“Pelo fato de eu ser muito grande, chamar a atenção, (...) fui abusada, então eu sei o que é; (...) sei o que uma criança sente. A gente sente vergonha e (...) não quer falar sobre isso. A gente acha que a (...) é culpada. Eu sempre achei que eu estava fazendo alguma coisa: ou era minha roupa ou era o que (eu) fazia que chamava (chamasse) a atenção, porque não foi uma pessoa, foram algumas pessoas que fizeram isso. E em situações diferentes, em momentos diferentes da minha vida”.
“Então ao invés de eu falar para as pessoas, (...) tinha vergonha, me calava, me sentia mal, me sentia suja, me sentia errada. E se eu não tivesse uma mãe, se eu não tivesse o amor da minha mãe, (...) teria ido embora, porque o medo de você ter aquelas sensações de novo, passar por tudo isso, é muito grande. Só que eu não falei pra minha mãe, eu não tinha essa coragem de falar com ela. E a maioria das crianças, dos adolescentes, passa por isso”.
Depois desse desabafo inicial, em depoimento socialmente chocante, sério, revelador e verdadeiro no quadro “O que vi da vida”, do Fantástico do dia 20/05/2012, Maria da Graça Meneghel, a Xuxa, garantiu que 80% das pessoas que estão nas ruas se prostituindo, roubando, se drogando foi porque sofreram algum tipo de abuso ou violência dentro de casa, que as obrigaram a sair. E ainda completou que sofreu abuso até os seus 13 anos de vida. Depois se emocionou e chorou.
Disse, ainda, que quando as pessoas começaram a lhe falar sobre histórias de crianças vitimizadas, coisas aconteciam geralmente dentro de suas casas ou com o pai, a mãe ou com o tio ou com o melhor amigo do pai, ou padrasto, decidiu promover a campanha “Não bata, eduque”.
Durante seu depoimento, Xuxa disse que os abusos de todas as ordens começam sempre dentro de casa, com “alguém muito conhecido” que acabou abusando sexualmente de uma criança que, por vergonha, medo ou sentimento que será a culpada, não conta nada aos pais e prefere sair de casa. Mas para ela poder comer, a criança acaba se prostituindo nas ruas.
“Isso me dá um embrulho no estômago porque eu consigo não só me colocar no lugar delas, como eu abracei essas causas todas porque eu vivi isso. Na minha infância até a minha adolescência, até os meus 13 anos de idade foi à última vez”. Em seguida, chorou de novo!
Dizendo-se orgulhosa de sua origem suburbana, em Bento Ribeiro, no Rio de Janeiro, ter saudades de tomar um banho na laje e ver um trem passando, Xuxa como se tornou conhecida no Brasil e no Mundo, mas lembrou de seu irmão Blad, que cuidava dela.
Falou da atração física que exercia sobre homens mais velhoS, confessou que conheceu Édson Arantes do Nascimento durante um trabalho profissional como modelo aos 17 anos, admitiu que amou muito o piloto Airton Senna da Silva, que foi pedida em casamento por Michael Jackson e reconheceu que aos 49 anos de vida, se sente uma mulher solitária, mas não amargurada ou decepcionada com a vida.
Já assisti a outros depoimentos dentro do quadro “O que vi da vida”, mas esse de Xuxa para mim, em termos sociais, foi um dos mais completos e contundentes.
Nesse contexto, o que vi foi o depoimento de uma pessoa fragilizada com as agruras vida lhe apresentou, pelos momentos de fama que vivera no passado, com a excessiva solidão da riqueza, mas que decidiu “endurecer” com um depoimento corajoso, socialmente importante e enfrentar a vida de peito aberto, mas também restringindo sua convivência pessoal até os dias de hoje.
É um pena que tenha que ser assim, Xuxa Meneghel!