terça-feira, 22 de maio de 2012

"ENGOMANDO ROUPAS COM FERRO A CARVÃO"!

Sempre via minha mãe colocando um monte de roupas dentro de uma enorme bacia com água, tendo uma coisa branca dentro da água dizendo que era para engomá-las depois, mas nunca entendi direito o que ela queria dizer com isso. Depois, tirava-as da bacia e as entendia em um enorme varal, dizendo que era para “quarar”. Também não entendia o que isso quisesse dizer.

Depois de “engomadas” e “quaradas” ao sol a pilha de roupa,   minha mãe pegava um pesado ferro preto, com uma enorme boca, abria-o meio como se o fosse dividi-lo em duas partes.

Em seguida, colocava carvão e o soprava pela sua boca, onde existia uma espécie de tampa para prender o calor, até ficar quente.  Depois de um tempo soprando ar para dentro da boca do ferro -  minha mãe,  uma senhora pequena, baixa e magra , levava um dedo à boca, pegava um pouco de saliva, encostava no fundo do ferro, e só, então, começava a engomar uma a uma todas as roupas, sempre usando um pequeno pano branco úmido no ombro, que também não entendia para que servia.

Achava interessante todo esse ritual de minha mãe, mesmo sem entendê-lo.

Agora, entendi, depois de questionar com a secretária doméstica que trabalha em minha casa, quase tão idosa quando minha mãe: o pano no ombro era para umedecer a goma das roupas colocadas no “quarador”, para  depois receber o calor do ferro quente com brasa de engomar; as camisas, principalmente nas golas e nas mangas, ficavam duras como se fossem andar sozinhas e as calças ficavam nas partes em que deveriam ficar. Por horas, imaginava as calças e as camisas se vestindo a si mesmas e saindo para os bailes, de tão duras e perfeitas que ficavam depois de “quaradas” e “engomadas”.  

Achava interessante esse fantástico trabalho de minha mãe. O resultado tinha que ficar perfeito. E sempre ficava!

O ferro de engomar que minha mãe utilizava na comunidade de Varre-Vento começou a ter sua história contada a partir do século XVII, quando chegou a ser conhecido como “ferro de lavadeiras” e  era usado com água quente, carvão, gás, gasolina e álcool. A patente do primeiro ferro de engomar só foi registrada em 1882 em nome do americano Henri W. Seely; já com o ferro elétrico, só em 1926.

Mas isso não importava muito, porque eu gostava de ver mesmo era o final do serviço de minha mãe, retirando as roupas de dentro da bacia, esfregando-as de vez em quando com o pano branco e úmido que sempre trazia aos ombros e passando o ferro cheio de brasa de carvão.

Ficavam durinhas, como se houvesse goma em todas elas. E havia mesmo!

- “Vou engomar roupa”!

Ainda é uma expressão que ainda está em voga.

Uma pena que não se “quara” mais quase nada, por falta de espaço dentro de “apertamentos” que estão sendo construídos cada vez menores. Será que é por pura falta de espaço nos terrenos ou por que os engenheiros modernos não conheceram as belezas de um passado gostoso e não tão distante assim? Eis a questão!