(para o Dr. Rogelio Casado)
Socorro Refiskalev, integrante de um grupo de terapia ocupacional, o psiquiatra do hospital Rogelio Casado e o servidor da Secretaria de Saúde, Stanley, lotado na Comunicação Social, acreditaram que seria possível realizar uma exposição de pintura de quadros de internos do Centro Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, que faziam parte de um grupo de terapia ocupacional.
Sob o comando da jornalista Flávia Moreira de Messias, eu também acreditei e decidimos promover a exposição no hall da Assembléia Legislativa do Estado, sob a presidência do deputado e poeta Homero de Miranda Leão, com o apoio de alguns empresários que doaram os folders coloridos com fotos dos quadros.
Devido ao impacto positivo junto à mídia e à sociedade, que não acreditava serem de pacientes internos os quadros com cores fortes e traços firmes com tinta a óleo sobre tela, alguns psicodélicos e outros nem tanto, decidi prolongar a exposição. Falei com o secretário de Saúde, Humberto Figlioulo, de quem era seu assessor de comunicação, e decidimos fazer a exposição também no hall do Instituto de Educação do Amazonas. Foi mais um resultado positivo e estava impressionado com a admiração e incredulidade de pessoas ditas “normais”.
Era difícil para quem via as obras, acreditar que todos os mais de 20 quadros expostos, retratando em cores fortes cada momento de pacientes em terapia. Então, passei a entender que a diferença que separa a loucura da sanidade: um preconceito e uma convenção social excludente, mais um muro de hospital, no caso o Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, inaugurado em 1894.
Devido a Lei de Reforma Psiquiátrica, sancionada há quase dez anos, o Hospital, hoje quase um “elefante branco”, será substituído por três Centros de Atenção Psicossocial -CAPS, com unidades nas Zonas Norte, Leste e Centro-Sul, mas acredito serem insuficientes para atender a uma população de quase dois milhões de habitantes, trabalhando com liberdade terapêutica.
Compreendi que as pessoas normais não entendem a beleza que brota da alma e do coração de pessoas que foram alijadas do convívio social, mas conseguem caminhar livremente por entre árvores, sentir a brisa e o frescor da natureza, ouvir o canto dos pássaros, presas por entre muros e produzindo quadros tão lindos e chocantes; não importando se estão bem ou pessimamente vestidas e que não vivem em função das pessoas consideradas “normais” que matam, roubam, agridem e não se entendem...
Será, também, que algum dos quadros expostos nos halls da ALE e do IEA será colocado nos halls dos novos Centros de Tratamentos que substituirão o Eduardo Ribeiro?
Espero que sim!
Na verdade, a rede de serviços que substituem o hospício até o presente momento está limitada a três serviços; justamente os CAPS que voce mencionou. Ela deve se maior que isso. Confira a Política de Saúde Mental que se encontra no meu blog: www.rogeliocasado.blogspot.com A criação dessa rede é responsabilidade do município, cabendo ao estado a oferta de leitos psiquiátricos em hospital geral. Espero que o velho hospício vire uma tela na parede. Uma sociedade justa não precisa de hospícios. Creio que, na época da exposição, o presidente da Assembléia Legislativa era outro parlamentar: o saudoso deputado Homero de Miranda Leão já estava entre nós. Fico agradecido pelo seu artigo, que registra um momento singular na nossa caminhada na luta por uma sociedade sem manicômios.
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