Maria Benedita da Silva, do Estado do Pará,
enquanto chora a morte de sua filha de 11 anos em troca de uma cesta básica,
lembra da promessa que os assassinos lhe fizeram: “vou comprar uma cesta básica
e levar para a senhora. Sua filha vai estudar...”.
Não estudou e nem estudará a filha de Maria
Benedita da Silva, pois do cemitério
aonde passou a residir até a escola em que a menina estudaria é uma distância
eterna e a garota tem medo de fantasma de outros mortos vivos iguais ou piores
do que seus patrões!
Por que morreu a filha de Maria Benedita da Silva?
Por que ela não fora matriculada na Escola? Por que ela teve que trabalhar
cuidando de outra criança como ela, tão cheia de sonhos...? Culpar a mãe?
Nunca! Culpar o Estado do Pará? Culpar a quem, então?
Ninguém tem culpa diretamente pela morte da filha
de Maria Benedita da Silva, mas a sociedade e o Governo são indiretamente
culpados pelo crime! A sociedade, porque aceita passivamente as migalhas em
forma de bolsas e o Governo por não ter criado bolsa funerária que ampare
pobres pais de famílias como a de Maria Benedita da Silva e muitas outras
crianças.
Enquanto só no Estado do Pará ainda existem 11 mil
crianças e adolescentes trabalhando e sonhando ter profissão de médico,
engenheiro, advogado, dentista, assistente social, jornalista ou outras, o
Governo não oferece cursos profissionalizantes aos pais ou um tipo de bolsa que
seja direcionada aos pais dessas 11 mil crianças e adolescentes que trabalham
para que ingressem no mercado de trabalho formal.
Enquanto os pais sem empregos deixam crianças e
adolescentes perderem suas infâncias trabalhando como domésticas ou babás,
situação considerada normal por quem precisa e entregam suas crianças para
famílias da capital em troca de promessas de cestas básicas e educação, o
Governo deixa de criar a bolsa pelo menos funerária para apoiá-los...
Dona Maria Benedita, se os patrões de sua filha
deixarem a cadeia, não forem julgados ou forem absolvidos, o que não será
difícil nos dias da Justiça de hoje, e ainda forem cumprir a promessa de lhe
oferecer cesta básica, não a receba porque ela estará manchada com o sangue de
sua filha, por mais que a fome se faça
presente!
O Governo, que tem tanta bolsa para transferência
de renda, ainda não criou a bolsa transferência de renda para a morte de sua e
de outras crianças que também são enganadas com promessas e morrem. O pior de
tudo isso, dona Maria Benedita, é que o Governo ainda lucrou com a morte de sua
filha cobrando impostos sobre o caixão, vela, flores e outras coisas
necessárias ao enterro de sua criança. Hoje, dona Maria Benedita, sua filha não
vai para a Escola porque está morta; a escola fica muito longe e ela ainda tem
medo de fantasma de pessoas vivas que maltratam, espancam e até matam outras
crianças em nome de uma ilusão, sonho e promessas...!!!
E ainda há quem acredite na idéia da Organização
Internacional do Trabalho que será possível erradicar até 2015 o trabalho do
menor de 5 a 9 anos que trabalha, como a filha de dona Maria Benedita, do Pará,
que morreu aos 11 anos de idade, cuidando de crianças de seus patrões.
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