranga, em Manaus

Esses agradáveis momentos de prazer mediáticos com a algazarra da garotada e as músicas que ouço me remetem à infância, quando também corria, gritava e cantava pelos corredores do Grupo Escolar Adalberto Vale, no Morro da Liberdade e era “obrigado” a cantar o Hino Nacional, junto com outros alunos da escola.

Recordo-me quando a diretora Alda Filgueira Peres colocava todos os alunos para cantar o Hino Nacional, perfilados, com a mão no peito, dizendo ser obrigatório sempre, porque representava ato de “amor à pátria”, que nem sabíamos do que se tratava, ainda. Muitos desconheciam a letra da música e só faziam movimentos labiais sem emitir qualquer som, como fazem hoje muitos jogadores de futebol, antes das partidas.

Mas cantávamos ao sol quente, com orgulho e satisfação, olhando fixamente para a Bandeira do Brasil sendo hasteada, embora desconhecêssemos o porquê e a razão daquele ato cívico imposto a todos. O Governo do Brasil era de militares, mas só soubemos e compreender isso bem mais tarde! Éramos apenas alunos peraltas  sem noção e entendimento de nada, ainda!

Tínhamos que cantar se não éramos punidos pela diretora e temíamos o castigo que a “desobediência” viesse a acarretar porque no dia seguinte, só podíamos voltar à frequentar a Escola se o pai ou a mãe comparecesse ao Grupo Escolar para explicar nossos atos de “rebeldia”. Chegamos a enganar a diretora muitas vezes, levando a irmã de um colega para representar todas as mães dos punidos.

Nunca fui punido mais de um dia, ao pular por uma janela do Grupo Escola de uma carteira de dois lugares com um local para se guardar livros embaixo, escorreguei e quebrei a testa ao bater em uma janela. Tentava escapar da brincadeira de um colega que não gostava: “o Corredor Polonês”.

Fui levado ao Pronto Socorro Getúlio Vargas, no fusca amarelo da diretora em uma viagem agradável.  Deveria ter quebrado a cabeça outras vezes, só para ter o prazer de desfrutar e conhecer mais o lado humano da diretora durona. Mais poucos tiveram o prazer de conhecer e desfrutar desse seu outro lado. Depois fui deixado em casa de meus pais no bairro da Betânia, levei a maior bronca de minha mãe. Ela quis saber o que tinha acontecido.

Eu lhe contei, ela me deu razão e fui deitar! Ufa!

Os boleros gostosos de sax que ouço agora em meu banho matinal, também foram ouvidos em um bar que funcionava em frente da Escola Estadual Dorval Porto, para onde fui transferido depois: um professor de música que me ensinou sobre Bethovem, Bach, Mozart, gostava de frequentar um bar que funcionava em frente, com a presença de mulheres de vida noturna não tão fácil que dançavam.

O professor adorava ouvir boleros e acho que passei a gostar do gênero por influência dele. Eu o acompanhava ao local, embora fosse menor. “Com o pai, também não pode frequentar?”, questionava ele, quando inquirido sobre minha presença.

Ah, que lembranças agradáveis perdidas e nunca esquecidas!